quinta-feira, 12 de junho de 2014

Surdo e mudo, amazonense vence
11ª luta de MMA e emociona torcida

Helderson Filhão, ou "Mudinho", treina desde os 12 anos de idade e supera barreiras da deficiência para seguir o sonho no esporte e ressalta: "Nós também podemos"

Por Manaus
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“Ele chegou na minha academia aos 12 anos – hoje tem 26. Cresceu comigo”, inicia o mestre Francisco Nonato, da Ciquinho Top Team, tradicional academia da Zona Centro Sul de Manaus. O treinador, assim como toda a equipe, acolheu Helderson Filhão, ainda menino, quando sonhava em se tornar lutador de MMA. Surdo e mudo desde que nasceu, o amazonense foge à regra, supera barreiras e, principalmente, emociona quem acompanha sua trajetória. Neste último domingo, agregou mais uma vitória ao seu cartel, que já somam 11, e sonha com planos futuros.
Helderson Filhão - Rei da Selva (Foto: Isabella Pina)Mestre Chiquinho (boné preto) recebeu Mudinho quando criança em sua academia (Foto: Isabella Pina)
Sempre acompanhado de um intérprete, “Mudinho”, como é chamado pelos amigos e fãs, conversou com o GloboEsporte.com e relembrou sua trajetória na luta. Com o pensamento fixo de persistência, ele cita superação de barreiras que a deficiência o impôs e incentiva outros deficientes. “Nós também podemos” é o lema.

- A minha vontade, desde pequeno, era entrar em uma grande academia, treinar, e me tornar o melhor possível. Estabeleci meus objetivos e nunca me permiti desistir. Sempre tive muita vontade, e encontrei uma academia que me apoiou, em todos os momentos. Mesmo sendo surdo, eu tenho muita sorte em poder lutar. A verdade é que nós, surdos, temos que persistir. Nós também podemos e, se nos esforçarmos, seremos recompensados – contou.
No último domingo, Filhão lutou contra Edmilson Freitas e venceu por decisão unânime, depois de uma grande luta. Com um jiu-jitsu impecável, Mudinho animou a plateia com a boa performance. O mestre Chiquinho justifica.
- Eu costumo dizer que o jiu-jitsu é uma língua mundial. Para ele, de certa forma, ser surdo ajuda muito. Ele, por exemplo, não tá ligado no barulho e nas conversas da academia. O foco dele é única e exclusivamente para a posição que a gente está ensinando e para o que acontece no treino. Ele sempre foi assim, dede que chegou na minha academia aos 12 anos. Ele cresceu lá dentro, cresceu comigo, e tem um caminho muito bonito pela frente ainda – narrou Chiquinho.
Helderson Filhão - Rei da elva (Foto: Isabella Pina)Helderson venceu a última luta por decisão unânime (Foto: Isabella Pina)
A equipe da academia e a torcida são o alicerce do amazonense e emocionam pela dedicação. Enquanto caminhava para o octógono, Mudinho foi recebido por uma onda de mãos que, ao invés de aplaudir, acenavam e mandavam boas vibrações.
- Não precisamos fazer barulho para ele, então preferimos só mostrar que estamos do lado dele – justificou um dos torcedores.
No corner, durante o intervalo entre os round, Filhão recebia as instruções do intérprete. No apito final de cada round, o árbitro precisava alertar sobre o fim. “Não tenho como ouvir o apito, né?” explicou Mudinho, sempre com bom humor.
Por enquanto, o manauara não tem próxima luta definida. Como se recupera de uma cirurgia e fez sua primeira luta desde então, ele pretende tirar algum tempo para descansar. A promessa, no entanto, é de um retorno breve.

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