Velhos aos 15: captação de talentos é cada vez mais precoce na base
Tradicionais peneiras priorizam promessas até 13 anos e indicação de observadores se torna principal porte de entrada em grandes clubes
Primeira categoria com disputa em alto rendimento em âmbito nacional, o Sub-15 já exige da molecada cada vez mais conhecimentos táticos e estrutura física, o que torna o tradicional peladeiro de rua um extraterrestre se jogado as feras. Nesta idade, as velhas peneiras são cada vez mais escassas e o índice de aproveitamento beira o zero. Lógico com um termo de exceção: o jogador muito diferenciado.
A teoria é regra em quase todos os grandes clubes do país, como ficou provado na Copa Brasil Sub-15. O tratamento dado a jogadores nesta idade, tanto em carga de trabalho quanto em nível de estrutura em alojamentos, escolas, ajudas de custos, entre outras coisas, torna inviável a captação de um talento “zerado”. A partir do Sub-15, a margem de erro é baixíssima em um caminho que cada vez mais estreito.
- A partir de 16, 17, já fica muito complicado. Se considerarmos a carga de trabalho, que são sete treinos de duas horas por semana, multiplicado por um ano, um menino que nunca jogou fica para trás em questões físicas e táticas. Talvez tecnicamente até se aproxime, mas em outros quesitos já está perdendo muito tempo – diz Marcelo Vilhena, treinador do infantil do Cruzeiro.
O difícil não é impossível, mas não faltam fatores que tornam raros o sucesso de quem sai da rua em busca de oportunidade a partir dos 15 anos. No Grêmio, o treinador Gustavo Fragoso até admite que há casos. Entretanto, assim como o profissional do Cruzeiro, lembra que situações que independem do talento desportivo têm interferência determinante.
- Tem muita gente que leva em consideração que com 15 anos o garoto tem que ter experiência competitiva. Já aconteceu comigo de atleta de 15 anos se inscrever em peneira e dar certo, mas o normal é nesta idade um garoto que já fez uma base em outro clube se transferir. O garoto da várzea tem mais dificuldades, fica mais inibido, sofre com o hábito do equipamento. Às vezes está acostumado a jogar descalço, sem caneleira...
funil cada vez mais apertado não permite erros aos
clubes (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
- As clínicas ajudam a permitir que o garoto da rua seja avaliado. Procuramos ir a locais que alguns clubes jamais tiveram acesso. Até mesmo para isso, achar a criança da rua, que joga descalço, de forma espontânea e com alegria. Esse é o garoto que o Santos quer. Porque é ele que vai preencher a nossa filosofia e forma de jogar.
Ainda assim, a crença não foge muito a regra:
- Quanto menor, mais fácil de se encontrar. Com o tempo, fica muito difícil. Com 17 anos, é complicadíssimo achar um menino diferente. Até porque, nessa idade, já vai estar jogando em algum lugar. Depois dos 15, a maioria já vingou ou não. Da categoria 97 para baixo, ainda há facilidade. Tem que correr atrás e buscar – conclui Bebeto.
A estatística, por sua vez, dá o tom do quanto é difícil entrar na longa fila até o futebol profissional. De acordo com o supervisor santista, a aprovação de talentos em avaliações no ano de 2010 ficou próxima dos 2%.
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