Pezão descarta Thiago Silva e brinca com o rival Hunt: 'Tem coice na mão'
Após se consultar com um médico, peso-pesado diz não ter
como baixar de peso para enfrentar o compatriota e desafeto: 'Só se eu
cortar uma perna'
Por Ivan Raupp
Rio de Janeiro
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Antônio Pezão vai enfrentar
Mark Hunt
no evento principal do UFC marcado para o dia 7 de dezembro na
Austrália (6 de dezembro no Brasil, por causa do fuso horário), mas por
pouco a luta não sai dos planos. Os dois já treinaram juntos e têm
carinho um pelo outro, o que os fez inicialmente recusar o duelo. A
relação do brasileiro com o neozelandês é muito boa e passa longe, por
exemplo, da que ele tem atualmente com o compatriota
Thiago Silva,
com quem trocou farpas pela imprensa recentemente. Pezão e Thiago
tiveram problemas no passado, os quais nenhum dos dois revela, e se
desafiaram publicamente após o meio-pesado (até 93kg) nocautear Rafael
Feijão. O peso-pesado (até 120kg) chegou a cogitar enfrentá-lo em um
peso combinado e foi a um médico para saber se teria como cortar ainda
mais quilos. A resposta que ouviu, no entanto, foi negativa. Por isso, a
ideia agora faz parte do passado.
Pezão na Team Nogueira: lutador deve fazer parte do camp na equipe do Rio (Foto: Ivan Raupp)
- Estive no médico, e é impossível eu chegar até 115kg. Estou
atualmente com 135kg. Não teria como, seria um desgaste muito grande.
Para mim é uma história que passou. Sou um cara totalmente ao contrário
do Thiago. Sou um cara família, tenho amor de pai, amor de mãe, de
esposa e de filhos, então sou bem diferente. Só achei interessante que
ele falou que queria lutar em peso combinado, e na rua não tem peso
combinado, já que ele me mandou mensagem chamando para brigar. É o meu
peso contra o peso dele. Mas isso é passado - disse Pezão em entrevista
ao
Combate.com, recordando uma
mensagem de celular que recebeu de Thiago.
Já esqueci. Tirei aquele rancor
no coração e estou vivendo
muito bem com isso"
Pezão, sobre Thiago Silva
Sem Thiago Silva, Pezão volta suas atenções para Mark Hunt. Com três
vitórias por nocaute nas últimas cinco lutas, o neozelandês foi alvo de
uma brincadeira do brasileiro:
Pezão ganha 'Pezinho' de presente
e promove encarada com o boneco
- Costumo dizer que ele tem um coice na mão (risos). Até falei para
ele. É um lutador muito duro, só anda para frente e é muito difícil de
ser nocauteado. Conseguiu vários nocautes na carreira. com peso-pesado é
aquilo, uma mão bem acertada pode definir uma luta. Mas não tenho
receio. Como falei, eu gosto, amo fazer isso. Tem que estar bem
preparado e com a cabeça boa porque, assim como a mão dele pode entrar, a
minha também pode.
Pezão também analisou a atuação do árbitro Mario Yamasaki na vitória de
Travis Browne sobre Alistair Overeem, que teve uma reviravolta
impressionante após o americano quase ser nocauteado. Em maio, o mesmo
Yamasaki recebeu diversas críticas de Pezão por ter parado a luta contra
Cain Velásquez supostamente de forma prematura. O ex-desafiante ao
cinturão afirmou que quer se recolocar nos trilhos o quanto antes para
voltar a ter uma chance de disputar o título e apostou no amigo Junior
Cigano contra Velásquez no UFC 166, dia 19 de outubro, em Houston (EUA).
A seguir, veja a entrevista na íntegra:
COMBATE.COM: Já decidiu onde fará a preparação para a luta contra o Mark Hunt?ANTÔNIO PEZÃO:
Conversei com o Katel Kubis, que é o responsável pelo meu treinamento
junto do (Roan) Jucão, e a gente vai passar duas semanas em Curitiba
treinando com o (Fabio) Noguchi. Possivelmente venho passar duas semanas
aqui na Team Nogueira também. E as últimas quatro semanas vou fazer nos
EUA, na American Top Team. Vai ser bem dividido esse camp.
