Com preparação física dedicada, Patolino vê evolução no Ultimate
Finalista do TUF Brasil 2 faz trabalho com médico, preparador e
fisioterapeuta para acabar com críticas sobre gás e comemora resultados
Por Adriano Albuquerque
Rio de Janeiro
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William Patolino foi a maior sensação da
segunda temporada
do The Ultimate Fighter Brasil, mas, depois de perder a final do
torneio para Léo Santos, em junho do ano passado, ouviu críticas de que
havia cansado, "morrido no gás" na luta. Seis meses depois, o lutador
fluminense estava de volta ao octógono do UFC, contra o americano Bobby
Voelker, e mostrou outra disposição: dominou o adversário por três
rounds, mantendo praticamente o mesmo ritmo de luta a caminho de uma
vitória por decisão unânime dos juízes.
A evolução se deve à adoção de um trabalho mais dedicado e profissional
na preparação do atleta para os combates. Patolino passou a fazer
acompanhamento ortomolecular e suplementação diretamente com o Dr. Hélio
Ventura, que já trabalhava com seu algoz, Léo
Santos, e campeões e ex-campeões do UFC como José Aldo, Renan Barão e Junior Cigano. A este trabalho, incorporou a
preparação física com seu
companheiro de equipe
Raphael Campos e o trabalho de prevenção de lesões com o fisioterapeuta
Eduardo Monnerat. O grupo está mantido para o camp visando o UFC: Brown
x Silva, em 10 de maio, em Cincinnati. William Patolino enfrenta Neil
Magny no card principal.
William Patolino em treino na Pejor (Foto: Adriano Albuquerque)
- Hoje em dia, o atleta
de alta
performance tem que ter uma pirâmide: a preparação física, a
suplementação e a fisioterapia, porque o atleta sempre tem lesão e
precisa fazer a manutenção. Vi essa necessidade no Patolino; lutando no
UFC, ele precisa disso de uma forma padrão, e agora ele faz esse
trabalho com muita assiduidade, o que faz uma enorme diferença - contou
seu técnico principal, Pedro Silveira.
Foi Silveira, que trabalha com o Dr. Ventura desde que tinha 16 anos de
idade, quem levou Patolino ao médico, que já dava orientações à
distância, mas passou a acompanhar o peso-meio-médio diretamente em
setembro. Segundo Ventura, o processo de
perda de peso influencia bastante no desempenho do lutador no dia da luta.
- O objetivo sempre é performance e adequação à categoria de
peso com
a melhor composição corporal possível (baixo percentual de gordura).
Sempre colocamos nossos atletas com um peso basal superior ao da
categoria para que, através de técnicas de desidratação e reidratação,
possamos colocá-los mais "fortes" que os seus adversários. O quanto
perder e recuperar depende muito do atleta, ainda estamos pegando muito
leve com o Patolino - disse Ventura ao Combate.com, por e-mail.
Estava muito tranquilo com meu peso e isso me ajudou bastante. Nas
outras lutas passadas, eu chegava na semana da luta com 80kg ou 83kg.
Batia o peso tranquilo, mas não tanto
quanto desta vez"
Patolino, sobre luta contra Voelker
Põe leve nisso. Ao chegar em Las Vegas, cinco dias antes da luta,
Patolino já estava dentro dos limites de sua categoria. O combate
aconteceu na semana de Natal, e o peso-meio-médio pôde desfrutar da ceia
promovida pelo UFC à vontade, enquanto outros colegas sofriam para
bater o peso.
- Na quarta-feira, eu estava pesando 76kg. Teve ceia de Natal e eu comi
frango com macarrão. Na quinta-feira, subi à balança na pré-pesagem e
estava pesando 76,5kg, e na sexta, dia da pesagem oficial, estava
pesando 76,8kg. Estava muito tranquilo com meu peso e isso me ajudou
bastante. Nas outras lutas passadas, eu chegava na semana da luta com
80kg ou 83kg. Batia o peso tranquilo, mas não tanto quanto desta vez. No
dia da pesagem, estava um quilo acima do peso. Desta vez, estava
abaixo, mas me senti bem mais forte e confiante - relembra o lutador.
