"Queria dar gostinho aos brasileiros", diz Rubinho, sobre pressão pós-Senna
Vinte anos depois, Barrichello diz que, após "morrer por seis minutos" em batida,
tem poucas memórias do acidente fatal do amigo Ayrton, ocorrido em 1º de maio
– Falar do Ayrton é uma questão sempre muito delicada. Todo mundo lembra o que estava fazendo no momento do acidente, também
lembra quando os aviões bateram nas torres (atentado ao World Trade Center,
11
de setembro). Mas por incrível que pareça, apesar da
proximidade, me lembro muito pouco. Meu acidente na sexta-feira, com a
visita do Ayrton no ambulatório, é uma vaga memória que parece que
lembro
por ter visto foto. O professor Sid Watkins, que era o médico daquele
evento e
muito amigo do Ayrton, disse que eu tinha morrido por seis minutos. Ele
disse
que engoli a língua, uma situação muito difícil de imaginar. Com toda
aquela
pancada, fiquei com uma memória reduzida por uns 20 dias. Todo o
processo do
acidente do Ayrton... Eu sei que estava na Inglaterra, assistindo à
corrida e,
como todo mundo, o momento em que ele mexe a cabeça é o momento em que
pensei: “Estamos salvos. Ele vai levantar do carro e vai continuar nos
dando
felicidade”. Infelizmente aquele foi o último suspiro – diz o piloto,
que hoje compete na Stock Car.
A perda de um grande ídolo como Ayrton Senna foi um momento
difícil para todos os
brasileiros, especialmente para Rubens – na época com apenas 22 anos, em
sua segunda temporada na F-1. Além de ver em Senna uma
referência, começava a criar um forte vínculo de amizade com o piloto,
que o
tratava como pupilo. Voltar às pistas após se recuperar do acidente foi
um
desafio para Barrichello.
– Foi muito difícil o processo do enterro. Em cinco dias eu
estava de volta num carro com uma dúvida: medo de ter medo. Era uma situação
delicada porque eu não estava com medo. Mas estava com medo de sentar no carro
e sentir alguma coisa diferente. Mas sentei no carro pensando que
eu tinha que ser extremamente atento com todas as curvas que fosse ver e
tentar
fazer o melhor tempo na pista de Silverstone. Consegui fazer o meu
melhor
tempo e, a partir daquele dia, realmente defini que aquilo era a minha
vida. Depois tivemos que encarar Mônaco sem o Ayrton. Foi muito difícil.
Aquele grid com aquelas fotos, aquela faixa “Nós sentimos sua falta”...
Aquilo
foi muito difícil.
– Mas nada foi mais difícil do que voltar para o Brasil em
95, conviver com a falta do Ayrton no momento em que eu ainda não tinha
competitivo para lutar por vitórias, sendo que era algo que eu gostaria muito,
porque o brasileiro sempre foi muito apaixonado por F-1, acostumado com as vitórias. Eu não
estava querendo suprir a falta do Ayrton, mas sim queria simplesmente dar um
gostinho especial para os brasileiros.
Independentemente
do peso de "suceder" Senna, Barrichello trilhou seu caminho e deixou
suas marcas na Fórmula 1. Tornou-se o quarto brasileiro mais vitorioso
na categoria, ao lado de Felipe Massa, com 11 triunfos. Foi duas vezes
vice-campeão, em 2002 e 2004, quando era companheiro de um imbatível
Michael Schumacher na Ferrari. Ainda fez 14 poles e subiu 68 vezes ao
pódio. De quebra, tornou-se o recordista de GPs disputados, com 326
participações.
Nesta semana em que completam-se 20 anos do adeus a Ayrton Senna, o GloboEsporte.com apresenta matérias especiais e entrevistas exclusivas em homenagem ao ídolo brasileiro, além de cobertura "in loco" do "Ayrton Senna Tribute 1994/2014”, evento de quatro dias que será realizado em Ímola em memória ao tricampeão. Fique ligado e confira tudo em nossa página especial “Senna para Sempre”.
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