Rosi comemora fase do judô feminino e relembra virada: 'Eu tinha vergonha'
De licença maternidade, técnica da seleção revela momento da mudança de atitude das judocas brasileiras, em 2005. Hoje, ela 'se arrepia' com três top 1
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Em 2005, palavras duras de Rosicleia Campos
ajudaram a mudar o rumo do judô feminino no país. Sobrou para Daniela
Polzin, Fabiane Hukuda, Tania Ferreira, Vânia Ishii, Marcia Vieira e
Priscila Marques. As integrantes da seleção brasileira que disputava o
Mundial do Egito tiveram que ouvir da técnica recém-chegada no cargo:
"Tenho vergonha dessa equipe". A frase ríspida escreveu uma virada. Oito
anos depois, a treinadora aproveita sem culpa um sonho antigo, a
maternidade, e se arrepia quando fala sobre a boa fase das "suas
meninas". Atualmente, são três líderes do ranking mundial (Sarah
Menezes, Mayra Aguiar e Maria Suelen) - além de outras quatro entre as
dez melhores do mundo.
Rosicleia e a equipe feminina que defendeu o Brasil no Mundial do Egito, em 2005 (Foto: Arquivo Pessoal)
Enquanto João Derly conquistava o título mundial inédito para o Brasil,
as representantes do feminino não venceram mais que duas lutas.
Priscila Marques foi quem chegou mais longe, sendo eliminada na segunda
rodada da repescagem do pesado.
- A virada aconteceu de 2005 para 2006. Quando assumi a equipe em 2005,
foi no meio do caminho. Quando elas lutaram o Mundial do Egito fiquei
megadecepcionada. Sentei com elas no quarto e disse: 'Eu tenho vergonha
dessa equipe'. Tinha uma equipe feminina que eu tinha vergonha. Falei:
'Não quero ter vergonha de ser técnica da equipe feminina, quero ter
orgulho. Não quero ser técnica dessa equipe de jeito nenhum' - lembrou.
Depois daquele mundial, Rosi colocou na cebeça que o judô feminino precisava de uma referência. Mais do que isso, precisava de planejamento gradual, no seu tempo. A primeira tarefa contou com a "ajuda" das principais rivais do continente, as cubanas. E foi num período de treinos no Equador que as coisas começaram a mudar.
- Em 2006 a gente foi para Cuenca, passamos 21 dias treinando com Cuba, Equador, Venezuela e República Dominicana. Eu e o Ney (Wilson, gestor de alto rendimento da CBJ) fizemos um planejamento de curto e médio prazo de ganhar na pan-américa, mas sempre esbarrávamos nas cubanas. A gente perdia mesmo, sem a esperança de vencer. Nesses 21 dias, tudo que as cubanas faziam a gente fazia. Se as cubanas subiam o morro tal, então vamos subir o morro tal. Enquanto isso, a equipe masculina estava na Europa, e elas reclamando comigo. Foi aí que mudamos para sair da sombra de coitadinha, que o judô masculino tem tudo, e a gente não tem nada. Ali aconteceu uma mudança de postura. Se nos dão um limão, vamos fazer uma limonada.
Rosicleia posa com a seleção feminina de 2013, antes de dar a luz (Foto: Márcio Rodrigues / MPIX/CBJ)
Meninas viram referência e têm agenda lotada para treinos
Rosicleia lembra que não existia uma programação exclusiva, voltada para o judô feminino. A equipe simplesmente "ia atrás do judô masculino", mesmo tendo necessidades diferentes. Hoje, ela garante que o nível entre as duas seleções é igual e que, para isso acontecer, teve que enfrentar um processo árduo para tentar mudar essa cultura até mesmo dentro da Confederação.
Até 2005, o Brasil nunca tinha conquistado uma medalha olímpica entre as mulheres. Atualmente, são três. Em 2008, Ketleyn Quadros foi a responsável por essa estreia, com um bronze em Pequim. Em 2012, Sarah Menezes se tornou a primeira mulher campeã olímpica, e Mayra Aguiar subiu a conta, com outro bronze, em Londres. Em Mundiais, foram três 3º lugares (Danielle Zangrando e Edinanci Silva, duas vezes) até a chegada de Rosicleia ao comando da equipe feminina. De 2005 para cá, o Brasil mais que drobrou o número de pódios, com mais duas pratas (Mayra Aguiar e Rafaela Silva) e três bronzes (Mayra Aguiar e Sarah Menezes, duas vezes) para a conta.
