Formador de campeões: um dia na rotina do técnico Dedé Pederneiras
Chefe da equipe com dois cinturões do UFC e um do Bellator distribui atribuições à 'família' Nova União, mas também 'bota a mão na massa' mesmo lesionado
12 comentários
A resposta está numa mistura de firmeza e disciplina, além da delegação de tarefas entre parentes, atletas e empregados, e na criação de um ambiente familiar - literalmente e figurativamente. Isso tudo sem deixar de "botar a mão na massa" - mesmo quando é preciso expor um corpo debilitado por lesões e muitos anos de luta e trabalho. O Combate.com acompanhou um dia na rotina de Dedé, pouco mais de uma semana antes do UFC Rio 4, em que seu aluno mais bem sucedido, José Aldo, vai defender seu cinturão contra o sul-coreano Chan Sung Jung.
Momento solitário, só pela manhã
É quarta-feira e são 8h da manhã. Dedé Pederneiras já está na academia para fazer fisioterapia. Uma sessão de jiu-jítsu com Léo Santos, dez dias antes da final do TUF Brasil, resultou no agravamento de três lesões nos ligamentos do joelho direito. Ele começou recentemente a fazer sessões de spinning para melhorar, mas, hoje, desistiu de fazer a aula por conta de dores na lombar.
- Detesto musculação. Hoje em dia, só faço a maromba para conseguir lidar com as lesões - ri Dedé, que acrescenta que provavelmente terá de operar o joelho em breve.
O técnico prefere o horário matinal para malhar por ser o horário em que a sala está mais vazia. Se chega mais tarde, mal consegue se exercitar, porque é parado toda hora por sócios da academia reclamando de equipamento, aulas, mensalidades, etc. Mesmo assim, em cerca de uma hora de exercícios, Dedé é cumprimentado por inúmeros professores e alunos. Para lidar com todos os problemas da academia - que, além de três unidades separadas por poucos metros no bairro do Flamengo, ainda realiza de 120 a 130 eventos anuais, incluindo excursões turísticas, fins de semana de atividades esportivas, colônias de férias, entre outros - ele conta com sócios e uma estrutura familiar. Sua mãe cuida do departamento financeiro. A esposa é diretora de fisioterapia.
Você não leu errado: são 20 atletas com luta marcada, seja no UFC, Bellator, Shooto, Wocs, Jungle Fight, etc. São quase 50 lutadores treinando com o time. Ninguém teria condições de, sozinho, traçar estratégias e acompanhar o desenvolvimento de todos esses atletas juntos. Por isso, Dedé faz todo o planejamento em grupo. Quando o card de um evento é fechado, ele junta seu grupo de confiança, que consiste dos professores e treinadores da academia e dos lutadores mais antigos da equipe, como Aldo, Marlon, Léo Santos, entre outros, e analisa os vídeos dos adversários em conjunto para desenhar o plano de jogo. Cada treinador fica responsável por acompanhar o progresso de um grupo de atletas, com Dedé como supervisor. Ele não para de ver o scout dos adversários por todo o camp. No caso das lutas do UFC, recebe vídeos cortados com as principais características de cada oponente, divididos em categorias.
- Vejo um milhão de vezes. Todo dia eu chego de manhã e dou uma olhada. Às vezes, almoço, estou de bobeira e assisto de novo - conta Dedé.
Joelho, pra que te quero!
A quarta-feira é de chuva no Rio de Janeiro e a atividade programada para o dia, de treinos na escadaria e na rampa de um morro vizinho, teve de ser transferida para dentro da academia - o piso estaria muito escorregadio na rua. Com isso, os 20 lutadores em estágio de preparação, incluindo José Aldo, Thales Leites, Jussier Formiga e Renan Barão, passam a uma pequena sala de cerca de 40m² dentro da academia. Agora, o grupo terá de se alternar entre a esteira - ajustada para simular subida - e treinos de manopla e esgrima. A cada dois minutos, os grupos trocam de lugar.
Fim de treino às 11h, Dedé vai para seu escritório, onde começa a pior parte de seu dia: a de resolver os "pepinos" da equipe, da academia, do Shooto, da família. Nesta quarta, o primeiro que entra na sala é um representante de um dos patrocinadores de José Aldo, que quer gravar um depoimento em vídeo com o atleta para uma ação de marketing. Dedé libera e inclusive empresta uma das câmeras da academia. Depois, é a vez de Felipe Mineiro, peso-galo que luta nesta sexta-feira no Wocs. Dedé traça o planejamento de corte de peso num pedaço de papel e explica exatamente o que o atleta precisa comer e beber em cada dia para bater o peso na pesagem de quinta-feira.
Aldo também passa alguns minutos no escritório. Mais do que muitos outros atletas da equipe, ele requere acompanhamento de perto para que mantenha-se dentro do planejamento. Dedé se preocupa porque o campeão perde peso com facilidade e já está abaixo da marca que deveria estar naquele momento, então o incentiva, cobra com firmeza, mas sem perder a calma, que ele coma mais e tome seus suplementos. O peso-leve Felipe Olivieri é o último a entrar na sala e pede ajuda para trocar um cheque em dólar, além de pedir um suplemento específico para recuperação de articulações, que a academia recebe gratuitamente de uma marca de suplementação.
