Lembra Dele? Ex-Inter, Cruzeiro e Fla, Heyder já teve dia de Mané Garrincha
Ex-ponta lembra momentos da carreira: da rápida passagem pela Gávea à comparação com jogador genial - e a depressão por deixar o futebol
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Heyder foi campeão em quase todas as equipes que defendeu. Torcedor do Clube do Remo, virou a casaca para o maior rival, Paysandu, se transferindo em seguida para Pernambuco, onde atuou por Sport e Náutico. De lá, uma passagem rápida, porém jamais esquecida, pelo Flamengo. Foi no Rubro-Negro que o ex-ponta conheceu Zico e foi treinado por Zagallo. Após a experiência na Gávea, ainda passou por Vitória e Bahia para poder se destacar em Inter e Cruzeiro. Em fim de carreira no Fortaleza, quis o destino que Heyder encerrasse a história no futebol após um amistoso no Remo.
O ex-jogador guarda com carinho a camisa dos times por onde passou. Ao olhar para cada escudo, não deixa de contar uma história engraçada ou de lembrar desse ou daquele jogador com quem atuou. Após fazer uma corrida matinal para manter a forma física, o ex-jogador recebeu a reportagem para, com saudosismo, contar um pouco da trajetória destacada no futebol.
Parazão de 1978 (Foto: Arquivo pessoal)
O ponta-direita faz parte de um grupo de jogadores paraenses que pouco brilharam no futebol local. Torcedor do Remo quando criança, Heyder fez teste no clube azulino, mas acabou reprovado. No Paysandu, foi diferente. Iniciou nas categorias de base da equipe bicolor em 1973, e em 1981 já era artilheiro do Campeonato Paraense com oito gols. O ex-jogador tenta explicar a relação com a dupla Re-Pa.
- Meu pai era torcedor fanático do Remo. Quando eu era garoto, ele me levava em todos os jogos no Estádio Baenão. Eu também era remista, aos 13 anos fiz teste no clube, mas não fui aproveitado. No Paysandu, nem precisei fazer tanto esforço para conseguir meu espaço. Devidos às amizades, a maneira como fui aceito vestindo a camisa do Paysandu, passei a torcer para o Papão. Não sou torcedor fanático, apenas consciente.
Passagem por Pernambuco em Náutico e Sport
Em 1981 o Paysandu contratou Alcino, ídolo do maior rival, Remo. O sonho do presidente bicolor na época era formar um ataque com Alcino e Chico Spina, mas o primeiro não vingava, perdendo espaço para Heyder, prata da casa e artilheiro do Parazão. A saída foi emprestar o garoto para o Sport. Lá, apesar de ficar por apenas três meses, foi campeão pernambucano.
- Joguei com grandes jogadores no Sport, como Givanildo Oliveira, Merica e Roberto Coração de Leão. Era um time muito bom. Conseguimos o título de 1981 jogando contra o Náutico, vencendo dentro da Ilha do Retiro. Foi uma passagem muito rápida, mas no Sport começava a minha carreira de títulos nos clubes do futebol nacional.
- Aquele time do Náutico em 1982 era de alto nível. Éramos dirigidos pelo melhor treinador com quem já trabalhei, Ênio Andrade. Estava em uma grande fase e disputei o Troféu Mané Garrincha com o Renato Gaúcho. Cheguei a ser considerado um dos melhores pontas do Nordeste. Na época, minha saída do Sport não foi tão comentada, já que eu era reserva. Só depois que a torcida do Leão foi perceber que tinha perdido um grande jogador.
O destaque no Náutico fez o Flamengo trocar Nunes e Heitor por Heyder. Na Gávea, o objetivo do paraense era substituir Tita, que não teria um bom relacionamento com o restante do plantel. O ponta se orgulha de ter trabalhado com Zagallo e Zico no Fla, em um time formado por Fillol, Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto; Andrade, Adílio e Bebeto; Heyder, Chiquinho e Marquinho. Aquela equipe foi responsável pela goleada histórica do Flamengo por 6 a 1 no Botafogo, no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro de 1985 (assista aos gols no vídeo ao lado).