Orgulhosa dessa conquista, Rosicleia viu na medalha de ouro da ligeiro
Sarah Menezes nas Olimpíadas de Londres, no ano passado, a chance de
realizar o sonho de ser mãe. Aos 43 anos, ela curte o momento mãezona,
não das meninas da seleção, mas dos gêmeos Ana Clara e Matheus, que
ainda não completaram três meses de vida. Realizada, a técnica do
Flamengo comemora o sucesso na vida pessoal e se emociona ao falar sobre
as conquistas que ajudou a concretizar.
Rosi consola Maria Suelen após perda do bronze
nos Jogos de Londres (Foto: Agência Reuters)
- Me arrepio só de falar. Tenho vontade até de chorar. Vivi o judô na
pele. Fui atleta. Antes eu tinha que pedir para as atletas top para
treinar com a gente nas viagens. Hoje em dia eu faço agenda. Isso é
fantástico. Hoje elas são superprocuradas. Equipes internacionais vindo
treinar no Brasil não existia. Hoje tem programação para as equipes
virem treinar aqui. Me sinto realizada, como se minhas filhas estivessem
formadas, com um super emprego e ganhando superbem. A partir do momento
que elas saíram da sombra de serem coitadinhas, a postura mudou. Elas
conquistaram respeito, com isso, investimento, e aí vieram os
resultados. Hoje nossa equipe é muito respeitada.
Ainda de licença maternidade, Rosicleia Campos acompanhará apenas da arquibancada o Mundial de Judô do Rio de Janeiro, que acontece entre os dias 26 de agosto e 1º de setembro no Maracanãzinho. Sua volta só acontecerá no fim de novembro, no Grand Prix de Abu Dhabi. O SporTV transmite o Mundial do Rio ao vivo.
Sentei com elas e disse: 'Tenho vergonha dessa equipe. Não quero ter
vergonha de ser técnica do time feminino, quero ter orgulho'"
Rosicleia Campos
Depois daquele mundial, Rosi colocou na cebeça que o judô feminino precisava de uma referência. Mais do que isso, precisava de planejamento gradual, no seu tempo. A primeira tarefa contou com a "ajuda" das principais rivais do continente, as cubanas. E foi num período de treinos no Equador que as coisas começaram a mudar.
- Em 2006 a gente foi para Cuenca, passamos 21 dias treinando com Cuba, Equador, Venezuela e República Dominicana. Eu e o Ney (Wilson, gestor de alto rendimento da CBJ) fizemos um planejamento de curto e médio prazo de ganhar na pan-américa, mas sempre esbarrávamos nas cubanas. A gente perdia mesmo, sem a esperança de vencer. Nesses 21 dias, tudo que as cubanas faziam a gente fazia. Se as cubanas subiam o morro tal, então vamos subir o morro tal. Enquanto isso, a equipe masculina estava na Europa, e elas reclamando comigo. Foi aí que mudamos para sair da sombra de coitadinha, que o judô masculino tem tudo, e a gente não tem nada. Ali aconteceu uma mudança de postura. Se nos dão um limão, vamos fazer uma limonada.
Antes, eu tinha que pedir para as atletas top treinarem com a gente nas viagens. Hoje, faço agenda."
Rosicleia Campos
Rosicleia lembra que não existia uma programação exclusiva, voltada para o judô feminino. A equipe simplesmente "ia atrás do judô masculino", mesmo tendo necessidades diferentes. Hoje, ela garante que o nível entre as duas seleções é igual e que, para isso acontecer, teve que enfrentar um processo árduo para tentar mudar essa cultura até mesmo dentro da Confederação.
Até 2005, o Brasil nunca tinha conquistado uma medalha olímpica entre as mulheres. Atualmente, são três. Em 2008, Ketleyn Quadros foi a responsável por essa estreia, com um bronze em Pequim. Em 2012, Sarah Menezes se tornou a primeira mulher campeã olímpica, e Mayra Aguiar subiu a conta, com outro bronze, em Londres. Em Mundiais, foram três 3º lugares (Danielle Zangrando e Edinanci Silva, duas vezes) até a chegada de Rosicleia ao comando da equipe feminina. De 2005 para cá, o Brasil mais que drobrou o número de pódios, com mais duas pratas (Mayra Aguiar e Rafaela Silva) e três bronzes (Mayra Aguiar e Sarah Menezes, duas vezes) para a conta.
nos Jogos de Londres (Foto: Agência Reuters)
Ainda de licença maternidade, Rosicleia Campos acompanhará apenas da arquibancada o Mundial de Judô do Rio de Janeiro, que acontece entre os dias 26 de agosto e 1º de setembro no Maracanãzinho. Sua volta só acontecerá no fim de novembro, no Grand Prix de Abu Dhabi. O SporTV transmite o Mundial do Rio ao vivo.
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