Wanderlei Silva anuncia aposentadoria e declara guerra ao Ultimate
Lutador publica vídeo dizendo que perdeu a vontade de lutar pela falta de respeito do UFC com os lutadores: "Jogaram meus fãs contra mim"
- Vocês não respeitam a gente como lutador, como nada. Jogam o público contra a gente. A única coisa que temos, que nos levanta, que nos suporta, é o público. E acaba que vocês, com suas declarações infames ao nosso respeito, jogam o público contra nós. O que nos sobra? Acabar a carreira, tomar um chute na bunda, ser escrachado pela mídia e ter os fãs contra. Vou viver do que? É por isso, com muito pesar no meu coração, que hoje é um dia triste para mim. Por que? Porque infelizmente essa organização me tirou a vontade de lutar. Não consigo mais fazer isso, ser tratado dessa maneira por vocês. E hoje, com muito pesar, vim aqui decretar minha retirada dos ringues. A partir de hoje, Wanderlei Silva não luta mais. Porque não tenho um palco digno, onde o atleta seja respeitado. Em virtude disso, para mim deu. Começaram a jogar meus fãs contra mim, que me acompanham há 20 anos, muito antes desse evento existir, quando eu lutava na mão seca no Brasil. Ajudei a fazer esse esporte. Com meu sangue, com meu suor. Agora vem um bando de almofadinhas querer dizer o que a gente é ou não é? Estão muito enganados. Agora estou aqui, vou mostrar tudo que fazem de errado com nosso esporte. Carregamos esse evento nas costas, entramos lá, tomamos soco na cara. O mínimo que vocês têm que fazer é nos respeitar. O Silva está se levantando agora! Eu estava triste, chateado com tudo isso, mas os lutadores precisam de voz, de alguém que fale a verdade e eu estou aqui para falar a verdade. O que fizerem de errado eu vou falar e vocês não vão me calar!
Wanderlei Silva, ou "Wand", nasceu em 3 de julho de 1976, em Curitiba, e começou nas artes marciais com 13 anos de idade. Vindo de família humilde, o garoto se inscreveu na academia Chute Boxe, que ficava no caminho de sua casa, e, sem dinheiro para pagar, logo recebeu bolsa para praticar muay thai e competir. Logo em sua primeira competição, um campeonato brasileiro em Nova Friburgo, conseguiu o nocaute mais rápido do torneio, segundo seu amigo e treinador Rafael Cordeiro. Mais tarde, ele ainda serviria no Exército por um ano e cinco meses, o que credita por ter lhe dado a disciplina que precisava para ser campeão.
começou na Chute Boxe (Foto: Reprodução)
De "Ronaldinho" a "Mr. Pride"
do Pride (Foto: Marcelo Russio/Globoesporte.com)
A vitória sobre Sakuraba tornou Wanderlei Silva famoso. O próprio lutador conta que, no dia seguinte da luta, estava nas manchetes de 12 jornais japoneses diferentes pelo feito. A partir daí, ele faria uma "trilogia" de lutas com Sakuraba, incluindo uma disputa pelo primeiro cinturão dos pesos-médios (até 93kg) do Pride, criado especialmente para a revanche. Wand venceu todas as três lutas, a última delas na primeira rodada de um Grand Prix do qual nem precisava participar, já que era o campeão da categoria. Naquele mesmo GP, derrotou Hidehiko Yoshida, medalha de ouro no judô nas Olimpíadas de Barcelona-1992, e Quinton "Rampage" Jackson, com quem também teria uma memorável trilogia.
