Calmaria no inferno: Horto é bairro familiar, pacato e aberto a cruzeirenses
Casa de algumas das maiores façanhas do Atlético tem origem ferroviária e clima de interior quando a bola não rola no Independência. Nesta quarta, vai ferver
Afinal, “caiu no Horto, tá morto”, orgulhou-se a torcida do Galo ao longo da Libertadores do ano passado. Foi ali que o clube, com muita pressão de seus súditos, buscou alguns de seus maiores feitos recentes – o milagre de Victor no último minuto contra o Tijuana, a classificação nos pênaltis contra o Newell’s Old Boys. A torcida adotou o Independência como lar. Adotou o Horto como sua casa. E criou no local a maior discrepância possível: tão pacato em situações normais, tão explosivo quando o Atlético está ali.
O tropeirão de José Carlos também encontrou ali seu novo reduto. E estará à espera do primeiro jogo da grande final da Copa do Brasil, nesta quarta-feira, às 22h.
- Pro Mineirão, não volto mais – diz o novo cidadão do Horto.
Origem ferroviária, vocação pacata
A origem ferroviária persiste. A antiga estação segue ali. Serve para transporte de cargas e, curiosamente, ainda atende passageiros. No local, passa uma linha que liga Vitória (ES) a Belo Horizonte. Ao lado dela, está uma mais moderna, a Estação Horto, integrante da malha de metrô da cidade.
As características do bairro, claro, mudaram com o tempo. Hoje, é um local basicamente residencial, tomado de casas, com ruas silenciosas e de comércio básico – bares e mercadinhos. No censo de 2010, a população do Horto foi estimada em pouco mais de 9 mil pessoas.
Boa parte dos moradores é da terceira idade. Há um grupo de idosas que faz novenas pelas ruas do Horto. Clima bem diferente daquele vivido em dias de jogos do Galo.
Casa do Galo, mas repleta de cruzeirenses
Olhando à primeira vista, a identificação parece maior com o Atlético. O nome do clube aparece em paredes; bandeiras são esticadas em janelas. Mas o recorrente uso do estádio pelo Galo ainda não conseguiu transformar o bairro em QG alvinegro. É bastante dividido.
O gerente comercial Paulo Lage mora na região desde os 10 anos. É vizinho do Independência. E cruzeirense. Do portão de casa, vê multidões de atleticanos rumando ao estádio.
- A convivência é muito boa. Os cruzeirenses conhecem os atleticanos, e vice-versa. Todo mundo brinca, mas sem problemas. Hoje em dia, sobe esse bando de atleticano, e eu falo: “Cheguei aqui primeiro” – brinca o morador do Horto.
Nesta terça-feira, véspera da grande decisão, seis trabalhadores cuidavam de uma rua ao lado do estádio. Eram cinco cruzeirenses e um atleticano. O papo entre eles, claro, era a final de quarta-feira.
- Vai ser 5 a 1 pro Galo – animou-se o atleticano solitário, consciente da soberania de seu time sobre o rival desde a reabertura do estádio: quatro vitórias do Atlético e três empates em sete jogos.
- Quando a gente ganhar aí dentro, o Atlético nunca mais ganha – respondeu um cruzeirense.
(Foto: Alexandre Alliatti)
- Torço para os dois, né? Não posso me entregar, não. Fico muito feliz de o Atlético estar ganhando.
O Independência, símbolo máximo do Horto, foi erguido para sediar jogos da Copa do Mundo de 1950. Recebeu três partidas. Voltou a ser usado no Mundial de 2014, como campo de treinamentos. O Atlético tem contrato de dez anos para utilização do estádio onde tentará manter seu lema: “Caiu no horto...”.
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