domingo, 20 de novembro de 2011

O último ato do galáctico? Beckham pode se despedir dos EUA como Pelé

Ao fim do seu contrato de cinco anos com o Galaxy, astro inglês tem chance de ganhar seu primeiro e único título da MLS neste domingo, contra Houston

Por Victor Canedo Rio de Janeiro
O destino é sinônimo de incerteza. Há quem aposte em um retorno para Londres, bem perto de casa. Outros acham que o alto poderio financeiro e a grife de Paris o convenceriam a mudar de ares mais uma vez na carreira. Mas nem mesmo uma prorrogação de vínculo com o Los Angeles Galaxy está totalmente descartada. Fato é que David Beckham tem a chance de, neste domingo, se consagrar nos Estados Unidos em uma coincidência que o une a Pelé. Ao fim do seu contrato de cinco anos, o astro inglês poderá se sagrar campeão da Major League Soccer pela primeira vez, contra o Houston Dynamo, no The Home Depot Center, na grande Los Angeles, às 18h locais (0h de Brasília). E se despedir com um único caneco exatamente como fez o Rei do Futebol, em 1977, após quase três anos sem títulos.
David Beckham no treino do Los Angeles Galaxy (Foto: Getty Images)David Beckham sorri ao andar no The Home Depot Center, que receberá a final da MLS (Foto: Getty Images)

Beckham não irá parar. Aos 36 anos - disse abertamente que tem vontade de ir até os 40 -, ele faz uma temporada que convenceu a todos os críticos, ganhando vaga na seleção do campeonato e prêmio de “retorno do ano”. Foram 26 jogos, dois gols e 18 assistências – é o vice-líder da liga no quesito.
Pelé, na ocasião, parou. Na verdade, apenas confirmou o desejo adiado por uma mega proposta, à época de US$ 1,4 milhão, por cada um de seus três anos com o New York Cosmos entre 1975 e 1977. Os números do então quarentão foram impressionantes, sendo eleito o jogador mais valioso de 1976, embora conquista, no singular, apenas na “saideira”, com a NASL, precursora da MLS.

Um dos galácticos do Real Madrid orquestrado pelo presidente Florentino Pérez, Beckham surpreendeu o mundo ao anunciar sua transferência para o Galaxy em 2007. Muito dinheiro esteve envolvido, é bem verdade – ele recebeu US$ 6,5 milhões (R$ 11,3 milhões) por temporada –, mas todo o montante transformou-se em lucro em pouco tempo.
Mais de 300 mil camisas com o seu nome foram vendidas em 2007"
Grant Wahl, jornalista americano
– Beckham tem tido sucesso em uma perspectiva de negócios desde que chegou. Mais de 300 mil camisas com o seu nome e o número 23 foram vendidas no primeiro ano. Ele, o Galaxy e a Major League Soccer ganharam e muito com isso. Beckham foi um fracasso no início, mas melhorou o desempenho consideravelmente nos últimos três anos e agora tem a chance de ganhar o seu primeiro troféu. Eu acho que é importante ele ganhar esse título para valorizar a sua experiência nas quatro linhas, pois até o momento foi uma passagem de pontos altos e baixos – disse ao GLOBOESPORTE.COM o jornalista Grant Wahl, da revista americana “Sports Illustrated” e autor de um livro sobre o jogador.
Wahl se refere às pequenas crises pela qual o casamento fictício atravessou. Em 2009 e 2010, Beckham foi emprestado ao Milan e acabou prolongando o período de três para seis meses na primeira passagem, o que causou uma discussão através da imprensa com o meia americano Landon Donovan, um dos destaques do Galaxy. Na segunda, ficou marcado por lesionar gravemente o tendão de Aquiles, o que o deixou fora da Copa do Mundo da África do Sul. Entre as idas à Itália, ele perdeu a chance de conquistar a Major League Soccer com a derrota do Galaxy para o Real Salt Lake nos pênaltis, em novembro de 2009.
David Beckham é apresentado no Los Angeles Galaxy (Foto: Getty Images)Astro inglês segura a camisa que vendeu 300 mil cópias somente no ano de sua apresentação (Getty)
Os tempos atuais são definitivamente melhores. Com a melhor média de pontos da história (1,97 por jogo), o Galaxy é apontado por comentaristas – entre eles o próprio Grant Wahl – como o melhor time de todos os 16 anos de Major League Soccer. E o título consagraria de vez outros destaques como Donovan e o irlandês Robbie Keane, que deixou a Europa assim como Thierry Henry e Rafael Márquez – estes foram para o New York RB.
Greve da NBA ajuda
Para contribuir com a massificação do Galaxy, a greve que tem adiado o início da temporada da NBA parece não chegar ao fim. Sem os Lakers, equipe mais popular da cidade, o soccer ganhou o seu espaço e reconhecimento em um caminho que já trilhava através do peso comercial do nome Beckham.
Juninho do LA Galaxy com torcedor (Foto: Arquivo Pessoal)Torcida passou a gostar ainda mais do futebol
após a greve da NBA (Foto: Arquivo Pessoal)
– Estão começando a conhecer o futebol, ainda mais com o basquete parado. Não se fala mais de Lakers, e sim de Galaxy. Nas TVs e jornais os assuntos são somente sobre a final de domingo. Chegou muita gente aqui na cidade para acompanhar esse jogo, acho que irá parar alguma parte do país. O Beckham passa e arrasta milhões, mesmo quando nós jogamos fora de casa o estádio fica cheio por conta dele – afirmou o meia Juninho, titular e companheiro de Becks.
Emprestado pelo São Paulo, Juninho também não conhece o seu futuro. O seu contrato com o Galaxy acaba em dezembro e há a possibilidade de renovação. Em Los Angeles, ele já é reconhecido pela torcida.
– O pessoal me para no mercado, na beira da praia, em restaurantes pela cidade. Aqueles que gostam de futebol me cumprimentam, pedem fotos... – contou o brasileiro, que também ganhou uma bandeira em sua homenagem.
Se não arrisca um palpite nem sobre o seu destino, Juninho diz não ter quaisquer chances de desvendar o mistério de David. Mas a torcida é para que continue.

– Ele é bastante reservado, não fala de saída ou renovação. Sei que se formos campeões muita coisa pode mudar, o tratamento pode ser diferente. Do pouco que conheço, acho que ele está contente aqui, tem a família, filha nascida recentemente... Podia ficar mais uns anos (risos) – disse.
Juninho Beckham Los Angeles Galaxy (Foto: Getty Images)Juninho abraça Beckham em comemoração: brasileiro pode ficar e quer jogar com inglês (Getty Images)
Grant Wahl, por sua vez, também está confiante.
– É questão de 50% para sair e 50% para ficar. O seu filho mais velho (Romeo, de nove) acabou de começar a jogar pelo time sub-13 do Galaxy. Acho que ele pode jogar em bom nível pelos próximos dois anos e acabou de ter a sua melhor temporada.
Cenas que irão se estender nos próximos capítulos. Mas uma novela que, independente do destino final, tem tudo para ser feliz. Afinal, trata-se de um dos jogadores mais rentáveis do planeta. E que pode dizer que igualou Pelé.
– Faria tudo de novo. Não há uma coisa sequer que eu me arrependa aqui no Galaxy, jogando nessa liga. Eu queria uma nova experiência e foi exatamente o que consegui – encerrou Beckham.

Nenhum comentário:

Postar um comentário