Ministro do Esporte abre o jogo, fala de futebol e da organização da Copa
Em entrevista exclusiva, Orlando Silva diz que relação com cidades-sede é 'entre tapas e beijos', mas mostra otimismo quanto à realização do torneio
mas evitar dar pitacos na Seleção de Mano
Menezes (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)
Torcedor do Vitória, o político conversou com o GLOBOESPORTE.COM com exclusividade para falar de Copa do Mundo, do andamento das obras de infraestrutura e até mesmo sobre futebol. Orlando Silva falou do desempenho do time baiano na Série B, de como acompanha o trabalho do técnico Mano Menezes à frente da Seleção Brasileira e da importância de realizar uma boa competição daqui a 998 dias.
- Sobre o Vitória? Está difícil, vamos ter que recuperar os pontos que perdemos em casa. Mas eu sou otimista: o Vitória tem elenco para estar entre os quatro. Nunca é bom mudar o técnico, mas eu creio que o Benazzi tem experiência em série B, tem um elenco bom e o Vitória tem condições ir pra A - disse o ministro, mostrando conhecimento de futebol.
Orlando Silva, que nasceu em Salvador, tem uma tarefa tão importante quanto (ou até mais) a do técnico Mano Menezes, para quem torce.
- O Mano tem o desafio de transformar individualidade numa equipe, isso não é fácil. Mas eu tenho muita confiança no trabalho do Mano, acho que ele é preparado, experiente. Espero que ele chegue até 2014 e tenha condições. Eu cuido do meu ministério, quem cuida da seleção é Mano Menezes - afirmou o político, sem querer dar pitacos na escalação do comandante.
O Mano tem o desafio de transformar individualidade numa equipe, isso não é fácil. Mas eu tenho muita confiança no trabalho dele"
Orlando Silva
- O que não pode é quebrar a harmonia que foi montada na equipe, mas eu acredito que a seleção, a comissão técnica, têm que ter juntos muita maturidade. Não pode quebrar a harmonia, mas o Brasil tem que ir com potência máxima. Se o Brasil pode ter mais potência, porque ter menos potência? - questionou.
Já sobre os preparativos para 2014, o ministro diz que a relação com prefeituras e governos estaduais é "entre tapas e beijos", defende as novas regras de licitação - questionadas pelo Ministério Público - e descarta a possibilidade de descontrole nos gastos públicos para o evento. Confira os principais trechos da entrevista do ministro ao GLOBOESPORTE.COM.
Avaliação geral da preparação até agora?
ORLANDO SILVA: Nós temos uma visão crítica e uma visão positiva. Nós não temos uma visão ufanista de que está tudo pronto, tudo certo, sabemos que tem desafios que tem que ser superados. Eu diria que os dois temas cruciais, estádios e aeroportos, são temas que entraram nos trilhos. Muitos outros temas são legado. Não são absolutamente essenciais para a Copa, mas é importante que fiquem para depois. Mesmo mobilidade urbana, que não é um tema fundamental para a Copa, é um legado. Nós queremos que a Copa do Mundo no Brasil seja marcada também por conquistas para as cidades.
Mobilidade urbana foi colocada em estado de alerta...O que eu percebo sobre este assunto, que é um assunto que é executado pelas cidades e estados, é que há uma evolução. Porque quando nós selecionamos os projetos lá atrás, os cinquenta projetos, a maiorias das cidades tinha projetos conceituais. Tinha uma ideia na cabeça, um traçado no mapa da cidade, uma indicação no plano diretor, mas não tinha um projeto executivo. Essa fase foi consumida com a elaboração de projetos, licitações, contratações e agora entrando na fase de obras. A minha perspectiva é de que devemos virar 2011 para 2012 com uma aceleração de obras, o que vai nos dar segurança de que em 2012 o Brasil será um canteiro de obras na preparação do Mundial de 2014.
