Maldonado lembra última luta aceita em cima da hora: "Não vai se repetir"
Brasileiro diz que negatividade que o cercou antes de
enfrentar Glover Teixeira, no UFC Rio 3, está de volta antes de combate
contra Stipe Miocic
Por Adriano Albuquerque
Rio de Janeiro
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Novo adversário do
peso-
pesado Stipe Miocic no
evento principal do TUF Brasil 3 Final, o lutador brasileiro
Fábio Maldonado novamente se encontra
aceitando uma
grande luta em cima
da hora, em substituição a um "figurão" do MMA. Se desta vez o
sorocabano subiu de peso para ocupar a vaga deixada pelo ex-campeão
peso-pesado Junior Cigano, lesionado, ele teve de entrar no lugar de
Quinton "Rampage" Jackson para que
Glover Teixeira não ficasse sem adversário no UFC Rio 3, há pouco menos de dois anos, em outubro de 2012.
Não é a única semelhança que o "Caipira de Aço" vê entre as duas
situações. O peso-meio-pesado contou, em entrevista por telefone ao
Combate.com, que sente muita negatividade e pessimismo ao seu redor
quanto às suas chances contra o lutador americano, da mesma forma que
aconteceu contra Glover. Na ocasião - Maldonado admitiu uma vez ao site
"Sexto Round" - ele "amarelou" no vestiário da HSBC Arena, por ter
deixado a opinião dos outros o influenciar.
Maldonado encara Glover Teixeira em 2012: paulista quer evitar pessimismo ao seu redor (Foto: André Durão)
- Eu estou sentindo com o Miocic a mesma
história com
o Glover se repetir, pelo menos na expectativa. As pessoas me
menosprezaram muito ali. Peguei muita pilha dos outros, comecei a
acreditar no que as pessoas diziam (...) Eu não vou deixar a história se
repetir. Eu estou vendo a história se repetir fora do octógono, mas
quando eu entrar, vou procurar estar focadinho e levar a luta longa, que
o Miocic vai cansar e eu vou pegá-lo - declarou Maldonado.
Se conseguir surpreender no Ginásio do Ibirapuera, no próximo dia 31, o lutador visualiza uma grande recompensa para o
alto risco
que assumiu. Usando Vitor Belfort como exemplo, Fábio Maldonado
acredita que uma vitória pode impulsioná-lo ao top 10 de sua categoria, o
peso-meio-pesado, mesmo lutando como peso-pesado.
- Mesmo sendo uma
luta
nos pesados, acredito eu que vou me ranquear melhor nos meio-pesados,
assim como o (Vitor) Belfort se ranqueou. O Miocic é o sétimo dos
pesos-pesados no UFC, eu sou o 20º dos meio-pesados. É para eu me
ranquear melhor. O Belfort nocauteou o
Dan Henderson
no meio-pesado e já estava (escalado para lutar) pelo título (dos
pesos-médios), né? (...) Querendo ou não, eu vencendo o Miocic, sou top
10 do 93kg, é justo o UFC me classificar assim - analisou o "Caipira de
Aço".
Confira a entrevista de Fábio Maldonado na íntegra:
COMBATE.COM: Você fez campanha para substituir o Cigano?
Fábio Maldonado: Que campanha, coisa nenhuma! O Alex
Davis,
meu empresário, ligou aqui em casa, e falou que o Joe Silva
(responsável pelo casamento das lutas no UFC) estava pedindo um favor
para ele, se eu podia cobrir o lugar do Cigano. Peguei na hora. Sou
homem, né, se eu correr dele... O maior problema é o pouco tempo para se
preparar. Nem estava fazendo treino de luta, há uma semana só que tinha
voltado a fazer treino, estava fazendo só musculação e cuidando de
lesão depois da luta, e acabou aparecendo essa.
O pôster do TUF 3 Brasil Final, com Maldonado
em destaque contra Miocic (Foto: Divulgação)
Te surpreendeu quando te chamaram? Foi algo inesperado?
