quarta-feira, 30 de julho de 2014

Belfort: "Luke Rockhold é um playboy e está em choque por aquele chute"

Brasileiro devolve críticas de americano e diz que não servirá de escada para garotos, porque a montanha é muito alta para eles conseguirem respirar

Por Rio de Janeiro
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Vitor Belfort não gostou das críticas de Luke Rockhold, feitas em uma conversa com jornalistas em San Jose, no início da semana. Em resposta ao ex-campeão dos médios do Strikeforce, que disse que não tem nenhum respeito pelo brasileiro e que acredita que a luta pelo cinturão entre ele e Chris Weidman não acontecerá pelo veterano não aguentar os treinos sem TRT, Vitor garantiu que tudo o que foi dito é fruto do nocaute sofrido pelo americano em Jaraguá do Sul.
Vitor Belfort MMA (Foto: Ivan Raupp)Vitor Belfort rebate críticas de Rockhold e ironiza o americano chamando-o de playboy (Foto: Ivan Raupp)
- Acho que ele está com medo, e eu entendo isso. Aquele playboy ainda está em choque pelo chute que recebeu. Ele e as pessoas estão em choque, essa é a palavra. Leões não se desculpam por serem leões. Eu não peço. As coisas são como são - disse Belfort ao programa "MMA Hour".
Membro da elite mundial do MMA há 18 anos, Belfort ironizou o fato de ter estreado no Vale Tudo dez anos antes de Rockhold fazer sua primeira luta profissional.
- Dezoito anos atrás eu já estava nisso aqui. Já lutei duas vezes na mesma noite, e em 2004 eu conquistei o cinturão dos meio-pesados do UFC. Estou muito feliz de ainda estar aqui, e acho que isso por um lado incomoda muita gente, e por outro alegra muita gente. Muitos desses que se incomodam são filhinhos de papai com talco nos seus traseiros. Quando você é nocauteado, a atitude certa é calar a boca e ir para a academia treinar. Dezoito anos atrás todos esses meninos estavam na escola, e acham que hoje vão me usar como escada? Essa escada é muito grande, e a montanha é tão alta que eles não vão conseguir respirar. Amigo, aqui é muito alto para você.

Ronaldo Jacaré evita brincadeiras
com Mousasi: "Vamos ficar calados"

Brasileiro ressalta o fato de estar em "rota de colisão" com seu próximo adversário, com quem tem boa relação, e enaltece ajuda de Anderson Silva

Por Rio de Janeiro
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Lyoto Machida, Ronaldo Jacaré e Gegard Mousasi (Foto: Reprodução / Instagram)Mousasi e Jacaré (Foto: Reprodução / Instagram)
Quase seis anos atrás, Ronaldo Jacaré e Gegard Mousasi se enfrentaram pelo cinturão peso-médio do Dream, no Japão. Na ocasião, o armênio nocauteou o brasileiro com uma pedalada aos 2m15s do primeiro round. O que ficou para ambos, além do resultado no cartel, foi uma ótima relação criada a partir do momento em que Jacaré ajudou o oponente a perder peso (saiba mais). Desde então eles sempre brincam um com o outro quando estão em contato e já declararam que não gostariam de se encarar novamente. Mas não teve jeito, e essa amizade terá de ser "congelada" quando voltarem a ficar frente a frente no dia 5 de setembro, na luta principal do UFC em Foxwoods, nos Estados Unidos. Afinal, existe um interesse em comum: chegar à disputa de cinturão até 84kg.
- A gente se fala, mas não cheguei a fazer contato com ele ainda. Tenho certeza de que não vai ter tanta brincadeira assim, porque a gente vai estar em rota de colisão. Nós vamos ficar calados, mas depois da luta a gente toma uma água - brincou Jacaré, em entrevista ao Combate.com.
Ronaldo Jacaré é atualmente o quarto colocado do ranking peso-médio do UFC, enquanto Gegard Mousasi é o sétimo. Pode ser que o vencedor desse duelo chegue diretamente à disputa de cinturão contra quem sair de Chris Weidman x Vitor Belfort, que ocorre em 6 de dezembro. Ou, na pior das hipóteses para o vitorioso, ficará a apenas mais um triunfo da disputa pelo título.
- A gente está entre os tops da divisão, na reta do cinturão. É uma luta que os fãs querem ver. Eu e Mousasi somos profissionais. A gente realmente não queria fazer essa luta, mas aconteceu. Infelizmente a divisão está se afunilando, e essa luta vai decidir quem vai subir um degrau e quem vai descer um degrau. Eu subirei um degrau (risos) - disse o capixaba.
Ronaldo Jacaré lutador de MMA (Foto: Ivan Raupp)Ronaldo Jacaré posa sorridente em frente à XGym, onde treina (Foto: Ivan Raupp)
O peso-médio da XGym fez uma comparação do Mousasi atual com o lutador que enfrentou em 2008. Para ele, o armênio está bem melhor agora, em todos os quesitos:
- A vida é feita de evolução. Ele é um atleta e tem evoluído bastante. Reparei que ele melhorou o wrestling, o jiu-jítsu está mais afiado, e até mesmo a trocação está mais refinada. Está bem diferente como atleta. Ele era calmo, agora está bem mais calmo (risos). É a característica dele.
Ajuda de Anderson Silva
Jacaré também exaltou a ajuda que tem recebido de Anderson Silva nos treinos. O ex-campeão da categoria, que deve voltar a lutar no começo de 2015, passou dicas para o companheiro.
- Ele pôde me ajudar bastante. É um atleta tecnicamente fenomenal. Está ficando mais forte a cada dia que passa. Está até impressionando a gente com a evolução física dele. Não tenho dúvida de que vai voltar 100% - afirmou Jacaré.

Wanderlei Silva aceitaria enfrentar Sonnen em evento de luta agarrada

"Cachorro Louco" diz não ver problemas em enfrentar o rival no Metamoris, torneio em que os lutadores não podem desferir golpes de impacto

Por Las Vegas, EUA
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Wanderlei Silva (Foto: Rafael Les/Globoesporte.com)Wanderlei Silva se dispõe a enfrentar Sonnen até no
Metamoris, evento de luta agarrada (Foto: Rafael Les)
A vontade de Wanderlei Silva de enfrentar Chael Sonnen é tamanha que o brasileiro admite até mesmo encarar o rival em uma disputa de luta agarrada, em que socos, cotoveladas, chutes e joelhadas são proibidos. Em entrevista à "Submission Radio", da Austrália, O "Cachorro Louco" admitiu a hipótese de, se houver o convite, lutar contra Sonnen no Metamoris, que reúne alguns dos maiores nomes do "grappling" no mundo.
- Sonnen tem apenas uma forma de lutar, que derrubar o adversário e ficar por cima no chão. Eu sempre tento nocautear, prefiro lutar em pé. Mas, sim, eu lutaria com ele no Metamoris, por que não? Nunca havia pensado nisso, mas acho uma boa ideia.
Sonnen está suspenso por dois anos de atuar no MMA por ter sido flagrado em dois exames antidoping seguidos. Wanderlei Silva teve problemas com a coleta de material para o exame antidoping da Comissão Atlética de Nevada (NSAC), e está sob contrato do UFC. Além disso, não pode participar de nenhuma luta, de MMA ou não, até a reunião da NSAC que decidirá se ele será punido ou não. O Metamoris 4 acontece dia 9 de agosto, em Los Angeles.

Anderson já aparece como favorito diante de Diaz nas casas de apostas

Brasileiro paga US$ 100 para cada US$ 350 investidos. Já o americano paga US$ 318 para cada US$ 100 apostados em sua vitória em janeiro

Por Las Vegas, EUA
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FRAME Anderson Silva entrevista Fantástico (Foto: Reprodução)Anderson Silva aparece como favorito para a luta contra
Nick Diaz em 31 de janeiro de 2015 (Foto: Reprodução)
Menos de 24 horas após o anúncio da volta de Anderson Silva ao UFC, diante de Nick Diaz no dia 31 de janeiro de 2015, em Las Vegas - provavelmente no UFC 183 - as bolsas de apostas já mostram que o brasileiro é amplo favorito para vencer o duelo contra o polêmico americano. Segundo o site "BestFightOdds", que reúne as cotações das principais bolsas de apostas dos EUA, o Spider possui um favoritismo de 2 para 7 - o que significa que cada US$ 350 apostados em sua vitória renderiam ao apostador um lucro de US$ 100. Já uma eventual vitória de Diaz renderia a quem apostasse US$ 100 no resultado algo em torno de US$ 318.
A luta entre Anderson Silva e Nick Diaz acontece no fim de semana do Super Bowl, a final do campeonato profissional de futebol americano, e será disputada no peso-médio, em uma luta de cinco rounds. Ambos os lutadores vêm de duas derrotas seguidas e estarão, na época da luta, há mais de um ano afastados do octógono.

