Meu Jogo Inesquecível: a vascaína Juliana Paes em dois belos capítulos
Atriz é solidária na companhia do pai em jogo que não terminou e, 11 anos depois, solitária na comemoração silenciosa amamentando o filho
A cena de contentamento da menina, repetida tantas vezes na infância, ajudou a criar o laço com o clube de coração. A constante ida aos estádios com o pai, o militar reformado Carlos Henrique Paes, também foi decisiva para a cruz de malta ocupar o coração daquela que, anos depois, arrebataria com o mesmo sorriso dos tempos do futebol no Zé Garoto milhões de brasileiros diante da TV. Os anos se passaram. E a "Suderj informa": saiu a "goleira" mirim, entrou a atriz.
'Encontrar a foto causou revolução na família. Todos
achavam meu filho parecido com o pai. Agora, até
ele o achou parecido comigo' (Foto: Arquivo Pessoal)
A Julliana solidária entrou em ação no fim de 2000. Depois do Natal, perto do réveillon. Em 30 de dezembro, Vasco e São Caetano jogavam a segunda partida - a primeira, em São Paulo, terminou 1 a 1 - da decisão do Campeonato Brasileiro. Na época, a atriz fazia o papel na TV que lhe abriria portas, a Ritinha, de "Laços de família". Mas ainda não estourara na mídia, e pôde ir tranquilamente a São Januário na companhia do pai, fiel companheiro nas belas tardes de domingo. Os dois estavam ansiosos por presenciar a conquista do título. O resto da torcida também. Dez dias antes, o time, comandado por Romário, Juninho & Cia., tinha sido campeão da Copa Mercosul numa virada espetacular por 4 a 3 sobre o Palmeiras, no Palestra Itália...
Mas o caldeirão da Colina não suportou os quase 40 mil torcedores. Com superlotação e briga na arquibancada, o alambrado acabou derrubado. Pessoas foram pisoteadas, muitos ficaram feridos no empurra-empurra e invadiram o gramado. Em meio ao pânico geral que se instalou, Juliana e Carlos, ainda atônitos, se depararam com outra cena atípica e agiram rápido.
Mãe 1 x 0 torcedora
A frustração de não ver a partida terminar deu lugar ao dever cumprido após o grande susto. Apenas em 18 de janeiro, quando a partida voltou a ser realizada, só que no Maracanã, Juliana e Carlos puderam comemorar o tetra brasileiro após a vitória por 3 a 1 - gols do "Reizinho" Juninho, Jorginho Paulista e Romário, com Adãozinho descontando para o time paulista. Mas foi a partir do jogo anterior, aquele sem fim em São Januário, que a história de Juliana com o Vasco passaria a remeter mais à infância. Dois anos depois, a atriz, que já tinha aparecido na telinha novamente com a Karla de "O clone" em 2001, se tornou estrela nacional interpretando a Jaqueline Joy de "Celebridade". E o Vasco levantava o que era, até pouco tempo atrás, seu último título em oito anos, o Campeonato Carioca de 2003.
- Aquela foi a última vez que eu fui a um jogo. Depois, nunca mais. As pessoas em minha volta, acho que por medo, nunca mais quiseram me levar. É receio de assédio mesmo. Minhas irmãs já foram, fizeram foto com o Felipe... Teve um agora que eu fiquei enchendo o Dudu para me levar. Foi a final da Taça Rio, contra o Flamengo. Pedi muito para ir. Mas ele foi e não quis me levar. Fica com medo de acontecer alguma coisa.
- Ele estava lá em Curitiba nessa final da Copa do Brasil do Vasco com o Coritiba. Foi acompanhar o Bernardo. Dudu lá e eu aqui, sozinha. Só eu e o Pedro em casa, sem babá nem nada... Fiquei no Twitter. Botei o Pedro pra dormir, o jogo começou tarde. O meu computador fica do lado da televisão. Então, via a partida e twittava, brincando. "Ai, meu Deus, ai meu Deus..." Quando faltavam 10 minutos para acabar, a babá eletrônica ligada, ele começou a chorar. Meu Deus, vou acudir o Pedro ou ver o jogo? Aí ele começou a gritar mesmo e eu fui dar de mamar. No momento em que amamentava, o juiz apitou, nem pude vibrar. Estavam começando os fogos, eu doida pra ir para a varanda, o grito entalado na garganta... Foi a comemoração mais solitária e silenciosa de toda a minha vida.
Juliana lembra que, logo depois, o marido rubro-negro ligou chorando, emocionado com o título do Vasco após a derrota por 3 a 2 - o cruz-maltino vencera a anterior, no Rio, por 1 a 0 (assista, no vídeo abaixo, aos gols da decisão em Curitiba).
- Foi a primeira vez que eu não comemorei, a primeira vez com o Pedro... O Dudu me ligou e ainda brinquei com ele: "Pô, você está mais emocionado com o Vasco do que com o Flamengo." Ele disse: "Eu estou mais emocionado com os meus jogadores." Nunca mais vou esquecer esse dia. Nem podia chacoalhar muito o Pedro, que estava mamando...
