Carro de batida com mortes no Dakar é de equipe com mutilados de guerra
Veículo que colidiu com táxi no Peru transportava time
Race2Recovery, formado por militares feridos em conflitos no
Afeganistão, Golfo e Malvinas
Por GLOBOESPORTE.COM
Tacna, Peru
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Birchall brinca com perna mecânica de Neathway
dias antes do acidente (Foto: Divulgação)
O carro que se envolveu no
acidente com dois táxis que resultou na morte de duas pessoas
na noite desta quarta-feira em Tacna (Peru) pertence à equipe
Race2Recovery (um jogo de palavras que forma a expressão “Corrida para
recuperação”). O time do Rally Dakar é formado por ex-militares que
sofreram lesões em guerras, como as do Afeganistão, do Golfo e das
Malvinas e compete com o lema "Além das lesões, alcançando o
extraordinário".
A batida aconteceu após o quinto dia de competições da edição 2013 a
10km da fronteira com o Chile. A Land Rover que transportava três
integrantes da equipe colidiu de frente com um táxi, resultando na morte
de um motorista e um passageiro. Um outro táxi tentou desviar do
acidente e acabou capotando. Ao todo, dez pessoas ficaram feridas.
Um homem não se mede pela forma como cai, mas sim pela forma como se levanta"
Tony Harris,
chefe da Race2Recovery
Das vítimas, três pertencem à equipe Race2Recovery: o piloto Justin Birchall
(foto acima),
um voluntário civil de 40 anos que já havia abandonado o rali; o
engenheiro mecânico Lee Townsend, ex-combatente das guerras do Golfo e
das Malvinas; e o engenheiro logístico John Winskill, Major aposentado
do exército, de 42 anos. Todos são britânicos.
Eles foram transferidos para um hospital de Tacna e depois
transportados para outro hospital em Lima, capital do Peru. Segundo a
assessoria, os integrantes estão conscientes, com quadro estável e não
correm risco de morte.
- Nossos corações estão com as famílias e parentes daqueles que
morreram neste trágico acidente. Oferecemos nossas condolências e
solidariedade. Toda nossa equipe foi recebida com muita amizade e
simpatia do povo peruano desde que chegou para o Dakar – disse Tony
Harris, capitão da equipe.
Duas pessoas morreram no acidente envolvendo dois táxis e o carro do time (Foto: Reprodução / Libero.pe)
Apesar do acidente com o carro de apoio da equipe, Harris afirmou que
as outras três duplas da Race2Recovery continuarão na competição.
- Decidimos antes mesmo de começarmos que continuaremos com nosso
esforço. O acidente é, obviamente, um choque enorme, mas sabemos que
temos a benção dos feridos. Eles querem que o time chegue ao fim da
competição – completou.
Time conta também com ex-soldados com danos psicológicos e problemas respiratórios
Integrantes
da equipe Race2Recovery: Phillip Gillespie, Tom Neathway, Tim Read,
John Winskill, Andrew Taylor, Whittingham Daniel, Mark Zambon e Tony
Harris. (Foto: Divulgação)
Chefe e um dos fundadores da equipe, o britânico Tony Harris é um dos
ex-combatentes que possui ferimentos de guerras. Apesar de ter que se
aposentar do exército em razão da amputação de parte da perna esquerda
(decorrência de um explosão enquanto patrulhava a cidade de Sangin, no
Afeganistão), a palavra “inválido” passa longe do dicionário dele e de
seus companheiros de equipe. Com o auxílio de uma prótese, Harris
disputa o Dakar e diversos outros ralis pelo mundo com um QT Wildcat.
A Race2Recovery possui 28 integrantes. Dentre eles, não há apenas
ex-militares que perderam membros em conflitos, mas também soldados que
possuem lesões na coluna, danos psicológicos e problemas respiratórios
decorrentes de guerra, além de voluntários civis. O time é composto, em
sua maioria, por britânicos, exceto o francês Derousseaux Cathy
(co-piloto de Harris) e os norte-americanos Mark Zambon e Tim Read.
Ex-fuzileiro naval, sargento Mark Zambon é um dos dois norte-americanos do time (Foto: Divulgação)
Na edição 2013 do Dakar, a Race2Recovery conta com quatro duplas a
bordo de quatro veículos QT Wildcats competindo, três caminhões de
assistência (um 4x4 e dois 8x8) e mais três Land Rovers para transporte.
E foi justamente uma dessas Land Rovers que se envolveu no acidente
desta quarta-feira. Nela estava Justin Birchall, voluntário civil de
Lancashir (Inglaterra) e um dos pilotos da equipe. Ele havia abandonado o
Dakar dias antes após ter problemas mecânicos no carro e apenas
acompanhava o certame. Na competição, Birchall era auxiliado pelo
navegador Tom Neathway
(primeira foto), de 29 anos, um ex-paraquedista que perdeu as duas pernas após pisar em uma mina terrestre no Afeganistão.
A equipe também compete para arrecadar fundos para o Centro de
Recuperação Casa Tedworth, que presta terapia física e psicológica a
soldados para reintegra-los à sociedade. Antes de embarcar para o Dakar,
o chefe Tony Harris declarou em entrevista ao jornal peruano “La
Republica” que “um homem não se mede pela forma como cai, mas sim pela
forma como se levanta”. Palavras ainda mais importantes neste momento
difícil enfrentado pela equipe.
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