Nick Diaz, sobre enfrentar Anderson: "Começando a ficar com fome de luta"

Lutador americano diz que não gosta de lutar e que vai voltar ao octógono porque duelo é o maior que ele poderia ter no MMA neste momento

Por Las Vegas, EUA
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Nick Diaz vai voltar de sua aposentadoria temporária para enfrentar Anderson Siva no dia 31 de janeiro de 2015, em Las Vegas, nos EUA. Mas engana-se quem pensa que o americano está contando os dias para pisar no octógono contra o ex-campeão peso-médio do Ultimate. Em entrevista coletiva por telefone nesta quarta-feira, Diaz afirmou que não gosta de lutar e que não está super empolgado para enfrentar Spider:
- Eu decidi voltar por conta das minhas opções de vida. Eles me ofereceram essa luta e eu queria falar de lutas interessantes para daqui a um ano ou para o ano que vem. Então, analisei os diferentes aspectos, sentei com eles e conversamos. Acho que vai ser a maior luta que eu poderia ter agora. Tive 37 lutas na carreira e, talvez, metade disso foi pelo UFC. Mas eu não gosto de lutar. Não uso essa palavra no esporte. Lutar não é algo que eu gosto de fazer, é algo que eu faço porque eu sinto que tenho que fazer. Há muito esforço e muito trabalho em ser um artista marcial e eu não recomendo a ninguém que siga carreira de lutador. Se eu estou empolgado com essa luta (contra o Anderson)? Eu diria que estou começando a ficar com fome de luta - explicou Diaz.
lutador Nick Diaz (Foto: Reprodução / Twitter)Nick Diaz: "Lutar não é algo que gosto de fazer, mas sinto que tenho que fazer" (Foto: Reprodução/Twitter)
O californiano usou poucas palavras para falar sobre como acha que o combate será e afirmou que o fato de Anderson estar voltando de uma grave lesão não diminuirá em nada o perigo que o lutador trará no duelo.
- Não sei dizer o que vai ser.  Acho que vamos trocar bastante, mas a minha experiência no boxe é um pouco mais natural do que a dele. Anderson tem um estilo de chutar mais, é mais do kickboxing e frequentou muitas academias de boxe nos últimos anos em sua carreira no MMA. Mas você nunca sabe onde vai entrar. A vida não é uma caixa de chocolates.
Anderson Silva MMA (Foto: Facebook)Diaz não sabe o que esperar de Anderson Silva
pós-lesão (Foto: Facebook)
Nick também explicou que nunca anunciou a sua aposentadoria definitiva do octógono e que aproveitou esse período "sabático" para melhorar o seu jogo e buscar respostas para coisas que não entendia no passado.
- Eu nunca disse que iria me aposentar. Eu só não tinha perspectiva. O que eu quis dizer é que eu não ia pegar nenhuma luta ou fazer nenhum favor a ninguém por um determinado período. Esse plano de aposentadoria é que eu precisava de um tempo de folga. E foi muito bom para mim fisicamente e mentalmente. Muito do meu treino tem sido feito na Califórnia e em Sacramento. Também fiz uns trabalhos em San Francisco. As pessoas que eu venho trabalhando aqui em Dallas têm feito um bom trabalho e implementando novas coisas ao meu camp. Nós tivemos muito tempo para falar sobre isso. Eu fiz muita coisa nesse ano parado, falei com muitas pessoas, entendi muitas coisas, fiz muitas conexões. Foi bom para mim. Eu não preciso de muito, posso sobreviver sem lutar. A questão é que eu quero fazer o melhor que posso como todo mundo. Hoje eu prefiro pensar dia após dia ou luta após luta.
O lutador ainda comentou suas declarações passadas de que só voltaria a lutar se recebesse uma chance ao título ou uma boa quantia em dinheiro. Ele se disse satisfeito com o novo contrato assinado com o UFC, que prevê mais três lutas.
-  Eu não posso reclamar do contrato que fiz. Estou feliz com o negócio.  Eu quero as maiores lutas que eu puder ter. Uma delas é a luta pelo titulo, porque com o titulo você se torna importante e eu me considero importante nesse esporte. Essa luta contra o Anderson é uma luta importante, vai vender ingressos e vai me ajudar a tomar conta da minha família. Também estou motivado a sobreviver a um camp de treinamento para uma luta.
O duelo contra Anderson vai ser na divisão dos pesos-médios (até 84kg), uma categoria acima da qual Nick costumava lutar no Ultimate. Mas o atleta explica que sempre foi mais pesado e que não terá problemas para bater o peso e lutar de igual para igual contra Spider.
- Eu estou bem pesado. Tento andar por aí pesando 88kg, mas devo estar pesando quase 90kg. É claro que não estou no meio de um camp de treinamento. Eu trabalhava muito duro para descer para 77kg quando lutava entre os meio-médios. Mas acredito que poderia lutar em qualquer categoria. Estou um pouco mais velho hoje, mas acho que poderia fazer uma luta em qualquer peso combinado na verdade. Meu irmão também tem essa facilidade.

Cormier procura Spider e Lyoto para se preparar antes de duelo com Jones

Meio-pesado, entretanto, garante que maior parte de seu camp será na A.K.A, com Cain Velásquez e Luke Rockhold e promete conquistar cinturão

Por Las Vegas, EUA
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Daniel Cormier está realmente determinado a conseguir o cinturão dos meio-pesados no UFC. Próximo desafiante de Jon Jones, o lutador disse que já procurou os brasileiros Anderson Silva e Lyoto Machida para treinar com eles por até duas semanas e revelou que é provável que isso aconteça, antes do duelo do dia 27 de setembro, no UFC 178, que será realizado em Las Vegas (EUA).
- Já entrei em contato com caras que moram na Califórnia, como Anderson Silva e Lyoto Machida. Posso ir pra lá, ficar e treinar com eles por uma ou duas semanas, por exemplo. É uma possibilidade. Não acertamos os detalhes ainda, mas é bem provável que aconteça. Seria uma grande honra - afirmou, em entrevista ao site do UFC.
Montagem - Jon Jones x Daniel Cormier (Foto: Editoria de Arte) Jon Jones x Daniel Cormier (Foto: Editoria de Arte)
Apesar da ideia de fazer parte do seu camp com Spider e Lyoto, Cormier exaltou a A.K.A, equipe que treina, além de destacar a importância de Cain Velásquez e Luke Rockhold, que são seus companheiros.
- Já falei para Jones: me mostre dois amigos seus que vão te preparar melhor do que Velasquez e Rockhold. Não existe. Só vou buscar um pouco lá fora, mas não vou sair muito da rotina e minha zona de conforto. Acho que dia 27 de setembro coisas como envergadura e altura não vão importar. Tenho habilidade  de sobra para vencer Jones, vou cumprir meu trabalho da melhor maneira possível - concluiu.
UFC 178
27 de setembro de 2014, em Las Vegas (EUA)
CARD DO EVENTO
Peso-meio-pesado: Jon Jones x Daniel Cormier
Peso-galo: Dominick Cruz x Takeya Mizugaki
Peso-pena: Conor McGregor x Dustin Poirier
Peso-galo: Cat Zingano x Amanda Nunes
Peso-médio: Tim Kennedy x Yoel Romero
Peso-meio-médio: Brian Ebersole x John Howard
Peso-meio-médio: Patrick Cote x Stephen Thompson

Robert Drysdale e Kevin Casey são flagrados em exames antidoping

Drysdale é pego novamente com taxa elevada de testosterona para epistestosterona após vitória no TUF 19 Finale; Casey usou drostanolona

Por Las Vegas
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A Comissão Atlética do Estado de Nevada (NSAC) anunciou nesta quarta-feira que dois lutadores foram pego nos exames antidoping posteriores aos eventos UFC 175 e TUF 19 Finale, realizados em Las Vegas no fim de semana do feriado do Dia da Independência dos EUA, no início de julho. O peso-médio americano Kevin Casey, que fez a primeira luta do UFC 175, foi flagrado pelo uso de drostanolona, um esteróide. Já o peso-meio-pesado de dupla nacionalidade americana e brasileira Robert Drysdale foi pego com nível de testosterona-para-epitestosterona elevado após sua vitória sobre Keith Berish na primeira luta do TUF 19 Finale.
Robert Drysdale ufc (Foto: Ivan Raupp)Robert Drysdale após sua luta no TUF 19 Finale: taxa elevada de testosterona-para-epitestosterona (Foto: Ivan Raupp)
O site "MMA Junkie" foi o primeiro a noticiar os resultados positivos. Drysdale foi pego pela segunda vez com o mesmo problema desde que foi contratado pelo UFC. Em outubro de 2013, o lutador havia tido sua licença de lutador negada pela comissão por ter apresentado nível de testosterona para epitestosterona de 19,4-para-1, mais de três vezes o limite permitido pela NSAC, de 6-para-1. Desta vez, Drysdale foi flagrado com nível de 12-para-1, de acordo com o vice-procurador-geral da comissão, Christopher Eccles.
Os dois lutadores foram suspensos temporariamente até que haja uma audiência formal sobre seus casos. Eles podem ter suas vitórias revogadas e receber multas, além de terem suas licenças de lutador suspensas.
A epitestosterona é um agente mascarante, e também um metabólico biológico da testosterona. Sua função é equilibrar a quantidade de hormônio masculino produzido pelo organismo através do uso de esteróides anabolizantes. A proporção de testosterona-para-epitestosterona de uma pessoa normal é geralmente de 1-para-1, mas a Agência Mundial Antidoping (Wada) tolera que essa taxa esteja até 4-para-1. A Comissão Atlética do Estado de Nevada permite que um atleta participe de uma competição com até 6-para-1.
O propionato de drostanolona é um anabolizante predominantemente androgênico, muito popular entre fisiculturistas, usado para obter uma maior definição e dureza dos músculos. Está na lista de substâncias proibidas pela Wada e pela NSAC.

Com sondagens do exterior, Giba
acena para carreira administrativa

Longe das quadras desde o começo do ano, campeão olímpico diz ter propostas. Ainda sem tomar decisão sobre adeus, estuda e cogita atuar como dirigente

Por Rio de Janeiro
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Giba palestra Dia Olímpico crianças (Foto: Amanda Kestelman)Giba esteve em um evento com crianças nesta terça-feira (Foto: Amanda Kestelman)
O tempo é de reflexão. Depois de encerrar no começo do ano a curta passagem pelo Al Nasr, de Dubai, Giba vive um momento de escolhas. Campeão olímpico e um dos principais nomes da história do vôlei brasileiro, ele sabe que, aos 37 anos, sua carreira de jogador está chegando bem perto do fim. Mesmo assim, ainda não fala com certeza em adeus. O atleta revelou ter sondagens para jogar em clubes de fora do país e , enquanto pensa e analisa as possibilidades, voltou a estudar para começar a planejar seu futuro quando estiver longe das quadras.
- Existem algumas sondagens da Polônia, do Irã, da Rússia e também Itália. Estou estudando ainda. Vendo o que vai acontecer. Até porque, eu já tenho que começar a pensar no resto da minha vida. Comecei a estudar um pouco de comunicação, administração esportiva, marketing esportivo...Isso é muito importante para o resto da minha vida. Não vou jogar para sempre. Vamos ver se vou continuar ou não. Ainda estou decidindo - explicou.
Giba insiste que a decisão tem que ser bem pensada, de forma cuidadosa. Assim como quando anunciou que não jogaria mais pela seleção brasileira, ele diz que quando encerrar a carreira terá de ser de forma definitiva. Sem voltar atrás. Para o futuro, deixa em aberto a possibilidade de atuar no esporte de forma administrativa. Quem sabe como um dirigente.
- Ser treinador não é a minha vontade. Mas nunca fale nunca. Acho que posso fazer uma parte mais administrativa. Acho que a experiência que tive todos esses anos na quadra, posso fazer do lado de fora com que a quadra fique melhor. Por isso, estou voltando a estudar. Para juntar experiência com estudo e poder ajudar todos os esportes - explica.
vôlei giba (Foto: Agência Reuters)Giba tem planos em área mais administrativa par ao futuro (Foto: Agência Reuters)

