Ouro mundial no judô vale 551 vezes menos que o título de Wimbledon
Campeão do Mundial da Rússia levará R$ 13 mil, enquanto o tenista Novak Djokovic, atual vencedor do Grand Slam, arrematou R$ 6,7 milhões em apenas um torneio
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- Há um abismo muito grande que passa por dedicação, todo o processo do atleta para medalhar, e ele chega ao final e ganha cinco mil dólares, que ainda divide com o treinador. Acho justa essa divisão (com o treinador), só acho pouco - afirmou Ney Wilson, gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô.
- Cada atleta escolheu seu esporte, faz o que gosta, tem o talento para aquilo. Mas poderia ser melhor na divisão de dinheiro, sim. Muitos atletas não estão preocupados com os 6 mil dólares do Mundial, mas sim com a medalha que batalhou. É a realidade - se contenta Rafaela Silva, campeã do mundo no Rio e que tenta o bi na Rússia a partir do dia 25.
Voltando à comparação individual, vamos levar em conta o número 1 do tênis, Novak Djokovic, e a número 1 da categoria meio-leve (52kg), a judoca Majlinda Kelmendi, de Kosovo. Em 2013, o sérvio disputou 16 torneios e ganhou sete títulos. Ele acumulou cerca de R$ 28,2 milhões em prêmios - fora patrocínios. No mesmo período, Kelmendi, rival da brasileira Érika Miranda e uma das atletas mais ativas do circuito, lutou seis dos principais torneios da Federação Internacional de Judô (FIJ), venceu quatro e foi ao pódio em outros dois. Ela somou menos de R$ 50 mil na temporada. O ano de 2014 nem acabou, e Djokovic já acumula mais de R$ 16 milhões.
As premiações dos outros três Grand Slams de tênis confirmam o tamanho da disparidade. O suíço Stanislas Wawrinka e a chinesa Na Li faturaram mais de R$ 5,6 milhões cada um ao vencerem o Aberto da Austrália. Já Rafael Nadal e Maria Sharapova somaram mais de R$ 5 milhões às suas contas ao serem campeões de Roland Garros. E agora em setembro, o US Open dará R$ 6,6 milhões para quem levantar o troféu de campeão na chave de simples.
Enquanto isso, o circuito mundial de judô é composto por quatro Grand Slams (assim como no tênis) - cada um deles rende ao campeão cerca de R$ 11 mil; 12 Grand Prix - o ouro vale R$ 6.800; e um Mundial - R$ 13 mil (que só não acontece em ano de Olimpíadas). Sem contar os torneios que pontuam e premiam menos, como os Abertos Continentais e os Continentais. Imaginando que um judoca dispute e ganhe todos os 17 principais campeonatos do ano, o que seria impossível porque alguns deles são disputados simultaneamente, ele só alcançaria a bolada de R$ 140 mil.
Para a técnica da seleção feminina, Rosicléia Campos, a diferença é muito mais cultural por se tratar de um esporte nascido no Japão, com uma filosofia oriental, e que até pouco tempo tinha seu principal órgão, a Federação Internacional, gerida por dirigentes asiáticos, sem uma mentalidade tão empreendedora. Ela acredita que o judô, num futuro, pode chegar no mesmo patamar financeiro que o tênis ou o vôlei e lembra que a sua modalidade já evoluiu muito.
Hoje um atleta de tênis sobrevive só com as premiações, levando a equipe
dele, fazendo as viagens... No judô isso não acontece. Se não tiver um
investimento da Confederação ele não consegue chegar"
Ney Wilson
Ney Wilson concorda com Rosicléia quanto ao crescimento do investimento no judô nos últimos anos. Foi apenas em 2009, ou seja, há cinco anos, que a FIJ estabeleceu novas regras, entre elas a premiação em dinheiro para os medalhistas dos campeonatos do circuito mundial. Apesar de acreditar que a conquista de uma medalha é inalculável, ele sabe que um judoca, hoje, não consegue viver e treinar somente com os prêmios dos torneios.
- Uma medalha não tem preço. Não dá para calcular. Dá para calcular, sim, o valor de investimento para ele chegar a uma medalha, mas o significado é uma coisa muito maior do que o valor financeiro. Na nossa modalidade a premiação é uma coisa muito nova. Foi introduzida recentemente, em 2009 junto com o ranking mundial, e foi importante para a profissionalização e a valorização do atleta. Antes tinha uma premiação só no Campeonato Mundial. Mas ainda está muito longe das principais modalidades. Nosso esporte já evoluiu, mas ainda caminha nesse sentido. Hoje um atleta de tênis sobrevive só com as premiações, levando a equipe dele, fazendo as viagens... No judô isso não acontece. Se não tiver um investimento da Confederação ele não consegue chegar - afirmou.
A única mulher brasileira campeã olímpica da modalidade, Sarah Menezes, prefere fazer a parte que lhe cabe, treinando e competindo em busca do maior número de medalhas possíveis. Consequentemente, o dinheiro virá, como aconteceu após o inédito primeiro lugar nos Jogos de Londres, em 2012, quando ela ganhou R$ 100 mil dos patrocinadores pela conquista.
- Não me preocupo com a parte do dinheiro. Se você ficar pensando no dinheiro é perigoso. Tem que se concentrar dentro do tatame e o que vier é lucro.
Sarah busca os R$ 13 mil e a medalha de ouro no Mundial de judô entre 25 e 31 de agosto em Chelyabinsk, na Rússia. O SporTV transmite as eliminatórias a partir das 2h (de Brasília) e as finais às 8h (de Brasília).
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