Ganês descarta W.O. contra Portugal: 'Jogaremos mesmo sem dinheiro'
Técnico James Appiah explica boicote e diz que situação vai ser resolvida nesta quarta-feira. Meia Atsu descarta a possibilidade de o time não entrar em campo
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Duas noites sem dormir, muitas reuniões e negociações. O técnico de Gana,
James Appiah, explicou em entrevista coletiva, nesta quarta-feira, em
Brasília, o boicote organizado pelos jogadores da seleção africana, que
cobram o pagamento da premiação para a disputa da Copa do Mundo. Na
última terça-feira, os atletas se recusaram a treinar e deixaram um representante da Fifa esperando a delegação no local que deveria acontecer a atividade, no CT dos Bombeiros, em Brasília. A atitude serviu como um ultimato à Associação Ganesa de Futebol para resolver o problema. E o pagamento está previsto para acontecer até o fim do dia na concentração.
Sempre
calmo e sereno nas respostas, James Appiah espera que a situação esteja
resolvida nas próximas horas. Os jogadores não aceitaram que o
pagamento fosse feito via transferência bancária
e exigiram dinheiro vivo. A quantia, que gira em torno de US$ 3 milhões
(cerca de R$ 6,7 milhões), está vindo para Brasília após o presidente
do país africano, John Dramani, se comprometer com os atletas de que resolveria o problema.
- Há uma questão sobre o
pagamento da premiação, mas o governo do país e a federação estão
cuidando disso. E vai ser solucionado em duas ou três horas. Isso
deveria ter sido resolvido antes, mas não foi. (...) Não durmo há duas noites. Não é o melhor cenário
para mim. Como disse antes, isso deveria ser resolvido antes da
competição. E não posso mais ficar repetindo para eles "o dinheiro vai
chegar, o dinheiro vai chegar". Falo para eles esquecerem a parte
financeira. Mas é difícil. Agora o presidente de Gana interveio na
questão e vai ser resolvido (...) Receber o dinheiro vai motivá-los - disse James Appiah.
Questionado se a seleção de Gana não entraria em campo se o
pagamento não fosse realizado, o meia Christian Atsu, de 22 anos, garantiu que esta possibilidade não
vai acontecer. E prometeu que o time vai lutar pela classificação para
as oitavas de final.
- Estamos na maior competição do
mundo. Mesmo que o dinheiro
não chegue, vamos esquecer tudo e entrar em
campo. Não vamos deixar de jogar se o pagamento não acontecer. O que
houve foi uma decisão importante que tomamos. Agora, isso passou.
Amamos a nossa nação e queremos jogar por ela - disse o jogador do Chelsea, da Inglaterra.
Appiah
admitiu que a questão atrapalha a preparação para o jogo decisivo
contra Portugal. Aos 53 anos, ele treina a seleção desde abril de 2012 e
foi o primeiro treinador local a qualificar o Gana para uma Copa do
Mundo. Durante toda a coletiva, ele procurou defender os jogadores dos
comentários de que estão colocando a parte financeira à frente do sonho
de disputar uma Copa do Mundo e defender as cores do país africano.
Ele explicou também que o impasse aconteceu porque a Fifa distribui o
dinheiro às federações somente depois da Copa, mas as nações africanas
têm por hábito pagar os atletas antes.
- É um
direito dos jogadores receber o dinheiro e foi prometido que o pagamento
aconteceria antes de vir para o Brasil. É o mesmo dinheiro pago
aos jogadores do mundo inteiro. A Fifa repassa o dinheiro para os
países, que pagam os jogadores. Seria certo receber algo que foi
prometido. Mas os jogadores estão focados. Vamos deixar isso para trás e
entrar
em campo para dar o melhor de nós. Defender cores da nossa bandeira é
nosso
grande objetivo.
Segurança não preocupa Atsu
Outra curiosidade dos jornalistas era saber por que os jogadores exigiram o pagamento em espécie,
quando seria muito mais simples e rápido realizar uma transferência
bancária. Appiah explicou que isso tem relação com a cultura do país.
-
A prática em Gana sempre foi pagar em dinheiro, e não por
transferência bancária. Alguns jogadores nem têm conta em bancos em
Gana. O sistema (bancário) é todo diferente do que vocês estão
acostumados na Europa. Mas é uma prática comum entre a gente - disse.
O
jogo contra Portugal é decisivo para Gana, mas ficou em segundo plano. O
principal assunto da coletiva girava em torno do dinheiro. Diante dos
diversos questionamentos sobre a polêmica da premiação, o representante
da Fifa deu uma pausa nas perguntas para o técnico James Appiah,
relembrou a todos os jornalistas que o jogador Christian Atsu também
estava presente na sala e resolveu fazer uma pergunta básica e ele sobre
a partida: "Atsu, o que você espera da partida contra Portugal?"
- Todos os jogadores estão focados na partida contra Portugal. Tivemos uma reunião com
nosso capitão e mostramos que estamos focados. Sabemos que essa partida
é muito importante para o nosso povo - respondeu o jogador, meio sem
graça.
O personagem mudou, mas o foco seguiu o
mesmo. Após a "pergunta oficial", o boicote e a ameaça de greve voltaram
aos holofotes. Atsu admitiu que a pressão em cima
da seleção agora é muito maior após o episódio. Um fracasso em campo
pode significar muitas críticas aos jogadores, que poderiam ser chamados
de "mercenários".
-
A partida é muito importante para todos os ganeses, não só para os
jogadores. Para os jogadores seria ruim uma derrota, já que as pessoas
vão culpar a
questão financeira. Não temos mais opções. Precisamos vencer de qualquer
forma e fazer nosso povo orgulhoso.
Questionado se ele não estava preocupado com a segurança, já que com o pagamento da premiação teria muito dinheiro
em mãos, Atsu mostrou-se tranquilo. E riu quando foi perguntado onde
iria guardar tantas notas e se colocar "debaixo do colchão" era uma
possibilidade.
- É uma pergunta difícil para mim
(risos). A gente vai guardar na nossa bolsa e vamos ter que trancar em
algum lugar, né? E depois vamos transferir o dinheiro para nossas contas bancárias.
Antes da coletiva, Dramani Mahama, presidente da
Associação Ganesa de Futebol, anunciou por meio de nota oficial que o pagamento
aos jogadores será feito nesta quarta. Em meio à turbulência nos bastidores com o incômodo acerto
financeiro entre dirigentes e jogadores, a seleção vive o momento mais
importante na Copa. O time ganês precisa vencer Portugal, nesta quinta-feira, em
Brasília, por dois gols de diferença e ainda torcer por uma vitória simples da
Alemanha sobre os Estados Unidos, em Pernambuco.
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