Confiança na seleção e dança dos famosos
Longe da seleção, Giba se diz satisfeito com o que tem visto os ex-companheiros fazendo em quadra. Ele elogiou o processo de renovação que foi feito sob o comando do técnico Bernardinho. Para o atleta, o vice-campeonato da Liga Mundial merece ser exaltado e as expectativas para o Mundial deste ano, na Polônia, são boas.
- Eu fico muito feliz em ver como foi feita a renovação. Eu sei que eles estão fazendo um trabalho muito bom, voltando para o ciclo olímpico. Esse ano, infelizmente não deu para ganhar dos Estados Unidos na final da Liga Mundial). Mas as críticas vieram no começo e, de novo, o Brasil esteve na final. Tenho que parabenizar pelo trabalho. Confio muito neles, já estive com quase todos. Tenho certeza que vão fazer bonito de novo no Mundial - concluiu.
Além de estar atuando como comentarista, Giba também agora divide seu tempo com ensaios de dança. O atleta participa da próxima edição do quadro ''Dança dos Famosos'', do programa ''Domingão do Faustão''. Com bom humor, ele diz que está sendo uma experiência divertida.
- Está engraçado. Ontem (terça-feira) foi o primeiro ensaio. Chego a estar dolorido. Os músculos não estão acostumado com esse tipo de movimentação. Em todo esporte é assim, na dança é a mesma coisa.

D'Alessandro completa seis anos de Inter e avisa: "Meu lugar é aqui"

Capitão colorado analisa passado, presente e futuro em entrevista de quase duas horas e diz que pretende seguir no Beira-Rio mesmo depois de pendurar as chuteiras

Por Porto Alegre
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Desembarcou no aeroporto Salgado Filho. Viu 400 pessoas gritando seu nome. Acenou para elas. Entrou em um carro. Viu o carro ser cercado. Viu as pessoas gritarem seu nome com mais força. Passou em um hotel. Deu rápida entrevista coletiva. Foi ao Beira-Rio. Ficou em um camarote. Passou o tempo todo autografando camisas. Observou um jogo chato, daqueles de maltratar o ânimo. Comeu um pastel. Sentiu o cansaço de um longo dia invadir o corpo. Bocejou. Espreguiçou-se. Fechou os olhos. E aí é como se Andrés D’Alessandro, seis anos depois do dia em que pela primeira vez colocou os pés no Beira-Rio, acordasse como maior ídolo da torcida colorada, ídolo a ponto de planejar encerrar a carreira vestindo vermelho:

- Eu já escolhi meu lugar. Meu lugar é aqui. Não tem como cogitar sair.

O tempo passou voando para o camisa 10 entre o 30 de julho de 2008, quando assinou contrato com o Inter, e este 30 de julho de 2014, quando vai a campo diante do Ceará pela Copa do Brasil. Aos 33 anos, ele fala “bah”, é capitão do time, campeão da Libertadores, campeão da Sul-Americana, campeão da Recopa, cinco vezes campeão gaúcho. Carrega dores cicatrizadas na lembrança (a derrota para o Mazembe, o afastamento em 2009, a distância de uma Copa do Mundo que aconteceu dentro de sua casa) e façanhas tatuadas na alma. Acima de tudo, é adorado pelos torcedores.
Nesta terça-feira, D’Alessandro abriu as portas de sua casa, em Porto Alegre, para uma conversa de quase duas horas, de chimarrão em punho, com o GloboEsporte.com. Falou do passado, do presente e do futuro. Analisou o futebol brasileiro, criticou a estrutura que o rege, opinou sobre a participação da Argentina na Copa, lamentou ter sido alijado do Mundial, avisou que pretende jogar por mais pelo menos três anos para depois seguir no futebol, possivelmente como treinador. Quer seguir no Inter – como atleta e depois disso.
MOSAICO DALESSANDRO - 3 (Foto: arte esporte)
Confira abaixo a íntegra da conversa.

Faz seis anos, D’Alessandro. O que você lembra do dia em que chegou ao Inter?

Lembro de ter chegado ao aeroporto com um nervosismo normal por estar vindo para um clube novo, as pessoas não me conhecerem, eu não conhecer a cidade. Fiquei surpreso pela recepção. Tinha muita gente. Eu achava que muitos não me conheciam e, sinceramente, fiquei surpreso. Lembro que a torcida me deu um boné, coloquei e saí por outro portão. Fui para o estádio. Tinha jogo contra o Santos. Mas não dei muita sorte, perdemos por 1 a 0. Mas foi muito bom. Era algo que não esperava.

No jogo contra o Santos, as pessoas jogavam camisas pra ti, tentavam escalar o camarote. Já foi possível ver que a torcida queria te acolher logo de cara?

Fiquei surpreso. O pessoal me conhecia um pouco, joguei bastante no River, joguei contra clubes brasileiros na Libertadores, contra o Corinthians em 2003 e depois contra o Cruzeiro em 2008, aí já pelo San Lorenzo. Mas as pessoas não acompanhavam muito minha carreira. Por isso que me surpreendi com o carinho já no primeiro dia. Foi uma coisa que, com certeza, ajudou muito na minha adaptação. Quando tu chega a um clube e tem essa recepção, esse carinho, já pensa diferente, já pensa que o primeiro passo foi dado.

Passou rápido? Passou devagar?

Rápido. Rápido.
Tive uma discussão com o Tite. E ficou entre nós. Nunca ninguém falou nada. Passaram quatro, cinco anos, e ninguém falou nada. É uma coisa de respeito 
Sobre fase turbulenta em 2009
E você tinha como dimensionar, ao chegar, que teria uma relação tão intensa com o clube e com a torcida? Tua visão mais otimista indicava isso?
Não, não. Minha visão mais otimista era dar o melhor para o clube, ficar, cumprir meu contrato. Claro, sempre se pensa em conquistar títulos, mas nunca pensei, sinceramente, que conquistaria tantos títulos como o Inter conquistou. Sem dúvida, são os anos mais importantes da minha carreira. Não tenho dúvidas disso. Aqui no Brasil, se jogam muitos campeonatos: Gauchão, Copa do Brasil, Brasileirão, Sul-Americana, Libertadores. É difícil ganhar uma Libertadores, uma Sul-Americana. Muito difícil ganhar um título nacional. E tu vai ficar marcado por isso. Tive essa sorte. Não me acomodo, porque minha carreira continua, sempre quero mais, mas acho que, nesses seis anos, conquistei junto com o clube coisas que não imaginava. E agora, até para o torcedor me conhecer melhor, a gente está fazendo um livro para contar um pouco da minha história. Foi uma ideia que surgiu, eu gostei, e estamos fazendo o projeto andar. Ainda não temos data para lançar. Tomara que gostem.
Como mudou tua relação com o clube ao longo dos anos? Houve momentos muito bons, mas outros nem tanto...

A carreira é feita de momentos bons e ruins. Passei momentos ruins aqui. Em 2009, sofri muito com a imprensa...

Sofreu? Você chegou a treinar separado do elenco em 2009.


É, bom, são problemas. Tive uma discussão com o Tite. E ficou entre nós. Nunca ninguém falou nada. Passaram quatro, cinco anos, e ninguém falou nada. É uma coisa de respeito. Tenho um respeito muito grande por ele. Foi o Fernando Carvalho quem me trouxe, mas ele era o treinador. Ele poderia ter falado que não me queria. A opinião dele foi importante para eu chegar. Reconheço isso. Mas acontece... Sofri um pouco com a imprensa, aquela coisa de ter chegado, feito um 2008 bom, começar muito bem 2009, mas depois ter uma queda. O pessoal começou a questionar quanto eu ganhava, começou a falar de dinheiro, algo que não gosto, que não faz parte do futebol. O atleta está exposto a essas coisas, a gente entende, mas tem um limite. Mas tudo passa. Passou 2009, terminamos bem, classificando para a Libertadores. Quase fomos campeões. Não fomos por coisas do futebol (refere-se à derrota do Grêmio, com time reserva, para o Flamengo na última rodada)...

Que coisas do futebol?

Coisas do futebol. Coisas que estão aí. Agora já é mais difícil, a CBF mudou...

Mas voltou ao que era antes. Não tem mais clássico na última rodada.
Sei lá. Não sei. Jogar os clássicos na última rodada pode ser melhor. É difícil saber hoje o que é bom. Tem tanta coisa errada. Não só no Brasil. Também na Argentina. A gente tenta continuar com uma linha, cada um tenta fazer sua parte, mas a gente vê que tem muita coisa pra melhorar, que muita coisa continua sendo muito amadora. Isso só faz mal ao futebol. Naquele momento, se tivesse clássico na última rodada, poderia ter sido diferente.
linha do tempo -  dalessandro - 2 (Foto: arte esporte)



Há pouco, quando você falou do Tite, comentou que achava bom que isso nunca tivesse sido comentado por vocês. Mas às vezes não é melhor botar isso pra fora do que ficar guardando?

A gente externou uma discussão. Acho que os detalhes ficam dentro do vestiário. Os atletas têm códigos no vestiário, códigos dentro de campo. O treinador também tem isso. Eu tinha e tenho um respeito muito grande por ele. Falar em detalhes não tem razão. O que acontece no vestiário fica no vestiário. Ninguém tem que saber. Teve um problema? Teve. Mas ele também nunca falou nada. É assim no futebol. Acontece em outros times, em outros grupos, mas temos que manter os códigos.
A impressão que tenho, não sei se você concorda, é que você mudou depois de receber a braçadeira de capitão. Parece ter se assumido como líder. Até parou de levar tantos cartões...

