Guia de Méribel diz que Schumi foi imprudente ao esquiar fora das pistas
Especialista
no local, alemão Thomas Weller explica que o ex-piloto era um 'ótimo
esquiador', mas se arriscou demais ao tentar praticar entre as pistas
Chamois e Biche
Por Gabriel FrickeRio de Janeiro
Comente agora
Thomas Weller esquia em Méribel
(Foto: Divulgação/Site Oficial Thomas Weller)
Sete vezes campeão da Fórmula 1, Michael Schumacher
segue em estado crítico após sofrer um grave acidente em uma estação de esqui em Méribel, na França
(veja o mapa do local abaixo), neste domingo, às 11h07 locais – 8h07 no horá
rio
de Brasília. Enquanto praticava, o alemão colidiu com uma rocha, teve
um trauma cerebral e chegou em coma no hospital universitário de
Grenoble, onde precisou passar por uma neurocirurgia de emergência. De
acordo com a agência de notícias "Bloomberg", o ex-piloto de 44 anos foi
resgatado de um local entre duas pistas de esqui alpino, Chamois e
Biche, e levado dali às pressas de helicóptero.
Guia e
esquiador profissional que trabalha na região, o alemão Thomas Weller
explicou que existe uma escala de graus de dificuldade das pistas de
Méribel, dividida em cores. As verdes são as mais tranquilas, e Biche
está entre elas. Enquanto isso, Chamois é azul e se encontra no nível 2.
Ainda há as vermelhas e pretas, as mais perigosas, recomendadas apenas
para especialistas. Apesar dos procedimentos de segurança, o esqui
alpino é uma modalidade de alto risco. No mesmo fim de semana do
acidente de Schumi, por exemplo, segundo a imprensa local, duas pessoas
morreram praticando o esporte nos Alpes Franceses, em consequência de
avalanches.
Infográfico mostra as pistas Chamois e Biche e os graus de dificuldade em Méribel (Foto: arte esporte)
Para
Weller, Schumi estava preparado para as duas pistas, já que é um "ótimo
esquiador", segundo ele - o alemão pratica o esporte desde os tempos
de Ferrari, quando costumava participar dos eventos de fim de ano da
escuderia em Madonna di Campiglio, nos alpes italianos. O problema é que
o heptacampeão mundial da F-1 se arriscou numa área entre Chamois e
Biche, uma espécie de "entrepista". Ou seja, uma descida que não é
coberta pela companhia de esqui de Méribel. Neste caso, há muitos
obstáculos, principalmente pela falta de neve no início de dezembro, que
expõe perigos como rochas, árvores e arbustos.
– Chamois
e Biche são pistas de azul para vermelha, ou seja, não tão difíceis.
Ele estava devidamente preparado, com certeza, e é um ótimo esquiador.
Eu nunca esquiei com ele, mas já o vi esquiando. A dificuldade é que ele
não esquiou na pista, mas sim fora, numa espécie de "entrepista". Todas
as pistas do mapa são cobertas por uma companhia que as limpa, tira as
rochas e tudo o mais. Fora delas pode ser muito perigoso. Há pedras,
árvores, animais e tudo o mais. Elas não têm neve suficiente, não têm
cobertura nessa época do ano, então você corre muito perigo, porque os
obstáculos ficam descobertos. Muitos esquiadores caem. Quanto mais neve,
melhor, pois há menos perigo – explicou Weller ao GloboEsporte.com.
Thomas Weller esquia nos Alpes Franceses (Foto: Divulgação/Site Oficial Thomas Weller)
Alemão
como o ex-piloto da F-1, Weller começou a esquiar aos seis anos de
idade, depois que o seu avô lhe deu de presente o primeiro par de
esquis. Como começou bem cedo e treinou muito em seu país, ele competiu
nacionalmente quando era adolescente e também deu aulas da modalidade. O
guia mora em Méribel desde 1986, ou seja, conhece muito bem a área. Por
isso, para ele, Schumacher se arriscou demasiadamente na área entre
Chamois e Biche.
