Heróis olímpicos, irmãos Falcão têm intimidade revelada e inspiram jovens
Técnicos e amigos mostram locais de treino e concentração e contam facetas de Esquiva e Yamaguchi: piadistas, bagunceiro, cantor e Papai Noel
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Há duas semanas, os irmãos Esquiva e Yamaguchi eram apenas mais dois
entre 258 atletas brasileiros nas Olimpíadas de Londres. Agora já são
heróis do esporte nacional, responsáveis por alguns dos momentos mais
emocionantes do país nos Jogos. Ao lado da baiana Adriana Araújo, eles
quebraram um jejum de 44 anos do boxe sem medalhas olímpicas. Esquiva
vai disputar o ouro do peso-médio (até 75kg) neste sábado, às 17h45m
(horário de Brasília), contra o japonês Ryota Murata, enquanto Yamaguchi ficou com o bronze
na categoria meio-pesado (até 81kg) ao ser derrotado pelo russo Egor
Mekhontcev. Motivo de muita festa e orgulho no bairro de Santo Amaro,
Zona Sul da cidade de São Paulo.
É no Clube Escola Santo Amaro, ao lado do terminal de ônibus, que os
filhos do folclórico Touro Moreno, famoso pugilista das décadas de 60 e
70, e todos os demais integrantes da seleção brasileira treinaram para
disputar as Olimpíadas 2012. E ai de quem ousar falar mal dos capixabas
Esquiva e Yamaguchi, que, assim como outros atletas do local, deixaram
seus estados para treinar na capital paulista. O sentimento pelos dois é
bem resumido por Joédison de Jesus Teixeira, lutador de 18 anos que fez
parte da preparação inicial da delegação em Londres e, agora, torce
pela televisão.
- Falar do Esquiva e do Yamaguchi é abrir um sorriso na hora. A seleção brasileira é muito séria, mas eles distraem a galera, estão sempre brincando, sorridentes. Eles são comédia - define.
A academia de boxe é formada por um ringue, alguns sacos e aparelhos de musculação. Segundo Neilson dos Santos, o popular Nei, um dos treinadores da Confederação Brasileira de Boxe que não foram à Inglaterra, trata-se da melhor estrutura do país, embora muitos equipamentos tenham sido doados. O clube pertence à prefeitura de São Paulo e, em alguns períodos, o técnico também atua num projeto social para crianças dos bairros próximos.
De gorro, técnico dos irmãos Falcão treina no clube
(Foto: Alexandre Lozetti / Globoesporte.com)
Não são as condições ideais, mas ainda assim os irmãos Falcão, de
origem extremamente humilde e até hoje com uma vida simples, conseguem
se destacar pela solidariedade. Em época de concentração e treinos mais
intensivos para competições, os boxeadores moram em casas localizadas a
cerca de dez minutos do clube. São três residências: a juvenil, a
feminina e a masculina. Em dezembro do ano passado, Esquiva chegou em
casa e encontrou uma carta na caixa de correio. Estava endereçada ao
Papai Noel e havia sido escrita por uma garotinha de 11 anos, que também
mandou seu telefone.
- Ela dizia que os pais estavam desempregados e não tinha o que comer. O Esquiva ligou, marcou com ela e a mãe aqui ao lado do terminal. Colocou as duas no carro, levou elas ao supermercado e fez uma compra de 800 reais. Ele chegou na casa delas e viu a geladeira e o armário vazios. O Esquiva disse que foi a melhor coisa que podia ter feito na vida. Ele e o Yamaguchi são assim. Se você precisar de qualquer coisa, eles te levam, buscam... - contou o técnico Nei, que destaca os irmãos até mesmo entre o resto da delegação.
- Todo mundo é assim, se preocupa com os outros, mas eles são diferentes. Chegaram até esse ponto porque são bons no boxe e excepcionais como pessoas.
