Mateus não estava em Belém "orgulhoso por jogar na terra em que Jesus Cristo nasceu". O volante do Caxias nem considerou que "clássico é clássico e vice-versa" ou saiu de campo dizendo que a "quando o jogo está a mil, a naftalina sobe". Sequer reclamou da arbitragem afirmando que "é caso de Polícia Federal, de FMI". Também não tentou justificar o pênalti perdido contra o Novo Hamburgo, na final do primeiro turno do Campeonato Gaúcho, em duas palavras: "A zar." Mas, ao afirmar que "só bate quem erra", também virou folclore dos "grandes frasistas" do futebol.
O time poderia, caso fossem confirmadas as autorias, ser escalado com Manga, Fábio Baiano, Fabão, Valdson e Marinho Chagas; Biro-Biro, Peu e Pelé; Garrincha, Nunes e Jardel. No banco, Claudiomiro, Dimba, Dadá Maravilha, Zanata, Mengálvio e até um português, João Pinto. Uma seleção à qual é atribuído vasto repertório de tropeços no idioma, confusões e tiradas divertidas. Afinal, após os 90 minutos de uma partida - ou até antes -, tudo é possível diante dos microfones da TV e do rádio ou dos gravadores de jornais, revistas e sites.
Excesso de microfones cria tensão e leva ao erro, dizem jogadores (Foto: arte Esporte / Cláudio Roberto) É claro que alguns casos, com o tempo, nem são tão confiáveis por serem creditados a mais de um jogador. E poucos assumem a autoria. Alguns ex-atletas a negaram com veemência, como Nunes, atacante do Flamengo nos anos 1980, e Jardel, decisivo no Vasco, Grêmio e Porto. Quem reconheceu a "culpa" não escondeu a tensão com o forte assédio por uma declaração bombástica que acaba sendo por vezes trágica.
- Eu ficava nervoso mesmo, confesso. Já era gago, o que me complicava ainda mais. Quando via aquela quantidade enorme de repórteres em cima de mim, me enrolava todo. Uma vez, o Kleber Leite (ex-presidente do Flamengo), na época repórter, veio me entrevistar. Fez tanta pergunta que eu me enrolei. E aí acabei dizendo que perdi muitos gols, mas não tive oportunidade nenhuma. Na outra vez, com o mesmo Kleber, eu gaguejei na primeira resposta: 'Eu gggggg...' Ele fez outra pergunta: 'Eu aaaaaa.....' Ele desistiu e disse 'É isso aí, Peu, muito obrigado!'. Fazer o quê? Errei, errei - disse o ex-jogador do Flamengo nos anos 1980.
Peu confessa erros ao microfone: 'Eu me enrolava
todo' (Foto: André Durão/Globoesporte.com) Peu era vítima de várias pegadinhas dos jogadores do Flamengo. Zico, Junior, Raul e Leandro sempre gostavam de brincar com o então garoto que chegou de Maceió. Histórias como a do avião, em que Junior, na viagem para a decisão do Mundial de Clubes em Tóquio, convenceu o alagoano a raspar o bigode que seria proibido no país do Oriente, ajudaram a dar mais sabor ao folclore. Tudo no maior bom humor.
- Muita coisa eu falava errado porque não conhecia. Uma vez eles me levaram para a sauna. Ficaram batendo papo, e aquele vapor aumentando. Eu não sabia daquilo. Comecei a reclamar do calor. Eles continuavam conversando. Aí, teve uma hora que eu estava tão preocupado e perguntando se aquilo era normal que eles caíram na gargalhada - afirmou Peu, aos risos.
Jardel nega pérolas e levou caso à Justiça (Foto:
Janir Junior/Globoesporte.com) Outro considerado ingênuo no mundo da bola que não ligava para as brincadeiras era Garrincha. Em 1958, na Copa da Suécia, quando estava prestes a comprar um rádio e trazer para o Brasil, foi convencido a mudar de ideia porque o rádio não "falaria português". E se Dadá Maravilha, artilheiro e ídolo do Atlético Mineiro e de tantos grandes clubes, batia no peito para confirmar a autoria da frase de que "só três coisas param no ar: helicóptero, beija-flor e Dadá", Jardel, outro bom de cabeça nas áreas adversárias, nega frases polêmicas que lhe foram atribuídas, como "clássico é clássico e vice-versa", "quando o jogo está a mil, a naftalina sobe", e "eu, Paulo Nunes e Dinho vamos fazer uma dupla sertaneja".
