De babá a investidor: a história do taxista que virou faz-tudo de jogador
Fernando Mendes movimenta aplicações financeiras, conserta pneu
furado, compra carros e cuida da família de diversos atletas do Atlético-MG
Hoje com 44 anos, há 12 temporadas mudou de profissão. Agora, se transformou no braço direito de vários atletas. Prefere se identificar como assessor. As funções são amplas. Como mesmo gosta de falar, vão desde arrumar o pneu furado do carro de um zagueiro até movimentar as aplicações financeiras de um atacante. Fernando é motorista, secretário, corretor, babá, amigo, office-boy, investidor.
Atualmente, trabalha para jogadores do Atlético-MG, embora não tenha vínculo oficial com o clube. O compromisso é direto com Leandro, Daniel Carvalho, Neto Berola, Marquinhos Cambalhota e Lima. Sem assinaturas, apenas acordos verbais. Em toda a carreira, a lista de clientes é imensa.
Fernando mora em um apartamento pequeno no Caiçara, bairro de classe média de Belo Horizonte, com esposa e dois filhos. Ele garantiu ter uma vida simples, embora esteja rodeado do glamour do mundo da bola, repleto de carros importados, restaurantes luxuosos e tietagem. Cada jogador paga a ele um salário fixo, independentemente da quantidade de serviço que cada um necessite. O rendimento é melhor que nos tempos de taxista, mas ele prefere não revelar valores.
Fernando contou que o volante Marcos Paulo, ex-Cruzeiro, e o meia Valdo, com passagens por Galo e Raposa, foram fundamentais.
- Eu trabalhava como taxista. Uma noite, deram sinal. Eram Marcos Paulo e Reginaldo, que, na época, estavam no Cruzeiro. Conversamos, e eles começaram a me chamar direto. Valdo me perguntou se eu queria trabalhar com ele. A princípio, apenas como motorista. Mas o negócio ficou tão sério que faço desde conserto de pneus furados até aplicações financeiras.
O braço direito
(Foto: Tarcísio Badaró / Globoesporte.com)
- Eu levo os caras para o treino, vou ao banco. Para o cara que é contratado, eu olho casa, apartamento. Sempre tenho parceria com alguém. Faço tudo.
Um de seus clientes mais antigos é o lateral-esquerdo Leandro, do Atlético-MG. Eles trabalham juntos desde a primeira passagem do jogador por Minas Gerais, no Cruzeiro, em 2003.
- Ele paga minhas contas de luz, água, telefone. Se tiver que ir ao banco, vai. Pega minha família no aeroporto. Do que precisar, está ligado 24 horas. Na hora que precisar. Bateu o carro, é só ligar para ele. Faz esse trabalho. Pode ligar de madrugada, se está frio, chovendo, com sol.
Para Fernando, a chave do trabalho é a confiança. Afinal, além de tarefas simples, como fazer as compras de supermercado, o braço direito dos atletas participa também de atividades que envolvem dinheiro. Ele compra veículos, apartamentos e até cobra dívidas de clubes.
- O Rincón me deu 40 mil dólares para eu trocar. Eu ia ao banco e sacava o dinheiro. Era eu quem movimentava a conta dele. Há pouco tempo, comprei carro de R$ 474 mil para um jogador do Atlético-MG. Para o Neto Berola, comprei um de mais de R$ 100 mil.
O anjo da guarda
Muitas vezes, o braço direito assume uma função complicada: a de anjo da guarda. Sem citar nomes, Fernando contou que já passou maus bocados para resolver a vida de alguns jogadores.
- É até complicado falar, mas dá trabalho. Jogador na noite, por exemplo. Uns ligam e dizem que estão no motel, e o cartão não passa. Outros batem o carro, bêbados, de madrugada. Eu assumo todas essas coisas. O filho passa mal, o jogador continua dormindo, e eu vou com a esposa. Já aconteceu isso. Houve tanta coisa...
Fernando destacou a importância da confiança.
- Sou cego, surdo e mudo. Eu não falo uma vírgula. Porque não posso trair a confiança. Uma vírgula de errado que eu fale, o Brasil fica sabendo.
O amigo
(Foto: Tarcísio Badaró / Globoesporte.com)
- Ele me deu R$ 50 mil, quando saiu do Santos e foi para o Fenerbahçe, da Turquia. Mandou de lá pra mim. Quando se machucou, me chamou, passei 45 dias com ele. Ficava grudado 24 horas, dava remédio, levava ao Santos.
Fernando contou que passou 15 dias na casa de praia do chileno, em Santos. Tudo por conta do jogador.
- Fiquei 15 dias e não gastei um real. Ele deixou o cartão de débito comigo. Com a BMW dele. Essa gratidão não tem dinheiro que pague.
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