Companhias de boxe e MMA se unem em estudo sobre traumas na cabeça
Lutadores Bernard Hopkins, Jon Jones, Glover Teixeira e
Michael Chandler participam de lançamento de parceria inédita na capital
americana
Por Combate.com
Washington D.C.
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Diversas companhias de promoção de MMA e boxe anunciaram nesta
terça-feira sua colaboração com um estudo sobre os efeitos de traumas na
cabeça em lutadores profissionais, feito pela Cleveland Clinic, chamado
de Professional Fighters Brain Health Study (Estudo da Saúde Cerebral
de Lutadores Profissionais). O anúncio foi feito no Capitólio, em
Washington D.C, e contou com as presenças de
Jon Jones e
Glover Teixeira,
que se enfrentarão na vizinha Baltimore no evento principal do UFC 172,
em 26 de abril, além do coproprietário do Ultimate Lorenzo Fertitta, do
lutador do Bellator Michael Chandler e do boxeador Bernard Hopkins, e
dos senadores americanos Harry Reid e John McCain. Além do UFC, vão
colaborar com o estudo a Viacom, detentora dos eventos Bellator, de MMA,
e Glory, de Kickboxing, e as promoções de boxe Golden Boy e Top Rank.
Jon Jones, Lorenzo Fertitta e Glover participam de evento no Capitólio (Foto: Divulgação/Facebook Oficial)
Os efeitos de repetidos traumas na cabeça no cérebro têm sido motivo de
grande discussão nos EUA nos últimos anos. O aumento de casos de CTE
(encefalopatia crônica traumática), também chamado de dementia
pugilística, aumentou a preocupação dos fãs e da mídia sobre esportes
com muitos choques na cabeça, como boxe, MMA e futebol americano.
Segundo Toby Cosgrove, presidente da Cleveland Clinic, entre 20% e 50%
das pessoas que sofrem traumas na cabeça acabam sofrendo doenças
degenerativas neurológicas. Por anos, os dirigentes do Ultimate
defenderam que o MMA é menos arriscado que o boxe nesta categoria por
envolver mais técnicas e menos socos direcionados à cabeça, mas o tempo
curto de existência da companhia e a falta de estudos sobre o esporte
dificultavam a comprovação desta afirmativa.
Isso deve mudar com o novo estudo, que já tem a participação de 400
atletas, 25 deles aposentados e a maioria deles lutadores de MMA. A
Cleveland Clinic deseja contar com 650 atletas no total. A pesquisa
ainda inclui um grupo de controle com pessoas que nunca sofreram traumas
na cabeça. A participação das companhias, porém, ainda pode melhorar:
as organizações presentes ao Capitólio doaram apenas US$ 600 mil (cerca
de R$ 1,46 milhões), quantia que ainda deve aumentar, enquanto a própria
clínica doou US$ 2 milhões (R$ 4,8 milhões) de seu próprio dinheiro, de
acordo com Larry Ruvo, fundador do Cleveland Clinic Lou Revo Center for
Brain Health, responsável pelo estudo.
McCain foi um dos maiores opositores do UFC em sua primeira década de
existência e sua declaração de que o evento era uma "rinha de galo
humana" ficou famosa. Todavia, o senador e ex-candidato à presidência
dos EUA mudou de opinião com a evolução das regras e regulamentações do
MMA. Ele inclusive brincou com Jon Jones em seu discurso.
- Entendo que Jon quer enfrentar Vitali Klitschko? (Risos) Estes
atletas estão aqui em apoio aos seus colegas de esporte porque viram que
muitos golpes na cabeça podem ser um problema. Se não fizermos isso,
acredito que o apoio para esportes tão divertidos pode diminuir entre o
povo americano. Sou grande amigo de uma das maiores lendas do boxe,
Muhammad Ali, e acho que todos concordamos que sua condição atual é pelo
menos parcialmente devida aos repetidos golpes na cabeça que esse
atleta recebeu, e essa é a apenas uma dessas histórias sobre isso. Pode
não ter muito efeito nos atletas que estão aqui hoje, mas devemos ao
futuro do esporte e dos homens e mulheres que estão lutando atualmente -
afirmou McCain.
Lorenzo Fertitta lembrou que o UFC dá seguro de saúde anual completo
aos seus lutadores, o que fez Bernard Hopkins brincar e dizer que
abandonaria o boxe para assinar com a companhia. Jon Jones parabenizou a
Cleveland Clinic pelo estudo, enquanto Glover Teixeira lembrou que a
maior parte dos traumas à cabeça são sofridos dentro da academia.
- Fazemos exames médicos e ressonâncias magnéticas toda hora, mas há
milhões de pessoas que fazem sparring e treinam na academia todos os
dias e não têm acesso a esses exames médicos, então isso pode ajudá-los -
afirmou Teixeira.
Michael Chandler, por sua vez, reconheceu que sua saúde é mais importante para ele e sua família que sua carreira no MMA.
- Como lutadores, pessoalmente, eu acredito estar neste esporte por uma
razão e não penso tanto nas consequências, então é ótimo ter gente por
trás estudando e pesquisando nosso bem estar, somos muito agradecidos.
Às vezes, nós lutadores temos de sair de nosso caminho por nosso bem
estar. Fico empolgado em poder disputar o título de melhor peso-leve do
mundo, mas fico ainda mais empolgado em poder jogar futebol com meu
filho no quintal quando ficar mais velho. Isso é mais importante que as
lutas - afirmou Chandler.