Após turbilhão de críticas, Anderson desabafa: 'Querem derrubar os ídolos'
Derrotado por Weidman em julho, Spider fala em 'mal cultural' do povo brasileiro nas situações de derrota: 'Depositam as frustrações'
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- Isso é um mal cultural dos brasileiros. Eles acreditam muito nos ídolos, mas depositam as frustrações neles. Quando eles não vão bem, querem derrubar os ídolos.
- Acho que, de todas as pessoas que falaram, ele foi o mais sensato. Sou um ser humano, estou suscetível a erros. Perder ou ganhar faz parte. É normal. Temos que encarar com naturalidade. Como eu falei, as pessoas criam expectativas em cima do ídolo e, quando esse ídolo não consegue desempenhar bem, as pessoas depositam as frustrações nele.
Anderson também mostrou respeito ao comentar as críticas que recebeu de Cesário Bezerra, que ele garante não ser seu treinador oficial há muito tempo. Ele falou ainda sobre a difícil relação com a fama, descartou nova luta contra Vitor Belfort, desconversou sobre enfrentar Ronaldo Jacaré e garantiu que não vai mudar seu estilo na revanche contra Weidman, marcada para 28 de dezembro, no UFC 168, em Las Vegas (EUA). A seguir, veja a entrevista na íntegra:
COMBATE.COM: Por tudo o que aconteceu, da maneira como aconteceu, dá para dizer que o Anderson Silva está mordido para essa revanche?
ANDERSON SILVA: Mordido não. Está tudo certo. Trabalho é trabalho. Às vezes você é bem-sucedido em alguma coisa, e às vezes não. Dessa vez eu não fui bem-sucedido. É assim que funciona o negócio.
Você teve tempo para digerir a derrota. Hoje, mais de um mês depois da luta, você acha que exagerou nas provocações?
Não. Eu não acho que exagerei em nada. O único erro meu nessa luta foi técnico. Eu tinha que ter dado um passo para trás. Mas é assim mesmo. A vida continua.
Cara, é difícil falar. É aquela coisa. Isso é um mal cultural dos brasileiros. Eles acreditam muito nos ídolos, mas depositam as frustrações neles. Quando eles não vão bem, querem derrubar os ídolos. Mas o trabalho continua. Vamos tentar trazer o cinturão de volta para o Brasil. Isso já é página virada.
O que muda para essa revanche? Vai manter a equipe toda? Se não, quem sai?
Vai haver algumas mudanças. O que aconteceu foi um mal necessário para enxergarmos onde deveriam ser essas mudanças. Temos que estar sempre mudando.
Você sentiu que havia muita gente aproveitadora ao seu redor? Se sentiu, eles já sumiram ou continuam por perto?
Quando se está numa posição onde as pessoas não conseguem te cobrar, fica difícil. Tem que ver algumas coisas. Tem que ver se as pessoas gostam de você pelo ser humano que você é ou não. É uma coisa natural, uma seleção natural. Quando acontece uma fatalidade como a que aconteceu, até acho muito importante para poder rever muitas coisas.
O sucesso mudou o Anderson Silva em alguma coisa? O assédio te incomoda? Você se sente cansado da fama?
Acho que a fama, o sucesso, tudo isso chega em algum momento da vida. É bom, importante, mas quando é demais acaba atrapalhando. Você perde sua vida particular, sua privacidade. As pessoas confundem as coisas. Acham que você tem sempre que estar bem disposto. Às vezes você acorda mal, com algum problema familiar, de saúde, e as pessoas acham que você tem sempre que parar de comer para tirar foto. Elas não entendem. Mas eu sei que é assim mesmo. Sei que isso faz parte do pacote.
Sou muito dono de mim mesmo. Sempre lutei porque gosto. E sempre pude fazer o que faço com excelência. Nunca me preocupei com o cinturão. E eu consegui defender esse título por sete anos. Não senti alívio ou alguma coisa assim. É difícil. Você acaba tendo um pouco de pressão em relação a isso. Você tem que estar se autoafirmando o tempo todo.
Você recebeu muitas críticas por causa do seu estilo de luta contra o Weidman. É uma coisa que você vai mudar ou pretende fazer exatamente o mesmo na revanche para tentar provar que está certo?
