Dez anos sem Vavá: memórias sobre um mito de façanhas e frustrações
Esta quinta-feira marca uma década do adeus ao bicampeão do mundo, um apaixonado por futebol que não realizou o sonho de treinar o Vasco
Mas também teve frustrações. A saúde ficou debilitada nos últimos anos de vida. E Vavá lidou com a decepção de não ter alcançado como treinador o mesmo sucesso que teve como jogador. Seu maior sonho era comandar o Vasco. Jamais aconteceu.
Passados dez anos de sua morte, Vavá é lembrado com carinho pelas pessoas próximas dele. A família do jogador, porém, amarga uma longa espera: pela aposentadoria aos campeões do mundo, prometida pelo governo federal.
Paixão pelo futebol, pelo Vasco e pela Seleção
por 3 a 1 (Foto: Getty Images)
- Futebol foi até a hora de ele morrer. Ele ficava nos bares vendo os jogos, tomando um vinho espanhol. Ele adorava. Só falava nisso. Também falava dos gols que tinha feito, de como era tratado, das concentrações, dos treinadores. Ele tinha muito orgulho de tudo que aconteceu. Lágrimas vinham nos olhos quando ele falava sobre as Copas. Ele jogou com o coração – recorda Miriam Malizia Izídio Neto, a viúva do ex-goleador.
Dos clubes que defendeu, foi o Vasco que mais mexeu com Vavá. Ele deixou Pernambuco no final dos anos 50, ainda adolescente, para tentar a sorte no Rio de Janeiro. Virou torcedor cruz-maltino. Ficou no clube até pouco depois da Copa de 1958. Foi tricampeão estadual.
Como jogador, Vavá também defendeu os pernambucanos América, Íbis e Sport, o Palmeiras, o Atlético de Madri e o Elche, da Espanha, o América e o Toros Naza, ambos do México, e o San Diego Toros, dos Estados Unidos, antes de encerrar a carreira na Portuguesa carioca. Também foi marcante no clube paulista, onde ganhou o Estadual de 1963. Criou carinho pela camisa alviverde – mas não com a mesma intensidade do Vasco.
O amor pelo clube de São Januário era dividido com forte reverência à Seleção Brasileira. Depois de encerrar a carreira de atleta, Vavá virou treinador. Foi auxiliar de Telê Santana. Comandou a equipe de juniores do Brasil no Mundial de 1981. Aquela equipe tinha Mauro Galvão, que resgata os recados dele.
- Ele nos passava a importância de ter postura de jogador de Seleção. Não era de ficar falando para nós sobre o que ganhou, mas falava da importância de defender a Seleção, de aproveitar essa oportunidade. Foi muito importante para mim – comentou o ex-zagueiro.
Não treinar o Vasco é a maior dor
- Ele também teve muita decepção no futebol. O sonho dele era treinar o Vasco. O problema é que ele era muito orgulhoso. Você veja: no Cordoba, da Espanha, o presidente me disse que ele foi o melhor treinador que o clube já teve. Mas com o Vasco isso nunca aconteceu – lamentou Miriam, a viúva de Vavá.
Evaristo de Macedo, ex-craque de Real Madrid e Barcelona, ex-treinador, conviveu muito com Vavá. Foram amigos próximos. Ele viu o desenvolvimento da carreira do “Peito de Aço” primeiro como jogador e depois como treinador. E referenda o que diz a viúva do bicampeão. O comando do banco de reservas do Vasco foi uma lacuna que Vavá não preencheu.
- Nos últimos anos de vida, ele estava incomodado com isso. Não estava satisfeito, porque não teve uma grande oportunidade como treinador. Sentia falta disso. E como era vascaíno, muito vascaíno, o sonho dele era esse. Queria treinar o Vasco. Foi criado lá dentro – observou Evaristo.
Como jogador, Vavá foi um atacante oportunista, um atleta de entrega absoluta – para compensar o fato de não ter o brilho técnico de outros craques da época. Ele chegou a jogar com o pé quebrado. Mais de uma vez, deixou o gramado com as chuteiras rasgadas. Como treinador, foi um profissional responsável, trabalhador, mas distante dos comandados.
Camisa de 58 é leiloada, e família espera aposentadoria
Vasco (Foto: Alexandre Alliatti / Globoesporte.com)
A CBF investiu R$ 80 mil na compra da camiseta. Retiradas taxas e impostos, a família recebeu pouco mais de R$ 40 mil. E ficou na bronca com a situação.
- Ela era valiosa. Foi leiloada, e eu ganhei um dinheiro. O Ricardo Teixeira mandou o Parreira fazer o lance. Eu fiquei com raiva. Disse que era uma covardia. Se a CBF tivesse comprado de mim, eu ganharia mais – afirmou Miriam.
A família aguarda a aprovação da aposentadoria aos atletas (ou parentes deles) campeões mundiais. Seria um alívio financeiro: R$ 100 mil mais um valor mensal, que pode chegar a R$ 3,4 mil.
No caso de Vavá, a viúva não passa por dificuldades. Mora em um apartamento bom, mas sem luxos. Vive do dinheiro recebido do aluguel dos imóveis comprados pelo ex-jogador. Com ele, banca um plano de saúde caro – o que permitiu a recente cura de um câncer. Miriam diz que a aposentadoria serviria como segurança. Ela tem 70 anos.
Relíquias
A família ainda guarda com carinho uma camisa do Vasco, número 9, dos anos 50, e uma do Palmeiras, número 8, dos anos 60. Elas também têm manchas. Afinal, pertenceram a um jogador que não se contentava em atuar de pé.
- O Vavá suava a camisa. Ele rasgava a camisa. Ele rasgava a chuteira. Ele jogava por amor – lembrou Miriam, com a convicção tirada de mais de 40 anos de casamento e com as lembranças alimentadas pelos dez anos de ausência do bicampeão mundial.
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