– É uma tragédia que ninguém poderia prever,
mas todo mundo que está indo esquiar fora de pista está se arriscando,
ainda mais se não é um profissional. Ele é um ótimo esquiador, mas não é
um profissional. Para todo turista, e o Schumacher (mesmo possuindo um
chalé em Méribel) é um turista neste caso. É perigoso demais esquiar nas
"entrepistas" – garantiu o alemão.
Mapa mostra o local do acidente de Michael Schumacher (Foto: Editoria de Arte)
De
acordo com a rádio francesa "RMC", o heptacampeão foi socorrido
consciente. Méribel, nos Alpes Franceses (sudeste do País), comporta
mais de 70 pistas de esqui e recebeu em fevereiro de 2013 uma etapa da
Copa do Mundo
de Esqui Alpino. O local do acidente fica a 1.450m de altitude, subindo
até 2.952m em seu ponto mais alto, onde se liga com a região de Les
Trois Vallées.
Michael Schumacher pratica o esqui alpino desde os tempos de Ferrari (Foto: Agência Getty Images)
'Viciado em velocidade'
A
modalidade de esqui alpino é um dos hobbies favoritos de Schumacher
desde os tempos em que competia pela Ferrari, equipe que
tradicionalmente faz suas apresentações de pré-temporada na estação
italiana de Madonna di Campiglio. O ex-piloto, que estava com o filho
Mick no momento do acidente, declarou certa vez que o esporte era uma
das maneiras encontradas por ele para curtir a família, já que passava
pouco tempo em casa devido às constantes viagens para disputar os GPs de
F-1.
Schumacher já se aventurou em corridas de Superbike (Foto: Reprodução/Twitter Circuito de Valência)
O
alemão, que na próxima sexta-feira (dia 3) completará 45 anos, é o
piloto mais vitorioso da história da Fórmula 1 em números totais, com 91
vitórias, 155 pódios, 68 poles e 77 voltas mais rápidas. Em 19
temporadas, ele conquistou dois títulos pela Benetton (1994 e 1995) e
cinco pela Ferrari (de 2000 a 2004). Após a primeira aposentadoria ao
fim de 2006, o piloto retornou à F-1 em 2010 pela Mercedes, mas em três
temporadas só subiu ao pódio uma vez, com um terceiro lugar, sendo
amplamente batido pelo seu companheiro Nico Rosberg no Mundial de
Pilotos.
Como todo piloto de seu nível, Schumacher é
considerado um “viciado em velocidade”. Quando se retirou da F-1 ao fim
de 2006, às vésperas de completar 38 anos, ele se aventurou em corridas
do moto num torneio alemão de Superbike. Correndo sobre duas rodas, o
alemão sofreu três grandes quedas. Uma delas com maior gravidade,
causando uma lesão no ombro e no pescoço, o que o impediu de substituir
Felipe Massa na Ferrari quando o brasileiro sofreu o acidente nos
treinos para o GP da Hungria em 2009.
Michael Schumacher é apaixonado por cavalos. Ele participa de eventos e tem um estábulo em casa (Foto: Divulgação)
No
primeiro ano de sua aposentadoria definitiva da Fórmula 1, o alemão
intensificou as atividades para manter sua adrenalina em alta, mesmo
longe das pistas. Nos Estados Unidos,
ingressou em competições de adestramento de cavalos –
uma das paixões de sua esposa, Corinna, que mantém um estábulo na ampla
residência da família. Já em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, Schumi
encontrou na semana passada o brasileiro Luigi Cani, referência mundial no wingsuit, antes
de uma série de saltos em paraquedas de alta performance. Afastado das
competições com carros, ele mantém a forma e os reflexos em dia andando
de kart na Alemanha e em outras pistas da Europa.
Estação de esqui de Méribel, na França (Foto: Divulgação)