- Não falei nada disso. Nem sei de onde veio. Eu até processei a revista, botei na Justiça. Não lembro de ter dito essas coisas. Mas é claro que, após uma partida, ali no calor, em meio ao assédio dos repórteres, tem gente que se confunde. Acontece. Às vezes o atleta fala o que não deve - disse o ex-jogador, ídolo do Porto, que está em Fortaleza e afirmou não ter faturado ainda a causa.
Quem também não gostou nada dos créditos às "pérolas" foi Nunes. A ele, têm sido atribuídas as frases "A bola ia indo, ia indo, e iu...", "o meu estado não inspira gravidez" e "tanto na minha vida futebolística quanto com a minha vida ser humana".
Nunes (D) nega frases atribuídas a ele. 'Sou macho para assumir o que digo' (Foto: Fábio Borges/Vipcomm) - É brincadeira. Nunca falei nada disso. Não sei de onde vieram essas histórias. Sou macho o suficiente para assumir o que digo e garanto: jamais declarei isso - afirmou o ídolo rubro-negro, que nem quis comentar sobre a declaração de Mateus, a última a entrar, definitivamente, para a lista das grandes frases do futebol que ninguém disse.
AS GRANDES FRASES QUE NINGUÉM DISSE
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Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe."
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Eu, o Paulo Nunes e o Dinho vamos fazer uma dupla sertaneja."
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O interessante é que aqui no Japão só tem carro importado."
(Atribuídas a
Jardel, ex-atacante do Grêmio, Vasco, Porto e Seleção Brasileira. Na primeira frase, trocou adrenalina por naftalina. Na segunda, errou nas contas. Na terceira, esqueceu que estava em outro país).
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Perdi muitos gols, mas não tive oportunidade nenhuma."
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Eu ggggggg... Não, eu vou completar: Eu aaaaaa..."
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Peu, ex-atacante do Fla. Primeiro, tentando justificar os gols perdidos. Depois, gaguejando após pergunta do repórter).
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O que eu achei do jogo? Eu não achei nada, mas o negão ali achou um cordão de ouro no gramado..." (Atribuída a
Josimar, ex-lateral do Botafogo e da Seleção Brasileira).
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O que aconteceu aqui é caso de Polícia Federal, de FMI. Voltar pênalti porque a torcida está gritando é brincadeira."
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Dimba, ex-Botafogo e Flamengo, queria se referir ao FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, ao fazer o seu protesto contra a arbitragem. Mas confundiu o FBI com o Fundo Monetário Internacional
)
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Estou de regime. O doutor me proibiu de comer bicarbonato."
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A senhora, além de muito bonita, é uma troglodita muito inteligente."
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Deixa de ser burro, Renato. Não existe baleia macho, a baleia transa com o tubarão para ter filhotes!"
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Não sabia que esse negócio de bilhete de bondinho dava tanto dinheiro."
(Atribuídas a
Fabio Baiano, ex-Flamengo e Vasco. A primeira frase foi ao justificar não poder comer a macarronada. A segunda, no avião, após saber que a bonita aeromoça era poliglota. A terceira, ao ver um documentário sobre a vida das baleias e ao ouvir Renato Gaúcho comentar que a baleia macho e a fêmea viviam em perfeita harmonia com o filhote. A quarta, ao ouvir do jogador Jamir que o milionário Abílio Diniz era o dono do Pão de Açúcar. Mas do grupo de supermercados...)
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Só posso resumir essa derrota com duas palavras: A-zar!"
(Atribuída a
Marinho Chagas, o Bruxa, ex-Botafogo, Fluminense, São Paulo e Seleção Brasileira, após uma derrota do Botafogo)
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A bola ia indo, ia indo, ia indo... e iu!"
