Experiente, Rodrigo supera dores do corpo e do Carioca: "Sou um vinho"
Perto de completar 34 anos, sisudo em campo e tranquilo fora dele, zagueiro relembra
lance da decisão do estadual, não teme novas lesões e celebra liderança no Vasco
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A posição irregular do autor do gol enfureceu os vascaínos, mas não havia tempo para mais nada. O título era do rival. Um dos questionamentos após a decisão foi se Wallace teria conseguido cabecear se Rodrigo estivesse em campo. Em entrevista ao GloboEsporte.com, na tarde da última segunda-feira em São Januário - antes da derrota para o Vila Nova na terça -, o zagueiro falou a primeira vez sobre o lance.
- Eu acho que nunca falei sobre isso depois da final. A forma como nós perdemos, ou melhor, a forma com a qual tiraram o título de nós foi cruel. Todo mundo ficou questionando se eu devia estar ali na hora ou não, mas é um lance de bola levantada na área que já treinávamos há muito tempo. Se assistirmos ao vídeo de novo, vamos ver que o Guiñazu, que é nosso primeiro homem de marcação, no primeiro pau, já sai muito para deixar o adversário impedido. Para que o bandeira não tenha nenhuma dúvida. Simplesmente, foi uma coisa que treinamos bem, e, por fim, o bandeira errou - explicou o defensor.
O Xerife, apelido que divide com o argentino Guiñazu no Vasco, parece ter superado a amarga final do Campeonato Carioca. Não só ela, como outros problemas que enfrentou durante a temporada: lesões. De volta à equipe, o titular absoluto de Adilson Batista enxerga o elenco cruz-maltino como "melhor do que alguns da Série A". O retorno à elite do futebol brasileiro é o principal objetivo e, segundo ele, tem tudo para se concretizar.
No dia 27 deste mês, Rodrigo completa 34 anos. Não fosse pelo outro Xerife, seria o mais velho do elenco. Com a postura firme e sisuda em campo - mas bem humorado fora dele - o zagueiro encara a própria experiência como benéfica para a garotada do Vasco e se diz um vinho - aquele que, segundo Rodrigo, "se toma no auge da maturidade".
Confira a íntegra da entrevista de Rodrigo.
O que te motivou a vir para o Vasco sabendo que o time disputaria a Série B do Campeonato Brasileiro? Recebeu outras
propostas?
- Quando eu recebi o convite, o Rodrigo (Caetano) já estava
aqui. Eu tinha algumas propostas, mas eram aquelas famosas propostas de boca,
não tinha nada concreto. As conversas que mais avançaram e tiveram fundamento
foram as com o Rodrigo, de vir para o Vasco. Independentemente da Série B, eu
queria jogar aqui. É um time grande. Já estive lá do lado do nosso rival
(Flamengo) também e ouvia falar que os dois times têm torcidas muito fortes
aqui no Rio de Janeiro. Eu queria voltar a jogar em um time de expressão e vi a
oportunidade no Vasco.
Na decisão do Campeonato Carioca foram dois golpes para
você: a lesão e o lance que tirou o título do Vasco, em que você estava recebendo
atendimento à beira do gramado. Se você estivesse em campo, estaria provavelmente marcando o
Wallace. Você ficou repassando isso na sua cabeça?
- Eu acho que nunca falei sobre isso depois da final. A
forma como nós perdemos, ou melhor, a forma com a qual tiraram o título de nós
foi cruel. Todo mundo ficou se questionando se eu devia estar ali na hora ou
não, mas é um lance de bola levantada na área que já treinávamos há muito
tempo. Se assistirmos ao vídeo de novo (relembre ao lado), vamos ver que o Guiñazu, que é nosso primeiro
homem de marcação, no primeiro pau, já sai muito para deixar o adversário
impedido. Para que o bandeira não tenha nenhuma dúvida. Simplesmente, foi uma
coisa que treinamos bem, e, por fim, o bandeira errou. Mas apesar de nós não termos
conquistado o título, acho que resgatamos um bom ambiente para o clube no
Campeonato Carioca. Quando cheguei aqui, o clima estava pesado. Com a queda
do ano passado, o ambiente realmente estava ruim. O estadual foi fundamental. A
torcida reconheceu tudo o que fizemos, o empenho de todo mundo e o nosso
conjunto dentro de campo.
