Técnicos que passaram pela base são minoria no Campeonato Brasileiro
Apenas sete dos 20 treinadores da Série A têm experiência com formação de jogadores. Coordenadores relatam falta de diálogo e integração com os profissionais
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- Há treinadores que criticam a base. Mas eles conversam com a base? Vão ver os treinos? Às vezes há clubes com dois, três auxiliares, e nenhum vai ver o que a base faz. E depois reclamam que o trabalho é mal feito. Mas eles fazem parte desse processo também - analisa Erasmo Damiani, coordenador da base do Palmeiras.
Damiani, que trabalhou no Figueirense e no Atlético-PR, elogia a postura do argentino Ricardo Gareca no comando técnico do Palmeiras, sobretudo em relação à garotada.
- Nossa experiência com o Gareca é bem interessante, ele conversa com o Diogo, fala sobre posicionamento. Dificilmente a gente tem isso.
Parreira, após a goleada por 7 a 1 para a Alemanha, elogiou a formação do adversário e disse que no Brasil o processo deve passar pelos clubes, e não pela CBF, que apenas seleciona os melhores para disputar competições (veja no vídeo abaixo).
A constante rotatividade entre os treinadores é apontada pelos profissionais da área como mais uma dificuldade para que essa integração aconteça. Há clubes que trocam de técnico três, quatro vezes por ano, e cada comissão nova chega com uma filosofia de trabalho diferente, uma preferência por jogadores com um determinado estilo ou outro. Isso condiciona a viabilidade do planejamento inicial ao resultado em curto prazo.
- Enquanto o técnico estiver vulnerável às emoções, a ações intempestivas, não haverá trabalho. Não se faz trabalho com essa ciranda de treinadores - avalia Ricardo Drubscky, atualmente no comando do Goiás, um dos sete que passaram por divisões de base antes de chegar aos profissionais.
- O técnico que chega ao clube não tem a obrigação de confiar em quem é da base, que teoricamente tem interesse em ver todo mundo subir. Mas às vezes alguns profissionais vêm com três, quatro auxiliares, e um deles poderia fazer essa função, de trocar informações com o pessoal da base, para poder lançar jogadores com critério, e não apenas por necessidade.
Números maiores em Espanha e Alemanha
O Brasil perde na comparação com os países que são referência na formação de jogadores atualmente. A Alemanha, atual campeã do mundo, tem dez técnicos com passagens pela base entre os 18 dos times da primeira divisão (55,5%). Entre eles, estão Guardiola (do Bayern de Munique) e Robin Dutt (do Werder Bremen e ex-diretor técnico da Federação Alemã). A Espanha soma dez técnicos em 20 times (50%). Dois exemplos são Luis Enrique (Barcelona) e Marcelino (Villarreal).
O dado não surpreende Mário André Mazzuco, superintendente de futebol do Coritiba. Ex-coordenador da base, ele critica a cultura de resultados imediatos e a falta de percepção de alguns profissionais em relação ao processo de formação do jogador brasileiro.
- Esse número deveria ser o contrário e ilustra o atraso que temos no Brasil em relação ao trabalho de formação. É importante que o treinador tenha a percepção do todo, de que o jogador da base é um ativo do clube, que precisa se fortalecer como instituição, criar políticas próprias, cumprir o que promete, implantar uma filosofia de trabalho e fazer com que o treinador compre a ideia, e não o contrário. Futebol é imprevisível, mas, se houver organização, a possibilidade de dar certo é maior.
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