Achei! Longe dos holofotes, Galatto treina no Grêmio à espera de clube
Confiante, herói da Batalha dos Aflitos não pensa em largar o futebol
A reclusão é uma estratégia de Galatto. O goleiro estaciona sua Palio Weekend cor de chumbo todos os dias, de segunda a sexta, no pátio do Olímpico depois de 30 minutos de viagem desde Cachoeirinha, cidade da Região Metropolitana. Discreto, opta sempre pelo turno inverso ao dos treinamentos do grupo profissional do Grêmio.
- Não sou muito político nem gosto de ficar me expondo. Decidi ficar um pouco fora para acalmar as notícias que estavam saindo sobre mim - justificou.
Desde então, Galatto não farda. Voltou ao Brasil, tirou um mês de férias e, com a janela de transferências fechada, encontrou no Olímpico a chance para aos poucos retomar a carreira. Aliás, abandonar os gramados nunca esteve nos seus planos.
- Não posso parar, não posso me precipitar. Tenho 28 anos, pretendo jogar mais um cinco ou seis anos. Se for levado pela emoção, você se perde. Tem que ter tranquilidade. Ainda estou na luta - argumentou, lembrando que, em 2005, era o quarto goleiro no início da Série B.
Saudade da bola, não do frio
É quando fala da bola rolando que Galatto se desprende da fama de Homem de Gelo, se empolga, não vê a hora de voltar a jogar. Sente falta da rotina, de estudar o comportamento dos atacantes adversários. Até estranha ter folga nos fins de semana. Ainda não recebeu propostas oficiais, mas revela pelo menos quatro sondagens de clubes nacionais. Ouviu também ofertas estrangeiras, mas as rechaçou. Já treinou com neve até a canela na Bulgária em 2010 e espera não repetir a experiência.
Furacão (Foto: Divulgação Site Oficial do Atlético-PR)
Seu grande momento foi um pouco antes, em 2008, quando cavou espaço entre os três melhores goleiros do Brasileirão. Na época, vestia o rubro-negro do Atlético-PR e só saiu em 2009 negociado para o clube espanhol. Na Arena da Baixada, Galatto deixou saudades, colecionou elogios e amigos. Há alguns meses, aproveitou os dias de descanso para visitar o ex-clube. Garante que jamais vai se esquecer da estrutura "fantástica" dos paranaenses e muito menos do apoio incondicional da torcida atleticana.
Mesmo com um passaporte recheado e o reconhecimento no Atlético-PR, Galatto tem no Olímpico o seu porto seguro. Deixou o clube no fim de 2007 por conta própria, ao ver seu espaço diminuído pela concorrência. Não houve mágoa na ocasião. Sua intenção de treinar no estádio foi prontamente aceita por Odone e pelo diretor executivo Paulo Pelaipe, também dirigentes nos tempos de Batalha dos Aflitos. Entre as sessões de musculação e corridas, Galatto sempre tira um tempo para sorver um chimarrão com os funcionários do clube. Para os menos avisados, é como se ele ainda fosse um jogador do Grêmio. O próprio goleiro se sente assim. Na semana passada, foi convidado para um jantar do consulado em Novo Hamburgo e se impressionou com a recepção da torcida.
- Não sou, mas até parece que sou remunerado, tamanho o carinho – contou.
A Batalha que não acabou para Galatto
A discrição que Galatto procura no Olímpico é mais difícil de ser controlada nas ruas. Basta uma ida ao supermercado para algum torcedor identificá-lo. E, claro, lembrar 2005. Galatto se impressiona com a riqueza das histórias, dos relatos daquele 26 de novembro em que o Grêmio, com quatro homens a menos, venceu o Náutico por 1 a 0 em Recife.
E não se importa em ficar marcado apenas por esse jogo. Pelo contrário, se enche de orgulho e reconhece que não passa um dia sem recordar aquela partida, o momento em que o futuro do clube do coração esteve em suas mãos. Coleciona reportagens, DVDs, livro e, quando pode, corre ao YouTube para reavivar a memória.
recebesse proposta inferior (Foto: Lucas Rizzatti )
Grêmio primeiro, dinheiro depois
A gratidão é tanta que Galatto vai fazer um dos seus melhores amigos se desfazer de uma relíquia. Antes de Náutico x Grêmio, o goleiro havia prometido passar a camiseta do jogo para o companheiro. Como qualquer mortal, não esperava que a partida fosse ganhar tons históricos, mas precisou manter a palavra e cedeu o presente. Agora, a tomou de volta para ofertá-la ao clube. Ficará exposta junto com a taça da Série B e a um painel alusivo à conquista.
E vestir a atual camiseta do Grêmio? A pergunta ilumina o rosto de Galatto e o faz se lembrar das palavras de Túlio Macedo, então vice de Finanças do clube, na despedida do goleiro em fins de 2007: “Isso não é um adeus, é um até breve. Você vai voltar, guri.” Direto, Galatto afirma que hoje escolheria o Grêmio mesmo com proposta inferior.
- Já sei como é lá fora, conheci o mundo. Agora, o coração fala mais alto – confidenciou.
Além do passado, o futuro do Grêmio insiste em cruzar o caminho de Galatto. Todos os dias, no trajeto para o Olímpico, passa em frente às obras da Arena, novo estádio do clube com previsão de inauguração no fim de 2012. Tira o pé do acelerador do carro e se impressiona com a velocidade das obras (40% concluídas). Confessa que se imagina defendendo o gol gremista na nova casa, sob o incentivo de 60 mil torcedores.
O sonho não é impossível. Até porque as portas do Grêmio estarão sempre abertas para Galatto.
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