Lembra Dele? Dono de 12 títulos na Stock Car, Ingo Hoffmann faz 60 anos
Maior vencedor da principal categoria do automobilismo brasileiro, ex-piloto relembra época dos Opalões e fala de sua relação com Interlagos
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A história da Stock Car e a carreira vitoriosa de Ingo Hoffmann
praticamente se confundem. Não é à toa. Entre 1979, quando a categoria
organizou seu primeiro campeonato, e 2008, quando o “alemão” se
aposentou das pistas, foram disputadas mais de 300 corridas. Ingo esteve
presente em todas, menos na primeira. Nestes 30 anos, venceu 76 vezes e
conquistou 12 títulos - trajetória que teve início muitos anos antes,
quando ele, ainda garoto, pulava a cerca de Interlagos para assistir às
corridas da época. O mesmo Interlagos que marcou sua estreia no
automobilismo em um Fusca, aos 19 anos, e que quase o viu marcar um
ponto guiando o Fórmula 1 brasileiro da Copersucar apenas cinco anos
depois. Neste cenário, onde também se despediu das pistas, Ingo Hoffmann
conversou com o GLOBOESPORTE.COM. Uma entrevista na qual o ex-piloto,
que nesta quinta-feira completa 60 anos de idade, abriu o coração ao
falar do circuito.- Não tenho noção de quantas vezes eu pisei neste autódromo, mas vindo para cá, no trânsito, comecei a pensar na relação que eu tenho com ele. Eu frequento isso aqui desde os meus dez, 12 anos de idade, tenho paixão por essa pista. Mas isso é só de mim para o autódromo, não o contrário, infelizmente. Cheguei na portaria, não sabiam quem eu era. Não guardam a história, não tem a reciprocidade. Mas eu tenho uma ligação muito grande, emocional até, em razão de ter sido aqui que eu fiz a minha primeira corrida, em 1972, por ter sido aqui que eu me aventurei como “rato de box” pulando a cerca para ver corrida... Conheço isso aqui como a palma da mão – analisa Ingo.
- Realmente são muitos momentos. Mas, de bate-pronto, um que me vem à cabeça foi em 1973, quando eu ganhei meu primeiro campeonato brasileiro de turismo, na categoria Divisão 3. Foi bem no início da minha carreira, quando eu estava meio que me localizando no esporte, e estava minha família toda aqui, meu pai, minha mãe, meus irmãos... E pegando essa linha, outro momento que lembro foi justamente minha despedida, em 2008. Fiz minha última corrida profissional aqui em Interlagos, na Stock Car, onde eu terminei na terceira colocação. Ou seja, saí da categoria no pódio, o que foi extremamente gratificante – relata o ex-piloto, lembrando também que na véspera de sua última prova lhe foi prestada uma homenagem nos boxes, na qual ganhou de presente um exemplar restaurado de um dos Opalas que guiou na Stock Car na década de 1980.
com um fusca (Foto: Acervo pessoal)
Em 1976, veio a grande chance de sua vida até aquele momento: estrear na Fórmula 1, disputando o GP do Brasil – em Interlagos, claro – com o segundo carro da Copersucar, equipe que tinha Emerson Fittipaldi como piloto e proprietário. Ingo chegou em 11º e ganhou nova chance de participar da prova no ano seguinte, quando esteve muito perto de marcar um ponto. Na época, a F-1 premiava apenas os seis primeiros colocados. Era apenas a terceira corrida de Ingo Hoffmann na categoria, diante de um público caloroso.
- Eu estava na sexta colocação, marcando um ponto, quando o pneu traseiro esquerdo teve um microfuro e foi perdendo ar. Então, nas curvas para o lado direito, o carro ficava muito instável e eu tive que diminuir o ritmo. Faltando duas voltas para o final, outro piloto me ultrapassou e chegou em sexto, e eu terminei na sétima colocação. Tudo foi muito rápido para mim. Estreei no automobilismo em 1972, correndo com um Fusquinha 1500 cc standard, e em 1976 eu estava correndo de Fórmula 1 aqui. Nos dias de hoje isso é inviável. Naquela época o Emerson ainda estava ganhando os campeonatos, era aquela febre toda. Quando eu estava parado no grid, vi a torcida, a arquibancada cheia, foi emocionante – relata o veterano.
Para Ingo, o ritual de alinhar no grid da Stock se repetiu em todas as provas que a categoria realizou até o fim de 2008. Foram 332 corridas disputadas, nas quais conquistou 76 vitórias. Um desempenho que rendeu ao competidor o recorde de 12 títulos brasileiros, marca que alcançou ao fim de sua 24ª temporada. O primeiro campeonato que faturou foi em 1980. Depois repetiu a dose em 1985, 1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1996, 1997, 1998 e 2002. Um retrospecto respeitável para quem não tinha planos de entrar na categoria. E para quem, mesmo depois de tantos recordes, prefere o caminho da modéstia para justificar tamanho domínio.
Décadas de histórias e conquistas nas pistas
As muitas mudanças nos carros servem como uma espécie de linha do tempo na galeria de conquistas do ex-piloto. Mas, da mesma forma que elogia a evolução técnica, Ingo Hoffmann não deixa de criticar o aumento excessivo dos custos e a limitação no número de treinos. Uma realidade bem diferente daquela que ele encontrou em 1979, quando aprendeu rapidamente a domar os Opalões, que foram usados até 1993. Depois veio o Ômega, também um modelo de rua adaptado, antes do primeiro chassi tubular, que entrou em vigor em 2000 e correu até ser substituído por uma nova geração, com mais recursos tecnológicos, em 2009. Este é o carro que é usado nos dias de hoje.
Perguntado sobre quem é o Ingo Hoffmann de hoje em dia, o veterano da Stock Car não tem dúvidas em apontar um pentacampeão como seu legítimo sucessor. Não apenas pelo estilo de pilotagem, mas também pela língua afiada na hora de emitir suas opiniões.
Mas Cacá não é o único que empolga o multicampeão. Amigo de longa data da família Barrichello, Ingo diz que a chegada de Rubinho é “algo que só tem a agregar para a categoria” e expressa sua felicidade em ver o competidor de 40 anos optar pela Stock Car, trazendo para as pistas brasileiras sua experiência de 19 temporadas e 326 GPs na Fórmula 1. Nas três provas que disputou em 2012, Rubens Barrichello usou o número 17 em seu carro, como forma de homenagem ao ídolo. Em 2008, quando estava na F-1, o piloto competiu no GP do Brasil usando um capacete com a mesma pintura do “casco” de Ingo.
- Sou mil por cento realizado, não tenho a mínima vontade de competir. Eu até piloto para uma montadora, participando de testes com novos pilotos, e é isso que me dá prazer: pilotar. Em competição, fiz tudo o que eu tinha que fazer, estou fora. Graças a Deus, sou um sujeito realizado – enfatiza.
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