Foi inesperado, com certeza. Eu ia treinar com o Cigano, estava armando
o treino, estava marcando de ir quarta e sábado ou terça e sexta, se
não me engano, ia fazer sparring de
boxe com
o Cigano, que ele estava precisando. Estava já conversando de ele vir
para Sorocaba. Agora, isso aconteceu, e se ele puder vir me ajudar, ia
ser bom, ali no finalzinho do treino. Apareceu a luta, eu fiquei honrado
de o UFC ter me dado essa luta, é um sinal de que eles acreditam em
mim.
Você está dizendo que ia ajudar o Cigano no treino. Agora, ele está com a mão quebrada
e não pode fazer sparring contigo, mas você está consultando-o sobre
coisas que ele já tinha estudado do Miocic e coisas que pode te ajudar?
Eu tentei ligar para ele uma vez e não consegui. Estou esperando ele
retornar. Ele deve ter ficado bastante chateado, mas estou esperando ele
retornar. Com certeza, receber informações dele ia ser
muito bom, inclusive se ele puder vir para o meu córner mais uma vez, já esteve algumas vezes, seria muito bom também.
Por que aceitar esta luta? Quais são as vantagens para você?
Primeira coisa é que é uma coisa de honra: sou homem, né, velho. É uma
coisa de honra minha. Se eu recusar luta, tenho que ficar com vergonha
de
tirar foto com um fã.
Segundo que não é difícil, seria mais difícil ter de bater 93kg de
última hora. Daria para bater 93kg, mas eu estava com 103kg, estou com
103,5kg. É só não ter que desidratar, não vou ter que passar por isso.
Sempre treinei com pessoal assim, já lutei nos pesados no boxe, lutei
MMA no Brasil nos pesados. Claro que o Stipe Miocic é muito forte,
grande, sabe wrestling, é campeão nacional de wrestling, é um problema. É
mais um adversário muito duro, como todos no UFC. E a outra coisa que
eu aceitei também é que, mesmo sendo uma luta nos pesados, acredito eu
que vou me ranquear melhor nos meio-pesados, assim como o (Vitor)
Belfort se ranqueou. O Miocic é o sétimo dos pesos-pesados no UFC, eu
sou o 20º dos meio-pesados. É para eu me ranquear melhor. O Belfort
nocauteou o Dan Henderson no meio-pesado e já estava (escalado para
lutar) pelo título (dos pesos-médios), né?
Independentemente de vitória ou derrota, pretende voltar para
os meio-pesados, ou continuar na divisão dos pesados? Afinal você já
lutou entre os pesados no boxe e aqui no Brasil...
Prefiro esperar o resultado para te falar. Luta é luta, tudo pode acontecer. Prefiro esperar um pouquinho.
Como está encarando essa responsabilidade de ser evento principal? O que isso significa para você?
Evento principal, para quem vê de fora, parece muita coisa, pressão e
tal... É pressão, claro, trabalha mais, faz mais foto, mais entrevista,
mas é a mesma responsabilidade de quando eu lutava em evento no Brasil.
Quando estreei no UFC, minha luta era a primeira do card preliminar. É a
mesma responsabilidade. Tudo pode acontecer. É só que vai ser mais
visto. Como eu antes ia aparecer se eu tomasse um pau ou se eu desse um
nocautão, todo mundo ia ver, agora realmente, ao pé da letra, todo mundo
MESMO vai ver. Só isso que faz a diferença. Mas o resto é o mesmo que
uma luta de MMA qualquer. Estou muito feliz que o UFC tenha me dado essa
responsabilidade.
Deixe-me recolocar a pergunta, pois não estou nem perguntando
sobre a pressão na luta em si; como vocês sempre dizem, a luta é sempre a
mesma coisa. É mais sobre a responsabilidade de fazer o evento vender
e, antes da luta, deixar o público interessado. O que você está disposto
a fazer pra lotar o Ibirapuera? Vai prometer alguma coisa, falar mais?
Você já fala bastante...
Não acho que falo bastante, eu abro meu coração nas entrevistas.
Reconheço que o Miocic valoriza esta luta. Ele é o sétimo no ranking dos
pesados, e eu, na categoria de baixo, sou o 20º. Agora, eu tenho mão
para derrubá-lo, ele também tem mão pesada, é um cara maior que eu, mais
forte, e pode surpreender, mas eu acho que vou conseguir surpreendê-lo.