Desde que chegou ao Vasco, você sofreu mais de uma lesão. No
Flamengo, jogou pouco por causa da fratura no braço. Como lida com isso? As
lesões causam medo e insegurança ou é algo que já trata com naturalidade?
- Medo nenhum. Até quando eu tive aquela lesão mais grave, os
profissionais já me deixaram tranquilo depois dos exames. Eu acho que
trabalho muito bem com pressão. Em toda a minha carreira,
nunca tive uma área de conforto. Comecei na Ponte Preta, e lá é difícil de
jogar, eles têm uma torcida exigente. No ano passado, eu joguei quase todo o Campeonato
Brasileiro e a Copa do Brasil. Acho que só fiquei de fora de três partidas no ano
com o Goiás. Vim para o Vasco e já comecei a jogar novamente, quarta e domingo.
A coisa foi sobrecarregando, e aconteceu a lesão. Bem na final do Carioca. Depois
eu tive outra lesão e, na volta da paralisação para a Copa, eu parei por uma
semana para fazer um reforço. Todo mundo tratou como uma nova lesão, mas eu na
verdade estava fazendo um reforço. Pretendo não me lesionar mais. Essa parada
para a Copa me ajudou bastante.
Você foi uma das pessoas que mais defendeu o Adilson Batista
quando o técnico foi criticado ao longo da temporada. Como você analisa o
trabalho dele no Vasco?
- Tudo o que eu falei defendendo o Adilson está se mostrando
verdade agora. O problema do nosso time não era o Adilson, e sim outros
problemas, as lesões, os mandos de campo que perdemos. Não jogávamos em São Januário, onde somos muito fortes. Sofremos muito.
Quando os resultados não aparecem, tudo vai para cima do treinador. Mas teve a
parada para a Copa, recuperamos todos que estavam machucados, e chegaram os
reforços. Assim, o Adilson pôde continuar o trabalho que estava fazendo bem no
Carioca.De umas rodadas para cá, o Adilson mudou o esquema de três volantes e começou a colocar o Dakson ao lado do Douglas. Você acha que a zaga fica mais desprotegida? O que muda?
- Eu acho que não fica. Nosso time tem uma característica de todo mundo marcar. Quando não estamos com a bola, ficamos muito compactos. Esse é o segredo. Faltam coisas, mas encontramos um padrão de jogo. Eu cito muito o estadual, porque aquele era o nosso caminho. É a forma que jogamos desde o começo do ano. Mudaram alguns jogadores, mas não mudou a nossa forma.
O Vasco tem a defesa menos vazada da Série B. Você, Douglas Silva e Luan são os nomes mais presentes na defesa durante a temporada. Qual a sua contribuição para o rendimento do Luan, um jogador que é mais novo do que você?
- Eu já tinha uma experiência bacana com um cara mais novo do que eu, que era o Ernando, no Goiás. Bem dizendo, só mudou o jogador. Eu gosto de jogar com o Luan, porque ele é um cara que ouve o que você fala. Às vezes, você fala algo para um garoto, entra por um ouvido e sai pelo outro. O Luan manteve o foco, mesmo aparecendo mais no mercado. Acho que isso o ajudou a estar no patamar de hoje, de titular do Vasco. Uma coisa contribuiu com a outra. Eu com a experiência, ele com a juventude e também com a vontade de aprender. Para estar no Vasco, tem que ter qualidade. Depende muito da consciência do jogador. Tem que pegar o momento e aprender.
- Quando chegou aqui, ele estava se recuperando de uma cirurgia no joelho, se não me engano. Ele precisava de um ritmo. E foi na minha saída que ele conseguiu ir bem no time. Eu sigo a mesma linha de pensamento do Adilson. Ele conta com nós três. Eu gosto de frisar que vaidade não tem espaço no nosso time. Não tem essa de tirar e o cara ficar bravinho. Se você fica assim, acaba não treinando bem, pensa que o treinador está de sacanagem. Isso não aconteceu com o Luan, com o Douglas Silva, nem com ninguém da zaga.