Eu gostei de virar capitão. Gostei. E gostei por ter sido ao natural. A gente não sabe se merece ou não, mas é algo que depende de muitas coisas. Tem que ser aceito pelo grupo. É o principal. É impossível ser aceito por todo mundo, porque tem 35, 40 jogadores num elenco, e sempre vai ter alguns que gostam mais de ti, outros não. Eu fiquei muito feliz por ter sido aceito, ter sido escolhido no começo de 2011, quando estava o Fernandão, estava o Dorival. O clube te passa uma confiança. Tu ganha uma responsabilidade maior perante o clube, os companheiros, a torcida. Muda um pouquinho. Muda tudo. Isso ajudou nos cartões também. Mas é outra coisa que se deu ao natural. Sendo argentino, chegar ao futebol brasileiro não foi tão fácil no começo. Foi difícil até 2009. Depois, melhorou. Fui me acostumando. Não é que o futebol brasileiro tenha que se adaptar ao jogador que chega: é o jogador que chega que precisa se adaptar a tudo. Há regras, uma forma de se trabalhar aqui, e a adaptação demorou. Demorei um pouquinho para entender a arbitragem, minha relação com os adversários. Agora, acho que me conhecem, sabem como sou. Às vezes, brinco em campo, às vezes falo demais.

Falando em braçadeira, a morte do Fernandão muda a importância de carregá-la?


Acho que são duas coisas diferentes. Temos um fato que aconteceu há pouco tempo... É o capitão mais vitorioso da história do clube, que levantou a taça mais importante, que representava muito para o torcedor, para o clube. Ele representava muito bem o Inter. Ser capitão sempre teve um peso. Com esse fato, mais ainda. Sei que foi usada por ele, que ele a representou muito bem, e a responsabilidade é maior. Por outro lado, ninguém vai substituí-lo. Ele mereceu tudo que ganhou, todo o carinho da torcida. Mas temos que continuar, fazer nossa parte, fazer com que ele seja lembrado da maneira como sempre foi, e representar o clube da maneira como ele representou.
Sobre a carreira de treinador, vou fazer um curso. Já estou tentando fazer aqui ou na Argentina, para começar aos poucos, abrir as ideias, ter outras ideias 
Sobre planos após pendurar as chuteiras
Você tem a dimensão de que, quando sair ou quando se aposentar, também não vai ser substituído na história do clube?

Cada um tem sua época. Nenhum jogador é insubstituível. Alguns são mais importantes, é normal. Por qualidade, por consciência tática, por um monte de coisa que diferencia os jogadores. Mas só vou saber disso quando sair do clube. Não tem como saber hoje. Não tenho consciência disso ainda. Sinto o carinho do torcedor. Muito. Sigo pensando que é demais. Isso me dá mais vontade, mais força para tentar buscar esses objetivos, conquistar mais títulos, manter o Inter no lugar que ele merece. Mas essa consciência só vai existir quando sair, quando estiver perto desse momento.

E você sai do Inter para outro clube? Pensa em encerrar a carreira no Inter?

É uma possibilidade muito grande (se aposentar no Inter).

Maior do que imaginava antes?

Maior do que em janeiro.

Por quê?

Passaram-se seis meses, a gente conquistou mais um Gauchão, estou a um ano de ficar sem contrato. Acho que existe a possibilidade de ficar aqui. Já estou com 33 anos, não é pouca coisa para um atleta. Mas acho que estou bem fisicamente, não posso me queixar. Vejo os jogos na Argentina, e acho que a possibilidade de ficar vai aumentando. Hoje é um pouquinho maior do que há seis meses.
E no que você pensa para o futuro? Pretende ser treinador? Ou quer sair do futebol?

Não, sair do futebol, não. Vejo todos os jogos, não deixo de ver nenhum, na Europa, na Argentina. Não sei o que vou fazer quando minha carreira terminar, mas o atleta vai se preparando, vai fazendo suas coisas para que esse golpe não seja tão duro. Uma hora vai acabar. Não tem como jogar até os 60 ou 70 anos. Minha ligação ao futebol é muito grande. Com certeza, gostaria de fazer algo com o clube. Penso nisso. Se tiver essa opção de ficar, de terminar minha carreira aqui no Inter, acho que vai ser bom. Daqui a pouco, vou cumprir nove, dez anos no clube. Gostaria de ajudar. Sobre a carreira de treinador, vou fazer um curso. Já estou tentando fazer aqui ou na Argentina, para começar aos poucos, abrir as ideias, ter outras ideias. Isso faz bem. Minha responsabilidade no grupo também é ajudar os mais novos, e essas coisas de treinador, de relacionamento com as pessoas, exige que você estude.
2008D'Alessandro abre o placar no 4 a 1 sobre o Grêmio
2010Argentino tem participação decisiva na Libertadores
2011Craque marca na final do Gauchão, na casa do rival



Muitos jogadores, especialmente quando têm a vida financeira pronta, não querem mais saber de futebol quando encerram a carreira. Você quer seguir, é?

Não sei fazer outra coisa, cara. Quando terminei o colégio, era só futebol. Larguei tudo pelo futebol. Não posso reclamar de nada do futebol. Ele me deu muita coisa, muito mais do que eu imaginava. Minha vida vai continuar relacionada ao futebol. Minha família já sabe disso. Vou buscar novas ideias para, quando chegar esse momento de encerrar a carreira, estar preparado para isso.

Você é um dos estrangeiros há mais tempo no Brasil.

É? Não sabia disso.

É, sim. Outros chegaram antes, caso do Guiñazu, mas saíram e depois voltaram (Valencia, do Fluminense, está desde 2007 no país).

É um orgulho. Mas isso é por causa de jogadores que chegaram antes e abriram essa porta: o Sorín no Cruzeiro, o Mascherano e o Tévez no Corinthians. Os dirigentes começaram a acreditar no jogador argentino. Não era tão normal. Hoje é mais normal. No Palmeiras, chegaram três ou quatro, e isso faz bem pro futebol. Chegou agora também o treinador (Ricardo Gareca), e isso pode trazer novas ideias. Não vai ser fácil. Desejo tudo de bom a ele, porque é muito bom treinador, mas não vai ser fácil. O atleta brasileiro é diferente do argentino.
O profissionalismo, entre aspas, do argentino... O brasileiro não tem tanto assim. Não são todos que têm. Isso pode ser visto na Europa. O argentino se sustenta muito mais tempo do que o brasileiro 
Ao comparar brasileiros e argentinos
No quê?

É diferente. Na conduta... A vida do brasileiro é diferente. Nem todos são iguais. O profissionalismo, entre aspas, do argentino... O brasileiro não tem tanto assim. Não são todos que têm. Isso pode ser visto na Europa. O argentino se sustenta muito mais tempo do que o brasileiro.

Na dúvida, talvez o clube europeu prefira o argentino...

Não sei se prefere. Mas sabe que o argentino vai ficar mais tempo. E não são todos assim. Tem atleta brasileiro muito profissional e atleta argentino que não é. Tem de tudo. Mas a proporção do argentino sendo profissional é um pouquinho maior.

Muito se fala que o futebol brasileiro está desatualizado. Qual sua visão sobre isso, depois de tanto tempo aqui?

Nesses seis anos, aprendi muita coisa na convivência com jogadores mais experientes que eu, até com adversários, caso do Alex, do Coritiba, do Dida, quando estava no Grêmio, do Juan, do Índio. Eles, com o Paulo André, decidiram fazer esse movimento (o Bom Senso FC). Eles conhecem melhor, sabem os detalhes que precisam melhorar. Mesmo sendo jogadores com tantos títulos, com a carreira feita, eles decidiram se preocupar com o futebol brasileiro, com esse momento, com coisas que precisam mudar. Estamos batendo nessa tecla. O futebol brasileiro tem que mudar muita coisa. O profissionalismo dos dirigentes, no momento, não existe. Os atletas não são respeitados como deveriam ser. E isso nem é só a Série A. É B, é C. É jogador contratado por três meses e que depois fica sem trabalhar. Tem muito detalhe que o torcedor não sabe, que a gente tenta mostrar. É uma briga que temos para melhorar o futebol. Por causa do Mundial, estão pedindo uma mudança. Dá para ver que nossa briga não é à toa. Não é por o Brasil ter perdido por 7 a 1. A gente já começou com isso no ano passado. Isso só faz com que nossa briga seja mais forte, com que a presidenta saiba desses detalhes. Vamos continuar brigando.

Um grupo de jogadores começou a publicar mensagens pedindo democracia na CBF. Falta isso?

A gente sente que o atleta não é escutado. Sem jogadores, não existe futebol. Sabemos disso. Muitas vezes, se pensou em paralisar o futebol, mas sabemos que, por trás dos jogadores, há os torcedores, nossa família, muita gente que vai sofrer se o futebol parar. Mas vai ter um momento em que vai ter que acontecer. O atleta não é escutado. Ele é tratado de uma maneira que não merece. Aí entra a parte que falei antes, de tantas coisas amadoras, de assinar alguma coisa e ser como se o contrato não tivesse valor. Tu acaba deixando de acreditar na palavra do dirigente. Não é em todo lado que acontece, mas acontece muito no futebol brasileiro. O atleta é tratado muito mal. Queremos que isso mude.

Você viu a faixa que os jogadores do Botafogo levaram a campo (no clássico contra o Flamengo, listando os atrasos em pagamentos)?

Vi.
dalessandro cbf democracia protesto twitter inter (Foto: Reprodução)Craque usa rede social para protestar (Foto: Reprodução)
O que achou daquilo?

É claro que é triste. O clube não consegue pagar porque tem dívidas, sabe que pode atrasar os direitos de imagem, mas não o salário, daí chega aos limites com o salário. Com três meses sem salário, o jogador pode deixar o clube, daí o clube deixa dois meses e aí paga. Isso é uma falta de respeito. O atleta faz sua parte. Perder, ganhar ou empatar faz parte. Não tem sacanagem de querer sair. Olha isso que aconteceu com o Flamengo, com o André Santos. Não tem isso de fazer menos para prejudicar. Uma maneira de ser ouvido é isso que o Botafogo fez. Daqui a pouco, outros vão fazer. Tem muito clube devendo. Muito clube não paga.