Antes de pegar o Velásquez pela primeira vez, você treinou com o
Mark Hunt e contou que ele tinha elogiado seu chute. Você acabou
criando uma boa relação com ele. Como vai ser enfrentá-lo?
É verdade. Foi para a minha primeira luta contra o Velásquez, tanto que
já de início eu chutei, porque estava treinando muito chute e com a
perna muito pesada. Mas foi mérito do Cain, que é um cara muito bom. Ele
pegou minha perna muito rápido. E tive a oportunidade de treinar com o
Mark Hunt. Fizemos três ou quatro sparrings. A gente pegou certa
afinidade. Peguei um carinho por ele, assim como ele por mim. A
princípio não aceitei a luta e fiquei sabendo que ele também não. Nós
queríamos propor outro lutador. Mas a gente é empregado e tem que fazer o
que o UFC manda. Acharam melhor fazer essa luta e que vai ser melhor
para os fãs, então a gente teve que aceitar.
Antônio Pezão e Mark Hunt vão se enfrentar em dezembro, na Austrália (Foto: Editoria de Arte)
Pela terceira vez você vai fazer um evento principal no UFC. Está se sentindo bem prestigiado pela organização?
Graças a Deus. Fico feliz. Eles sabem que não sou um lutador que vai lá
e tenta puxar a luta para a decisão. Se eu tiver que ganhar, quero
ganhar na vontade, nocauteando ou finalizando. Da mesma forma se perder.
Prefiro perder cinco rounds apanhando a perder desistindo ou num erro
do árbitro. Prefiro sair finalizado e dizer que realmente perdi porque o
outro cara foi melhor. Eu gosto disso. Amo o que eu faço, amo lutar.
Eles sabem que não estou de brincadeira e que treino duro para chegar
até ali. Sabem que meu condicionamento físico, para peso-pesado, vai ser
bom. Fico feliz com a oportunidade. É a quinta luta, três eventos
principais e dois coeventos principais. Muito legal.
A princípio não aceitei a luta e fiquei sabendo que ele também não. Nós queríamos propor
outro lutador. Mas a gente é
empregado e tem que fazer o
que o UFC manda"
Sobre o amigo Mark Hunt
Você reclamou bastante de o Mario Yamasaki ter parado sua
segunda luta contra o Velásquez muito cedo e não ter marcado supostos
golpes irregulares na nuca. O mesmo Yamasaki arbitrou Alistair Overeem x
Travis Browne, onde o holandês ficou muito perto do nocaute mas acabou
sendo nocauteado depois. Acha que o Yamasaki, que desta vez esperou bem
mais, aprendeu com o erro ou isso é uma falta de critério da parte dele?
Tudo é muito rápido. O árbitro tem que pensar e agir muito rápido ali.
Não sei o que passou na cabeça dele naquele momento. Até tomei dois
golpes na nuca e pensei que ele tivesse parado a luta para tirar pontos,
assim como ele falou no vestiário. Tive a oportunidade de encontrá-lo
em Belo Horizonte, olhei no olho dele, e a gente conversou. Eu disse que
não tinha nada contra ele e que isso acontece. Ninguém vive só de erros
ou só de acertos. Inclusive, eu o parabenizei pela luta do Browne
contra o Overeem. Falei para ele que o MMA é isso. Você cai, levanta,
está na pior e ressurge das cinzas, vai lá e vira a luta, como o Travis
Browne fez. Se ele tivesse parado aquela luta, teria tirado a vitória do
Browne. Não sei qual teria sido o resultado da minha, mas dava para ele
ter deixado continuar mais um pouco, por se tratar de um evento
principal e uma luta por cinturão. Em disputa de cinturão você só poder
parar quando o técnico jogar a toalha, só quando não der mais mesmo. Mas
conversei com o Yamasaki e deixei bem claro que não tenho nada contra
ele. Aconteceu, passou, isso é página virada. Agora é treinar duro e
trilhar o caminho novamente pelo cinturão.
O Mark Hunt tem uma mão muito pesada. Dá um pouco de receito de trocar com ele?