Daqui a uma semana, você completa 34 anos. Você se sente um velho perto da garotada? Eles brincam com você em relação a isso?
- Não parece que vou fazer 34, né? Eu sou um vinho! (risos). Se toma no auge da maturidade. Eu tive passagens por times grandes e acabei pegando alguma coisa. Nós aprendemos um pouco aqui e ali. Não me sinto velho, e o pessoal não me zoa, porque tem outros aí também (risos). Tem o Guiñazu, o Kleber, o Douglas, e nós entramos nas brincadeiras dos mais novos. Nós temos um ambiente muito bom. Mas tem hora que você tem que entrar com sua seriedade. Muita brincadeira, às vezes, pode não ser bom. Tem vezes que pedimos para segurar, mantemos a concentração.
E o apelido de “xerife”? Você e Guiñazu acabaram dividindo essa alcunha. São merecedores?
- Eu gosto. Eu e Guiñazu brincamos com isso. No campo, ali atrás, se você não falar e orientar, o pessoal fica perdido. O Guiñazu fala: “Vamos, Xerife, vamos falar”. Senão, morre, dá aquela baixada no clima da turma. Mesmo que não saiba o que falar, tem que gritar, pedir pelo amor de Deus (risos). É bacana essa liderança.
Pela sua postura firme dentro de campo, muitas pessoas acham que você é marrento. Já te falaram isso?
- Não, cara! (risos) A turma vê muito isso dentro de campo, eu falando sério, gritando, mas eu sou muito tranquilo. Na rua, fico mais na minha, porque no Rio tem mais de uma grande torcida, e eu evito piadinhas. Coloco meus óculos escuros e sigo em frente. Se não me chamar ou chegar perto, eu não vou dar bola.
Eu sou um vinho! (risos) Tive passagens por times grandes e acabei pegando alguma coisa aqui e ali
Rodrigo, zagueiro do Vasco
- Eu joguei com ele no Grêmio, em 2009, e nós já passamos de amigos. Ele é meu compadre. Temos um laço de família, passamos final de ano juntos, viajamos juntos. Quando eu estava para vir para cá, ele foi uma das pessoas com quem conversei. Um ajuda o outro com o maior prazer.
Ano passado, com o Goiás, você eliminou o Vasco na semifinal da Copa do Brasil. O que acha do elenco para essa edição? Acredita que as contratações como o Kleber e até o Maxi Rodriguez deixam a equipe em um novo patamar?
- Eu vejo muitas opiniões divididas. Tem gente que diz que temos um elenco de Série A, mas que joga na Série B. Outros não acham isso. Não é só porque o Vasco está na Segunda Divisão, mas eu acho que nós temos elenco melhor do que alguns times da Série A. Uns cinco vêm à minha cabeça, não vou falar os nomes. Mas não deixamos a desejar. Tem uns aí que, olha... Difícil. Eu gosto de ver futebol. É difícil ver um jogo como o que fizemos contra o Ceará no sábado passado (vitória do Vasco por 2 a 0) e pegar um ruim de Série A no domingo.
Com essa turbulência política no clube e a aproximação das eleições, você teme mudanças?
- Olha, o que nós jogadores sabemos é que o presidente é o que está no cargo, que é o Dinamite. O que sabemos é que temos um presidente. É difícil ficar opinando no que não estamos por dentro. Lemos algumas coisas aqui e ali, mas o que fazemos mesmo é respeitar quem está no cargo.
O Vasco deve um mês de salário para os jogadores. Essa questão te preocupa?
- Tudo o que é falado é cumprido. Você não vai me ver falando de salário, porque o Rodrigo (Caetano), que trata disso diretamente com os jogadores, cumpre tudo o que fala. Se está falado, se é tal dia, é tal dia. Se não vai dar para ser, não vai ser.
O que dá para ver é que vocês confiam no Rodrigo Caetano. Em um momento de instabilidade, chegou a se falar em uma possível saída dele. Como vocês reagiram a essa especulação?
- Quando aparece uma notícia como essa, não temos motivos para questionarmos um profissional como o Rodrigo. Pelo caráter dele, se fosse sair, falaria com todo o grupo.
*Sofia Miranda, estagiária, sob a supervisão de Janir Júnior.
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