Rampage Jackson deu início à rivalidade ao provocar Wanderlei logo após vencer Kevin Randleman, no Pride 25, em março de 2003. No microfone aberto do evento, o americano começou a falar diretamente com o brasileiro, dizendo que o cinturão dos pesos-médios o pertencia e Wand estava apenas guardando-o para ele. Irritado, o "Cachorro Louco" subiu ao ringue e o empurrou, gritando, "O cinturão é meu!" Os dois tiveram de ser separados e contidos por dezenas de pessoas da organização. O primeiro duelo entre eles aconteceu em 9 de novembro de 2003, na final do GP dos pesos-médios, e Wanderlei venceu por nocaute técnico após uma sequência incrível de joelhadas e chutes na cabeça no primeiro round. A revanche viria quase um ano depois, em 31 de outubro de 2004, e, apesar de mais equilibrada, terminou da mesma forma: com joelhadas na cabeça, desta vez no segundo round, em um dos nocautes mais impressionantes da história do MMA. Rampage caiu desacordado, entre as cordas do ringue.
Entretanto, a vitória sobre Jackson foi também a última da impressionante sequência de 21 lutas e mais de cinco anos sem derrota no evento. Em 31 de dezembro de 2004, o brasileiro viu sua invencibilidade cair diante do neozelandês Mark Hunt, numa controversa decisão dividida. A luta foi disputada no peso-pesado e Wanderlei a aceitou com dois dias de antecedência. Oito meses depois, Wand veria sua invencibilidade no peso-médio cair, contra o carioca Ricardo Arona, que o derrotou por decisão unânime no GP da categoria, em 28 de agosto de 2005. A luta, porém, não valia cinturão, e, em 31 de dezembro do mesmo ano, os dois se reencontraram para uma revanche, desta vez valendo o título. Num combate muito acirrado, Wanderlei desta vez foi um pouco melhor e venceu por decisão dividida.
O brasileiro ainda mostrou seu espírito de guerreiro mais uma vez em 2006, ao entrar no GP peso-absoluto no lugar do então campeão dos pesos-pesados, Fedor Emelianenko. Wanderlei nocauteou Kazuyuki Fujita nas quartas de final, mas acabou derrotado pelo peso-pesado Mirko "Cro Cop" Filipovic com um avassalador nocaute, um chute na cabeça, nas semifinais, em 10 de setembro de 2006. Seria sua última luta pelo Pride no Japão. Em dificuldades financeiras, a organização fez dois eventos nos EUA, incluindo o Pride 33, em 24 de fevereiro de 2007, no qual Wand foi novamente nocauteado, desta vez por Dan Henderson, e perdeu o cinturão dos pesos-médios, o qual deteve por 1.904 dias. Pouco depois, em março daquele ano, o Pride foi comprado pelo UFC e, eventualmente, extinto.
Nova vida nos Estados Unidos
Ultimate Brazil 1998 (Foto: Getty Images)
Wanderlei teria mais duas oportunidades no UFC antes de se consagrar no Japão. Em maio de 1999, no UFC 20, derrotou Tony Petarra por nocaute em 2m53s. Mais tarde, já com três vitórias no Pride, recebeu a oportunidade de enfrentar Tito Ortiz no UFC 25, em Tóquio, pelo cinturão dos pesos-meio-pesados (até 93kg), mas foi derrotado por decisão unânime dos jurados.
A partir daí, o brasileiro se tornaria o maior nome do Pride, e alimentou por anos uma rivalidade com Chuck Liddell, principal nome de sua categoria no UFC. O duelo esteve próximo de acontecer duas vezes: em 2003, Liddell foi enviado como representante do Ultimate para participar do GP dos pesos-médios, com a intenção de encarar Wanderlei na final. Porém, Rampage Jackson estragou os planos ao nocautear o compatriota nas semifinais. Depois, em 8 de julho de 2006, o brasileiro subiu ao octógono do UFC 61, em Las Vegas, e o presidente do Ultimate, Dana White, anunciou que, caso Liddell defendesse seu cinturão contra Renato Babalu, os dois se enfrentariam. O americano cumpriu sua parte, mas o UFC e o Pride não conseguiram chegar a um acordo.
