Com "card de UFC", Bitetti Combat 4 explodiu o Maracanãzinho em 2009
Ricardo Arona, Paulão Filho, Pedro Rizzo, Glover Teixeira
e Fábio Maldonado foram alguns dos nomes de peso do evento, que marcou o
MMA brasileiro
Por Ivan Raupp*
Rio de Janeiro
De um lado, José Aldo,
Glover Teixeira,
Fábio Maldonado,
Lucas Mineiro, Carlos Diego Ferreira, William Patolino, Yan Cabral,
Felipe Sertanejo, Gilbert Durinho... Do outro, um repeteco de Glover e
Maldonado, mais Ricardo Arona, Paulão Filho, Pedro Rizzo, Murilo Ninja,
Miltinho Vieira,
Luiz Besouro,
Vitor Miranda...
Se você tivesse que escolher um time, qual dos dois seria? O primeiro
lista os principais nomes brasileiros que estão no card do UFC Rio 5,
marcado para este sábado, no Maracanãzinho. O segundo tem as estrelas do
Bitetti Combat 4, último evento de artes marciais mistas realizado no
tradicional ginásio carioca.
O dia 12 de setembro de 2009, quase dois anos antes do "boom" do UFC no
Brasil, foi considerado um marco para o MMA do país. Naquela época
quase ninguém imaginava que o esporte alcançaria o status que alcançou, e
o estrelado Bitetti Combat 4 acabou passando despercebido por muita
gente. Mas não pelas quase 7 mil pessoas que estiveram por lá e viram um
grande show. Aquele card, de fato, foi superior à grande maioria dos
eventos do Ultimate realizados em solo verde-amarelo recentemente.
Ricardo Arona segura Marvin Eastman em sua primeira luta com grades (Foto: Marcelo Alonso)
- Na verdade, o card do Bitetti 4 é melhor que o desse UFC Rio. Pode
fazer uma pesquisa. Na minha opinião, o melhor é o do Bitetti. Sou
suspeito para falar porque eu sou o Bitetti (risos). Eu acho o UFC
campeão, é a Copa do Mundo, mas nesse evento o Bitetti superou - brincou
Amaury Bitetti, ex-lutador e dono do evento.
Ricardo Arona fez a luta principal, retornando após mais de dois anos
parado, e derrotou Marvin Eastman por decisão unânime dos jurados -
lesionado, ele não compete desde então. Paulão Filho bateu Alex
Schoenauer também por decisão unânime. Da mesma forma, Pedro Rizzo
superou Jeff Monson. Irmão de Maurício Shogun, Murilo Ninja substituiu
Rogério Minotouro a poucos dias do evento e nocauteou Alex Stiebling,
conhecido como "The Brazilian Killa" (em português: O Matador de
Brasileiros). Miltinho Vieira venceu Luciano Azevedo, o único lutador a
ter derrotado José Aldo até hoje, por decisão dividida. Fábio Maldonado
bateu Vitor Miranda em grande combate. Glover Teixeira finalizou
Leonardo Chocolate. Luiz Besouro nocauteou Henrique Chocolate. E por aí
vai. Rizzo, por exemplo, tem a mesma opinião de Amaury Bitetti:
Pedro Rizzo tem braço erguido após vencer Jeff
Monson novamente (Foto: Marcelo Alonso)
- Fico lisonjeado, mas também acho que era melhor (risos). Vou puxar
para o meu lado. Tirando Glover x Phil Davis e Aldo x Chad Mendes,
aquelas lutas foram melhores mesmo. E sou um cara tão sortudo que vou
estar no córner nessas duas melhores lutas, com o Glover e o Aldo. De
qualquer forma, estou fazendo parte da história das melhores lutas do
Maracanãzinho. Em matéria de nomes conhecidos no Brasil, que fizeram
história no MMA na época do Pride e na minha época do UFC, com certeza o
card foi melhor do que o que está hoje no UFC. O UFC está com muitas
lutadores e muitos eventos, então não dá para botar todos os bons num
card só. Não podem queimar todas as fichas num evento só. Aquele não,
aquele foi um Bitetti, e o cara podia queimar todas as fichas de uma
vez. Acho que é por isso.
Um dos integrantes do card, Miltinho Vieira convidou alguns amigos
famosos que marcaram presença no evento: Luciano Huck, Angélica, Sérgio
Mallandro, entre outros. Os lutadores Anderson Silva e Rodrigo Minotauro
também compareceram, assim como o primo de Ricardo Arona, André
Marques. Arona, por sinal, viveu duas experiências diferentes naquela
noite.
- De todas as lutas que fiz, talvez aquela tenha sido a mais especial,
porque foi no Brasil. Não pelo adversário, porque tive adversários de
muito mais peso e importância. Eu nunca tinha lutado MMA no Brasil.
Lutei com meus pais na plateia, meus amigos que nunca poderiam assistir a
uma luta no Japão. Senti a vibração do povo ali pertinho da grade, o
que foi uma novidade. Até então eu só tinha lutado no ringue do Pride.
Aquela foi minha estreia na grade, e me senti muito à vontade. Gostei
muito da caldeirão que é o Brasil, muito diferente do que é no Japão e
nos EUA.
