'Não tenho medo de nada. Estive em Donetsk': camisa vira artigo cobiçado
Peça criada por moradora da cidade ucraniana responde a programas de TV da Inglaterra sobre riscos de violência durante a Eurocopa
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A ideia surgiu antes da polêmica. Diana Berg queria apenas brincar com a
imagem negativa de sua terra natal. Mas acabou criando o souvenir mais
disputado de Donetsk. Duas frases que viraram uma resposta bem-humorada
ao temor dos ingleses em viajar para a cidade que recebeu mais partidas
da seleção na Eurocopa: "Agora não tenho medo de nada. Estive em
Donetsk".
- Eu tenho que agradecer muito aos ingleses por causa da promoção que fizeram para a minha camisa - diz a elétrica e sorridente Diana, designer de 32 anos que criou a estampa tão famosa na cidade e que virou notícia em toda a Ucrânia.
Diana exibe a camisa que provoca o medo inglês sobre Donetsk (Foto: Rafael Maranhão / Globoesporte.com)
Foi em maio, uma semana antes do início do torneio, que a emissora
britânica BBC exibiu um documentário alertando para os riscos de ofensas
e ataques de motivação racista que torcedores, sobretudo negros e de
origem asiática, corriam na Ucrânia, onde a Inglaterra jogou a primeira
fase. O ex-zagueiro da seleção Sol Campbell chegou a dizer que alguns
poderiam "acabar voltando para casa em caixões". Passadas as duas
partidas dos ingleses em Donetsk, foram os locais que ficaram assustados
com os visitantes, e não o contrário.
A partir do documentário, a camisa criada por Diana Berg passou a vender quase dez vezes mais do que antes. E até teve seu preço reajustado de 170 para 250 gryvnas (R$ 63). Mas a ideia inicial não tinha nada a ver com a Inglaterra.
- Eu tinha vencido um concurso para criar um logo para Donetsk, mas a prefeitura disse que não tinha dinheiro e que não iria usá-lo. Decidi aproveitar a ideia e lançar vários produtos. Eu pensei na mensagem por causa da má fama que a cidade tem de ser uma terra de onde saíam mafiosos. Mas aí veio o documentário e outras reportagens de TV inglesas e a camisa começou a vender de um jeito que eu nem imaginava. Eu nem acho a mais bonita que criei - afirma.
Por não ser um produto licenciado da Euro 2012, a camiseta (nas cores branca e preta) não pode ser vendida nas lojas oficiais e na Fan Zone. A solução encontrada por Diana foi montar uma barraquinha num camping onde vários torcedores estrangeiros se hospedaram. A propaganda boca a boca e os compradores desfilando pela cidade ajudaram a tornar o produto uma peça cobiçada.
- No início, fiz apenas 50 camisetas. Quando elas se esgotaram, pedi mais 50 que terminaram rapidamente. Depois pedi mais cem, e mais cem, agora já perdi até a conta. Recebo pedidos de todo o país. Um dia, a secretária do dono do Shakhtar Donetsk apareceu no campign e comprou mais de 15, em tamanhos diferentes e modelos feminino e masculino. Eu nem devia contar isso, mas como é para o Brasil, acho que não tem problema - diz, dando risada, citando Rinat Akhmetov, homem mais rico da Ucrânia e presidente do clube cujo estádio recebe os jogos da Euro 2012 na cidade.
Camisa à venda em camping da cidade: R$ 63 cada uma (Foto: The Village / Reprodução)
Mas nem todos em Donetsk acharam graça da brincadeira de Diana. Ela diz
que já foi parada na rua por moradores que reclamaram de sua ideia e
ofendida em redes sociais. Como resposta, decidiu produzir uma versão
local da camiseta.
- Ela terá a mensagem "eu não tenho medo de nada, sou de Donetsk" e será escrita em cirílico (o alfabeto local), para que as pessoas daqui também possam usá-la. Infelizmente, alguns parecem não entender que o bom humor é a melhor resposta. Muita gente ainda vive com uma mentalidade da antiga União Soviética. Vinte anos se passaram, mas ainda está muito enraizado na nossa cultura - reclama.
A passagem pela cidade pode ter mudado a ideia que os torcedores ingleses faziam dos ucranianos, mas, em Donetsk, o estereótipo dos hooligans britânicos dos anos 1980 e 1990 ainda não desapareceu. E alguns fãs que estiveram na cidade durante a Euro ainda reforçaram essa imagem. No Golden Lion, um bar próximo à praça central que exibe jogos de futebol e virou ponto preferido dos visitantes, apenas uns poucos ucranianos apareceram para ver pela TV as partida disputadas em outras cidades.
Sol Campbell aumentou polêmica ao dizer que
torcedores ingleses voltariam para casa em
caixões (Foto: Getty Images)
- Logo depois do Inglaterra x França, os torcedores ingleses ficaram
aqui até 5h da manhã bebendo e fazendo barulho. Alguns até arrumaram
confusão. As pessoas ficaram um pouco assustadas e por isso não estão
vindo mais aqui - explicou um deles.