Esquiva tem 22 anos e Yamaguchi, 24. São jovens e se comportam como tal. Os relatos não mentem. O caçula da dupla tem um repertório invejável de piadas e, segundo os boxeadores do Clube Escola, talento para contá-las. Já o mais velho, entre uma luta e outra no treino, prefere cantar forró. Detalhes íntimos revelados por Joédison, o adolescente que, em setembro, vai disputar o Mundial da categoria juvenil e poderá contar aos amigos, filhos e netos que treinou em Londres com os irmãos Falcão.
Joédison se sente parte tão integrante da delegação olímpica que grita com os lutadores pela televisão e arranca gargalhadas do pai. Emoção que teve origem em uma reunião no último dia de treinos antes dos Jogos começarem e dos mais jovens voltarem ao Brasil.
- O Yamaguchi disse que estava lá para ganhar o ouro e que o pai iria sentir muito orgulho dele. Eles agradeceram de coração todo o apoio que estávamos dando, moral e físico, e disse que se dependesse deles, o ouro estava garantido. Foi emocionante.
Trio
carioca em um dos quartos do alojamento onde Esquiva Falcão e o campeão
mundial Everton Lopes moram na Zona Sul de São Paulo, a dez minutos da
academia (Foto: Alexandre Lozetti / Globoesporte.com)
Já o lado bagunceiro do finalista Esquiva foi "escondido" pelos
companheiros de alojamento. Os cariocas Roberto Custódio (25 anos),
Patrick Lourenço (19) e Michel Borges (21, que pediu à reportagem para
enfatizar sua origem no Vidigal, morro do Rio de Janeiro) afirmaram que o
quarto onde o herói olímpico dorme estava trancado, mas não se
importaram de mostrar o deles. Nada diferente do que se poderia esperar
de três jovens longe das famílias: bagunça generalizada.
O alojamento tem estrutura precária, mas mesmo assim abriga 12 boxeadores. Um deles era o campeão mundial Everton Lopes, eliminado ainda na fase inicial das Olimpíadas, e que havia saído quando o GLOBOESPORTE.COM visitou o local. Os atletas recebem um salário da Confederação e ajuda da Petrobrás, patrocinadora da delegação, mas o treinador Nei lamenta a diferença de investimento nos esportes coletivos e individuais, e pede mais atenção com os garotos da modalidade.
- A garotada quer lutar, as academias estão cheias, temos meninos e meninas aqui de 12 ou 13 anos, só que quando chegam aos 16, 17, eles têm que optar entre treinar ou trabalhar. Se o pai dá dinheiro para condução, fica sem comida em casa. É preciso ter mais apoio do nosso governo para que eles não desistam no meio do caminho - defendeu.
Diogo, 12 anos, é fã de Roy Jones Jr. e da família
Falcão (Foto: Alexandre Lozetti / Globoesporte.com)
Nei fala de garotos como Diogo de Lima da Silva, menino de 12 anos que
sofreu e vibrou com os golpes de Esquiva na semifinal contra o britânico
Anthony Ogogo. Ele treina na mesma academia dos campeões há apenas dois
meses, incentivado pelo pai, ex-lutador, mas já garante que começou
muito bem e vai dar muitas alegrias ao povo brasileiro com seu estilo
que, até então, era inspirado no do norte-americano Roy Jones Jr., de 43
anos.
- Ele luta dançando, assim como eu. Tenho muito jogo de pernas, mas preciso manter a concentração o tempo todo, senão posso até cair no chão - explicou o menino.
Enquanto conversava com a reportagem, Diogo deu outros indícios de atleta profissional quando seu celular tocou. Sem cerimônia, ele pediu licença e afirmou ao pai que estava dando uma entrevista. Jones Jr. não é mais seu único ídolo. Diogo garante que, em sua rua, muitos garotos estão animados com o boxe e já querem começar a treinar. Tudo por causa da história e do sucesso de Esquiva e Yamaguchi Falcão.
Irmãos que já mudaram a história do boxe brasileiro. E podem inspirar muitas gerações pela frente.
- Falar do Esquiva e do Yamaguchi é abrir um sorriso na hora. A seleção brasileira é muito séria, mas eles distraem a galera, estão sempre brincando, sorridentes. Eles são comédia - define.