Qual o próximo passo? A paralisação é mesmo uma possibilidade?

Há espaço para isso. Os atletas precisam ser mais unidos. Somos uma força muito grande. Sabemos que muita gente depende de nós. O futebol também não seria nada sem o torcedor. Não tem graça sem torcida. É feio. O torcedor é parte muito importante de nossa briga. Mas temos que ser ouvidos. Fomos ouvidos pela presidenta, e valorizamos muito isso. Tomara que, em conjunto com o Bom Senso, com dirigentes que tenham vontade de fazer o futebol melhorar, a gente consiga um futuro melhor, consiga ir mudando alguma coisa.
Como foi para você ter uma Copa no país onde você joga, no estádio onde você joga, e não participar?

Eu já vinha processando essa ideia. Não fui convocado nunca. Isso me afastou. Já tinha processado isso. Acho que foi minha última chance. Na próxima Copa, vou ter 37. Não foi fácil, mas eu já estava preparado. Não é que eu tivesse sido convocado e tinha uma chance mínima. Eu sabia que não existia chance, mesmo com o pessoal dizendo que eu deveria estar, e agradeço muito isso. Acho que poderia ter sido convocado, sim. Poderia ter recebido essa chance para mostrar que tinha possibilidade. Nem essa chance eu tive. Não me frustrou, porque minha carreira continua. As coisas acontecem por algum motivo. Não fui para o Mundial, mas posso conquistar algo no meu clube. O futebol te tira algumas coisas, mas também te retribui depois.

Mas o que aconteceu? Não parece uma questão meramente técnica...

Não fui nem testado. Fui convocado em 2011, no Superclássico, e estava com um desconforto depois da Recopa. Eu não tinha condições de ir. Falei com o Sabella. Depois disso, não fui mais convocado.

Acha que é reflexo disso? Por não ter ido naquela convocação?

Pode ser, né? Ninguém sabe o que ele achou disso.
Acho que poderia ter sido convocado, sim. Poderia ter recebido essa chance para mostrar que tinha possibilidade. Nem essa chance eu tive. Não me frustrou, porque minha carreira continua
Sobre a ausência na Copa
Mas você não buscou entender o motivo?

Não. Acho ruim ligar. Nunca pedi nada. As coisas que conquistei, sendo convocado, jogando eliminatória, foram coisas que consegui com meu esforço. Nunca tentei outros caminhos. Tenho meu caráter. Minha posição sempre foi a mesma. Minha linha de trabalhar é a mesma. Não vou ligar para saber por que não fui convocado, já que nunca liguei para saber por que fui, entende? Tenho minha leitura. O pessoal da seleção deve ter feito suas leituras. A minha, guardo para mim. Continuei fazendo meu trabalho, esperando essa chance, e ela não chegou. Fico um pouco chateado por não ter tido essa chance, mas continuo minha vida.

Independentemente disso, o que te pareceu o rendimento argentino na Copa?

Foi crescente. Começou jogando como se tem que jogar um Mundial, não jogando tão bem, mas ganhando a chave. Depois da classificação, o treinador conseguiu melhorar a parte em que havia dúvida, que era a parte defensiva, porque a Argentina, do meio para a frente, tinha várias opções, tem jogadores de muita qualidade, tem o melhor do mundo. Mas essa dúvida atrás acabou na partida em que a Argentina classificou. Deu uma tranquilidade muito grande e ajudou nesse Mundial. Foi um Mundial muito bom, que poderia ter sido coroado com o título no Brasil, que seria algo histórico, mas acho que o treinador conseguiu ter esse equilíbrio.

Messi foi eleito o craque da Copa. Você acha justo?

Acho que poderia ter sido ele, por ter chegado a uma final. Ele jogou bem, fez sua parte. Pode ter se destacado mais nos primeiros jogos, é verdade. Mas ele sempre é importante. Ele atrai o jogador adversário. Em vários momentos, isso ajudou para o Di María aparecer mais. Foi assim contra a Bélgica. Mesmo muito marcado, o Messi conseguiu sair da marcação, o que me lembra o Maradona em 90, que foi muito marcado por Dunga e Alemão, mas conseguiu dar o passe para o Caniggia. O Messi conseguiu fazer o mesmo com o Di María. São jogadores que atraem a marcação adversária. Poderia ter sido o Robben, o Neuer. O Robben manteve um rendimento muito equilibrado. Mas acho que está bem. O Brasil não teve nenhum, poderia ter sido o Neymar, mas ele teve a infelicidade de sair machucado.

O que você pensava enquanto via Brasil x Alemanha?

Eu torço para o Brasil. Reagi como vocês reagiram, de não acreditar no que estava acontecendo. O Brasil ficou sem reação nenhuma. Deixou as coisas acontecerem. Tudo desandou em três ou quatro minutos. Nunca mais vai acontecer. Aconteceu com o Brasil num Mundial, infelizmente. Mas o futebol é bonito por isso. Acontecem coisas inacreditáveis mesmo num jogo entre duas seleções muito boas. Mas também temos que saber por que aconteceu. O Brasil tinha essa insegurança. Em poucos jogos, mostrou equilíbrio como equipe. Esse desequilíbrio aconteceu na semifinal.
Mosaico - D'alessandro Internacional (Foto: Editoria de Arte)
Aliás, o que te parece o Dunga de volta à Seleção? Você trabalhou com ele no Inter.

Um fenômeno. Gosto muito dele. Falei com ele, o parabenizei. Ele fez um trabalho muito bom na Seleção. Conheci o Dunga antes de ele ser treinador do Inter. Depois, conheci melhor. É uma pessoa simples, direta, sincera, correta. Ele tem suas convicções. Tem uma ideia e vai morrer com ela. Infelizmente, em 2010, por coisas do futebol, ficou fora. Mas agora pode fazer um trabalho muito bom.

Chegou a se discutir a possibilidade de o Brasil ter um técnico estrangeiro. O que você acha disso?
Não sei. Nunca aconteceu aqui, né? Na Argentina, acho que também não. O Brasil tem técnicos experientes. No exterior, também tem um monte. O (Marcelo) Bielsa, na minha opinião, poderia treinar qualquer seleção do mundo. Mas essa adaptação demoraria, para ele e outros treinadores. É mais complexo na seleção. Implementar uma ideia nova, conhecer os jogadores brasileiros, tudo isso exigiria tempo. Mas acho que em quatro anos daria, sim. Não sei se o povo brasileiro aceitaria, até porque o Brasil tem treinadores muito bons. Foi cogitado o Tite, que fez um trabalho muito bom no Corinthians, também aqui no Inter. Seria algo muito bom para o futebol brasileiro. Ele tem ideias novas. Mas acho que o Dunga tem essa possibilidade e tem esse caráter de que o futebol brasileiro precisa para ser mais profissional, mais objetivo, aproveitar um jogador como Neymar, que pode ser como o Messi é na Argentina.

Muito se fala que o técnico brasileiro está defasado, que não se atualiza tanto quanto outros. Você concorda?

Acho que não... Bom, pode ser que demore essa mudança. No futebol argentino, já aconteceu. Aqui, é sempre Luxemburgo, Roth, Mano Menezes, que vão de um time para o outro. Essa transição não aconteceu ainda. Mas vai acontecer. Apareceu o Doriva no Ituano, um cara novo, que tem ideias novas. O Tite faz parte disso. O Abel também acho que faz parte. Ele tem ideias muito boas. Mas é uma mudança que está demorando aqui no Brasil. Na Argentina, já aconteceu. Aconteceu com o Sampaoli, que não trabalhou muito na Argentina, mas foi muito bem no Chile. Tem o Simeone, que largou o futebol e já estava preparado para ser treinador de qualquer time. Tem o Tata Martino, o Pelegrino. Essa mudança na Argentina aconteceu mais rapidamente. Mas vai acontecer no Brasil também. 
O Dunga tem esse caráter de que o futebol brasileiro precisa para ser mais profissional, mais objetivo, aproveitar um jogador como Neymar, que pode ser como o Messi é na Argentina 
Sobre a volta de Dunga à Seleção
Pro futuro treinador argentino Andrés D’Alessandro, como é um bom time de futebol? O que precisa ter?

Primeiro, tem que ter um grupo. Sem ele, não faz nada. Tem que ter um grupo que acredite nas tuas ideias. E depois é preciso ter equilíbrio. O Sabella fala muito disso. O Abel também fala. O Van Gaal também. Um time com equilíbrio ataca bem, defende bem. Nosso time joga com um volante só de marcação e muitas vezes é criticado quando perde ou joga mal. Ganhamos o Gauchão assim, enfrentamos times importantes, ganhamos e perdemos. São ideias novas, ideias que o Abel já colocou no Fluminense e que deram certo.

A rivalidade entre Brasil e Argentina parece ter aumentado durante a Copa. Como você viveu isso? Aliás, como você costuma viver isso?

Mas foi boa, né? Até um limite. Algumas brigas aconteceram, e isso não aceitamos. É outro ponto em que o futebol brasileiro precisa melhorar: essa gente que não se preocupa com futebol, que só quer confusão.
O carro do Maxi Biancucchi foi apedrejado, sabia?

Não sabia. Acontece em muitos times... Acho que a imprensa tem sua parte de culpa também. Vi uma matéria sobre o salário do Maxi Biancucchi dois dias atrás...

Você acha errado publicar salário?

Claro! Tenho certeza disso. O torcedor com a cabeça podre já acha que tu puxa pra trás, que tu quer perder. Muita gente já falou isso de mim. Eu derrubei todos os treinadores aqui, né? (Risos) Fui eu que decidi tudo. Já falaram um monte de coisa. Com meu trabalho, isso perdeu credibilidade. A imprensa pode falar isso hoje, mas o torcedor já pensa diferente.
D'Alessandro internacional (Foto: Lucas Uebel)D'Alessandro tem tatuados os nomes dos filhos, Martina e Santino (Foto: Lucas Uebel)


Acha que a imprensa pega no teu pé?