É verdade. Costumo dizer que ele tem um coice na mão (risos). Até falei
para ele. É um lutador muito duro, só anda para frente e é muito
difícil de ser nocauteado. Conseguiu vários nocautes na carreira. com
peso-pesado é aquilo, uma mão bem acertada pode definir uma luta. Mas
não tenho receio. Como falei, eu gosto, amo fazer isso. Tem que estar
bem preparado e com a cabeça boa porque, assim como a mão dele pode
entrar, a minha também pode.
Thiago é desafeto de Pezão (Foto: Getty Images)
Houve toda aquela polêmica sua com o Thiago Silva. Ele te
chamou até para brigar na rua. Você disse que iria ao médico para ver se
tinha condição de baixar para 93kg ou lutar num peso combinado. Como
ficou essa situação? O UFC chegou a cogitar essa luta?
Nunca foi cogitado pelo UFC, nunca falaram nada. Estive no médico, e é
impossível eu chegar até 115kg. Estou atualmente com 135kg. Não teria
como, seria um desgaste muito grande. Para mim é uma história que
passou. Sou um cara totalmente ao contrário do Thiago. Sou um cara
família, tenho amor de pai, amor de mãe, de esposa e de filhos, então
sou bem diferente. Só achei interessante que ele falou que queria lutar
em peso combinado, e na rua não tem peso combinado, já que ele me mandou
mensagem chamando para brigar. É o meu peso contra o peso dele. Mas
isso é passado. Agora tenho que focar na minha categoria e no objetivo
maior, que é o cinturão. Hoje sou o número 4 no ranking do UFC e 5 no
Sherdog. O Thiago não está em nenhum dos dois rankings. Então, é um cara
que passou. Já esqueci. Tirei aquele rancor no coração e estou vivendo
muito bem com isso.
Então esse duelo contra o Thiago Silva não está mais nos planos?
Não. Para mim é coisa que infelizmente não tem como. Estive com o
médico, e não tem como eu bater 115kg. Só se eu cortar uma perna
(risos).
Qual o seu palpite para Cain Velásquez x Junior Cigano 3? Como acha que essa luta vai se desenrolar?
Vamos começar pelo Cain. Acho que ele vai fazer um jogo muito parecido
com o da segunda luta, de tentar fazer com que o Cigano se preocupe com
as pernas e tire a mão da cabeça. Ele faz isso muito muito. Quando o
adversário levanta o braço, ele vai para as pernas. O Cain tem uma
grande equipe, a AKA, com ótimos treinadores. Mas creio que o Cigano,
vindo bem de cabeça e feliz como ele está... Ele está renovado. Também
tem um ótimo treinador, o Luiz Dórea. Acredito que vai dar mais um
nocaute para o Cigano. Sei que não vai ser tão fácil como aconteceu da
primeira vez, mas acredito no nocaute dele.
Acredito que vai dar mais um nocaute para o Cigano. Sei que não vai
ser tão fácil como aconteceu da primeira vez, mas acredito no nocaute
dele"
Palpite para Velásquez x Cigano 3
Você foi derrotado na oportunidade que teve pelo cinturão, mas
segue no topo da categoria. O cinturão é uma coisa que está na sua
cabeça ou deixou isso um pouco de lado?
Não. O objetivo maior de lutar é conquistar o ponto máximo, que é o
cinturão. Para mim, quando eu perder a vontade de ganhar o cinturão,
paro de lutar. Não luto por dinheiro, luto por amor. Lógico que a gente
necessita do dinheiro para sobreviver no dia a dia, mas amo o que eu
faço. Quero ter esse objetivo. O dia em que eu não tiver mais esse
objetivo, paro de lutar. É o que eu quero. Vou fazer essa luta contra o
Mark Hunt e espero estar bem treinado para vencer. Aí eles podem me dar
outro atleta, não sei mais quantas, se duas ou três lutas, e eu poderei
estar apto a disputar o cinturão novamente.
Quantas lutas você ainda tem no contrato com o UFC?
Tenho mais quatro lutas.
Espera renovar esse contrato? Acha que luta por muito tempo ainda?
Isso não depende só de mim. A gente já viu como é no UFC. Luta bem,
você passa a ganhar mais, a renovar contrato e a ganhar patrocínios. E,
se perder, você é cortado. Então, não tem essa. Tem que nocautear e
fazer boas lutas. Quero fazer isso, ter meu contrato renovado, poder
lutar pelo cinturão de novo.