A academia de boxe é formada por um ringue, alguns sacos e aparelhos de musculação. Segundo Neilson dos Santos, o popular Nei, um dos treinadores da Confederação Brasileira de Boxe que não foram à Inglaterra, trata-se da melhor estrutura do país, embora muitos equipamentos tenham sido doados. O clube pertence à prefeitura de São Paulo e, em alguns períodos, o técnico também atua num projeto social para crianças dos bairros próximos.
(Foto: Alexandre Lozetti / Globoesporte.com)
- Ela dizia que os pais estavam desempregados e não tinha o que comer. O Esquiva ligou, marcou com ela e a mãe aqui ao lado do terminal. Colocou as duas no carro, levou elas ao supermercado e fez uma compra de 800 reais. Ele chegou na casa delas e viu a geladeira e o armário vazios. O Esquiva disse que foi a melhor coisa que podia ter feito na vida. Ele e o Yamaguchi são assim. Se você precisar de qualquer coisa, eles te levam, buscam... - contou o técnico Nei, que destaca os irmãos até mesmo entre o resto da delegação.
- Todo mundo é assim, se preocupa com os outros, mas eles são diferentes. Chegaram até esse ponto porque são bons no boxe e excepcionais como pessoas.
Esquiva tem 22 anos e Yamaguchi, 24. São jovens e se comportam como tal. Os relatos não mentem. O caçula da dupla tem um repertório invejável de piadas e, segundo os boxeadores do Clube Escola, talento para contá-las. Já o mais velho, entre uma luta e outra no treino, prefere cantar forró. Detalhes íntimos revelados por Joédison, o adolescente que, em setembro, vai disputar o Mundial da categoria juvenil e poderá contar aos amigos, filhos e netos que treinou em Londres com os irmãos Falcão.
Joédison se sente parte tão integrante da delegação olímpica que grita com os lutadores pela televisão e arranca gargalhadas do pai. Emoção que teve origem em uma reunião no último dia de treinos antes dos Jogos começarem e dos mais jovens voltarem ao Brasil.
- O Yamaguchi disse que estava lá para ganhar o ouro e que o pai iria sentir muito orgulho dele. Eles agradeceram de coração todo o apoio que estávamos dando, moral e físico, e disse que se dependesse deles, o ouro estava garantido. Foi emocionante.
O alojamento tem estrutura precária, mas mesmo assim abriga 12 boxeadores. Um deles era o campeão mundial Everton Lopes, eliminado ainda na fase inicial das Olimpíadas, e que havia saído quando o GLOBOESPORTE.COM visitou o local. Os atletas recebem um salário da Confederação e ajuda da Petrobrás, patrocinadora da delegação, mas o treinador Nei lamenta a diferença de investimento nos esportes coletivos e individuais, e pede mais atenção com os garotos da modalidade.
- A garotada quer lutar, as academias estão cheias, temos meninos e meninas aqui de 12 ou 13 anos, só que quando chegam aos 16, 17, eles têm que optar entre treinar ou trabalhar. Se o pai dá dinheiro para condução, fica sem comida em casa. É preciso ter mais apoio do nosso governo para que eles não desistam no meio do caminho - defendeu.
Falcão (Foto: Alexandre Lozetti / Globoesporte.com)
- Ele luta dançando, assim como eu. Tenho muito jogo de pernas, mas preciso manter a concentração o tempo todo, senão posso até cair no chão - explicou o menino.
Enquanto conversava com a reportagem, Diogo deu outros indícios de atleta profissional quando seu celular tocou. Sem cerimônia, ele pediu licença e afirmou ao pai que estava dando uma entrevista. Jones Jr. não é mais seu único ídolo. Diogo garante que, em sua rua, muitos garotos estão animados com o boxe e já querem começar a treinar. Tudo por causa da história e do sucesso de Esquiva e Yamaguchi Falcão.
Irmãos que já mudaram a história do boxe brasileiro. E podem inspirar muitas gerações pela frente.
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