Acho que a imprensa faz parte do futebol. Mas vi uma matéria com o salário do Maxi Biancucchi. Aí apedrejaram o carro dele. De repente, um pessoal mais humilde vê isso na Bahia... E ele merece ganhar isso. Por que não? Fez um trabalho muito bom no Vitória e foi comprado pelo Bahia. Não podemos aceitar isso. O futebol não tem lugar pra isso. Tem que acabar. E começando por quem manda. É lá em cima, na CBF, no governo. É assim. Mas há muitos interesses no futebol.

Muitas vezes os clubes também são covardes nessa relação. Especialmente com torcidas organizadas...

Sim. Isso faz parte desse lado ruim. O dirigente tem medo também que o carro dele seja apedrejado, tem medo da família. O atleta também.

Você já foi ameaçado?
Não. Nunca. Não posso reclamar da torcida do Inter. Insultado por outras torcidas, muitas vezes. Mas olha: muitas! Pela torcida do Corinthians, é desde 2003. (Risos) Mas é complicado, porque a gente se preocupa com a família. E é difícil uma mudança rápida. Há muitos interesses no futebol.
Aliás, dentro dessa rediscussão no futebol brasileiro, os salários de jogadores e treinadores também não precisam ser revistos? Alguns ganham fortunas.

Pode ser uma mudança também. Claro que sim. O futebol brasileiro chegou a um ponto de briga entre os clubes para contratar um cara da Europa. “Eu dou 200, 300, 500, 700”. Só que existe essa briga sem que o clube se comprometa a pagar. Não paga. Porque isso não é controlado. Se não tem uma empresa por trás, como alguns clubes têm, não paga. Tem clube que estaria quebrado se não tivesse um investidor. Mas o investidor não paga o salário. Quem paga é o clube.
O futebol brasileiro chegou a um ponto de briga entre os clubes para contratar um cara da Europa. “Eu dou 200, 300, 500, 700”. Só que existe essa briga sem que o clube se comprometa a pagar. Não paga
Sobre a crise financeira dos clubes
O Inter paga certo?

Tudo certo.

Nunca passou por isso no Inter?

Não.

E o que colegas de outros clubes falam?

É revoltante. Todos têm família. Se tu senta para conversar sobre um contrato, tem que cumprir. É uma promessa. É palavra. A palavra vai além do contrato. Tem cara que entra na Justiça e está há dez anos brigando para receber R$ 10 mil. Acredita nisso? No futebol brasileiro! Aí não dá. Não tem como aceitar. E isso acontece muito com time da Série B, da Série C, time que contrata jogador por três, quatro meses. O cara tem um salário de R$ 2,5 mil e não recebe. Ele tem família. É complicado.

Como está a situação na Argentina? Parecida com aqui?

Está feia. Mas na Argentina a questão do salário já mudou. O que se ganhava anteriormente, hoje não existe. Mudou drasticamente. Faz tempo. Porque o país não está bem economicamente. O futebol também deu uma queda. E também em nível técnico.

Imagino que isso influencie muito no desejo dos jogadores de virem para cá...

Sim, falei com o Romagnoli (meia do San Lorenzo que negociou com o Bahia), sou amigo dele. Ele teve essa opção de vir para o Bahia, mas não sei o que aconteceu. Muitos argentinos gostariam de vir para o Brasil. Eles sabem que o futebol brasileiro tem uma visibilidade muito maior. Não é só pelo dinheiro. Mas a visibilidade aqui é muito maior. É graças a Kaká, Ronaldinho, Robinho, que também pode voltar, Seedorf, Ronaldo, Forlán. Voltam mais jogadores da Europa para o Brasil do que para a Argentina.
Mosaico DAlessandro Seis Anos em imagens - novo 2 (Foto: Editoria de Arte)(Foto: Editoria de Arte)
Voltando a falar sobre o Inter: tem condições de ser campeão brasileiro?

Tem. Como sempre teve. É um time grande, que conquistou muitas coisas nos últimos anos, que tem um elenco muito bom, para brigar lá em cima. Mas que algumas vezes não teve esse equilíbrio, essa constância para se sustentar lá em cima. Em 2009, começamos bem, tivemos uma queda e depois, com o Mário Sérgio, quase fomos campeões. Com o Dunga, começamos bem, mas depois tivemos uma queda muito grande.

O que deu de errado no ano passado?

Começamos bem, mas a coisa desandou. Não sei por quê. Aliás, sei por quê: o grupo não teve esse equilíbrio, não manteve a pegada dos primeiros jogos. Individualmente, ficamos abaixo do que cada um poderia dar. Isso fez com que o coletivo fosse ruim. Isso nos deixou numa posição em que a luz começou a piscar.

Você chegou a temer rebaixamento?


Não. Temer, não.

Mas incomodava?

Incomodava. A gente ganhava um jogo, mas o outro ia lá e ganhava também. O importante é que a gente sempre dependeu da gente. Mas a gente tentava passar quem estava na frente, pular dois ou três. Quando a gente ganhava, o outro time ganhava também. Quando a gente achou que estava fora, naquele empate com o Corinthians no Pacaembu, os times que estavam abaixo ganharam. Ganharam todos. Não era medo, mas era uma sensação ruim. Um time grande como o Inter não pode passar por isso. E por culpa do grupo. Foi culpa nossa. Quando tu tá lá embaixo, o campeonato passa mais rápido. Tu sofre. Tu começa a querer jogar a cada dois dias. 
O fato de jogarmos com só um volante de muita marcação não é fácil. Só que o Willians conseguiu preencher esse espaço. Não é um cara que tenha uma qualidade muito grande. Mas consegue jogar sozinho no meio-campo 
Sobre o companheiro de Inter
Bate uma agonia, né?

Bah! Tu quer jogar cinco jogos por semana. A gente viveu isso ano passado. Eu já tinha vivido na Inglaterra. Mas ter esse carinho, esse relacionamento com o clube, torna tudo diferente. Nunca vou querer um rebaixamento na minha carreira. Nunca cogitei a chance de cair. Dependia de nós. Éramos um dos poucos clubes que nunca tinha caído. Não tinha como acontecer.
O Cruzeiro está acima dos demais no Brasileiro?

Não tem ninguém no nível do Cruzeiro no Brasileiro. O Cruzeiro tem uma coisa que poucos times têm, ou que tem mais que nosso time, que o Corinthians, o Fluminense: reposição. Elenco. Quando falo de elenco, não é só quantidade: é qualidade e experiência. O Cruzeiro tem essa mistura, tem caras novos, tipo o Marlone, o Lucas Silva, o Everton Ribeiro. Tem uma mistura. E tem caras experientes, que já ganharam campeonatos. Foi mérito do clube, do treinador. E o Inter está procurando esse caminho. Temos um elenco bom, com muitos caras experientes, mas também muitos caras novos. Inter, Corinthians, Fluminense, Grêmio, São Paulo, esses estão no mesmo nível. O Cruzeiro está um passo à frente.

Qual a importância do Aránguiz no time?

Acho que hoje o Aránguiz é o jogador mais importante no nosso esquema. Junto com o Willians. O fato de jogarmos com só um volante de muita marcação não é fácil. Só que o Willians conseguiu preencher esse espaço. Ele não é um cara que tenha uma qualidade muito grande. Mas consegue jogar sozinho no meio-campo. Daqui a pouco, joga com um cara do lado, mas fica um pouquinho incomodado, porque consegue preencher os espaços, tem leitura de jogo muito grande para o desarme. E o Aránguiz mudou nossa maneira de jogar. O Inter tem uma maneira de jogo, e o Aránguiz dá uma opção, de aparecer por fora, aparecer na área adversária, ir do outro lado. Apesar de ter 25 anos, tem boa experiência. Sabe ler o jogo. O Abel hoje tem uma série boa de opções para o time jogar de diferentes maneiras.
O que houve com o Willians naquele episódio em Florianópolis (uma briga durante um treino)?
Um desentendimento. Só isso.
 
Vendo a imagem, é algo um tanto forte, tem um soco...

Ah, soco... (Discordando) É feio, claro. Não é lindo. Não é a primeira vez que acontece na minha carreira. Não posso falar que foi a última. É meu caráter, minha maneira de ver as coisas. Nada justifica minha reação, mas aconteceu. Aconteceu. Faz parte. Acontece em qualquer trabalho, mas estamos expostos às câmeras, estamos perante vocês, então é assim.

Você toma uma chegada, não gosta, vocês discutem, aí você sai, e dá pra ver que o Willians bota a mão na boca e fala algo que você não gosta. Ali você se sentiu desrespeitado?

São coisas do grupo. Eu, como capitão, como um dos líderes, nunca vou falar. As coisas do grupo não podem vazar. Os detalhes ficam entre nós. Depois, falei com ele. Minha relação com ele é assim. Ele também tem personalidade forte. Existe um respeito muito grande. Mas detalhes ficam entre nós. Acabou. Depois da briga, a gente fica magoado por ter acontecido, mas no outro dia já estava de boa.

O Abel até falou que você tem um caráter excepcional, que não pode falar de você, e que ninguém corre como o Willians, mas que ele teria algumas coisinhas fora do campo para corrigir. Você o cobrou por essas atitudes?

Se o Abel falou... O treinador tem essa liberdade para falar. Eu sou parte do grupo. Como capitão, não posso falar das coisas que acontecem lá dentro. Nunca vou fazer isso. As cobranças dentro do grupo ficam no grupo. Houve um momento em que as coisas vazaram, saíram. Hoje, não. Hoje isso não acontece. Nunca vou deixar acontecer. Nunca. Se acontecer, a cobrança vai ser no grupo. É preciso ter respeito. Briga, discussão, isso fica dentro do vestiário. Ninguém tem que saber.

O Abel tem fama de ser bom condutor de elencos, de ser um treinador que deixa o ambiente bom. É assim mesmo?

O ambiente é muito bom. Nosso grupo é muito bom. Não tem um cara que fale mal do outro nas costas, que queira sacanear. Nisso, nosso grupo é muito cara limpa.
Falei muitas vezes com o Kleber, que estava aqui, e ele disse que no Corinthians de 2000, com o Rincón e todos aqueles caras, eles não se falavam. No futebol, tem de tudo 
Sobre a importância (ou não) de time unido
Mas não foi diferente recentemente? O Fernandão, quando treinador, parecia assustado com o elenco.

