Presidente afirma que campanha do Apoel na Champions é um 'milagre'
Erotokritou mostra confiança em bom resultado 'ao menos em casa' diante do Real Madrid, elogia brasileiros do clube e lamenta ausência de Manduca
(Foto: Rafael Maranhão / Globoesporte.com)
- O que aconteceu foi um verdadeiro milagre - disse Phivos Erotokritou ao GLOBOESPORTE.COM no escritório que há um ano virou sede do Apoel, na capital cipriota Nicósia.
- Não há outra palavra para definir como nós, um clube pequeno, pudemos chegar onde chegamos enfrentando equipes muito mais ricas.
A folha de pagamento do Apoel passa longe até da realidade dos grandes clubes brasileiros. O clube gasta R$ 1.8 milhões por mês com todo o seu elenco. Praticamente o mesmo que o Flamengo desembolsa apenas com Ronaldinho e Vagner Love. No caso do adversário Real Madrid, a comparação fica ainda mais desigual. O salário anual de Cristiano Ronaldo (R$ 70,3 milhões) é três vezes maior do que o de todos os atletas do Apoel juntos.
Distribuidor internacional de armas russas - "de caça", faz questão de esclarecer -, o dirigente diz que começou a trabalhar no Apoel porque ninguém mais queria tomar conta do clube. Aliás, nem ele mesmo pretendia assumir o cargo. Em entrevista exclusiva, ele elogia os seis brasileiros do clube, diz que não imagina o Apoel contando com algum jogador do lado turco do Chipre, país dividido desde 1974, e fala sobre a confiança em superar o Real Madrid - "ao menos dentro de casa".
Phivos Erotokritou: No início, nem nós mesmos acreditávamos que fosse possível chegar tão longe. Nós estávamos contentes por chegar à fase de grupos pela segunda vez na nossa história. Depois, conseguimos ganhar um jogo pela primeira vez. A partir daí, as coisas foram acontecendo pouco a pouco. Jogamos uma chave muito difícil, contra equipes muito mais experientes, com títulos internacionais, como Porto, Shakhtar e Zenit. Mas futebol se ganha no campo e este é um sucesso de todos: dos jogadores, da comissão técnica, da nossa torcida... Mas é mesmo um milagre termos chegado até aqui. É algo histórico.
Durante o sorteio da Liga dos Campões, os dirigentes do Apoel gritavam "Marselha", torcendo para enfrentar o Olympique. Foi uma decepção ter de enfrentar o Real Madrid?
Não, de forma alguma. Este é um grande momento para o nosso clube. Claro que nós acreditávamos que teríamos uma maior chance contra o Marselha depois de termos superado outra equipe francesa, o Lyon. Mas acho que todos que chegaram nesta fase são grandes equipes. O Real Madrid é o grande favorito e nem poderia ser diferente. Mas estou confiante de que podemos ganhar dentro de casa, diante da nossa torcida. O que vai acontecer depois, eu não sei. Mas acredito que temos chance de vencer aqui.
Vamos seguir o nosso planejamento da mesma forma. O objetivo principal é conquistar o Campeonato Nacional e voltar à Liga dos Campeões na próxima temporada. Pela primeira vez, graças ao dinheiro ganho com a nossa participação na Liga dos Campeões, não vamos terminar o ano no vermelho. A realidade da nossa liga é bem diferente. Somos um país pequeno. O que recebemos da TV pela transmissão do Campeonato do Chipre, por exemplo, é quase nada. Quando assumi, o clube estava uma bagunça, endividado. Ninguém queria o cargo, nem eu. Hoje arrumamos a casa. Se eu sair, vai ter fila aqui do lado de fora com gente querendo assumir o clube. Mas não vamos cometer loucuras.
Qual a importância dos jogadores brasileiros no Apoel?
Todos sabem da qualidade dos jogadores brasileiros e estes que estão aqui são excelentes profissionais. O Chipre não tem grande tradição no futebol, não produzimos grandes talentos. Então temos que importá-los. Nós temos até um Kaká aqui (o zagueiro Kaká, ex-Hertha Berlim). Eu gosto muito do Manduca, acho que ele vai fazer muita falta nesse jogo de ida. Uma pena ele ter sido expulso contra o Lyon. Mas meu papel aqui é dar condições ao treinador de contar com os jogadores que ele quer. Eu não me meto em contratações. Isso não dá certo.
Eu juro. Pode perguntar a qualquer um no clube. É exatamente aí que nasce o problema da maioria dos clubes. Eu sou apaixonado por futebol, mas não entendo nada do jogo. Digo, da parte interna, tática, armação das equipes. Isso é papel do técnico. Por exemplo, foi ele quem pediu a contração do Aílton, o atacante brasileiro. Nos atuamos contra ele quando eliminamos o FC Copenhague nos play-offs da Champions League. Fomos buscá-lo. Foi a contratação mais cara do nosso clube até hoje. Sabe quantos milhões de euros? Nenhum. Não temos dinheiro para isso. Ele custou 900 mil euros (R$ 2,1 milhões) e hoje é um dos nossos grandes ídolos. Aliás, se atuasse numa equipe de um país maior, seria muito mais famoso do que é hoje e custaria muito mais do que se alguém quiser contratá-lo.
Já receberam proposta por ele?
Recebemos algumas sondagens, mas não nos metemos em negociações na última janela de transferências. O objetivo era dar prosseguimento à boa campanha nesta temporada.
Não, de jeito nenhum. Nós somos gregos e eles, turcos. Somos ortodoxos e eles, muçulmanos. Não funcionaria. Somos divididos. Já apareceram alguns jogadores de lá para fazer testes em clubes daqui, mas não no Apoel. Esse é um assunto sobre o qual eu nem gosto de falar.
Como será voltar ao Santiago Bernabéu desta vez como adversário, e não como turista?
Eu nem imagino. Não tive a oportunidade de encontrar com o presidente do Real Madrid ainda, mas vamos fazer o possível para que o clube dele tenha uma estada muito agradável em nosso país. Eu mesmo liguei para o Real Madrid para sugerir um hotel adequado, fora de Nicósia, para avisá-los de que o Lyon sofreu com os nossos torcedores fazendo barulho durante a noite do lado de fora. Mas claro que nossa realidade é muito mais modesta do que a deles. Será um prazer estar em Madri para ver o Apoel em campo.
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