Vitor Miranda aplica chute em Fábio Maldonado (Foto: Marcelo Alonso)
A brusca mudança de comportamento da torcida em relação ao que estava
acostumado, no entanto, não abalou Arona. O ídolo dos tempos de Pride
diz que soube administrar a pressão:
- São duas emoções diferentes. No Japão você escutava a respiração do
cara, era um silêncio absoluto, mesmo com 80 mil pessoas. Nunca vi. Era
bom também lutar naquele silêncio, parecia um treino na academia. No
Brasil foi completamente o oposto. Mas aquela pressão que recebi do
público, com os amigos e a família gritando, me colocou num nível bom de
transe para o combate. Eu estava muito bem. Não me pesou nem me
sobrecarregou. Tem gente que recebe essa carga e dá uma tremida. No meu
caso foi tudo positivo. Cada grito que eu recebia era uma injeção de
ânimo. Gostei de lutar naquele calor ali.
Aline Riscado foi a ring girl do evento; Cassiano
Tytschyo ao fundo (Foto: Marcelo Alonso)
Os árbitros do evento também eram figuras notáveis do MMA: Big John
McCarthy, Renzo Gracie e Roan Jucão. E Aline Riscado, que depois ficou
conhecida por seu trabalho como bailarina do Faustão, atuou como ring
girl. Com tanta pompa, os gastos inevitavelmente foram altos. E Amaury
Bitetti conta que saiu num grande prejuízo. Mas não se arrepende:
- Eu dei bônus para os lutadores. O Paulão ganhou, Arona ganhou, Pedro
Rizzo ganhou, uma galera ganhou bônus bons, de R$ 50 mil. Não lembro
todos que ganharam, mas uma galera ganhou. Só no evento eu gastei R$ 2
milhões sem retorno nenhum. Perdi uma casa para fazer o evento. Pesado. E
o Bitetti está aí até hoje. Agora não perco mais casa, vamos
recuperando (risos).
Miltinho exalta a importância do Bitetti Combat 4 na história do MMA
nacional e diz que aquela experiência o ajudou muito a se adaptar de
forma mais tranquila ao UFC:
- Acho que foi um evento muito bom para o MMA. Esse evento abriu portas
para o MMA ser visto por outras pessoas, por um grupo diferenciado, e
não só pelo grupo que é apaixonado pelo esporte. Foi um evento
emocionante. Um passo gigante. Na época eu e Luciano (Azevedo) estávamos
na ponta do circuito nacional e travamos uma batalha muito bonita.
Tenho boas lembranças, a torcida toda gritando os nomes. Tive essa
oportunidade depois no UFC, mas eu já tinha sentido o gostinho de lutar
para muita gente dentro de casa.
Quatro lutadores do Bitetti Combat 4 estão no UFC atualmente. E dois
deles estarão de volta ao Maracanãzinho neste sábado: Glover Teixeira,
que encara Phil Davis, e Fábio Maldonado, que pega Hans Stringer. Os
outros dois são Vitor Miranda, que tem duelo marcado contra Jake Collier
para 20 de dezembro, em Barueri-SP, e Luiz Besouro, que se recupera de
problemas físicos. Glover comentou a sensação de voltar ao ginásio:
Murilo Ninja solta chutaço para nocautear o polêmico Alex Stiebling (Foto: Marcelo Alonso)
- Lutar no Maracanãzinho de novo vai ser bom. Foi lá que fiz minha
primeira luta no Brasil e estou muito empolgado para lutar lá outra vez.
O Maracanãzinho é uma arena e tanto. Eu gostei e vou me sentir mais em
casa.
Maldonado e Vitor Miranda, que promoveram uma batalha naquele 12 de
setembro, viraram amigos depois da luta, principalmente quando foram
treinar juntos na Team Nogueira. O "Caipira de Aço" ficou impressionado
com a estrutura do Bitetti Combat:
- Esse evento do Bitetti foi um show. Tirando os eventos do UFC, foi o
maior evento que vi sendo feito no Brasil. As lutas foram bem casadas.
Lutou muita gente boa. Fiz uma luta dura, e muita gente lembra dela até
hoje. Foi muito bacana. Tenho que agradecer ao Amaury Bitetti até hoje
por ter promovido aquele evento.
Olivar Leite, Anderson Silva, Big John McCarthy,
Minotauro e Miltinho Vieira (Foto: Marcelo Alonso)
Vitor, por sua vez, acha que o duelo contra Maldonado foi determinante para o prosseguimento de sua carreira:
- Lembro bem dessa luta. Foi a partir dela que comecei a ficar
conhecido como lutador de MMA. Foi um marco na minha carreira. Até hoje
ela é muito bem falada.
Independentemente das estrelas, a expectativa do público é que o show
de 12 de setembro de 2009 se repita no próximo sábado. A tarefa cabe a
José Aldo, Glover Teixeira e cia.. O UFC Rio 5 será realizado a partir
das 19h (de Brasília), com transmissão ao vivo do Combate e
acompanhamento em Tempo Real do
Combate.com. Na sexta-feira, canal e site transmitem a pesagem oficial do evento, às 16h.
Relembre todos os resultados do Bitetti Combat 4:
Ricardo Arona venceu Marvin Eastman por decisão unânime dos jurados
Paulão Filho venceu Alex Schoenauer por decisão unânime dos jurados
Pedro Rizzo venceu Jeff Monson por decisão unânime dos jurados
Murilo Ninja venceu Alex Stiebling por nocaute técnico aos 39s do round 1
Miltinho Vieira venceu Luciano Azevedo por decisão dividida dos jurados
Fábio Maldonado venceu Vitor Miranda por decisão unânime dos jurados
Glover Teixeira venceu Leonardo Chocolate por finalização aos 3m11s do round 1
Luiz Besouro venceu Henrique Chocolate por nocaute técnico aos 3m49s do round 1
Cassiano Tytschyo venceu Fausto Black por finalização a 1m29s do round 1
Alexandre Pulga venceu Luciano Izzy por decisão unânime dos jurados
*Colaborou: Raphael Marinho