Dedé para; o mundo, não
Ao final da manhã, ainda há inúmeros problemas para cuidar, mas Dedé Pederneiras vai para casa almoçar com a família. Sua casa fica a menos de 15 minutos a pé da academia, mas o treinador vai de carro assim mesmo. A imprevisibilidade de sua rotina pode exigir que ele tenha de ir aos mais diversos lugares para resolver problemas de seus múltiplos empreendimentos. Hoje, Dedé precisa ir à Tijuca, onde finaliza a compra de uma van para transportar equipamentos da academia, e à Barra da Tijuca para uma consulta médica, que vai impedí-lo de lecionar a aula de jiu-jítsu da tarde.
André e Caíque o vêem como um super-herói. Para motivá-los a comer, Dedé usa um velho recurso de pais experientes: joga "queda de braço" com cada um e só os deixa vencer se "limparem" o prato. Outro prêmio é jogar videogame com o pai após o almoço. O caçula, Matheus, de um ano e oito meses, acorda para se juntar à bagunça, mesmo sem entender o que está acontecendo. Dedé joga um pouco, mas logo não tem mais condições de ignorar as chamadas. É hora de voltar à labuta.
Igualdade, o segredo da união
No caminho à academia, Dedé resolve, por telefone, alguns problemas relacionados ao Shooto, cuja edição anual na sede do Bope está programada para o próximo dia 25 de agosto. Como organizador, ele cuida do casamento de lutas e também de toda a logística do evento. Tantas ligações, entre os compromissos de treinador, empresário, promotor e homem de família, resultam numa conta mensal de cerca de R$ 2.500.
Ele também passa na loja de suplementos alimentares que mantém numa galeria próxima, para conferir a venda de camisas de José Aldo, e num restaurante que patrocina seus eventos e lutadores para conferir se um dos atletas pagou a cota mensal. O acordo é que os lutadores que não recebem patrocínio pagam apenas R$ 300 por mês, cerca de R$ 10 ao dia, e podem fazer todas as refeições por lá. A uma quadra de distância, está o apartamento em que moram vários dos atletas da Nova União. O apê era a casa de Dedé antes de se mudar, e passou a abrigar dezenas de lutadores que anteriormente dormiam na própria academia para se manter no Rio. Quatro dividem um quarto, três dividem outro. Alguns ficam pela sala. Renan Barão montou uma beliche no quartinho para acomodar um amigo do Rio Grande do Norte. Eles pagam R$ 300 de aluguel e podem focar no treino.
- Ninguém chega a lugar nenhum sozinho. Sempre ajudamos um ao outro. Acho justo todas as pessoas mais antigas participarem. Se a Nova União tem hoje o nome que tem, não é só porque o Aldo hoje é o campeão. Outras pessoas antes do Aldo fizeram parte da academia, especialmente na parte do jiu-jítsu, e contribuíram para isso. As pessoas antigas que treinam aqui dentro, e o Aldo é uma delas, estão sempre opinando e vendo como vamos tratar os assuntos que aparecem. O peso delas é igual ao meu. Tenho um voto e todo mundo tem um voto. A única diferença é que eu sou o relator do processo. Trago uma situação, relato o que está acontecendo, mas, na hora de julgar, meu voto como relator é igual ao de todos. E uma decisão é tomada, independentemente de ser minha vontade ou não. A vontade do grupo prevalece. Não adianta trazer uma pessoa que o grupo não queira e que venha me dar trabalho mais tarde com um grupo que tenho unido - explica.
Não há tempo para resolver a questão nesta quarta. Dedé tem que lidar com patrocinadores cujos pagamentos estão atrasados, com posicionamentos de equipes e marcas, com a divulgação do Shooto, e ainda com os exames médicos na Barra. A ida à Tijuca é adiada para outro dia. Mas sem estresse: tudo será resolvido no momento certo.
- Eu consigo lidar com tanta coisa porque consigo deixar um problema em cada lugar. É tanta coisa para resolver, que eu passo de um ao outro e já paro de pensar no anterior para me concentrar no atual. Depois, eu volto no anterior. Consigo separar bem essas coisas - dá a receita.
Neste sábado, os problemas que Dedé terá a resolver serão as lutas de José Aldo, Thales Leites e Francimar Bodão pelo UFC 163, ou UFC Rio 4. O Combate transmite tudo ao vivo a partir das 19h30m (de Brasília). O Combate.com fará a cobertura de todos os detalhes em Tempo Real. No dia anterior, os dois farão a transmissão ao vivo da pesagem, às 16h.
UFC 163 (UFC Rio 4)
3 de agosto de 2013, no Rio de Janeiro
CARD PRINCIPAL
José Aldo x Chan Sung Jung
Lyoto Machida x Phil Davis
Cezar Mutante x Thiago Marreta
Thales Leites x Tom Watson
John Lineker x José Maria No Chance
CARD PRELIMINAR
Vinny Magalhães x Anthony Perosh
Amanda Nunes x Sheila Gaff
Serginho Moraes x Neil Magny
Ian McCall x Iliarde Santos
Rani Yahya x Josh Clopton
Ednaldo Lula x Francimar Bodão
Viscardi Andrade x Bristol Marunde
Nenhum comentário:
Postar um comentário