Diego Costa vira inspiração no pobre e desconhecido Barcelona Capela
Time onde o atacante da Seleção começou no futebol ainda treina em campo de areia e luta para disputar a quarta divisão do Paulistão
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Oito anos depois, o local está mais danificado, já que uma árvore, cortada na direção errada, desabou sobre parte do alambrado atrás de um gol, e do teto do local. Alheios ao visual, dezenas de adolescentes de 11 a 19 anos vestem o uniforme do Barcelona (não o de Messi e cia.) e correm atrás da bola do sonho de se tornarem jogadores de futebol. Agora, inspirados em Diego Costa, que será utilizado como exemplo pelo presidente Paulo Moura, que luta para conseguir disputar a Série B (quarta divisão) do Campeonato Paulista.
Até hoje, o Barcelona Capela recebe garotos de outras regiões do país aos montes. Diego chegou de Lagarto, no Sergipe, a São Paulo para morar com os tios e tentar a sorte no futebol. O dirigente jura que se encantou com a mistura de talento e força do adolescente desde seus primeiros toques na bola. Mesmo assim, não foi nada fácil para Moura convencê-lo a insistir na carreira. Até a Rua 25 de Março se tornou adversária.
Os primos de Diego Costa, então com 15 anos, trabalhavam no comércio popular da famosa rua da cidade, e faturavam mais do que os R$ 400,00 que o jovem recebia no Barcelona. O presidente do clube revela que seu pupilo sofreu um "bullying familiar".
- A 25 de Março foi uma tentação na vida do Diego. Ele recebeu bullying das pessoas que recebiam salário maior do que ele, e se sentia triste, um pouco preso. Queria poder comprar roupa, ir ao cinema, mas gastava quase tudo que ganhava em condução para vir treinar.
Moura não nega que o atacante recebia atenção especial. Assim como outros jovens, ele chegou a passar mais de uma semana sem aparecer nos treinos, mas o presidente insistia em ir até sua casa para buscá-lo. Quando Diego parecia encaminhado e convencido de que seu futuro seria o futebol, outro incidente quase freou sua trajetória.
Diego Costa estava sem treinar, disposto a desistir após novo baque. Foi chamado na última hora e, sem ritmo, disputou apenas o segundo tempo. O suficiente para fechar um contrato e passar a defender o Braga, de Portugal.
- Tudo era para ter dado errado, mas deu certo. A suspensão foi absurda, mas conseguimos reverter, e quem viu adorou. Levaram direto - lembra o presidente do Barcelona Capela, que aproveita para elogiar o caráter do jogador:
- Apareceu gente querendo cancelar o negócio, o São Caetano procurou, a família questionou, mas ele disse que jogava bola por insistência minha, e bateu o pé. Ele sempre foi um exemplo dentro e fora de campo. Não é de bagunça, adora os pais, e fez o caminho de tantas outras crianças: do nada para o sonho, e do sonho para o tudo - filosofa.
No presente, em 2013, garotos de todas as regiões do país tentam seguir os passos de Diego, mas têm um empecilho. O Barcelona Capela não conseguiu cumprir as exigências da FPF para disputar a Série B estadual. O clube não tem um estádio para mandar os jogos, e reclama. Alega que fez acordos para atuar, por exemplo, na Rua Javari, mas foi impossibilitado pelo fato de duas equipes já utilizarem o local: Juventus e Palmeiras B.
O Barça paulistano também recebeu convites para representar outras cidades, do interior, na Série B, mas não tinha como bancar a transferência de município exigida pela Federação nesses casos: R$ 800 mil. Assim, o clube vive de treinos e amistosos para colocar seus atletas na vitrine. É por uma oportunidade como essa que o volante Denilson, de 15 anos, aguarda. Paraense, ele trocou as categorias de base do Paysandu por ver São Paulo como um cenário mais favorável. Ele deixou pais, amigos e namorada, e mora numa casa só com garotos do clube, numa avenida próxima ao campo de areia.
- O Diego Costa pegou Seleção, só de pensar nisso já é uma boa motivação pra galera. A gente faz um esforço a mais - diz o adolescente, que, apesar de inexperiente, já sabe muito bem como vender seu futebol.
- Uso as duas pernas, bato com a mesma força com ambas, dou dois toques na bola. Gosto de movimentação e de partir pra cima.
Lucas, outro volante, fez o caminho inverso. Saiu do Barcelona Capela rumo ao Paysandu, onde se tornou campeão estadual sub-17. Chamado de Thiaguinho, pela semelhança com o cantor de pagode, voltou a São Paulo para passar férias e mantém a forma graças aos treinos no clube. O campo de areia, que à primeira vista assusta, é motivo de bom debate. O presidente jura que é proposital, desde a época de Diego Costa. Ele rejeita gramado, e acha que a dificuldade pode aprimorar fundamentos dos jovens, como passe e domínio de bola.
Os jogadores reconhecem a dificuldade, admitem que está longe do ideal, mas embarcam no discurso de Paulo Moura. Lucas, que hoje treina e joga no gramado dos campos do Papão, agradece à areia.
- É ótimo ter um campo assim. Você aprende a dominar melhor a bola e tem muito mais facilidade quando joga num gramado bom.
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