Não sei. Naquele momento, o grupo estava do mesmo jeito.

O Fernandão chegou a chorar, agradeceu a lealdade do Ygor. Houve problemas ali, não?


Sim, agradeceu. Bom, eu não gostaria de falar dele (Fernandão), porque o pessoal pode achar que só estou falando agora, e não gostaria de falar assim. O que foi falado naquele momento, foi falado. Ele agradeceu a alguns jogadores, e a outros, não. Foi uma leitura dele. Mas o nosso grupo estava unido, estava igual. Que o resultado não venha, não quer dizer que o grupo esteja mal. Em 2013, nosso grupo estava muito unido, e foi nosso pior ano. Falei muitas vezes com o Klebão, o Kleber, que estava aqui, e ele disse que no Corinthians de 2000, com o Rincón e todos aqueles caras, eles não se falavam. Tinha time em que os jogadores não se falavam. No futebol, tem de tudo.

Incomoda não ter um título brasileiro?

A gente quer. Eu quero uma Copa do Brasil ou um Brasileiro.

É tua motivação atual?

Sim. A gente precisa ter a consciência de que é possível brigar. Tem que ficar nessa zona do G-4, porque daqui a pouco a gente vai aparecer. Se a gente ficar aí, daqui a pouco a chance aparece. Não podemos perder o passo com o Cruzeiro, o Fluminense, o Corinthians. Temos confrontos diretos. Perdemos para o Cruzeiro, mas talvez a gente possa ir no Mineirão e ganhar. Por que não?

Você acha que tem mais quantos anos para ganhar esse título?

Depende da minha renovação, né? 
Entrevista Dalessandro Internacional (Foto: Lucas Uebel)D'Alessandro, com seu chimarrão, já adotou hábitos dos gaúchos, como falar "bah" no meio das frases (Foto: Lucas Uebel)
Você já começou a conversar com o clube?

Tem alguma coisa. Meu empresário começou a tratar do assunto com o Marcelo Medeiros (vice de futebol), com o presidente, mas não há nenhuma certeza hoje. Tenho mais um ano de contrato com o Inter.

Mas o ideal é fechar em seis meses, ou o clube corre o risco de você ir para outro lugar.


Eu já escolhi meu lugar. Meu lugar é aqui. A cada mês, a cada dia, isso é mais forte. Não tem como cogitar essa chance de sair. Não dá para falar em 100%. Mas é 80%, 90%.

E de carreira, mais quanto tempo?

Estou com 33. Gostaria de ter mais três ou quatro anos bem. Dois ou três anos eu jogo bem. É minha ideia. É como o Zé Roberto no Grêmio. Fisicamente, pode jogar em qualquer lugar. Se botar na Europa, vai jogar. Mas eu gostaria de jogar três, quatro anos mais. Depois, claro, a responsabilidade, o trabalho vai mudando. Vai mudar. Vai ser dentro de campo, mas também ajudando os caras mais novos, passando minhas ideias. Essa é minha visão.

Semana que vem tem Gre-Nal. O que o clássico significa para você?


O que sempre significou: um campeonato à parte. Vai ser o primeiro clássico no novo Beira-Rio. Vai ser importante. Não podemos esquecer que temos o Santos antes. Mas vencendo o Santos, o clássico vai ter mais valor ainda. Temos que aproveitar nosso momento, aproveitar o momento do Grêmio.

Esse momento turbulento do Grêmio pode ajudar?

Turbulento até certo ponto. A campanha não é ruim. É boa. Acho que o técnico não saiu por resultados. Talvez foi por rendimento. Não gosto de falar dos outros times, mas mudar técnico nunca é bom. Já aconteceu muitas vezes aqui no Inter.

Você gosta de Gre-Nal, né?

É um jogo que me marcou muito. Muitas vezes, tive sorte. No momento em que precisa, a gente aparece. No momento em que todo mundo não acredita que o Inter vai conseguir, o Inter consegue. Aconteceu nos últimos anos. Daqui a pouco, não acontece, porque são três resultados possíveis, e nos últimos Gre-Nais a gente se deu bem. Tomara que a gente não perca. Mas precisamos estar preparados para saber que pode acontecer. 
O relacionamento com as pessoas na rua é muito bom. Nos restaurantes, já tenho meu lugar. É uma coisa muito confortável. Nos sentimos bem, queridos. Não tem razão para mudar 
Sobre a vida em Porto Alegre
Você faz algo diferente antes de Gre-Nais?
É diferente. Tem que passar uma conversa diferente. Não sou só eu. O grupo tem quatro ou cinco que puxam. O Alex viveu muitos Gre-Nais, sabe como é. O Juan também viveu muito isso. O Dida dos dois lados. Felizmente, se deu melhor desse lado do que do outro (Risos). Mas tem que passar uma conversa diferente. É outra coisa. Não é um Inter x Corinthians: é um Gre-Nal.

Tem influência o fato de ser o primeiro Gre-Nal do novo Beira-Rio?

Vai ser bom não perder. Não quero perder o primeiro Gre-Nal do Beira-Rio. Assim com o Grêmio não queria perder o primeiro Gre-Nal na Arena. Na nossa casa, não podemos perder.

Assim como vocês faziam questão de não perder o último Gre-Nal do Olímpico...


Fizemos de tudo. Com dois jogadores a menos, sei lá como saiu aquele empate. Bah. Era impossível, o Grêmio pressionava, a bola passava pela área... Mas a gente não queria perder. O Gre-Nal é diferente. E é uma coisa boa para o futebol, para Porto Alegre, para o torcedor. O torcedor começa a viver o Gre-Nal duas semanas antes, com zoações na internet e tal. Isso é bom.

Você já está falando "bah", falando "tu"...

Sim, tomo dura na Argentina. Falo espanhol e coloco um “bah” no meio.

Está virando gaúcho, é?

Sim. Acho que me acostumei. Noto isso com meus filhos. Falam português perfeito. Minha filha chegou com dois anos, e o Santino tinha dois meses. É gaúcho. O relacionamento com as pessoas na rua é muito bom. Nos restaurantes, já tenho meu lugar. É uma coisa muito confortável. Nos sentimos bem, nos sentimos queridos. Não tem razão para mudar. Se está bem num lugar, vai sair por quê?

Teus filhos cresceram aqui, mas são argentinos. Não planeja fabricar um brasileirinho ou uma brasileirinha, não?

Tem que falar com a patroa... (Risos) Vamos ver, vamos ver. Já tenho um carinho especial pelo Brasil, por Porto Alegre. É uma ideia boa, mas... não sou eu que decido!

Dunga quer Neymar mais líder, fala de Ganso e diz: "Brasil terá dificuldades"

Treinador mostra preocupação com as próximas eliminatórias, revela que tem três jogadores por posição para a primeira convocação e que Seleção está acima de tudo

Por Rio de Janeiro
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A primeira convocação de Dunga só será divulgada no fim de agosto. Mas ele já tem três nomes por posição. Sabe quem quer como líder da equipe e o que o Brasil precisa fazer para recuperar-se do fracasso na Copa do Mundo de 2014. Falou de Neymar a Paulo Henrique Ganso; da maneira como a seleção brasileira deve atuar ao perfil dos jogadores. O treinador manteve-se fiel a seu estilo na entrevista ao "Fantástico", exibida no último domingo.
Nesta quarta-feira, o GloboEsporte.com divulga a íntegra do bate-papo com o novo treinador da seleção brasileira. De volta ao comando da equipe após a passagem de 2006 a 2010, Dunga elogiou o desempenho de Neymar com a camisa amarela. Mas fez questão de deixar claro que o atleta ainda tem pontos a evoluir para ajudar ainda mais o Brasil em campo.
 - O Brasil vai criar uma estrutura pra que ele possa ser o diferencial. Que ele possa exercer toda a sua qualidade técnica, mas ele precisa ser participativo, ele tem que ser um exemplo para os demais. Se o Neymar vai, os outros têm que fazer. Se o Neymar... os outros têm que seguir. Ele precisa ser esse referencial. Ele tem esse carisma em todos os sentidos. O Neymar precisa melhorar ainda em termos de liderança. É difícil falar assim para vocês, mas ele precisa cobrar dos outros também.
Sobre as eliminatórias para a Copa de 2018 (a disputa começa em setembro de 2015), Dunga admitiu que o Brasil não terá vida fácil. Para ele, outras seleções evoluíram com o passar dos anos e darão trabalho à Seleção. 
- Se nós colocarmos por resultados, a Argentina chegou em segundo (na Copa do Mundo), então ela está um passo à frente. Mas não é questão do melhor ou não. A questão é que o Brasil vai ter muito mais dificuldades nessas eliminatórias que as demais porque o Brasil tem agora concorrentes como a Colômbia, Equador. Temos o Paraguai, que ficou fora da Copa e tem ótimos jogadores... a própria Argentina, o Chile, então vamos ter concorrentes muito fortes e temos que estar preparado, trabalhar muito e saber que vai ser difícil, que vai ser complicado. Mas que nós temos condições de pela nossa capacidade, pelo nosso talento, dar a resposta.
dunga coletiva seleção brasileira (Foto: Reuters)Dunga em sua apresentação de retorno à Seleção na semana passada, na sede da CBF (Foto: Reuters)


Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Você já disse que não vai vender sonhos. Mas o que você pode garantir hoje para o torcedor brasileiro?- Eu acho que a minha forma de ser, como eu sempre trabalhei. Que a gente tem muito trabalho, muito comprometimento, que os jogadores vão pensar na seleção brasileira, vão trabalhar para a seleção brasileira. Que o que vai falar mais alto é a camisa da seleção brasileira, independentemente dos nomes ou não, a referência será sempre a Seleção.