Certo ninguém está, assim como ninguém está errado. Eu não vou mudar meu estilo de luta.
Aos 38 anos, você acha que vai fazer as dez lutas que estão no contrato?
Eu pretendo. Fizemos toda uma avaliação e todo um cronograma para que eu possa fazer essas dez lutas. Espero que eu consiga, e de preferência com vitórias.
As superlutas contra Jon Jones e Georges St-Pierre foram descartadas pelo Dana White após a derrota para o Weidman. Sua meta agora é recuperar o cinturão dos médios e seguir na categoria para acumular mais defesas de título?
Minha meta agora é focar no trabalho até começar o camp de treinos. Depois vou pensar na revanche, em fazer mais uma boa luta contra o Weidman e em dar espetáculo para todos os fãs do UFC.
Acho que, de todas as pessoas que falaram, ele foi o mais sensato. Sou um ser humano, estou suscetível a erros. Perder ou ganhar faz parte. É normal. Temos que encarar com naturalidade. Como eu falei, as pessoas criam expectativas em cima do ídolo e, quando esse ídolo não consegue desempenhar bem, as pessoas depositam as frustrações nele.
Já o Cesário Bezerra, que treina seu boxe na XGym, deu uma entrevista ao Combate.com dizendo que foram "três meses de trabalho jogados fora", que é difícil trabalhar em uma equipe com tanta gente que nem a sua e que tem que "acabar com a peruada". Como você recebeu essas críticas dele? Ele segue com você no time?
Fui treinar na XGym quando cheguei ao Rio de Janeiro, porque lá é a academia do meu mestre Rogério Camões, que cuida da minha preparação física. O mestre Cesário estava lá, e passei a treinar com ele. Tenho um carinho grande por ele. Ele tem muita experiência, sabe o que está falando. Acho normal ele se expressar. Há muito tempo o mestre Cesário não é meu treinador oficial de boxe. O da Team Nogueira é o (Luiz) Dórea, e o meu é o Edelson (Silva), que é aluno do Dórea. O mestre Cesário está sempre dando opinião por ter muita experiência, e acho que ele está credenciado para isso, porque me conhece muito bem.
As pessoas sempre perguntam ao Ronaldo Jacaré sobre uma luta entre vocês, e ele sempre diz que não tem a intenção de te enfrentar. Agora ele está muito bem ranqueado na categoria, e o duelo vai ficando cada vez mais possível. Você considera essa luta impossível de acontecer?
Eu sou um cara que, se sou teu amigo, sou teu amigo, independentemente de grana e status. Para mim, a honra vale mais do que a própria vida. Luta é luta. Independentemente de ser o Jacaré ou outro, eu não gostaria de lutar contra um amigo meu. Mas é aquela coisa... Estou numa posição e nunca precisei tomar nada de ninguém para conquistar o que conquistei.
E a revanche contra o Vitor Belfort? Ele acha que em algum momento ela vai acabar acontecendo. E você? Também acha que ela vai acontecer um dia?
Acho que não. O que tinha de ser feito já foi feito. É claro que somos funcionários do UFC, deixo bem claro isso, mas eu não gosto de lutar contra brasileiro. Não vejo essa possibilidade.
O Anderson ainda é o melhor do mundo? Ou nunca foi? Como o Anderson Silva se descreveria hoje em dia?
Eu sou um cara normal. Não sou e nunca quis ser o melhor do mundo. Foram as pessoas que me deram esse título. Agradeço a elas por me acharem o melhor, mas eu nunca me achei o melhor peso-por-peso.
Sou corintiano desde que nasci e vou morrer corintiano. O que houve foi um cruzamento de informações. O contrato venceu e não foi renovado, mas independentemente disso vou morrer conrintiano e vou estar sempre vestindo o manto.
Você participa do filme "Até que a sorte nos separe 2". Qual é o seu papel? E quais os planos para a sua carreira nesse sentido?
Faço o papel de um policial disfarçado. Estou indo para Las Vegas gravar. Pretendo continuar trabalhando e estudando para poder ganhar espaço também nesse meio.
E o que tem feito no tempo livre?
Tento ficar o máximo que posso com a minha família. Tenho o meu paintball, que é sagrado, e o videogame. Fora isso, é muito treino. Treinar é uma coisa que não consigo ficar sem fazer.
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