De um contato que nasceu inusitado, no departamento médico de São
Januário, mês passado, Romário e Tenorio estreitaram uma amizade que
promete ser duradoura no futebol. Na condição de fã e ídolo, os dois
atacantes já mostram intimidade e muito carinho, ainda mais neste
momento de afirmação do garoto, que marcou o primeiro gol pelos
profissionais logo na estreia como titular, sábado, diante do Coritiba.
Curiosamente, a vaga no time surgiu 24 horas antes de a bola rolar, com o
veto ao equatoriano, com dores na região do quadril.
Se tinha alguma dúvida de que o Demolidor seria seu mentor no princípio
da carreira, o camisa 41, com nome de artilheiro, já trata a relação
como uma mensagem divina. A convite do GLOBOESPORTE.COM, ambos fizeram
um passeio na Quinta da Boa Vista, no bairro de São Cristóvão, a dois
quilômetros do estádio cruz-maltino, e se divertiram na base da zoação.
Romário e Tenorio: parceria cada vez mais forte fora de campo (Foto: André Casado / Globoesporte.com)
- Para ver como eu gosto de você: vou pedir demissão do Vasco para você
poder continuar jogando - avisou Tenorio, em seu tom sarcástico,
arrancando gargalhadas de Romário.
O aprendiz, por sua vez, planeja nova homenagem. Chamado de
Demolidorzinho na base, já tem jogado com a gola da camisa erguida, no
estilo de seu mestre, e agora quer entrar em campo com uma chuteira
personalizada com o apelido para
enfrentar o Atlético-MG, nesta quarta-feira, em casa, pela segunda partida das quartas de final da Copa do Brasil sub-20.
Antes de viver esta fase na temporada, no entanto, Romário confessa que
conhecia pouco sobre Tenorio, que foi à Copa do Mundo de 2006 por sua
seleção, mas atuou muito tempo no longínquo Qatar. Desde a sua
contratação, em fevereiro, o videogame passou a ser a forma de expressar
sua admiração até poder dividir espaço com ele.
- Eu me espelho na raça, na confiança e no profissionalismo dele. É um
cara que está sempre disposto a ajudar, é muito dedicado e é um atacante
completo também, que marca gols e ajuda a equipe atrás. Não deixou cair
quando se lesionou. Quero seguir esse caminho de sucesso e títulos. No
videogame, eu escalo o Tenorio direto (risos). Às vezes não sai gol, mas
quando é jogo do Vasco, somos eu e ele na frente, torcendo para
acontecer um dia no campo - revelou.
O jeito brincalhão do experiente atacante, 13 anos mais velho do que a
promessa, só é deixado de lado quando o assunto vira coisa séria.
Adorado pelos torcedores da LDU desde que apareceu, aos 21 anos, o
Demolidor legítimo tem a receita para não se deslumbrar com a fama e não
se abater quando tudo dá errado. Por isso, comemora o espaço dos
jovens.
O futuro do Vasco não sou eu, ou Juninho e Felipe, o futuro são esses
garotos. O futebol é dinâmico. A situação no campeonato não é boa, mas
pelo menos serviu para dar chance a eles agora. Tomara que o clube nunca
vire as costas para ele, e o Romário siga confiando muito em si para
dar certo"
Tenorio
- O futuro do Vasco não sou eu, ou Juninho e Felipe, o futuro é ele e
esses garotos que estão subindo. O futebol é assim, dinâmico demais. A
situação infelizmente não é boa, mas pelo menos serviu para dar chance a
eles. Tomara que o clube nunca vire as costas para ele, e o Romário
siga confiando muito em si para dar certo. Não pode esperar que façam
por você. Atitude e disciplina são fundamentais. Quando vai bem, não é o
melhor do mundo. Assim como quando vai mal, não é pior jogador. Lute
pelo que quer e será recompensado - ensina Tenorio, olhando para o
pupilo, que consente a cada orientação.
Dificuldades na vida pessoal
Ambos são pais de dois filhos, o que, para Romário, não foi uma
transição fácil. Ele chegou a parar de jogar aos 17 anos para cuidar da
família, mas retornou e, em menos de um ano, saiu do Goytacaz para o
Americano e, depois, para o Vasco. Os conselhos se estendem para esta
área, assim como os elogios e a admiração mútua pela batalha diária em
casa.
- É um cara que enfrentou essa situação de frente. Sabe que errou, mas
nunca deu às costas para a responsabilidade. Fiquei muito feliz nesse
jogo em que le marcou gol, porque merece. Poderia ter forçado a minha
condição física, mas era a hora de ele ter a chance e acabou rendendo
mais do que eu poderia. A vida pessoal dele está se resolvendo. É o
motivo a mais que Romário sabe que tem para lutar por cada bola. Hoje,
ter sucesso pelos filhos é a razão de tudo - acredita o camisa 11.
Tenorio deu conselhos sobre a vida e sobre o
futebol (Foto: André Casado / Globoesporte.com)
Os próximos passos ainda são incertos. Após reforçar os juniores ao
lado de Jhon Cley e Marlone, o jovem centroavante deve ficar no banco
contra o Flamengo, no sábado, em clássico que vale uma possível
consagração em meio ao marasmo da falta de perspectiva na competição. E
espera que em 2013 possa levar para o campo a parceria com Tenorio, que
ainda não escalada pelos treinadores recentes.
- Muita gente não acreditou no meu potencial, mas botamos a cara e
vencemos (o Coritiba). Preciso ter paciência e trabalhar cada vez mais
para que no Carioca eu seja mantido no grupo e consiga ter uma
sequência, que é o sonho de qualquer um.
Romário ainda lembrou da "dívida" que tem com outro companheiro: Marlone.
- Estou devendo muita coisa a ele também (risos). Desde 2010, a ajuda
do Marlone é em campo. Deu muita assistência, assim como o próprio Jhon
Cley. Pude ser artilheiro em competições em 2011 e 2012 por causa deles -
frisou o atacante.
Na despedida, mais uma "pilha" do Demolidor:
- Aí, essa matéria é para você guardar debaixo do colchão! E se não
tiver outra depois? Quando dei a primeira entrevista importante e
apareci na TV, vibrei e nunca mais perdi a fita...