segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Livio Oricchio: Spa, hora da verdade para a sequência do campeonato

Especialista do GloboEsporte.com analisa questões envolvendo as equipes após as férias da Fórmula 1; GP da Bélgica acontece no próximo fim de semana

Por Nice, França
header livio oricchio (Foto: Editoria de Arte)
Se for feita uma lista das questões que o GP da Bélgica começará a responder, a extensão será grande. A 11ª etapa do campeonato, no próximo fim de semana, dará pistas não apenas do que esperar da sequência da temporada, depois das férias da F1, mas também do andamento da preparação das equipes visando 2016 e até 2017.
A boa notícia para a corrida no circuito favorito da maioria dos pilotos, Spa-Francorchamps, é a escolha arrojada da Pirelli: pneus médios e macios. Eles podem ajudar a tornar a prova mais emocionante, por permitir FerrariWilliams e RBR se aproximarem um pouco da Mercedes.
Spa - aérea (Foto: F1Fanatic)Vista área do circuito de Spa-Francorchamps, na Bélgica (Foto: F1Fanatic)
O foco das atenções no seletivo traçado localizado na cadeia de montanhas das Ardenas estará na mudança no ajuste do carro para tornar a largada mais eficiente. A partir de domingo, o piloto não poderá mais receber orientação de última hora dos engenheiros para acertar o curso da embreagem, o porcentual de aceleração do pedal e regular a reação de torque à aceleração.
Até a etapa de Budapeste, dia 26 de julho, os pilotos deixavam os boxes para alinhar o carro no grid, completavam a volta, passavam pelos boxes e, em geral, davam outra volta. Esse procedimento permitia aos muitos sensores existentes no carro detectar o grau de aderência do asfalto para aquele horário, para aquela condição do piso, em geral diferente do obtido no dia anterior, na sessão de classificação, última vez que os carros estavam na pista.
Esses dados eram analisados pelos técnicos e computadores. A partir do resultado desse breve estudo os engenheiros instruíam seus pilotos, via rádio, sobre como ajustar as funções mencionadas, através de controles no volante, a fim de otimizar a largada, ou seja, ter o mínimo possível de giros em falso nas rodas motrizes e a aceleração correta para aquele grau de aderência, suficiente para deslocar o carro na maior velocidade possível.
Toto Wolff - Mercedes - GP da Áustria (Foto: Reuters)Toto Wolff, da Mercedes, projeta possibilidade de surpresas nas próximas corridas (Foto: Reuters)
A vez dos pilotos
A partir de domingo, será a sensibilidade do piloto a responsável por essa regulagem pouco antes de as luzes vermelhas apagarem, autorizando o início da corrida. Na Hungria, profissionais consultados pelo GloboEsporte.com, como Eric Boullier, daMcLaren, acreditavam que não haveria grande diferença no resultado das largadas em relação ao que a F1 vem exibindo este ano. Mas nem todos veem assim.
Toto Wolff, da Mercedes, por exemplo, projeta a possibilidade de surpresas. Seus dois pilotos, líder e vice-líder do Mundial, Lewis Hamilton e Nico Rosberg, largaram muito mal nas duas últimas provas, nos autódromos de Silverstone e Hungaroring. A mudança nas regras de ajustes na largada pode ser uma oportunidade para a Mercedes resolver os problemas apresentados nesses GPs.
A largada em Spa tem uma particularidade: localiza-se muito próxima da freada da primeira curva, La Source, de baixa velocidade. A nova regra, válida a partir de Spa, somada a essa característica do traçado belga eleva a possibilidade de incidentes logo no começo da corrida. A chance de haver diferenças de velocidade importantes entre os pilotos, por conta de tudo ser novidade, é grande.
Férias? Que férias?
Outro aspecto interessante do GP da Bélgica será verificar como cada time regressou das férias de três semanas, depois da etapa de Budapeste. O regulamento impõe que cada equipe comunique a FIA o período de 15 dias que manterá sua sede fechada. Mas não há como impedir grupos de técnicos permanecerem trabalhando fora de suas sedes no chamado Computational Fluid Dynamics – CFD, ou simulações aerodinâmicas digitais.
Os carros que iniciarão os treinos livres sexta-feira, a partir das 5 horas de Brasília, não serão os mesmos que receberam a bandeirada na Hungria. Serão versões com novos componentes no conjunto aerodinâmico, concebidas antes e durante as férias.
Dentre os questionamentos a serem respondidos pelo GP da Bélgica está se a F1 assistirá ao mesmo ocorrido no ano passado. Quando boa parte imaginava que a impressionante vantagem imposta pela Mercedes, até então, poderia ser menor depois das férias, eis que Hamilton e Rosberg demonstraram que seu carro tornou-se ainda mais veloz que o da concorrência.
Sebastian Vettel em ação com a Ferrari no treino deste sábado para GP da Hungria (Foto: EFE)Sebastian Vettel venceu as duas últimas corridas, mostrando o crescimento da Ferrari (Foto: EFE)