Que ele não se acostume muito com toda essa tranquilidade, porém:
Ventura e Silveira admitem que, para o futuro, o objetivo é chegar mais
forte - leia-se: com mais peso para perder na semana da luta e recuperar
para o combate.
- Ele é um atleta muito novo, só tem 22 anos. À medida que ele for
crescendo no evento, a gente vai ter grandes oponentes, que vão chegar
muito fortes, com mínimo por cento de gordura, então vamos ter que
trabalhar com suplementação, mas mediante ao tempo, as coisas vão
acontecendo, vamos sentir a necessidade de deixá-lo mais rápido, mais
leve, mais veloz - explicou Silveira.
Dupla evita crise
O Dr. Hélio Ventura dita o planejamento da preparação de William
Patolino: a cada semana, ele tem uma meta de peso e deve fazer uma
alimentação específica. O trabalho do preparador físico Raphael Campos e
do fisioterapeuta Eduardo Monnerat segue essa linha e tenta manter o
lutador "na ponta dos cascos" durante todo o processo. Durante o camp de
treinos, Campos faz uma periodização: aos poucos, passa da musculação
simples para o trabalho específico com movimentos, tanto no levantamento
de peso quanto no exercício funcional, que sejam mais "reais" para a
luta. Esses movimentos ajudam na prevenção de lesões feita por Monnerat,
que troca informações diariamente com Campos sobre como o
peso-meio-médio está se comportando.
Na preparação para o combate contra Voelker, uma situação que poderia
forçar o cancelamento da luta exigiu o trabalho em equipe dos dois: a
cerca de três semanas do evento, Patolino lesionou o ombro esquerdo
durante um treino de solo. Segundo o próprio, sentia muita dor e não
conseguia treinar. Campos, que conhece o lutador fluminense desde que
este chegou à Academia Pejor, com 13 anos de idade, comunicou a
Monnerat.
Raphael Campos, Patolino e Eduardo Monnerat (Foto: Adriano Albuquerque)
- Ele levou uma chave de braço num treinamento, que provocou um
desalinhamento na articulação dele, e as articulações precisam estar em
perfeita congruência. A gente foi trabalhando, ajustando, mobilizando
essa articulação para que ela voltasse ao seu devido lugar e ele pudesse
lutar sem dor - afirmou o fisioterapeuta.
Campos passou a trabalhar preventivamente o grupamento muscular em que
estava localizada a lesão, enquanto trabalhava normalmente as outras
áreas. Aos poucos, Patolino foi sentindo uma dor "suportável" no
decorrer dos treinos e se recuperando. Apesar de dizer que não estava
100%, o atleta não demonstrou em nenhum momento da semana que estava com
o ombro dolorido e, tomado pela adrenalina do momento, não sentiu a
lesão durante a luta. Segundo Monnerat, o ponto vital foi determinar a
diferença entre uma dor e um incômodo.
- Uma coisa é uma dor que vai impossibilitar o atleta de lutar, outra
coisa é o incômodo numa determinada articulação, mas que ele consegue
fazer naturalmente os movimentos, está motivado e consegue lutar. Se
percebemos que não há condição, ele não vai lutar. O corpo fala quando
tem uma lesão. A postura fala muito. Você inconscientemente começa a
andar de lado, flexionar muito o corpo... Você vai defender a área
lesionada. A gente olha para o atleta, conversa com ele, mas é também um
trabalho de observação - explicou.
O resultado do trabalho em equipe foi bastante comemorado pelo grupo.
Para Hélio Ventura, a performance contra Voelker foi um "massacre".
Patolino admite que se sentiu mais forte e explosivo. Pedro Silveira
também viu evolução, e espera mais melhoras para o
combate com Neil Magny.
- É uma coisa progressiva. A gente já viu uma grande melhora. A
performance do Patolino foi maravilhosa, ele lutou com muita
tranquilidade e disposição, muito gás. Foi nítido ali que tinha alguma
coisa diferente, e a diferença foi essa, o somatório das coisas, que fez
com que ele entrasse com toda a pressão e volume. E em time que está
ganhando, não se mexe - concluiu o treinador.