Como ganhar a Libertadores: dez
dicas para deixar o título mais próximo
Campeões da América opinam sobre como facilitar o caminho até a taça. Foco, cabeça no lugar, força da torcida, solidez e até diplomacia são armas no torneio
Para chegar aos dez itens, o GloboEsporte.com buscou a opinião de campeões. Participaram o técnico Tite (vencedor em 2012 com o Corinthians), o preparador físico Paulo Paixão (tricampeão: Grêmio em 1995, Palmeiras em 1999 e Inter em 2006), o goleiro Victor (herói da conquista do Atlético-MG em 2013), o lateral-esquerdo Fábio Santos (ganhador com o São Paulo em 2005 e com o Corinthians em 2012), o ex-lateral-direito Vítor (campeão por três clubes diferentes: São Paulo em 1993, Cruzeiro em 1997 e Vasco em 1998), Edu Gaspar (gerente de futebol do Corinthians no título de 2012) e Fernando Carvalho (presidente do Inter no título de 2006 e vice de futebol no bi em 2010).
1) Comer, beber, respirar Libertadores
O segredo é encontrar esse equilíbrio. E aí entra a sintonia entre comissão técnica e diretoria. O planejamento precisa ser feito em conjunto. A parceria nessa tomada de decisão dá fôlego ao treinador – ameniza a pressão interna que ele sofrerá em casos de derrotas na largada da temporada. Dá mais paz para trabalhar.
- Você tem que focar na Libertadores. Se ganhar, vai ao Mundial. Não tem que se preocupar com decisão de Carioca, de Mineiro, de Gaúcho. Não tem que pensar que Brasileiro começa tal dia, que tem que pontuar. Essas competições entram no corredor para a Libertadores. Elas devem ajudar. Você não pode ter a mesma preocupação, com as outras competições, que tem com a Libertadores. E tem que ter essa parceria muito forte com a diretoria. O dirigente tem que estar contigo. Muito. Muito mesmo. Não é pouco, não. Ah, e se perder? Não importa: perdeu buscando a maior competição possível – opina Paulo Paixão.
2) Olho na arbitragem
- É muito importante conscientizar os jogadores de que a arbitragem é completamente diferente. É jogo de muito contato físico, muita trombada, e os juízes não marcam falta em qualquer lance. Os brasileiros tentam cavar faltas. Se fizerem isso, os outros vão passar por cima – comenta Fernando Carvalho.
- Tem que ter um time que entenda a competição. Ela é diferente e precisa ser jogada de forma diferente – resume Fábio Santos.
3) Estudar muito
- É preciso ter muito conhecimento dos seus adversários. Reunir informações. Cercar-se de todas as garantias para não ser surpreendido. Há equipes muito fortes, não só as grandes, como Boca, River, Universidad de Chile. É nos desconhecidos que reside o maior perigo – resume o técnico Tite.
4) Criar o caldeirão
A torcida também precisa se envolver. Títulos recentes de brasileiros tiveram muita pressão sobre adversários que vinham jogar aqui – casos do Inter (especialmente em 2006), do Corinthians e do Atlético-MG. É uma forma de equiparar a pressão recebida, dependendo do time, em países como Argentina, Uruguai e Colômbia.
- Parece que aprendemos como as torcidas de outros países torcem. Talvez tenha sido algo que demoramos a aprender. E faz toda a diferença. Os adversários também precisam sentir o caldeirão quando jogam aqui – opina Fábio Santos.
5) Ter líderes
- São duas coisas que andam juntas. Em qualquer momento do jogo, essa excelência técnica pode estar presente. Tem o comando, tem o capitão, e ao mesmo tempo tem a qualidade técnica para decidir. Tendo esse equilíbrio de liderança técnica e comando, você fica perto de não perder nada – diz Paixão.
Também são bem-vindos os jogadores experientes, acostumados a vencer, mas que mantenham a ambição por títulos.
- A melhor coisa é jogador que sabe jogar final. Que não treme. Que enfrenta a decisão – afirma Carvalho.
- Tem que ter jogador experiente. Se o time for muito jovem, dificilmente vai ganhar a Libertadores – aposta Fábio Santos.
6) Ter a cabeça no lugar
Luiz Felipe Scolari, campeão da Libertadores com Grêmio e Palmeiras, costumava dizer a Paulo Paixão, seu fiel escudeiro da preparação física: “Eu vou montar na cabeça de quem for expulso”. A competição mexe com os nervos dos atletas – é clássico o lance, na Libertadores de 2003, em que Geninho, técnico do Corinthians, grita “pega, pega” para o lateral Roger, na marcação de D’Alessandro, na época no River Plate, e ele acaba dando uma pancada no argentino e sendo expulso. Manter o time com 11 jogadores em campo é fundamental.
É um clichê da Libertadores atribuir derrotas brasileiras à catimba adversária - especialmente dos times da Argentina. Não é bem assim – perdemos, e não é raro, na bola mesmo. Mas as tentativas de desestabilização em campo são uma face da competição, e os atletas precisam estar preparados para lidar com provocações, ofensas e até alguma dose de violência.