É verdade que nesta temporada a Ferrari, notadamente, se aproximou da Mercedes, haja vista que venceu duas corridas, com Sebastian Vettel, Malásia e Hungria. E a Williams avançou, também, nas últimas etapas, além de ser eficiente em pistas rápidas como a de Spa. Mais: o monoposto da RBR tem histórico de ir muito bem nos 7.004 metros de Spa. Em 2014, Daniel Ricciardo, da RBR, aproveitou-se do choque entre Hamilton e Rosberg e venceu, com Rosberg em segundo e Valtteri Bottas, Williams, terceiro.
Sebastian Vettel, Kimi Raikkonen, a dupla da Ferrari, Valtteri Bottas e Felipe Massa, da Williams, disseram, em Budapeste, esperar andar mais próximos de Hamilton e Rosberg em Spa, auxiliados, também, pelo fato de a Pirelli não ter escolhido os pneus duros, com os quais perdem muito em relação a Mercedes. “Spa e Monza devem ser as melhores pistas para nós”, afirmou Massa, em Budapeste.
No caso de Vettel e Raikkonen, se chover, como de hábito na região das Ardenas, melhor ainda, pois o modelo SF15-T italiano consegue aproximar sua performance do W06 Hybrid da Mercedes, como Vettel demonstrou em Silverstone. Seus tempos no asfalto molhado eram tão bons quanto os da Mercedes. Acabou em terceiro, depois de estar, no seco, atrás de Massa, Bottas, Hamilton e Rosberg. Já para a Williams a chuva é um desastre. O modelo FW37-Mercedes é um dos mais lentos no piso com água.
Equipe McLaren aplaude Fernando Alonso, 5º lugar no GP da Hungria, Fórmula 1 2015 (Foto: Divulgação)Fernando Alonso conquistou um 5º lugar na Hungria com a McLaren (Foto: Divulgação)
Honda, novo começo
Fernando Alonso obteve na Hungria o melhor resultado da associação McLaren-Honda, este ano, com o quinto lugar, ainda que a 49 segundos do vencedor, Vettel. A ausência de retas longas reduziu a importância da unidade motriz no desempenho do conjunto, permitindo ao bom chassi da McLaren, conduzido com a conhecida competência de Alonso, somar pontos para o time pela quarta vez no campeonato.
Yasuhira Arai, diretor da Honda, afirmou em entrevista ao GloboEsporte.com, em Silverstone, que a temporada começaria para sua empresa na Bélgica. Os japoneses vão estrear uma nova versão da sua unidade motriz. Seria muito bom para a F1 se essa unidade permitisse a Alonso e seu companheiro, Jenson Button, se aproximar do grupo que luta para chegar no Q3, na classificação, e depois marca pontos com regularidade. Alonso e Button não esconderam sua desconfiança quanto a essa “supereficiência” da nova versão da unidade motriz da Honda.
Assim como Massa aguarda até com alguma ansiedade a corrida de Spa e depois Monza, Felipe Nasr, da Sauber, também acredita ser possível a ele e o parceiro, Marcus Ericsson, performance melhor que nas últimas etapas, quando o modelo C34-Ferrari da Sauber só foi mais veloz que o da MR03B da Manor.
Nasr explicou seu otimismo: “Vamos usar a última versão do motor Ferrari, a que eles estrearam no Canadá. Sabemos ter uns cavalos a mais (cerca de 30). Além disso, Spa e Monza não são circuitos onde é preciso gerar muita pressão aerodinâmica, como na Hungria, por isso acredito que deveremos ter melhor desempenho lá.” O brasiliense de 22 anos não marcou pontos nas últimas quatro provas. O grande pacote aerodinâmico em estudos na sede da Sauber, em Hinwil, Suíça, só será usado no GP de Cingapura, 13º do calendário, dia 20 de setembro.
Pastor Maldonado - Lotus - GP da Áustria (Foto: Getty Images)A compra da Lotus pela Renault pode mudar algumas coisas na escuderia (Foto: Getty Images)
RBR-Mercedes, possível
A compra da Lotus pela Renault deverá ter novo capítulo do GP da Bélgica. A montadora francesa negocia com Gerard Lopez, sócio do grupo Genii, proprietário da Lotus, a aquisição da escuderia que ela mesmo vendeu a Lopez no fim de 2011. E por conta desse interesse da Renault em competir com time próprio, Helmut Marko e Christian Horner, da RBR, mantém hoje, surpreendentemente, avançado estágio de conversa com Toto Wolff e Niki Lauda, da Mercedes, para utilizar sua unidade motriz no ano que vem.
Nenhum dos negócios está sacramentado, ainda. A Renault pode seguir apenas como fornecedora da unidade motriz da RBR e STR, assim como até mesmo decidir se retirar da F1. E a cessão da unidade motriz Mercedes para a RBR e talvez STR está sendo costurada por Bernie Ecclestone, promotor da F1, mas sem garantia de dar certo. Para o evento seria uma grande notícia, pois possivelmente lançaria a RBR no bloco mais avançado, onde estão, hoje, Mercedes, Ferrari e Williams.
Por fim, é grande a pressão dos diretores técnicos das equipes pela definição do regulamento técnico e esportivo de 2017. Nem mesmo todas as diretrizes foram acertadas, ainda. Se até o fim do campeonato, dia 29 de novembro, com o GP de Abu Dabi, não apenas as diretrizes, mas a especificação das regras não forem acertadas, o pacote de mudanças que pretende tornar os carros mais difíceis de serem pilotados, com significativo aumento de potência, dentre outras medidas, deverá ficar para 2018.

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