Há risco de se excluir alguma obra da chamada matriz de responsabilidades?Se no próximo balanço, nós não tivermos mais segurança quanto à execução desses empreendimentos, existe o risco de excluir um ou outro projeto da matriz. Não é o nosso desejo, mas é possível.A nossa perspectiva é de que o financiamento seja mantido em qualquer hipótese, mas vai ficar claro para a sociedade que não é uma intervenção para a Copa de 2014. Essa é uma oportunidade que as cidades têm de melhorar seu transporte coletivo, seu transporte de massa. O prefeito, o governador que perder essa oportunidade, poderá pagar um preço político alto. Porque as pessoas estão prestando atenção.
Acredita que o RDC possa ser estendido a outras compras governamentais?Evidentemente que os órgãos de controle vão ter mais chance de observar a aplicação prática disso, e acredito que vão ganhar confiança, tanto o Ministério Público como os tribunais de contas. Não me surpreenderá se mais adiante eles próprios recomendem que o governo amplie o alcance dessas regras.
A presidenta Dilma tem o mesmo interesse que o presidente Lula tinha com a preparação do Brasil para a Copa"
Orlando Silva
Contestação do regime pelo Ministério Público no Supremo Tribunal Federal não pode gerar insegurança?A contestação da constitucionalidade é uma decisão da Procuradoria Geral da República, mas o governo está absolutamente seguro quanto a essa matéria. O exame foi feito antes de enviar o projeto, na Câmara, no Senado, e foi feito ao final pelo governo, então estamos seguros que o Supremo vai sustentar a constitucionalidade dessa matéria. Portanto não está no nosso horizonte nenhuma instabilidade.
Presidente da Fifa, Joseph Blatter, disse em entrevista recente que relação era melhor com o presidente Lula do que com a presidente Dilma. Concorda?Ele fala da percepção dele. A presidenta Dilma tem o mesmo interesse que o presidente Lula tinha com a preparação do Brasil, o mesmo interesse com o cumprimento de todos os compromissos que nós firmamos. É claro que cada um tem o seu estilo. Talvez o presidente Lula tenha uma paixão pelo esporte, uma motivação pelo futebol acima da média dos brasileiros. Eu vi uma vez o Blatter chegar na sala do presidente Lula, e o presidente Lula comentar a rodada da Champion's League do dia anterior da qual o Blatter não sabia o resultado. É o jeito dele, é um homem apaixonado pelo esporte, particularmente apaixonado pelo futebol. Mas cada um tem um jeito, eu não percebo mudança de conduta do governo do Brasil. E olha que eu vivi com o presidente Lula, vivo com a presidenta Dilma, convivi com o Blatter e com o Ricardo Teixeira. Eu percebo que são estilos diferentes, mas o essencial é sustentar os compromissos do país, e os compromissos todos estão sendo sustantados.
E as notícias sobre demora no envio da Lei Geral da Copa para que texto limitasse melhor a atuação da Fifa?Eu insisto, a relação é positiva. Eu tenho uma relação de diálogo permanente com o presidente Ricardo Teixeira, não tem nenhum tema que envolva a Copa de interesse do país que eu não dialogue com ele para construir uma posição conjunta, e creio que esse é o papel do governo. A Lei Geral é um capítulo à parte, inclusive boa parte dos temas tratados nela já tem abrigo na lei brasileira, mas nós não somos contra reafirmar esse abrigo para sinalizar à Fifa o compromisso do país com a garantia que nós firmamos. Daqui até 2014, a Fifa e o governo brasileiro vão ter que trabalhar cada vez mais próximos. Nós estamos no mesmo barco. A Fifa tem interesse no sucesso da Copa, o Brasil tem interesse no sucesso da Copa. Então nós temos que cooperar para que o sucesso possa acontecer.
