Brasil Afora: Santa Cruz genérico tem Tiririca, Mussum e Miguel Falabella
Apelidos ditam o clima do time do Rio Grande do Norte que, em oito anos de existência, já garantiu título do turno estadual e vaga na Copa do Brasil
- Rapaz, nunca vi um time para ter tanto apelido como esse aqui (risos). Mas é bom porque são brincadeiras sadias. E isso ajuda muito a deixar todo mundo mais unido. É o segredo para o sucesso. Somos genéricos, mas somos bons – disse Mauricio Pantera, que já marcou dois gols em quatro jogos pela Série D.
Até mesmo o técnico entra na brincadeira. Mas, apesar de Tiririca achar que ia ser “bom demais”, Paulo Ricardo Moroni se nega a fazer um dueto musical para homenagear seu homônimo, vocalista da banda RPM.
- Eu não canto nada, não. São eles que têm que dar show dentro de campo – afirmou, com um sorriso tímido, o treinador, zagueiro do Vasco nos anos 80.
Até um José Wilker já apareceu no time. Com nome de batismo mesmo. Mas o jogador fez uma rápida participação e já deixou o Gavião.
A questão do apelido é tão marcante no time que tem jogador que prefere deixar o nome de lado. É o caso do zagueiro Marcelessandro. As 14 letras dão trabalho. Na camisa - e no trato com o atleta - só Marcelo já está de bom tamanho para ele.
Tiririca se revolta com Twitter falso
Somos genéricos, mas somos bons "
Maurício Pantera
- Quando eu tinha 13 anos, jogava no Remo e fazia muita palhaçada. Na época, eu alisava o cabelo para baixo e usava boné. Pronto, começaram a me chamar de Tiririca (risos). Agora já tem até música da torcida: “Ele é palhaço, goleador, uh terror, Tiririca é matador.” Rapaz, como eu me divirto com isso – brincou.
Uma coisa, porém, tirou o sorriso do rosto de Tiririca. Criaram uma conta de Twitter falsa para o jogador. Lá, escreviam mensagens como “o gol do Pato contra o Equador na Copa América foi inspirado em mim” e “Sou bom demais, seus abestados”. Frases que o atacante nega ter dito.
- Imagina se eu ia dizer que o Pato me imitou. Esse negócio aí me deu muito problema, mas já resolvi – afirmou.
Orçamento é 20 vezes menor que o do Santa Cruz-PE
(Foto: Mariana Kneipp / GLOBOESPORTE.COM)
- Ninguém quer ficar desempregado em setembro, sem saber o que vai acontecer. Temos que entender que temos de dar as nossas vidas em campo porque isso aqui é uma vitrine. Quem jogar bem, aparecer em campo, poderá crescer na carreira. Ser chamado para um time de Série B, até de Série A. Disputar a Série D não é fácil, mas trabalhar essa motivação com eles, de que dá para tirar um proveito daqui, pensando no futuro, é o que me faz vir trabalhar todos os dias. É um desafio pessoal – afirmou Moroni.
Fundado em novembro de 2003 e profissionalizado em 2004, o Santa Cruz-RN já tem dois títulos no currículo. No ano de estreia na segunda divisão do Potiguar foi campeão. E, em 2011, venceu o ABC na decisão do primeiro turno no estadual. Uma equipe que começou em um encontro de amigos que gostavam de futebol com o então prefeito da cidade e atual presidente do clube, Luiz Antônio Lourenço de Farias, o Tromba, e passou por momentos difíceis no começo.
- Nossa primeira grande dificuldade foi uma coisa que até dá vontade de sorrir agora. O primeiro jogo foi em uma cidade do interior. Ligamos para o presidente da outra equipe, e ele acertou um lugar para a gente ficar lá. Nós pagamos e tudo mais. Mas quando chegamos, vimos que era um motel. Tivemos que ficar lá, era o único jeito. Foi um pouco constrangedor – contou.
A situação do clube já melhorou. Atualmente, o Santa dispõe de um centro de treinamento com campo, alojamento e sala de fisioterapia. Academia, piscina e auditório para preleção também estão sendo construídos. Para se deslocar para disputa de jogos em outras cidades, alugam ônibus e ficam em hotéis na beira do mar, assim como fizeram na última rodada da Série D, quando se hospedaram em Olinda (PE) para enfrentar o Santa Cruz-PE, para quem perderam por 1 a 0 no último domingo.
Benção da santa das causas impossíveis
(Foto: Mariana Kneipp/GLOBOESPORTE.COM)
- Ela é a Santa das Causas Impossíveis. Somos devotos. Quando os jogadores chegam, é a primeira coisa que querem conhecer. Pedimos benção antes de cada jogo – contou o superintendente Jaedyson.
Um dos que já foram aos pés da santa para pedir proteção foi Rafinha. O lateral, que é do América-RN, disputou o estadual pelo Santa Cruz e voltou em julho depois de uma rápida passagem pelo time da capital. O motivo?
- Aqui eu tenho moral. Sou ídolo. A torcida gosta de mim pelo que fiz no estadual. E quero conseguir ainda mais agora – disse.
Assim como Rafinha, o elenco do Santa Cruz-RN também quer alcançar a idolatria com a classificação para a Série C e uma boa campanha na Copa do Brasil. Os resultados ajudariam a fazer o time deixar de ser chamado de genérico e chegar ao Olimpo assim como os verdadeiros donos de seus apelidos.
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