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Tanto na minha vida futebolística quanto com a minha vida ser humana."
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Não moço, meu estado não inspira gravidez".
(Atribuídas a Nunes, ex-Fla, Flu e Atlético-MG. A primeira frase foi sobre uma chance desperdiçada; a segunda foi antes da despedida de Zico; e a terceira, após sair contundido de uma partida).
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Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Jesus Cristo nasceu."
(Atribuída a
Claudiomiro, ex-Inter de Porto Alegre, ao chegar a Belém do Pará para disputar uma partida contra o Paysandu, pelo Brasileirão de 1972).
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The football is a little box of surprise."
(Atribuída a
Pelé, o Atleta do Século 20, após uma vitória de virada para o Santos, traduzindo o futebolês ao pé da letra. A frase conhecida em português é "o futebol é uma caixinha de surpresas").
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Que campeonatinho mixuruca, nem tem segundo turno!"
(Atribuída a
Garrincha, gênio do Botafogo e da Seleção Brasileira, durante a comemoração da conquista da Copa do Mundo em 1958).
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O meu clube estava à beira do abismo, mas tomou a decisão correta e deu um passo à frente."
(Atribuída a
João Pinto, ex-Benfica de Portugal).
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A moto eu vou vender, e o rádio eu vou dar para minha avó."
(Atribuída a
Biro-Biro, ex-Corinthians, ao responder a um repórter o que faria com o "Motorádio" que ganhou como melhor jogador da partida).
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O difícil, como vocês sabem, não é fácil.”
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Quero agradecer à Antarctica pelas brahmas que nos enviou..."
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O Sócrates é invendável, inegociável e imprestável."
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Depois da tempestade vem a ambulância"
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Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático"
(Atribuídas a
Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians, ao recusar a oferta dos franceses pelo jogador).
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Não venham com problemática que eu tenho a solucionática."
(Atribuída a
Dadá Maravilha, ex-Atlético Mineiro, Inter, Fla, Bahia, Sport e Seleção Brasileira)
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A partir de agora, meu coração tem uma cor só: é rubro-negro."
(Atribuída a
Fabão, ex-Fla e São Paulo, ao chegar ao clube carioca)
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As pessoas querem que o Brasil vença e ganhe."
(Atribuída a
Dunga, ex-técnico da Seleção Brasileira)
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Ô, Tovar!…Me traz lá do supermercado um frasco do desodorante IÔIÔ.”
(Atribuída a
Manga, ex-Botafogo, Inter e Seleção Brasileiro, ao pedir ao meia colorado que comprasse o desodorante 1010)
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Estou muito feliz de jogar na Sociedade Esportiva Corinthians.”
(Atribuída a
Gustavo Nery, ex-Corinthians e Flu, na apresentação no Timão, confundindo o nome do clube com o do Palmeiras, maior rival)..
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Eu disconcordo com o que você disse.”
(Atribuída a
Vladimir, ex-Corinthians, discordando do repórter. A ironia é que existe o verbo desconcordar, e não disconcordar, e o jogador foi muito criticado pela frase).
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Assinar eu ainda não assinei, mas já acertei tudo bocalmente."
(Atribuída a
Pitico, ex-Santos, após acertar a renovação do contrato)
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Na Bahia é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar."
(Atribuída a
Zanata, ex-lateral do Flu, ao falar sobre a hospitalidade do povo baiano).
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Estou realizando meu sonho de ir jogar no futebol europeu."
(Atribuída
a
Váldson, ex-Bota e Fla, ao trocar o Fla pelo Querétaro, do México).
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Realmente, minha cidade é muito facultativa."
(Atribuída a
Elivelton, ex-Cruzeiro e São Paulo, sobre a quantidade de faculdades existentes em sua cidade natal).
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Chegarei de surpresa dia 15, às duas da tarde, vôo 619 da Varig..."
(Atribuída a
Mengálvio, ex-Santos, ao avisar à família sobre sua chegada de excursão à Europa)