sábado, 8 de março de 2014

Marta lembra começo no futebol: 'Meninos do colégio não gostavam'

Eleita cinco vezes a melhor jogadora do mundo, atacante crê que o preconceito com mulheres no futebol é um dos motivos que prejudicam o incentivo à modalidade

Por Rio de Janeiro
Marta bola de ouro (Foto: AFP)Marta na premiação que lhe coroou, pela quinta vez, como a melhor do mundo (Foto: AFP)
Falar de Marta é dispensar apresentações. O nosso "Pelé de saias" - comparação feita pelo mesmo - é unanimidade entre praticamente todos aqueles que apreciam uma bela partida. Quem ousaria um dia recusar a presença da cinco vezes eleita melhor jogadora do mundo em sua pelada de final de semana? Recusar seu talento, sua ginga, sua qualidade técnica, sua força? Aos 28 anos, após ter conquistado tanto em sua carreira, talvez não. Porém, seu começo no futebol foi um tanto diferente. Afinal, era mulher. E mulher não pode jogar futebol.
Na infância, em Alagoas, Marta precisou provar aos coleguinhas de colégio que podia, sim, atuar em meio a eles. Divertir-se com uma bola, assim como eles. Nem todos encaravam seu gosto pelo futebol com naturalidade. 
- Comecei no futebol quando tinha entre sete, oito anos. Já brincava nos campinhos da minha cidade com os meninos. No começo, as pessoas não achavam normal ver uma menina no meio de um bando de garotos jogando bola. E tinham as pessoas que faziam comentários maldosos e preconceituosos. Quando passei a jogar torneios pelo time do meu colégio, os meninos também não gostavam muito. Achavam que era uma falta de respeito com eles e que as pessoas iriam falar mal daquilo. Por exemplo, 'não tem garotos bons o suficiente na escola, então precisam colocar uma garota em campo'... - relembra a atacante, em entrevista ao GloboEsporte.com, no dia em que se comemora o Dia Internacional da Mulher.
A desconfiança com o futebol feminino atinge o nível profissional. Segundo Marta, até hoje, "é uma luta constante" para se provar na modalidade. Mesmo para quem conquistou campeonatos nacionais na Suécia, nos Estados Unidos e no Brasil, Libertadores, Liga dos Campeões, além de Jogos Pan-Americanos e Sul-Americano com a Seleção, foi artilheira em uma série destas competições, fora os prêmios individuais da Fifa e das Copas do Mundo de 2004 e 2007. O preconceito, para ela, é um dos motivos que colaboram para que haja pouco incentivo neste esporte.
Marta, jogo contra a pobreza (Foto: AFP)Marta foi a única mulher a disputar a última edição do Jogo Contra a Pobreza, tradicional partida amistosa e beneficente organizada por Ronaldo e Zidane (Foto: AFP)

- É uma luta constante (ser mulher em um esporte predominantemente masculino). Mesmo com tantas conquistas, com os bons desempenhos com a seleção, ainda há pessoas que desconfiam do nosso potencial - disse, completando: - Ainda existe preconceito, sim. Não com tanta intensidade como antes, porém existe, sim. E isso, de certa forma, também contribui para travar o desenvolvimento da modalidade. Por sermos mulheres, acabamos tendo de batalhar um pouco mais para conquistarmos nosso espaço, a começar por essa falta de incentivo que existe e pela opção de trabalho, número de clubes.
Marta comemora gol do Brasil contra Camarões (Foto: Reuters)Para Marta, faltam ainda os títulos de Olimpíadas e Mundial com a seleção brasileira (Foto: Reuters)
Preconceito, porém, que ela mesmo está ajudando a quebrar. Nesta terça-feira, em meio ao carnaval, Marta participou do Jogo Contra a Pobreza, tradicional partida amistosa e beneficente organizada por Ronaldo e Zidane. A brasileira foi a única mulher a estar em campo em Berna, na Suíça. Entrou no meio do primeiro tempo, no lugar do Fenômeno. E ainda deu passe para o ídolo francês abrir o placar contra o time local Young Boys. No entanto, não conseguiu marcar o seu.
Vencedora dos principais prêmios individuais e de diversos com suas equipes fora do Brasil, Marta quer ainda ter o mesmo sucesso com a Seleção. Falta para o seu currículo uma Copa do Mundo (2º lugar em 2007) e uma medalha de ouro olímpica (prata em 2004 e 2008). Para tal, quer seguir trabalhando forte para se manter em alto nível. Aos 28 anos, busca inspiração na colega Formiga, a melhor meia brasileira até hoje, na sua opinião. Jogadora que já está com 36 anos, firme e forte nos campinhos.
- O homem, sem dúvida, é mais forte e mais rápido que a mulher. Existe essa diferença física. Mas acredito que, se houver disciplina e a jogadora se cuidar, não há problema algum com relação à idade. Temos um exemplo na Seleção. A Formiga tem 36 anos e ainda está em atividade. Ela, para mim, foi a melhor meio-campista e ainda é hoje. Vou perguntar a ela qual é o segredo e aí, sem dúvida, terei condições de jogar as Olimpíadas de 2016, 2020 e mais... (risos) - brinca a também embaixadora da Boa Vontade na luta contra a pobreza da Organização das Nações Unidas (ONU).

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