Não vou fazer nenhuma promoção a mais, acho que as promoções, no fundo,
são um pouco daquilo mesmo. O cara é um pouquinho daquilo. Aí, se você
forçar a barra um pouco, fica legal. O (Chael) Sonnen, o Wanderlei
(Silva), são um pouco daquilo. Um não vai com a cara do outro mesmo, mas
se você forçar a barra mais um pouquinho, fica mais legal ainda. Eu
estou vendo muito respeito da parte dele, e eu nunca vi esse cara. Mesmo
que eu não gostasse dele, ele é respeitoso, está fazendo a parte dele, é
um ótimo atleta. Vou fazer a minha parte e eu prometo só a minha
agressividade de sempre.
Contra Joey Beltran, Maldonado provocou e baixou
a guarda (Foto: Rodrigo Malinverni)
Você é carismático, é engraçado, fala bem e tinha tudo para ser
mais conhecido. Agora, os resultados estão também ajudando - depois de
quatro derrotas seguidas, você vem de três vitórias. É o momento de se
tornar estrela?
Sei lá se essa seria a palavra, "estrela". Sou muito fã das pessoas com
personalidade, acho bacana. Não me agrada lutadores que entram em
contradição. Não preciso citar nomes, vocês devem saber, mas tem muitos
lutadores no UFC que entram em contradição. Admiro muito o José Aldo;
como atleta, não preciso fazer elogio nenhum, como atleta seria normal
elogiar por tudo que ele é, mas como pessoa. A entrevista dele, eu o vi
no "De Frente Com Gabi", e ela perguntou, "José Aldo, o que significa
para você?", e ele respondeu, "Ele é o cara!" Ele se acha o cara e é
bacana dizer isso! É muito melhor do que ser um falso humilde. Essa é a
personalidade que eu procuro ter também. Procuro ser eu mesmo, e você vê
o cara ao vivo, ele trata qualquer um bem, seja o faxineiro ou outro
campeão do UFC, ele trata igual. Isso que é bacana. Esse negócio de
estrela não me avulta, me avulta ganhar mais dinheiro. Luto para ser
campeão, e se eu receber mais dinheiro, meus três filhos vão ter um
futuro melhor.
Você comentou que o boxe do Miocic é bom e "de repente até
melhor" que o seu na distância. Como você trabalha para contra-ataca-lo?
Eu não vou contra-atacar o Miocic. Eu vou agredir primeiro e de
encontro. Não dá para contra-atacar um cara desse tamanho, ele é muito
grande. Não dá para recuar e bater. Contra-atacar é para quem tem mais
envergadura. Eu li que ele é um campeão de Golden Glove nos EUA, tem
excelência no boxe, mas eu tenho o remédio para batê-lo. Eu sou um cara
que, na curta distância, sempre me dei bem, e vai ser essa luta que vou
procurar a luta toda. Vão ser cinco rounds de eu procurando a curta
distância, é isso que vou fazer.
Nesta luta, dá para ficar com as costas na grade e de guarda baixa?
Não estou menosprezando o Miocic, ele é muito bom e uma mão pode
definir a luta, mas o que dá na minha cabeça, eu faço na hora (risos).
Se me der vontade de dar um chutão na cabeça, eu chuto. Se eu não sentir
firmeza, eu não vou fazer. Mas se eu tiver vontade, vou fazer, não
estou nem aí. Vou para dentro dele. Ele vai ter chance de pegar de
encontro, vai ter chance de dar o golpe mais forte dele. Se eu olhar o
golpe a tempo, eu acho difícil de nocautear. Tenho mais experiência no
boxe profissional do que ele, e como é uma luta de 25 minutos, acho que
depois do terceiro round, ele vai cansar e eu vou pegá-lo. Essa é a
minha estratégia. O Miocic pode amarrar no começo, e se fosse de três
rounds, eu não teria aceitado essa luta. Eu só peguei porque são cinco.
Acredita que ele vai querer te derrubar?
Acho que ele vai tentar me derrubar o tempo todo. No começo, vai até conseguir.
Stipe Miocic em ação: para Maldonado, é o melhor
lutador que já enfrentou (Foto: Getty Images)
Por que?