- É diferente. No estadual, no Brasileiro, você convive sempre com o adversário. Tem amizade, cria aquele vínculo. Libertadores é outra coisa. Você acorda para enfrentar seu inimigo. Não quer cumprimentar adversário. Eles vêm na tua casa, ganham, tiram sarro na tua cara. Na Argentina, me chamavam de macaco na cara dura, de hijo de p***. Eu tomava catarrada na cara. Tomei muito pisão na mão – relata o ex-lateral Vítor.
O goleiro Victor viveu episódios de provocação até o último ato da Libertadores de 2013. Na disputa por pênaltis contra o Olimpia, valendo o título do torneio, o goleiro Martin Silva, hoje no Vasco, tentava desestabilizar o brasileiro tirando de dentro do gol um terço que ele deixava lá como proteção. Victor queria esgoelar o rival. Mas respirou fundo. Hoje, vê a calma em momentos de provocação como um dos pontos necessários em uma Libertadores.
- Como o jogo é mais pegado, a briga por espaço é mais intensa, acaba ficando mais violento. Tem que ficar ligado a esses detalhes. Tem muita catimba. Não pode entrar na provocação.
Manter a calma, porém, não pode ser sinônimo de frieza excessiva. Libertadores é competição quente. Joga-se com a alma.
- Em Libertadores, o cara se transforma. Se ele não se transformar, é porque não está pronto para a Libertadores – resume Vítor.
7) Ser eficiente na bola aérea
- É preciso estar preparado para a bola aérea. Vai ter balão, vai ter choque, vai ter bola no segundo pau. Os times estrangeiros costumam explorar a fragilidade de nossos laterais – comenta Fernando Carvalho.
O goleiro do Galo também alerta para a bola parada. Em jogos truncados, pode ser um trunfo.
- É importante ter fatores como velocidade e bom passe. E também jogadores capazes de decidir em bola parada. Às vezes, você pega gramados com condições não tão boas, e aí a bola parada é decisiva. Você pode alcançar vitórias e evitar derrotas com isso.
Ter uma defesa sólida é outro ponto determinante. O Corinthians de 2012 foi campeão sendo vazado apenas quatro vezes. Dos seis títulos brasileiros mais recentes, só o Galo, em 2013, teve média superior a um gol sofrido por jogo.
- O time tem que ser muito fechado, muito compacto, principalmente quando superar a primeira etapa. Mata-mata se ganha com defesa compacta. Não pode tomar gol – ensina Carvalho.
Dentro disso, cabe lembrar que não deve haver constrangimento ao jogar por um empate fora de casa. Especialmente nas etapas eliminatórias, com saldo qualificado, não sofrer gols é tão importante quanto fazer.
- Tem que fazer o dever de casa. Em casa, tem que vencer. Fora, tem que conseguir bons resultados. Se não for possível vencer, o jeito é empatar – afirma Victor.
8) Ter uma logística eficiente
- É importante chegar ao país onde vamos jogar com dois dias de antecedência. A viagem costuma ser desgastante. Isso facilita para sentir o clima da cidade, conhecer o campo de jogo – aconselha Fábio Santos.
- Algumas viagens são muito longas. O clube precisa ter uma logística bem elaborada, uma estratégia bem planejada. Isso evita um desgaste que pode atrapalhar na partida. O ideal são voos diretos, ou com poucas escalas, escalas curtas. Às vezes, são sete, oito horas de viagem. É bom chegar com certa antecedência – concorda Victor.
Há jogos (na altitude, por exemplo) que exigem a concordância de diferentes grupos do clube. Se a equipe de preparação física sugere que o elenco chegue à cidade três dias antes do jogo ou horas antes de a bola rolar (alguns profissionais defendem que é a melhor forma de amenizar os efeitos climáticos), é preciso ter a anuência da diretoria (que arca com os custos), do treinador (que faz a programação das atividades) e das lideranças do grupo de jogadores.
- As viagens são mais longas e, por isso, precisam ser mais planejadas. Há adaptação com possíveis cidades que tenham altitude. Tudo tem de ser discutido com a fisiologia, o departamento médico. A logística tem de ser perfeita para não atrapalhar os jogadores. A campanha de uma Libertadores começa a ser construída nesses pequenos detalhes – explica Edu Gaspar.
9) Relacionar-se bem com a Conmebol
- É sempre aconselhável ter uma boa relação com a Conmebol. Aí pode pedir coisas como não colocar um juiz colombiano em um jogo contra um time equatoriano. Naquela região, eles se protegem. Não é escolher o árbitro: é tentar fazer com que determinado árbitro não seja usado para evitar problemas – diz Carvalho.
10) Evitar erros
- Erros são fatais, mais do que em campeonatos de pontos corridos – lembra Tite.
- Libertadores é um campeonato que permite que se erre muito pouco. Não pode errar, principalmente no mata-mata – concorda Victor.
*Colaborou Diego Ribeiro.
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