Sem salário, alpinistas dizem que cobertura do Beira-Rio vai atrasar
Responsáveis pela instalação alegam vencimentos atrasados, prometem paralisação nesta sexta-feira e colocam em dúvida entrega antes de 31 de dezembro
53 comentários
Uma
dívida com os alpinistas que montam a cobertura do Beira-Rio pode atrasar a
conclusão das obras de mais um estádio da Copa do Mundo de 2014. Sem receber
salários, os profissionais brasileiros prometem paralisar nesta sexta-feira a
instalação e ameaçam deixar o serviço – o que complicaria a entrega do estádio do
Inter em 31 de dezembro, conforme o previsto, inicialmente.
De acordo
com os alpinistas, a construtora Andrade Gutierrez, responsável pelas obras no
Beira-Rio, alega que já repassou o dinheiro para a Fifa, que contratou a
Hightex, empresa alemã, para instalar as coberturas do Maracanã, do Beira-Rio e
da Arena das Dunas, em Natal. A dívida seria de cerca de R$ 40 mil com
profissionais brasileiros, e € 500 mil (aproximadamente R$ 1,6 mi) com os
estrangeiros.
Assim
como ocorreu no Maracanã, alpinistas estrangeiros foram contratados para
instalar a cobertura. São 42 ucranianos e nove alemães, que trabalham para a
empresa Hightex. Eles são responsáveis por puxar as membranas da cobertura e
não receberiam parte dos vencimentos pelo serviço prestado no palco da final da
Copa do Mundo.
FOTOS: a menos de 20 dias da entrega, veja como está a cobertura do Beira-Rio
Outros 11 alpinistas brasileiros responsáveis pela instalação das redes de segurança também não receberam pelo último mês de trabalho e ameaçam abandonar as obras.
FOTOS: a menos de 20 dias da entrega, veja como está a cobertura do Beira-Rio
Outros 11 alpinistas brasileiros responsáveis pela instalação das redes de segurança também não receberam pelo último mês de trabalho e ameaçam abandonar as obras.
- Ninguém
mais trabalha a partir desta sexta. Os europeus estão revoltados. Se não
receberem até segunda-feira, vão voltar para a Europa. Nem fazemos nem mais
questão de receber o dinheiro agora. Depois entraremos na Justiça para buscar
nossos direitos. Tudo que a gente quer é pegar passagem e voltar pra casa. Não
precisa nem pagar agora. Não temos nem dinheiro para voltar para casa. Não
temos como sair de Porto Alegre – disse o alpinista Telmo Felipe Neto.
- É
impossível ser entregue até 31 de dezembro. Se todo mundo voltar a trabalhar,
só no final de fevereiro. Se os ucranianos e alemães forem embora, dificilmente
o Beira-Rio será entregue para a Copa do Mundo.
Os profissionais ainda reclamam das condições de trabalho nas obras do estádio do Beira-Rio.
- Ninguém
faz nada. Acham que essa situação é normal. Estamos largados. E ainda muitas
lonas estão presas no aeroporto. É tudo uma burocracia. Estamos todos morando
em um alojamento no Beira-Rio. Não temos nem condições de usar os banheiros
pela manhã. E não recebemos auxílios alimentação e transporte – disse Telmo. Os
alpinistas, porém, tem direito a café da manhã, almoço e jantar na obra.
Victor Zarlotti, de 22 anos, viajou da cidade de Petrópolis para Porto
Alegre no dia 11 de novembro, junto aos outros alpinistas. Segundo ele, as
decepções com o trabalho iniciaram ainda no Aeroporto Salgado Filho. O grupo
teve de esperar mais de seis horas para conseguir transporte até o estádio.
- Chegamos em Porto Alegre às 13h. Não tinha ninguém esperando a gente,
a logística não funcionou. Ficamos lá até 19h, quando nos mandaram pegar um
táxi. No alojamento, mais uma decepção. Banheiro horrível, imundo. Mais de 100
homens naquele alojamento e um banheiro – descreve. – Os
equipamentos que nos deram não eram apropriados. Nem mesmo o cinto. E o nosso
supervisor tinha o curso Irata (que certifica o trabalho) em nível 1. É preciso
um com certificação de nível 3.
(Foto: Divulgação/Inter)
Zarlotti retornou para o Rio de Janeiro devido a complicações de saúde
na família. A empresa forneceu as passagens para que o alpinista voltasse ao
estado em 10 de dezembro. Mas o alpinista retornou para casa sem receber
salários:
- Ficaram de pagar uma parcela do 13º no dia 28 de novembro. Pagaram o
valor de R$ 184 com quatro dias de atraso. O salário era para ter sido pago na
sexta-feira passada (6 de dezembro). Até agora não pagaram. Ninguém resolve
nada.
Procurada pelo GloboEsporte.com,
a Andrade Gutierrez alegou que, em 75 anos de existência, nunca atrasou os
salários dos funcionários e não seria agora, em uma obra importante como a da
reforma do Beira-Rio, que a empresa faria isso. Porém, a construtora informa
que uma empresa terceirizada é a responsável pelo pagamento dos alpinistas. Já a Sepa, responsável pela instalação da membrana no Beira-Rio, não quis se pronunciar sobre o possível atraso nos salários e apenas relatou que os alpinistas atuam em ótimas condições de trabalho.
A ideia
da direção do Inter é de iniciar o Gauchão já no novo Beira-Rio, mas sem toda
capacidade (51.300). De acordo com o último balanço,
o estádio está com 92% dos trabalhos
concluídos.
* Colaborou Paula Menezes, sob supervisão de Paulo Ludwig
Nenhum comentário:
Postar um comentário