Meses após a venda do Pride, em agosto de 2007, o UFC anunciou que Wanderlei voltaria à organização. Sua primeira luta, em 29 de dezembro daquele ano, seria contra Chuck Liddell, embora muito do glamour do duelo tivesse caído, já que nenhum dos dois era mais campeão. Mesmo assim, o combate foi acirrado e levaria o prêmio de "Luta do Ano" no World MMA Awards. Liddell venceu por decisão unânime, marcando a terceira derrota seguida do brasileiro.
Wanderlei Silva venceu a luta seguinte com um impressionante nocaute contra Keith Jardine, em apenas 38s, mas, depois disso, alternou vitórias e derrotas. Em dezembro de 2008, foi nocauteado por Rampage Jackson na conclusão da trilogia entre os dois. Em junho de 2009, fez luta parelha com Rich Franklin, mas perdeu por decisão unânime dos jurados. Após esta luta, Wand passou por uma cirurgia facial para reparar o nariz, quebrado durante a luta contra Cro Cop e em várias ocasiões subsequentes, e remover tecido de cicatrizes. A operação aumentou sua capacidade de inspirar oxigênio em 30%, segundo médicos, e também deixou sua aparência bastante diferente.
Em fevereiro de 2010, voltou a lutar, desta vez na categoria de baixo, até 84kg, e venceu Michael Bisping por pontos. A vitória, porém, foi seguida de um longo período de inatividade, 18 meses, devido a lesões nas costelas e no joelho. Foi aí que os boatos de aposentadoria começaram a seguí-lo. Eles apenas aumentaram após seu retorno, no UFC 132, em 2 de julho de 2011. Wanderlei foi nocauteado em apenas 27s por Chris Leben, ex-participante do reality show The Ultimate Fighter, no que considera o momento mais difícil de sua carreira. O curitibano, todavia, voltou a lutar em novembro, substituindo Vitor Belfort no confronto com Cung Le, ex-campeão do Strikeforce, e venceu por nocaute técnico no segundo round, graças a uma série de joelhadas e socos.
Poucos meses depois da luta com Franklin, Wanderlei sofreu outra perda enorme, fora do octógono: seu pai, Sr. Holando Pinheiro da Silva, morreu em agosto de 2012, vítima de um acidente de carro. Com o coração pesado, o lutador retornou a Saitama, Japão, para enfrentar Brian Stann pelo UFC em março de 2013. No palco de suas maiores glórias, voltou a brilhar e nocauteou o americano no segundo round.
Polêmicas no fim de carreira
Os últimos dois anos da carreira de Wand foram marcados por polêmicas. Após sua vitória sobre Stann, o brasileiro virou alvo fixo de Chael Sonnen, com quem teve uma discussão num carro sobre as provocações do lutador americano ao Brasil na promoção de seu combate contra Anderson Silva. Sonnen passou a pedir para enfrentar o "Cachorro Louco", que adiou a marcação do duelo por conta de lesões no nervo ciático. No final de 2013, o UFC enfim anunciou que os dois se enfrentariam ao final da terceira temporada do TUF Brasil, em que serviriam como treinadores.
Brasil 3 (Foto: Reprodução/ TUF Brasil 3)
Ao saber do ocorrido, o Ultimate retirou o brasileiro do card do UFC 175 e o substituiu por Vitor Belfort; o combate, no final das contas, acabou não acontecendo, porque Chael Sonnen foi flagrado em outro exame antidoping surpresa e suspenso. Wanderlei foi chamado pela comissão atlética a esclarecer o ocorrido e admitiu ter fugido do exame, por estar usando um diurético, substância proibida, para reduzir uma retenção de água causada pelo tratamento para o punho. O brasileiro não estava licenciado pela comissão no momento do exame, nem tinha dado entrada no processo de pedido de licença para lutar em Las Vegas, e por isso, inicialmente, não foi punido. A Procuradoria Geral de Nevada, porém, entrou com uma queixa formal contra o lutador, que até o momento não foi resolvida. O advogado de Silva, Ross Goodman, alega que a comissão não tem jurisdição para punir o brasileiro.
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