Tudo pelo rúgbi: praticantes viram árbitros para ajudar esporte a evoluir
Sem grandes atrativos financeiros, há poucos profissionais qualificados para comandar partidas de alto nível. Quase todos são ou foram esportistas
- O profissionalismo da arbitragem no Brasil ainda vai levar muito tempo. Na Argentina, por exemplo, as equipes são obrigadas inscrever um profissional para fazer o curso de capacitação. Caso contrário, são penalizadas. Já aconteceu de eu entrar em uma turma e ter só duas pessoas fazendo a aula. Temos apenas quatro árbitros de nível, e outros em um patamar bem abaixo. Por outro lado, o nível técnico dos jogos também não ajuda muito no desenvolvimento deles. É complicado – disse o diretor.
Um árbitro da elite do rúgbi brasileiro ganha 20% do que um árbitro CBF recebe para apitar a Série D no futebol
Mesmo com um cenário não tão motivador, os jovens estão mais interessados em atuar como juízes de rúgbi. Aos 23 e 27 anos, Henrique Platais e Ricardo Sant’Anna são apontados por Vouga como os principais nomes da nova geração no Brasil e representaram o país, em fevereiro, no Campeonato Sul-Americano de Rúgbi.
- Hoje há 14 equipes no Rio Grande do Sul, mas no começo era muito difícil encontrar adversário e mais ainda alguém para apitar. Em um determinado jogo levei um cartão amarelo por erro do juiz, por um desconhecimento da regra. Pensei que não podia deixar isso acontecer novamente e comecei a me interessar. Vi que meu nível como jogador não iria evoluir para chegar à seleção, e assim seria um meio de me manter envolvido com o esporte e colaborar para a evolução dele de alguma forma – disse.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelos amantes do rúgbi no país, Ricardo vê pontos positivos que podem ajudar no desenvolvimento da modalidade. Professor de educação física, ele acredita que, tanto para quem compete quanto para quem comanda os jogos, os benefícios são múltiplos.
- O rúgbi está crescendo e atraindo estudantes de educação física que buscam conhecer uma nova modalidade, divulgar e poder trabalhar como técnico ou até mesmo jogador. Mas há também profissionais de outras áreas, como economia, administração, que também atuam no esporte. Ele exige disciplina e uma postura que se reflete na vida profissional.
Henrique Platais é um exemplo. Economista de uma multinacional do ramo de refrigerantes, defendeu o Niterói Rugby na elite brasileira e chegou a representar a seleção brasileira juvenil. Assim como Ricardo, se interessou pela arbitragem pela falta de pessoas qualificadas. Quando entrou para a universidade, não conseguiu manter o alto nível como atleta e optou por assumir de vez o apito.
Para conciliar as atividades da jornada dupla de trabalho, Henrique negocia com o chefe para compensar os dias que precisa faltar para vestir o uniforme preto. Neste início de ano, por exemplo, ele já apitou o Campeonato Sul-Americano, em Bento Gonçalves, no Rio de Grande do Sul, e o Torneio Cross-Border, no Paraguai.
ser atleta mediano (Foto: Arquivo Pessoal)
Devido à falta de profissionais preparados, no rúgbi não há sorteio para definir quem comandará cada partida. De acordo com a importância do confronto, as federações regionais e a Confederação Brasileira montam a escala de trabalho. Este ano, o Campeonato Brasileiro de XV contará com 10 participantes pela primeira vez na história. A competição será realizada entre julho e outubro com clubes de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
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