Quando os pilotos alinharam seus carros para o primeiro GP da temporada 2013 da Fórmula 1, em Melbourne, na Austrália,
Luiz Razia deveria estar entre eles. Após o vice-campeonato da GP2 no ano passado, o piloto baiano chegou a assinar contrato com a equipe
Marussia durante os testes de pré-temporada. No entanto,
o
atraso no pagamento de um de seus patrocinadores fez o time rescindir o
documento, acertando de última hora com o francês Jules Bianchi. Do
outro lado do mundo, bem distante do ronco dos motores, Razia confessa
que os instantes antes da largada foram o momento mais difícil de sua
participação como comentarista convidado do canal
SporTV, que transmite as corridas no Brasil em horário alternativo.
Luiz Razia chegou a pilotar a Marussia nos testes da Fórmula 1 em Jerez (Foto: Divulgação Marussia)
- Na hora do grid, quando eu vi aquela preparação dos pilotos para a
largada, a primeira curva, tudo mais, rolou aquele sentimento de “puxa
vida, pena que não estou lá”, uma sensação meio ruim. Eu já tinha
treinado tudo aquilo. Poderia estar lá, sei o trabalho que eu
conseguiria fazer. Mas a gente tem que tocar a vida para frente – diz o
piloto, que já está negociando para voltar à categoria.
Morando na Europa desde que passou a competir nas divisões de acesso da
Fórmula 1, Razia desembarcou no Brasil pouco antes do início da
temporada para uma série de reuniões com potenciais patrocinadores. A
intenção é formar um pacote atrativo para um time da principal categoria
do automobilismo mundial no próximo ano, quando haverá uma mudança no
regulamento de motores da F-1 – passando dos atuais aspirados de 2.4
litros para propulsores turbocomprimidos de 1.6 litro.
Após a recisão com a Marussia, Razia tenta uma vaga como reserva em outro time (Foto: Getty Images)
- Eu já estou bastante motivado pela situação que está se desenvolvendo
agora. Há boas oportunidades por vir, estou concentrado em conseguir
uma vaga em 2014, e por isso preciso refazer todos os processos neste
ano. Vim aqui ao Brasil para ter reuniões e conseguir voltar ao ponto
onde eu estava, realmente. Existe tudo aquilo que eu já fiz, que conta,
mas tive que fazer uma reestruturação em tudo o que eu tinha. Há o
contato, as pessoas que eu conheço. Eu mantive tudo isso.
Apesar da intenção de se tornar titular em 2014, o baiano cogita outras
opções para se manter em atividade ainda este ano. Descartando um
retorno às categorias de base – onde já mostrou seu valor ao vencer
corridas e disputar o título da GP2 até a última corrida com o italiano
Davide Valsecchi, atual piloto de testes da Lotus – , ele afirma que
está tentando um acordo como reserva em algum time da F-1, e que já
pensa em outro campeonato de âmbito mundial para exercitar seu ritmo de
corrida.
Luiz Razia fez um teste na Force India em 2012 e tenta voltar ao time como reserva (Foto: Divulgação)
- Andar nas sextas-feiras seria uma ótima oferta na Fórmula 1.
Conseguir o máximo de treinos livres neste ano, com diferentes equipes.
Também já pensei até em fazer algumas provas no Mundial de Endurance.
Essa categoria é demais, e vai ter corridas em pistas como Austin,
Interlagos e Le Mans. Para não ficar parado, essa seria uma opção –
afirmou Razia, que, entre outras equipes, negocia com a Force India,
onde fez uma sessão de testes em 2012 e
impressionou os engenheiros com o alto nível das informações que forneceu.
Do cockpit ao microfone
Razia recebeu muitos elogios depois de sua primeira experiência como
comentarista, na transmissão do GP da Austrália no SporTV. Com o olhar
clínico de quem está acostumado aos cockpits, o piloto detalhou as
estratégias dos candidatos à vitória e anteviu, ainda na 16ª volta, que
Kimi Raikkonen era o favorito ao primeiro lugar, já que o finlandês economizava pneus visando fazer um pit stop a menos que os rivais.
Luiz Razia durante a transmissão do GP da Austrália de Fórmula 1 no SporTV (Foto: Acervo pessoal)
- Como eu fiz muitas corridas de GP2 com o mesmo tipo de pneu (da F-1),
a gente meio que entende a estratégia de cada um. Sempre que assisto às
corridas, tenho uma noção muito grande do que pode acontecer, pelo fato
de também viver aquela situação. Só tenho que me preocupar com o modo
como falamos. É de uma maneira bem mais formal, explicativa, educativa
até. E, assim como nas pistas, é preciso trabalhar em equipe, dar o
tempo para cada um. Foi uma combinação muito legal, porque o pessoal (no
SporTV) é profissional. Eu estava ali como amador – brinca o piloto.
Prestes a repetir a dose como comentarista convidado no GP da Malásia
de Fórmula 1 e também na segunda prova da GP2, neste fim de semana, o
competidor avalia as chances do compatriota
Felipe Massa na temporada 2013. Para Razia, não basta ser veloz no duelo interno com o espanhol
Fernando Alonso, mas também forte no aspecto estratégico. E alerta: até o momento, o Mundial de Fórmula 1 não tem favorito.
Baiano prevê um novo duelo entre Fernando Alonso e Sebastian Vettel pelo título (Foto: Agência Reuters)
- O Alonso é muito constante, já foi ao pódio na primeira corrida, e o
Vettel é um piloto que sabe aproveitar o carro que tem. Quem sabe o Kimi
Raikkonen também consiga entrar nessa briga, se a Lotus melhorar um
pouco na classificação. A Ferrari começou este ano bem melhor do que em
2012, com uma corrida bastante forte do começo ao fim. Acho que o Massa
vai ter que se questionar, realmente, como ele vai ganhar do Alonso.
Porque, além de ser um piloto muito talentoso, o espanhol é muito
inteligente. O Felipe vai ter que ser mais esperto que ele nas horas de
decisão. Já demonstrou que pode ganhar na pista, mas também tem que
competir na parte estratégica – analisa Razia.
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