A brincadeira com o Flamengo é antiga. Afinal, o clássico divide, de forma saborosa, a família não só nas peladas. Em dia de jogo à vera, a gritaria tomava conta da casa. Do lado rubro-negro, a mãe, Regina, a prima Elane, os primos Cristiano e Anderson e a tia Neném. Do vascaíno, Juliana, o pai e os irmãos mais novos, Rosana, Mariana e Carlos Henrique Júnior (esse, o mais fanático). Só não se sabe ainda para que lado irá o mais novo integrante da família. A atriz tem receio de que Pedro reforce o "ataque" vermelho e preto...
- Passei a ser Vasco por influência do meu pai. Minha mãe é flamenguista. O pai tem mais força por causa disso. Você catequiza o filho assim, levando-o para o estádio, para ver o jogo. Aí é que se apaixona, começa a curtir. Eu aprendi o hino do Vasco criança. Papai que me ensinava. A gente ia aos jogos. Era um tempo muito bacana de ir. E a gente era criança mesmo. Tanto que eles levavam a gente na "carcunda". Éramos muito pequenos, não dava para sairmos correndo, não tinha perninha pra isso. Quatro anos, três anos, papai levava a gente. Isso vai deixando você apaixonada por futebol, pelo espetáculo.
Carlos tem até anotada a data em que levou a filha pela primeira vez a um estádio de futebol: 22 de agosto de 1982. A partida foi contra o América. O Vasco venceu por 2 a 1. Mas os cruz-maltinos quase perderam a torcedora ilustre.
São Januário (Foto: André Durão/Globoesporte.com)
Drama e superação
O futebol, queira ou não, está sempre presente na vida de Juliana Paes. Para o bem ou para o mal. O capítulo triste surgiu há 20 anos. Numa pelada com amigos, o pai da atriz sofreu traumatismo craniano após choque numa jogada aérea com um amigo. A cabeçada na nuca que Carlos Henrique Paes recebeu provocou deslocamento da massa encefálica e três coágulos no cérebro. O ex-militar ficou em coma por uma semana. A família temeu por sequelas. Mas, com o tempo, os coágulos se dissolveram, e Carlos Henrique se recuperou.
.- A nossa vida é antes e depois desse acidente. Meu pai perdeu emprego... Melhor dizendo, ficou muito tempo afastado. Era diretor de uma empresa de segurança. Tinha um cargo muito bom, estávamos numa situação ótima, morávamos na Praia de Icaraí, tínhamos até motorista. Só que, como ficou muito tempo afastado, quando viu, já não tinha mais cargo, mais nada. Ficamos a ver navios. Aí, depois de um tempo, demorou para se recuperar. Foi mais de um ano. Não chegou a fazer fono e nem precisou de cirurgia. Éramos crianças. Com tudo negativo que aconteceu, após esse acidente, aprendi que existe milagre.
No samba, foi madrinha de bateria da Viradouro, escola de coração, durante anos. O fascínio surgiu quando, também menina, acompanhada do pai, assistiu ao desfile e viu uma passista sair com o pé sangrando, voltando para o recuo.
- Achei aquilo incrível, ela dando o sangue pela escola... Quando você é criança, vê tudo maior. Até pela pouca experiência de vida. Parecia que os carros tinham 15 metros. Aí me apaixonei pelo carnaval.
Ausente dos últimos desfiles, Juliana não sabe ainda quando voltará à avenida. Aos estádios, o retorno pode ser breve. Dois amigos de seu pai no Vasco, o vice de futebol, José Mandarino, e o diretor Renato Moraes já a convidaram para ir a São Januário matar a saudade do time e da torcida. Será mais um capítulo feliz de Juliana com o Vasco. Bem como nos tempos de menina, no bairro do Zé Garoto, em São Gonçalo.
Hélton, Clébson, Odvan, Júnior Baiano e Jorginho Paulista; Nasa, Jorginho, Juninho Pernambucano e Juninho Paulista; Euller e Romário (Viola). | Sílvio Luiz, Japinha, Daniel, Serginho e César; Claudecir, Adãozinho, Esquerdinha e Aílton; Wagner e Adhemar. |
Técnico: Joel Santana. | Técnico: Jair Picerni. |
Observação: a partida foi interrompida aos 23 minutos do primeiro tempo devido à queda do alambrado que separava as arquibancadas do campo. Houve 168 feridos, três em estado grave.. O governador do Rio, Anthony Garotinho, determinou a suspensão da partida. O STJD decidiu pela anulação do jogo e realização de outro, dia 18/01/2001, no Maracanã. | |
Cartões amarelos: não houve. | |
Local: Estádio de São Januário: Data: 30/12/2000. Competição: final da Copa João Havelange (Campeonato Brasileiro). Árbitro: Oscar Roberto de Godoy (PR). Auxiliares: Jorge Paulo Oliveira Gomes (DF) e Arnaldo de Menezes Pinto Filho (BA). Renda: R$ 442.270,00. Público: 31.761 pagantes. |
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