"Chatos necessários": trio invisível da CBJ é o anjo da guarda dos judocas
Parte da gestão de alto rendimento do judô, Bernardo Seabra, João Gabriel Pinheiro e Anna Beatriz Santos trabalham para que atletas só se preocupem em lutar
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Eles são verdadeiras babás. Sem eles nada funciona. Sou fã deles"
Rosicléia Campos
- Eles são verdadeiras babás. Fazem a parte administrativa, mas sem eles nada funciona. Tudo passa por eles. Todo mundo perturba o tempo inteiro, e eles perturbam a gente também. Uniforme, passagem... Eles são campeões. São muitas pessoas para cobrar, muito trabalho para fazer, e não trabalham só com a seleção principal. A gente trabalha com projetos, se faltar um cartão de embarque, por exemplo, eles estão lá cobrando. Antes do trio chegar lá, quando a Confederação ainda estava crescendo, eu ajudava o Ney (Wilson) com essas coisas mais administrativas. Sou fã deles - explicou Rosicléia Campos, técnica da seleção feminina desde 2005.
Coordenada por Ney Wilson e Amadeu Moura, a gestão de alto rendimento da CBJ conta com 34 profissionais de diferentes áreas. Além dele, um gerente, três assistentes, sete técnicos, cinco médicos, oito fisioterapeutas, um massoterapeuta, duas psicólogas, duas nutricionistas, dois preparadores físicos e dois estrategistas completam o time. Parte deles estará em Paris na aclimatação das seleções masculina e feminina antes do Mundial. Onze nomes viajarão à França, e outros 12, mais o assessor de imprensa, vão a Chelyabinsk, de 25 a 31 de agosto.
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Para
as Olimpíadas Rio 2016, o judô será um dos carros-chefes do Brasil.
Segundo um
estudo realizado pela própria CBJ, cada atleta
da seleção recebe em média um investimento de R$ 145 mil por temporada e
faz uma média de 20 lutas internacionais. As avaliações são feitas por
42 profissionais. Os judocas passam 864 horas nos tatames, assistem a
600 horas de vídeos dos rivais e têm 240 horas de preparação física,
além de 15 viagens (nove para treinamentos e seis para competições),
quatro controles antidoping e quase 20 exames médicos.
trabalho duro
- Nós três, cada um faz uma coisa melhor que o outro, mas os três sabem fazer tudo. A gente se divide mais por evento. A Bia pegou Chile e Estados Unidos. O João pega o pós-Mundial. Ainda nem viajamos para o Mundial e já estamos vendo o que vai ter depois - contou Bernardo.
Aí começa: contato com a organização dos eventos, inscrição dos atletas, emissão de passagens, reserva de hotéis, passaportes, translado... Esse trabalho não tem horário para iniciar ou terminar. Os problemas surgem a qualquer hora do dia - ou da madrugada mesmo - e precisam ser contornados o quanto antes. Apesar da cobrança, eles acreditam que os judocas entendem que os pedidos são necessários para que eles se concentrem nas lutas.
- Muitas vezes na véspera de embarcar o cara se machuca, aí tem que trocar. No caso da Mariana (Barros) deu tempo. Passaporte, muitas vezes a gente vai para eventos que o país precisa de visto. Pedem passaporte e nome. Esse ano já me ligaram 3h da manhã. A gente mandou um passaporte, e o atleta mudou de documento. No meio do caminho, a companhia não deixava ele embarcar. Aí a gente teve que conseguir contornar esse problema. Muitas vezes acabam as folhas de visto porque eles viajam muito. A gente faz o papel de chato, né. Depois de tudo feito ainda tem a prestação de contas. Temos que cobrar os cartões de embarque, relatório dos profissionais. Já reclamaram, mas hoje em dia eles têm essa consciência. Sabem que é para o bem deles, para pensarem somente na parte esportiva - disse Bernardo.
reconhecimento dos atletas
- A gente não precisa se preocupar com absolutamente nada. Só fazer as malas e competir. E sei que não é pouca coisa. Como meu pai foi atleta, ele sempre me diz: "aproveita porque na minha época não era assim". Isso é muito bom para o atleta. Se tivesse que me preocupar com outras coisas, acho que atrapalharia no rendimento. Não deve ser fácil ter que tomar conta de todo mundo. Facilita demais a nossa vida - revelou David.
estratégia e a alfândega
- Cada atleta leva o seu quimono. O que acontece mais é com a parte de estratégia, que acaba sendo parada na alfândega ou na polícia lá fora perguntando de onde vêm os equipamentos. Então eles vão sempre com uma cartinha explicando o que estão levando. Uma câmera para cada área, mais duas ou três extras, três ou quatro computadores, tripés, cabos, ferramentas... imagina o prato cheio para a polícia de fronteira - brincou Bernardo.
Enquanto os atletas levam quimonos, faixas e as roupas que vão usar na bagagem para o Mundial de Chelyabinsk, Bernardo já se prepara para acomodar uma mala médica, material de fisioterapia, balança digital, entre outros equipamentos incomuns em viagens normais. E inicia um ciclo sem fim dos bastidores do judô brasileiro.
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