Porque é difícil você pegar um cavalo doido daquele tamanho, cara. Ele é
cheio de músculos. Seco, grande, tem um wrestling bem melhor que o meu.
Você tem que ser realista. Você quer agir na emoção, mas tem que manter
os pés no chão também. Eu sei onde eu estou entrando.
Você comentou que estava vencendo as últimas lutas, mas ainda estava faltando um nocaute no UFC. Vai ser desta vez?
Talvez seja! É um cara resistente também. O que posso falar do Miocic é
que ele é melhor que meus últimos três adversários. Isso eu posso
afirmar dele. Sem nem ter lutado ainda, sei disso.
Você já admitiu uma vez que teve medo de entrar para enfrentar o
Glover Teixeira, que você tremeu um pouco. Contra o Miocic, fica com
medo também?
Não, eu estou com a cabeça boa. Mas a gente tem que tomar cuidado com o
que pede para Deus, né. Você fica pedindo pra enfrentar o Miocic, fica
pedindo pra enfrentar o Jon Jones... Se ficar pedindo, uma hora dá
certo, então toma! Encara o negão aí dando cotoveladas (risos). A vida é
assim. Então, vai ter medo de problema, vai ter medo de ir para a
guerra? Até dá medo sim, mas tem que ser forte e corajoso, não esquento a
cabeça com o resto. No caso do Glover, eu acho que a obrigação acabou
pesando muito em mim. Tinha muita negatividade ali, entendeu? E eu estou
sentindo com o Miocic a mesma história com o Glover se
repetir,
pelo menos na expectativa. As pessoas me menosprezaram muito ali. Não
ele, o Glover foi gente finíssima; nas declarações dele, me colocou no
nível do Rashad (Evans) e do (Maurício) Shogun - que, para mim, estava
louco, são dois ex-campeões... Ele não me menosprezou, mas acabei indo
muito na opinião dos outros. Hoje em dia o MMA está na moda e apareceu
entendedor de tudo quanto é tipo. Todo mundo é mestre de MMA, tem a
solução para tudo. Por que o Cigano não ganhou do Cain (Velásquez), não é
porque o Cain é f*** mesmo, é porque todo mundo já sabe o que está
errado... Hoje tem 200 milhões de treinadores, igual no futebol.
Peguei muita pilha dos outros, comecei a acreditar no que as pessoas
diziam, e eu sabia que o Glover é muito duro, mas eu fui espancado. Em
luta importante, acho que nem o Shogun apanhou tanto do Jon Jones quanto
eu apanhei do Glover. Apanhei muito em seguida, ele passou muito tempo
montado em mim, batendo, e além disso, eu consegui acertar uma mão que
podia ter resolvido a luta se eu estivesse melhor ali, se não tivesse
sido tão golpeado. Eu provei que, em pé, posso nocautear o Jon Jones,
Daniel Cormier, o Miocic, posso nocautear qualquer um que ficar em pé
comigo. Sou experiente e resolvo qualquer parada em pé. A minha
pendência é lutar bem conforme os rounds forem passando. Eu não vou
deixar a história se repetir. Eu estou vendo a história se repetir fora
do octógono, mas quando eu entrar, vou procurar estar focadinho e levar a
luta longa, que o Miocic vai cansar e eu vou pegá-lo.
Como você bloqueia essa negatividade que você diz que está te
cercando, e se concentra só na positividade que você pode e vai ganhar
essa luta?
Vou te falar a verdade, não posso nem responder isso agora, se não
bloqueei ainda! A grande luta que apareceu na minha vida, eu perdi,
contra o Glover. Agora apareceu outra grande luta na minha vida, o
Miocic. Querendo ou não, eu vencendo o Miocic, sou top 10 do 93kg, é
justo o UFC me classificar assim. Está aparecendo outra luta grande na
minha vida, com pouco tempo de treino - contra o Glover, foi maior o
tempo de treino. Eu só vou provar que sou capaz disso com o resultado.
Sempre lutei pelo resultado, nunca lutei para dar show, tenho que
vencer, nocautear, finalizar ou levar na decisão, tenho que bater esse
branquelão (risos).