- Jogar no Flamengo foi uma experiência que levo para o resto da minha vida. Eu me orgulho de ter feito parte daquele jogo que entrou para a história, aquela goleada diante do Botafogo. Fiz o segundo gol, uma bola trabalhada pelo meio, com a qual, de pé esquerdo, consegui surpreender o goleiro Luiz Carlos. Lembro que o Abel Braga, técnico do Botafogo, entrou no túnel quando o jogo ainda estava 4 a 1. Ele sabia que a vaca estava atolada. Não tinha mais jeito.
jogava no Náutico (Foto: Arquivo pessoal)
- Cheguei a jogar com o Zico quando ele estava voltando do Udinese. É uma pessoa muito simples e humilde. A gente conversava muito, principalmente na sala de musculação. Quando eu estava perto de sair do Flamengo, insatisfeito com a renovação do Tita, conversei com ele sobre a situação, que estava perdendo espaço no clube. Ele me aconselhou a procurar o meu melhor. Segui aquele conselho e não me arrependo até hoje.
Artilharia no futebol baiano
Heyder chegou ao Vitória em 1985, na metade do Campeonato Baiano, e ainda conseguiu fazer 12 gols, sendo considerado o melhor ponta de Salvador. Em 1986, sob comando de Abel Braga, o Leão baiano conquistou o Estadual e quebrou a hegemonia do Bahia, bicampeão. Lá, o ex-jogador não esquece do primeiro gol marcado no Barradão, pelo Campeonato Brasileiro, no empate por 1 a 1 com o Santos.
No Inter, a comparação com Garrincha
O ponta chegou ao Inter por indicação do técnico William Andrade, com quem Heyder tinha trabalhado no Náutico. No início, dificuldades. O ponta era um dos poucos jogadores experientes em um elenco que passava por renovação, que ainda contava com o goleiro Taffarel. Apesar de não ter conquistado títulos no Beira-Rio, Heyder se orgulha dos vice-campeonatos brasileiro de 1988/89, com o jogador sendo um dos destaques na competição.
a Garrincha (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
No Cruzeiro, Flecha Azul e o gol em Goycochea
No Cruzeiro, novamente Heyder reeditou a parceria de sucesso com o técnico William Andrade e jogou ao lado de jogadores como Adilson Batista, Paulo Isidoro, Boiadeiro e Careca. Em Belo Horizonte, o atacante conseguiu o Mineiro de 1990 e, pela velocidade nas jogadas, acabou ganhando o apelido de Flecha Azul. No Brasileiro, por pouco não veio o primeiro título nacional. No time celeste, Heyder se orgulha de ter marcado gol em Goycochea, goleiro argentino que se destacaria na Copa de 90, pela Supercopa de 1989.
onde atuou (Foto: Gustavo Pêna)
Ainda no Cruzeiro, Heyder passou por uma cirurgia no calcanhar. A partir dali, o ponta-direita não foi mais o mesmo. Apesar disso, foi contratado pelo Fortaleza. O objetivo dos dirigentes era movimentar o torcedor com a contratação de um craque com destaque no futebol nacional. No Leão cearense, foram três jogos, suficientes para ajudar o clube a conquistar o Estadual de 1991.
De volta a Belém, uma terceira e definitiva cirurgia. Em 1993, passando por um processo de recuperação, foi convidado para atuar em um amistoso defendendo o Remo, seu ex-clube de coração. Acabava assim a carreira de Heyder no futebol. Como acontece para muitos atletas, parar de jogar não foi fácil para o paraense, que passou por um período de depressão, só resolvido após o nascimento do filho.
- Sabia que deveria parar. Vim para Belém e comprei a minha casa. Resolvi que era tempo de ficar mais próximo da família depois de 14 anos jogando fora. Não foi uma época fácil desde a operação no Cruzeiro. Entrei em depressão. Quando se está fora do futebol, os amigos esquecem de você. Quando me operei, só o Adilson Batista e o Édson Gonzaga me procuraram. O que me ajudou a superar a depressão foi voltar a Belém, ficar perto dos meus familiares, e o nascimento do meu filho.
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