Detento de Pesqueira, em PE, tenta dar volta por cima a partir do MMA
Leandro Cabral, 24 anos, foi preso ao matar amigo com um golpe de luta; agora; ele busca a ressocialização com a ajuda dos pais e do esporte
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Leandro foi condenado a oito anos de prisão por latrocínio. A pena foi gerada porque ele, com a ajuda do tio, que também foi preso, deixou o lugar do crime no carro da vítima. Ao assumir a falha diante da família, o jovem foi obrigado pelo pai, Severino Cabral, a se entregar para a polícia.
- Fiz uma besteira e quase acabei com a minha vida. Tinha uma vida tranquila e acabei sendo preso. No começo, me chateou um pouco, pois foi meu pai que me fez ser preso, mas hoje vejo que foi para o meu bem. Quero pagar tudo o que devo para a justiça e sair com a cabeça erguida – disse Leandro, que atualmente está com 24 anos.
- Minha vida praticamente acabou quando tive que levar meu filho para a cadeia, mas tinha que fazer isso. O certo é o certo e quem faz tem que pagar. Lógico que nunca irei superar isso e não me esqueço desse dia. Todos os dias isso passa pela minha cabeça. Mas troquei a depressão por algo que realmente pudesse ajudar e estamos fazendo de tudo para que ele volte para a sociedade.
Com o filho entre os detentos do presídio Desembargador Augusto Duque, em Pesqueira, agreste pernambucano, Severino se apoiou na esposa, Mônica Cabral, para traçar uma estratégia para não permitir que o sonho de ser lutador fosse abandonado pelo filho. Com autorização da Secretária de Defesa Social de Pernambuco, montou uma pequena estrutura para que Leandro pudesse treinar: saco de boxe, tatame, e alguns halteres.
detentos de Pesqueira (Foto: Elton de Castro)
Pensando em melhorar o ambiente não só para o seu filho, Severino e Mônica decidiram montar uma pequena fabrica de confecções que emprega boa parte dos detentos. Feliz com a iniciativa, o diretor do presídio, William Tibúrcio, acredita que a ação da família Cabral acelera a ressocialização dos detentos.
- A prática do esporte e essa questão de ter uma profissão fazem com que os presidiários ocupem os dias e criem um ambiente melhor. No começo, foi complicado, pois muitos agentes penitenciários temiam o fato do Leandro aprender a lutar. No entanto, até o momento, ele nunca nos criou problemas. Muito pelo contrário.
O bom comportamento levou William Tibúrcio a pedir uma liberação na justiça para que Leandro pudesse lutar nas competições de MMA fora do presídio. Pedido aceito, coube ao diretor do presídio a incumbência de avisar ao detento que ele teria a chance de entrar no octógono.
perder peso no presídio (Foto: Elton de Castro)
Mesmo pesando oitenta e cinco quilos, Leandro resolveu se inscrever na categoria até setenta e sete quilos e intensificou os treinamentos para “bater o peso”. Seguindo a rotina de praticamente todos os lutadores, ele passou a ingerir apenas líquidos no dia anterior à pesagem. Também criou um “estufa” improvisada. Vestiu-se com uma capa de chuva e passou a se exercitar na cozinha do presídio. O sacrífico valeu a pena e a meta foi alcançada.
Escolhido para encarar Leandro, Luiz Patriota fez questão de esquecer a condição do adversário. Sem preconceito, o atleta, que tem o jiu-jitsu como ponto forte, disse não se importar de enfrentar um presidiário.
- Dentro do octógono somos todos iguais. Não tem problema se ele é presidiário ou o que ele fez. Quero enfrentá-lo e vencê-lo - disse, antes do confronto.
No do embate, o cenário não fugia ao “clichê” das competições amadoras: integrantes das academias rivais beiravam o confronto nas arquibancadas. Os familiares estavam apreensivos à espera dos lutadores e os combates chamavam a atenção mais pela vontade do que pela técnica. Em meio a tudo isso, Leandro tentava se concentrar em um pequeno vestiário.
Acompanhado do irmão e dos lutadores da academia que representava, Leandro ouvia instruções de todos. Desconcentrado, chegou a levar alguns tapas dos treinadores e até mesmo do pai, para “entrar no espirito da luta”. No octógono, ouviu as instruções do árbitro e cumprimentou o oponente. Quando o duelo teve início, Leandro mostrou que ainda está longe de virar um lutador. Mesmo com a falta de intimidade com os golpes, conseguiu equilibrar o confronto até desferir novamente um golpe impensado .
No fim do primeiro round, Leandro aproveitou a queda do oponente e aplicou um “tiro de meta”, golpe em que um lutador chuta a cabeça do adversário enquanto esse está caído no chão. Desacordado, Luiz Patriota não viu o árbitro explicar que o golpe era ilegal. A vitória, então, escapou das mãos do detento.
novas lutas na carreira (Foto: Elton de Castro)
Seguindo os ensinamentos do pai, Leandro não fugiu da responsabilidade dos atos. Pegou o microfone do apresentador e, ainda no octógono, fez questão de pedir desculpas aos torcedores que estavam na plateia.
- Infelizmente tive uma atitude errada, por falta de informação, mas queria pedir desculpas pelo que fiz. Não queria machucar meu adversário e isso serve de aprendizado para mim.
A segurança que teve para assumir mais um erro não se repetiu nos vestiários. Abraçado à esposa, Leandro deixou o largo sorriso de lado e caiu no choro. Mas as lágrimas não foram suficientes para que desistisse de sonhar. Após a segunda derrota na carreira embrionária, foi firme ao afirmar que não desistiria do sonho de se tornar um lutador profissional.
- Perdi lutando melhor. Perdi por um erro meu, mas isso não vai tirar o meu sonho de mim. Vou voltar a lutar e vou vencer.
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