Brasil Afora: hipnose, cacos de vidro e barras de ferro empurram o Atibaia
Jogadores passam por métodos curiosos para reforçar confiança no objetivo de subir de divisão; Boquita aprova tática para voltar a jogar
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Não se trata de punição da diretoria, muito menos de um ritual masoquista. O elenco, que conta com o meia Boquita, revelado pelo Corinthians, o também meia Francisco Alex, campeão brasileiro pelo São Paulo em 2007, além de Fernando Gaúcho, atacante com passagem por diversos clubes do país, conta com o treinador motivacional Olimar Tesser para desenvolver a força da mente do elenco. É ele quem comanda sessões de hipnose na concentração do Atibaia. O objetivo é aumentar a confiança dos atletas - e, assim, aumentar as chances de acesso à terceira divisão. O principal foco está em jogadores que passam por problemas pessoais.
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O trabalho de Tesser no Falcão, como é conhecido o Atibaia, começou há
dois meses. Ex-goleiro de Palmeiras, Corinthians e Fluminense, o
treinador motivacional deixa claro que não há mágica. Os exercícios têm
riscos mínimos e são voltados para elevar a auto-estima dos jogadores,
garante ele.- Eu trabalho o ser humano, o homem, e isso é refletido dentro de campo. Ele pensa que se conseguir entortar ferro e andar no vidro, pode fazer qualquer coisa no jogo. O cérebro não sabe distinguir o que é realidade ou não. Dois minutos de treino em hipnose têm o mesmo efeito que 20 minutos sem - disse.
Entre os jogadores, a novidade foi recebida com certo receio. Com o tapete de cacos de vidro pela frente, muitos atletas recusaram a investida num primeiro momento. Nem mesmo o vice-presidente do clube, Leonardo Silvério, responsável pelo departamento de futebol do time, acreditava que o método poderia ter efeito.
Dois minutos de treino em hipnose equivalem a 20 minutos sem"
Olimar Tesser
- Era véspera de jogo e ele apareceu com os cacos de vidro. Imagina o risco de cortar o pé um dia antes da partida? Hoje a gente se pergunta qual a próxima que ele vai aprontar. É estranho, mas tem nos ajudado - disse o goleiro Ian.
No elenco do Falcão, apenas Boquita já tinha participado das sessões de hipnose. Com o mesmo Tesser no Bahia em 2011. De lá, ainda se arrepia só de lembrar a vez que jura ter levantado o treinador motivacional apenas com a força de seus dedos indicadores da mão.
Para o meia, a terapia tem sido um incentivo a mais para voltar a atuar. Recuperando-se de uma cirurgia para tratar uma hérnia na região da virilha, Boquita se transferiu para o Atibaia à procura de uma sequência de jogos.
Resultado
Os métodos curiosos de Tesser parecem dar resultado. A equipe está na terceira fase da Segundona do Paulista, na liderança de seu grupo, ao lado do Água Santa. Com nove pontos em quatro jogos, o Falcão precisa de mais dois pontos nas duas partidas restantes para garantir a vaga na fase final do torneio. A equipe volta a campo nesta quarta-feira, 11, às 15h, diante do Água Santa, no estádio Salvador Russani.
Subir de divisão seria um feito inédito para o Falcão. Fundado em 2005, o Atibaia jamais deixou a Segundona. O clube nasceu para que a cidade conhecida como a Terra do Morango voltasse a ter um time de futebol profissional. As opções no passado foram o São João Futebol Clube (hoje um clube social), o Boa Vista Futebol Clube (extinto) e o Grêmio Esportivo Atibaiense (que deixou de ser profissional há pouco mais de 20 anos).
O Atibaia, presente na terceira fase do torneio, já iguala a melhor campanha de sua curta história, em 2007. E Tesser assiste aos jogos da arquibancada. Não dá palpite em escalação. No máximo, vai ao vestiário no intervalo quando o resultado é desfavorável e pede dois minutos ao treinador. Ele também assegura que ninguém vai a campo hipnotizado.
(Foto: Danilo Sardinha/Globoesporte.com)
Olimar Tesser conciliou a carreira de jogador com os estudos. Largou o gramado aos 30 anos para trabalhar em uma empresa de importação. Como sempre se interessou pelos estudos da mente, resolveu levar a sério o que era hobby até então. Sua primeira experiência em clube de futebol foi com o técnico Márcio Bittencourt, seu companheiro nos tempos de Corinthians, no Noroeste, em 2008.
- Em 2006, cheguei em casa e descobri que conseguia hipnotizar as pessoas. Hipnotizei logo a minha sogra. Aí, pensei: "Se posso hipnotizar qualquer animal, posso trabalhar com isso" - disse Tesser, que diz já ter desenvolvido sua terapia em Náutico, Guarani, Ponte Preta, São Caetano, Marília, Bahia e Paulista de Jundiaí.
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