Na terça-feira, dia da última partida da Inglaterra em Donetsk, contra a Ucrânia, um grupo de torcedores ingleses encenou um "enterro" de Sol Campbell do lado de fora do bar, com direito a um caixão comprado numa cidade vizinha e que agora está no camping onde Diana vende suas camisas. O caixão estava pintado com frases "Você está errado, Campbell". De todos os torcedores que o carregavam, apenas um era negro. Os outros, assim como a grande maioria da torcida inglesa no torneio, eram brancos e nem eram os alvos do alerta do ex-zagueiro.
Nos estádios da Euro, durante os jogos da Inglaterra, Sol Campbell também é brindado com um grito com palavrões que virou o mais comum da torcida. Ao contrário do que disse Diana, a falta de bom humor não é exceção de moradores de ex-repúblicas soviéticas.
- F..., Sol Campbell! Nós conseguimos o que queríamos! - bradam os ingleses.
- Eu tenho que agradecer muito aos ingleses por causa da promoção que fizeram para a minha camisa - diz a elétrica e sorridente Diana, designer de 32 anos que criou a estampa tão famosa na cidade e que virou notícia em toda a Ucrânia.
A partir do documentário, a camisa criada por Diana Berg passou a vender quase dez vezes mais do que antes. E até teve seu preço reajustado de 170 para 250 gryvnas (R$ 63). Mas a ideia inicial não tinha nada a ver com a Inglaterra.
- Eu tinha vencido um concurso para criar um logo para Donetsk, mas a prefeitura disse que não tinha dinheiro e que não iria usá-lo. Decidi aproveitar a ideia e lançar vários produtos. Eu pensei na mensagem por causa da má fama que a cidade tem de ser uma terra de onde saíam mafiosos. Mas aí veio o documentário e outras reportagens de TV inglesas e a camisa começou a vender de um jeito que eu nem imaginava. Eu nem acho a mais bonita que criei - afirma.
Por não ser um produto licenciado da Euro 2012, a camiseta (nas cores branca e preta) não pode ser vendida nas lojas oficiais e na Fan Zone. A solução encontrada por Diana foi montar uma barraquinha num camping onde vários torcedores estrangeiros se hospedaram. A propaganda boca a boca e os compradores desfilando pela cidade ajudaram a tornar o produto uma peça cobiçada.
- No início, fiz apenas 50 camisetas. Quando elas se esgotaram, pedi mais 50 que terminaram rapidamente. Depois pedi mais cem, e mais cem, agora já perdi até a conta. Recebo pedidos de todo o país. Um dia, a secretária do dono do Shakhtar Donetsk apareceu no campign e comprou mais de 15, em tamanhos diferentes e modelos feminino e masculino. Eu nem devia contar isso, mas como é para o Brasil, acho que não tem problema - diz, dando risada, citando Rinat Akhmetov, homem mais rico da Ucrânia e presidente do clube cujo estádio recebe os jogos da Euro 2012 na cidade.
- Ela terá a mensagem "eu não tenho medo de nada, sou de Donetsk" e será escrita em cirílico (o alfabeto local), para que as pessoas daqui também possam usá-la. Infelizmente, alguns parecem não entender que o bom humor é a melhor resposta. Muita gente ainda vive com uma mentalidade da antiga União Soviética. Vinte anos se passaram, mas ainda está muito enraizado na nossa cultura - reclama.
A passagem pela cidade pode ter mudado a ideia que os torcedores ingleses faziam dos ucranianos, mas, em Donetsk, o estereótipo dos hooligans britânicos dos anos 1980 e 1990 ainda não desapareceu. E alguns fãs que estiveram na cidade durante a Euro ainda reforçaram essa imagem. No Golden Lion, um bar próximo à praça central que exibe jogos de futebol e virou ponto preferido dos visitantes, apenas uns poucos ucranianos apareceram para ver pela TV as partida disputadas em outras cidades.
torcedores ingleses voltariam para casa em
caixões (Foto: Getty Images)
Na terça-feira, dia da última partida da Inglaterra em Donetsk, contra a Ucrânia, um grupo de torcedores ingleses encenou um "enterro" de Sol Campbell do lado de fora do bar, com direito a um caixão comprado numa cidade vizinha e que agora está no camping onde Diana vende suas camisas. O caixão estava pintado com frases "Você está errado, Campbell". De todos os torcedores que o carregavam, apenas um era negro. Os outros, assim como a grande maioria da torcida inglesa no torneio, eram brancos e nem eram os alvos do alerta do ex-zagueiro.
Nos estádios da Euro, durante os jogos da Inglaterra, Sol Campbell também é brindado com um grito com palavrões que virou o mais comum da torcida. Ao contrário do que disse Diana, a falta de bom humor não é exceção de moradores de ex-repúblicas soviéticas.
- F..., Sol Campbell! Nós conseguimos o que queríamos! - bradam os ingleses.
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