Ricardo Teixeira e do governador do DF, Agnelo
Queiroz (Foto: André Coelho / Ag. O Globo)
Algumas autoridades citaram o temor de descontrole nos gastos e um novo Panamericano de 2007...O projeto que foi aprovado pela Odepa em 2002 para a realização dos jogos era absolutamente inconsistente, era frágil. Eu dou sempre um exemplo que pra mim é clássico: segurança neste projeto custava R$ 13 milhões, era segurança patrimonial das instalações esportivas. Imaginar que você vai ter 5 mil atletas de 42 países, 10 mil membros da comunidade esportiva internacional, dignatários, chefes de Estado, e vai fazer segurança no Rio de Janeiro ou em qualquer cidade do mundo só com segurança patrimonial em instalações esportivas? É uma piada. Nós não tínhamos alternativa, tínhamos que enfrentar o assunto, e foi feito todo um trabalho que deixou legados no Rio. O que houve primeiro foi isso: um plano fraco, inconsistente, que ao ser visto e aplicado à vida, não casava. Segundo, no meio do processo, foi tomada uma decisão política, que pode ser discutida. Nós elevamos o padrão do serviço. Se você for na Vila Pan, o serviço que tinha lá foi no padrão olímpico. Foi uma opção política de elevar o padrão porque pelo menos metade dos eleitores do Comitê Olímpico Internacional estavam no Rio para acompanhar. Então foi uma tática política. Certa ou errada? Na minha opinião, foi certa.
Mas os gastos estão até hoje sob análise do Tribunal de Contas da União (TCU)...Inúmeros processos foram abertos, e um a um tem sido encerrados com justificativas técnicas mostrando o porquê de cada centavo gasto. E uma última observação, porque eu prometi a mim mesmo que não falaria mais disso, mas... Houve um erro político. Teve um dado momento em que se estabeleceu uma gincana, uma disputa entre gente do governo federal e gente do governo municipal sobre quem ia gastar mais com o Pan. Um dia, eu tenho certeza que a poeira vai baixar e vai ser feita justiça quanto à importância de ter-se realizado o Pan nas condições em que foi realizado.
Eu tenho um canal privilegiado com a Fifa, seria uma injustiça da minha parte manifestar preferência"
Orlando Silva, sobre a escolha da cidade que receberá a abertura da Copa
Alguma estimativa sobre quanto vai custar a Copa ao todo?Tem temas que cobrarão investimento e a decisão vai ser daqui a pouco. Eu não posso decidir quanto eu vou ter de investimento de parte do meu trabalho que vai ser executado daqui a pouco, teremos que ter um pouco de paciência. É impossível você antecipar, e seria uma irresponsabilidade antecipar um número. O que importa é que você tem que saber quanto vai ser feito do investimento, de que maneira vai ser feito o investimento, de maneira clara e eficiente.
Existe a possibilidade de alguma cidade-sede ser excluída?Não.
Alguma aposta para quem sediará a abertura?Eu tenho um canal privilegiado com a Fifa, seria uma injustiça da minha parte manifestar preferência. Eu poderia ter predileção por Salvador, que é minha cidade natal. Hoje eu me divido entre Brasília, onde tenho uma casa, e São Paulo, onde eu tenho outra casa e a minha vida política. E sou amicíssimo do prefeito de Belo Horizonte, gosto muito do governador (Antônio) Anastasia. Então, não teria motivo pra ter uma predileção. O que eu acredito é que a Fifa deve valorizar o trabalho das cidades. São eventos complexos, não adianta dizer que quer fazer a aberura, tem que demonstrar tecnicamente que tem qualidade de serviço, estádio cumprindo os critérios. É importante que a decisão seja técnica, de um lado, e de outro lado, seria conveniente para o país que nós tivéssemos uma distribuição dos jogos da Copa pelas várias cidades. Seria um erro concentrar os principais eventos em uma só cidade. Para o país interessa nacionalizar a Copa, e nacionalizar a Copa significa ter os eventos do Mundial em várias cidades.
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