Para consultor, Chape deve montar timaço de marketing para se reerguer
Em meio à tragédia, Amir Somoggi vê marca muito mais forte do que antes do acidente aéreo: "Virou gigante, mas tem que transformar isso tudo em receita"
Em meio à tragédia que levou 71 vidas no acidente aéreo do voo LaMia 2933, a Chapecoense também se preocupa com seu futuro. O desastre matou 19 dos 22 jogadores que estavam no avião, além de comissão técnica e dirigentes do clube catarinense. Para diminuir um pouco a dor da perda, para vislumbrar o renascimento da instituição, será necessário arregaçar as mangas. O consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi vê um pequeno alento diante de tantos escombros: o crescimento da marca mundo afora.
- A Chapecoense vivia um momento especial, ia disputar uma final de Copa Sul-Americana. Uma coisa precisa ser dita: não há dados hoje para se ter ideia da situação logo após uma tragédia assim, mas, passada a comoção, pode-se dizer que, como marca, a Chapecoense virou um gigante. De clube simpático, tornou-se uma potência global. Muita gente que nem conhecia a Chape passou a ter conhecimento. O que pode servir de alento é que ela é maior hoje do que antes da tragédia. (assista ao vídeo acima)
No entanto, há muito o que se preocupar com o futuro, segundo o consultor de marketing. Além do conforto às famílias, além de precisar remontar a sua equipe, o clube terá de se reforçar também fora das quatro linhas.
- Acho que a Chapecoense deveria montar um time de marketing de primeira, bem capacitado. Não adianta só o número de sócios-torcedores crescer muito, a visibilidade nas redes sociais aumentar. A verdade é que tudo passa, a notícia de hoje pode virar notícia velha amanhã. O marketing tem que ser muito forte para ter esse crescimento convertido em receita.
Os números divulgados em 1º de dezembro pelo Ibope Repucom apontavam para um crescimento da Chapecoense nas redes sociais em 620%. Pulou de 513 mil seguidores (registrados dia 16 de novembro) para quase 3,2 milhões. O Instagram e o Youtube, com ponto forte nos vídeos em imagens editadas, saltaram mais de 1.000%. A Chape entrou para o top 5 entre os times de futebol brasileiros no Instagram, atrás apenas de São Paulo, Corinthians e Flamengo.
A página do clube no Facebook ficou entre as 10 mais acessadas entre os clubes. Só no primeiro dia após a tragédia havia 13 mil novas inscrições para várias modalidades de sócios-torcedores. Esse número já passou para 24 mil. Clubes do mundo inteiro, em forma de homenagem, divulgaram nas redes sociais ou no campo a marca Chapecoense, seja o nome, o escudo ou as cores. Somoggi vê dificuldade até na comparação com as tragédias aéreas vividas por outros clubes de futebol, como as potências Torino, nos anos 1940, e Manchester United, nos anos 1950.
"Clube organizado"
- O custo hoje para se montar um time de futebol é outro. Fora a ajuda às famílias dos jogadores e da comissão técnica. É uma situação delicada. O Torino, que era base da seleção italiana, só voltou a ser campeão 25 anos depois e nunca mais foi a potência que era. Fica até difícil traçar um paralelo entre esses clubes. O que assusta, no caso da Chapecoense, é que o clube foi dizimado - afirmou o consultor de marketing.
A boa notícia no horizonte sombrio é , segundo Amir Somoggi, a capacidade de gestão do clube apresentada ao longo dos anos. Não foi à toa a ascensão da Chapecoense num curto período - passou rápido das Séries C e B para a primeira divisão, onde há três anos assegura permanência com boas campanhas.
- O clube é organizado, não tem dívidas. Tem um custo anual de R$ 41 milhões, e acredito num aumento de faturamento, que deve chegar a uns R$ 50 milhões, R$ 60 milhões nesta temporada de 2016. Para se ter uma ideia, o Corinthians tem um custo de R$ 250 milhões ao ano.
Alerta para formação de novo time
A ajuda de outros clubes com empréstimos de jogadores será fundamental, de acordo com Somoggi, para a Chapecoense começar a ser reerguer na temporada de 2017, apesar de o clube ter assegurado R$ 16,5 milhões em prêmios com a conquista da Sul-Americana, participação na Recopa e ajuda da CBF.
- Sabemos que, com a conquista da Copa Sul-Americana, a Chapecoense terá uma agenda de jogos muito grande. Vai disputar Libertadores, Recopa, além dos outros campeonatos. Vai ser difícil montar um time, e ela não tem recursos para montar neste momento. Daí a necessidade de converter esse crescimento de visibilidade em receita. Mas vejo como fundamental esse empréstimo de jogadores por parte dos outros clubes.
Existe, porém, um alerta: o clube precisará tomar cuidado na formação desse time. Lembra dos muitos casos de equipes montadas com contratações consideradas boas mas que na prática não confirmaram as expectativas. Daí a necessidade de um bom treinador que encaixe bem as peças na engrenagem. E Ronaldinho Gaúcho, seria uma boa?
- Não, o Ronaldinho Gaúcho não, ele é um ex-atleta. Só em nível de marketing. Será importante, sim, ter um técnico com experiência para escolher os jogadores e saber tirar o que houver de melhor em todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário