Duplamente leve, Vitor Miranda diz que seguirá nos médios até parar
Veterano revela que estratégia era deixar o rival se
desgastar, mas entrou no automático após ouvir o sinal de 10s para o fim
do primeiro round
Por Ivan Raupp e Raphael Marinho
Barueri, SP
Vitor Miranda se disse aliviado após a primeira vitória
no UFC, diante de Jake Collier (Foto: Raphael Marinho)
O misto de felicidade e a lívio era nítido na expressão de
Vitor Miranda após a
vitória sobre Jake Collier
na luta de abertura do "UFC: Machida x Dollaway", no último sábado, em
Barueri. Além de estrear no peso-médio após lutar entre os
pesos-pesados, Miranda vinha de derrota para Cara de Sapato na final do
TUF Brasil 3, e sabia que uma nova derrota poderia atrapalhar seus
planos de permanecer no UFC. A vitória, com um nocaute a apenas um
segundo do fim do primeiro round, teve um sabor especial.
- Estou muito feliz por estrear com o pé direito no UFC, em uma
categoria que eu não sabia se iria bem ou não. Baixei 20kg para a
pesagem, e foi tudo bem. Se eu soubesse que seria tão bom eu teria
mudado antes. Na metade da preparação eu vi que era esse o meu peso
mesmo, porque fui ficando mais leve e mais rápido, com mais gás. Esse
será o meu peso até o fim da minha carreira. Tirei um peso imenso das
costas por ter vencido, porque sabia que dessa vez eu não podia errar.
Na final do TUF eu errei e perdi, mas não comprometeu o meu contrato.
Essa eu não podia perder, e venci. Consegui provar que sou merecedor
desse contrato e de estar no evento. Agora o UFC vai decidir qual meu
próximo passo. Se quiserem me segurar, seguram. Se quiserem me avançar e
me colocar contra um cara mais bem ranqueado, é com eles.
A preparação para a luta, que teve treinos exaustivos e constantes,
além de estudos das lutas de Collier, foram, segundo Vitor Miranda,
outro fator determinante para a vitória.
Vitor Miranda acerta o chute que derrubou Jake Collier na abertura do UFC em Barueri (Foto: Marcos Ribolli)
- Sabíamos que ele viria forte no primeiro round, com golpes duros, e
na medida em que a luta se desenvolvesse ele diminuiria o ritmo. Foi o
que aconteceu. Eu segui as ordens dos técnicos e me preservei mais no
começo, mas ele me derrubou e eu não pude continuar a minha estratégia.
Mas quando me levantei, senti ele muito cansado e vi que era a hora de
ir para cima. Não esperava nocautear, mas acelerei no fim do round para
marcar uns pontos e não ficar muito atrás, mas graças a Deus saiu o
chute. Só lembro que ouvi o sinal dos dez segundos e, a partir dali,
entrei no modo automático, que acontece pelas inúmeras repetições do que
fazemos na academia. Nós vimos muitas lutas dele e percebemos que ele
chuta muito de esquerda. Treinamos a resposta com o chute alto também.
No fim da luta, ele me deu esse chute e eu respondi automaticamente. Foi
exatamente isso o que nós treinamos durante três meses intensos, com
muito volume de treino, até seis horas por dia. Ele me derrubou, e isso
foi mérito dele. Depois disso, foi mérito meu conseguir esperar o
momento certo para me levantar. Considero que fiz a minha estreia no UFC
hoje. Na primeira luta, contra o Cara de Sapato, eu perdi e aprendi
muito. Se eu tivesse ganho talvez tivesse vindo despreparado para essa
luta. Aquela derrota me amadureceu demais.
Mesmo sendo experiente, Vitor Miranda não escondeu a emoção ao ser
aplaudido pela torcida que já lotava o ginásio para a primeira luta do
card preliminar. Para o lutador, os incentivos fazem os atletas se
sentirem mais importantes.
Vitor Miranda não contém a alegria após a vitória, sua primeira no UFC (Foto: Marcos Ribolli)
- A torcida ajudou demais. Entrei muito emocionado e me segurei para
não chorar. Era a primeira luta do evento e o pessoal comparecendo em
peso. Isso é raro. Nos EUA, quando você faz a primeira luta, os golpes
fazem eco, porque a arena está vazia. Aqui fica cheio desde o começo, e
nos faz sentir muito importantes. Essa vitória vem coroar tudo que eu
passei em 35 anos. Fui contratado pelo UFC e nem sei se existe um
ranking de lutador mais velho que tenha sido contratado. Eu uso tudo que
acontece comigo como combustível para seguir adiante. Quero ser um
exemplo para quem está começando agora, que olhem para mim e vejam que a
superação é possível. Eu mudei de categoria e mostrei que é possível
ser bem-sucedido mesmo com uma mudança dessas. Sempre lutei muay thai no
peso-pesado, e os golpes dele não estavam fazendo efeito, não estavam
me incomodando. A experiência em pesos maiores me ajudou muito nesse
sentido. O problema dos pesos mais leves não é a força da pancada, mas a
velocidade e a explosão para me derrubar. Ele me surpreendeu, achei que
não me derrubaria, mas em compensação ele gastou muita energia no chão,
e quando eu levantei me aproveitei disso.
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