Durante esse tempo que ficou afastado do futebol, você estudou? Se preparou? Acompanhou o futebol mundial? O que fez para ser treinador do Brasil?
- Viajei algumas vezes pra Europa, acompanhei o futebol europeu... Temos que ver que as seleções europeias, todos os jogadores jogam em seu país ou muito próximos ao seu país. Eles conseguem ter essa integração. Então é muito mais fácil eles jogarem um futebol europeu, estilo europeu, do que o jogador brasileiro. O que é o futebol brasileiro? É o drible, a criatividade... Quando o jogador vai com 16, 17 anos para a Europa, o treinador europeu já coloca ele dentro desse limite. E se nós pegarmos esses jogadores que foram pra Europa nenhum deles é titular absoluto na sua equipe. O Brasil começa a perder nesse aspecto.
O futebol brasileiro está atrasado?Dizer que o Brasil está atrasado se deve ao fato de que não ganhamos títulos ultimamente. Mas se a gente pensar bem, nossos jogadores estão todos na Europa. São jogadores de qualidade. Agora nós não temos que pensar somente nos jogadores, achar somente que o nosso futebol... A nossa forma de raciocínio é que deve também ser mudada para um futebol mais competitivo. Por exemplo, todo mundo falou maravilhas do futebol ofensivo na Copa do Mundo. Aí eu faço uma pergunta pra quem está nos ouvindo. Todo mundo marcava atrás da linha do meio de campo. Cinco, dez metros atrás da linha do meio de campo. Ué, onde que está o time ofensivo? Isso é uma tática que surpreendeu o adversário pra criar um campo de contragolpe. Nós não falávamos que tínhamos que jogar com três, quatro ou cinco atacantes? A maioria dos times não jogava com cinco atacantes. Jogava com no máximo um. Mas, sim, a diferença é que eles chegavam com três, quatro, cinco. Aí começa a mudar. Troca de velocidade, troca de bola, inverter a bola de um lado pro campo, de uma lateral pra outra, o que nós fazíamos. Eles não estão fazendo mais nada do que o Brasil fazia há dez anos. Será que não será o momento de repensarmos: "bom, nós temos que voltar a fazer o que fazíamos anteriormente. Temos que fazer melhor e bem."
- Diria que é diferente. Não jogar em função do Neymar, o Neymar vai jogar em função da Seleção. O Brasil vai criar uma estrutura pra que ele possa ser o diferencial 
Dunga
 Você acha que o Brasil não fez isso nessa Copa?
- Teve dificuldade. O Brasil fez bem na Copa das Confederações, já na Copa do Mundo teve essa dificuldade de jogar mais compacto, de ter essa troca de velocidade, coisa que os europeus conseguiram fazer bem, principalmente a Alemanha. E o mais interessante é que a gente parece que descobriu a Alemanha agora. Está todo mundo falando maravilhas, falando do treinamento. A Alemanha sempre teve isso. Agora, eles melhoraram. Eles fizeram com tempo mais curto, investiram mais, deram mais prioridade em mais aspectos. Por exemplo, se nós pedirmos no Brasil que o Müller regresse pra marcar, fechar o meio de campo, todo mundo vai dizer que o treinador é louco. A Alemanha fez isso. O Robben, que é um jogador de qualidade excepcional, veja a participação dele na parte coletiva. É isso que o Brasil tem que ter. Todos os jogadores têm que ter participação tanto na parte defensiva quanto na ofensiva. E nós temos ainda nossa forma de pensar. Não, o jogador talentoso não tem que participar. Não. Ele tem que participar. porque a equipe tem que dar sustentação ao jogador talentoso, assim como ele tem que colocar todo seu talento na parte coletiva. O futebol, por mais que ele seja coletivo, em determinados setores do campo ele é um duelo individual: um contra um. Por que nós temos que ganhar? Porque nós temos o talento. Então, o drible tem que ser o diferencial. Você tem que botar um jogador um contra a um, driblar, e nós vamos ficar com um jogador a mais naquela chegada ao ataque. Ou na velocidade ou na técnica.
Ou no improviso...
- No improviso, nós temos que fazer isso.
Pretende seguir a mesma orientação que você teve pra Copa de 2010 em relação à privacidade?
- A privacidade vai existir, sem dúvida nenhuma. Mas a gente vai ter, como sempre teve, com assessor de imprensa, que vai conversar com todo o pessoal da imprensa. Ver o que eles querem, o que eles desejam, como foi feito na África do Sul, e vai nos passar. A partir daí, nós vamos decidir, num colegiado dentro da CBF, como foi em 2010, e tomar as decisões. Mas, agora, repito, o combinado não é caro. Você não pode combinar comigo que você quer uma hora e amanhã você querer duas, quatro, cinco. Aí vai ficar difícil. A seleção também tem que ter um planejamento, assim como você (jornalista).
E a renovação do time?- O time já é bastante renovado, bastante novo. Nós sempre falamos em renovação, mas vamos pensar na Holanda. Os três da frente são acima de 30 anos (Sneijder, Van Persie e Robben). Nós vamos na Alemanha e temos três ou quatro com mais de 30. Então é esse conceito que a gente tem que passar para o torcedor. É uma estabilidade que se cria entre jogadores mais jovens e jogadores de uma certa experiência. Quando as coisas não andam bem, esses jogadores mais experientes vão ter que dar suporte para essa juventude. Não pode querer renovar tudo de uma hora pra outra e dar oportunidade. Nós vamos ter até dezembro justamente pra dar oportunidade pra alguns jogadores que não estiveram na seleção brasileira. São jogadores que estamos observando o rendimento porque nós temos que descobrir novos atacantes para o futebol brasileiro. Temos que buscar jogadores com 26 ou 27 anos que já estejam há três ou quatro anos na Europa. Vamos ver alguns outros nomes que atuam na Europa e alguns que saíram recentemente do Brasil.
O Neymar falou em Philippe Coutinho, Lucas, Oscar e Bernard pra 2018.
- Vai depender deles. Mais do que nós, vai depender deles. A chance já foi dada, você deu os nomes. Agora depende deles.
A seleção joga em função do Neymar?- Diria que é diferente. Não jogar em função do Neymar, o Neymar vai jogar em função da Seleção. O Brasil vai criar uma estrutura pra que ele possa ser o diferencial. Que ele possa exercer toda a sua qualidade técnica, mas ele precisa ser participativo, ele tem que ser um exemplo para os demais. Se o Neymar vai, os outros têm que fazer. Se o Neymar... os outros têm que seguir. Ele precisa ser esse referencial. Ele tem esse carisma em todos os sentidos.
Dunga na coletiva apresentado técnico Seleção (Foto: Fábio Motta / Agência Estado)Dunga mostra um lado mais brincalhão durante a sua apresentação à Seleção (Foto: Fábio Motta / Agência Estado)

O que você descartaria, não repetiria, por exemplo, que foi feito na Copa do Brasil?- O marketing é bom, mas ele só vem após o jogo. Eu tenho que jogar, eu tenho que... As pessoas precisam falar muito mais do que eu faço no campo do que eu faço extracampo. Aí começa a ter validade. O Gilmar já falou, por exemplo, a questão do chapéu. O chapéu é importante? Nós perdemos um guerreiro. Um grande guerreiro, que era o Neymar. Mas nós tínhamos que pensar no menino que está entrando no lugar dele. Quem é que vai ter a grande responsabilidade de substituir o Neymar, que é uma coisa complicada, difícil, porque é uma referência mundial? A nossa energia, o nosso foco, teria que ser no menino que está entrando.
Você acha que faltou isso?
- Cada um tem um ponto de vista. O meu ponto de vista é esse. Porque nós estamos indo para uma guerra, uma Copa. Então nós temos que dar o suporte pra aquele que está substituindo.
E quando o marketing atrapalha?- Quando você se preocupa mais com o fora do que com o dentro de campo. O dentro de campo é tudo. Você não pode colocar o marketing sem você ter resultado dentro de campo. Porque com o passar do tempo você vai pagar isso. Veja bem, vou falar, não é uma crítica, mas é normal. Aí a imprensa vai falar, mas o cara pintou o cabelo, ele usa dois brinquinhos... e com razão! Porque você criou uma expectativa, chamou uma responsabilidade desnecessária. Primeiro você ganha, primeiro você faz seu trabalho. Aí depois você cria a expectativa, depois você faz o marketing. Não o inverso.
Mas às vezes não atrapalha os jogadores se sentirem como guerreiros e não como jogadores de futebol profissionais?- Sim, mas o guerreiro é a questão do combate, da coletividade. Não deve ser uma coisa extraterrestre. É um jogador de futebol. Justamente por isso. Quem vai substituir um grande personagem que saiu precisa se sentir querido, tem que se sentir aproximado. Saber que ele vai ter uma missão, entre vírgulas, quase impossível. Então todos têm que estar próximos a ele. E nós o deixamos e fomos nos preocupar com quem não ia para o jogo.
Eu acho que tudo tem que ter limites e tudo tem que ter horário. Tem que ter horário para o torcedor, tem que ter horário para a imprensa. Mas também tem que ter horário para as coisas internas ficarem mais privadas 
Dunga
 Você falou de falta de privacidade. O que destacaria como falta de privacidade em 2014?- Eu acho que tudo tem que ter limites e tudo tem que ter horário. Tem que ter horário para o torcedor, tem que ter horário para a imprensa. Mas também tem que ter horário para as coisas internas ficarem mais privadas. Por exemplo, todo treinamento ser filmado. Isso cria uma expectativa, cria... O torcedor fica vendo as brincadeiras e o torcedor não consegue entender. Essa brincadeira foi após o treino. Mas se você passa todas essas imagens, quem está lá fora fala: "eles só brincam." A Alemanha ia caminhar na praia, não ia um batalhão de jornalista atrás. Eles iam lá. Então tinham todos os seus horários respeitados. Isso é o mais importante de tudo. Você respeitar os horários de cada um, respeitar a privacidade. E saber, lógico, que a imprensa tem que ter notícia, tem que filmar. Mas tem um limite.
O que tem a dizer da Holanda? Eles levam as mulheres nas viagens e elas ficam na concentração- É outra mentalidade. É outra mentalidade.
Não funciona no Brasil?- É outra cultura. Nós somos latinos. Por exemplo, a Alemanha levou as mulheres, mas elas não foram na final. Ficaram no hotel. A Alemanha é diferente, mas eles têm horários, eles cumprem horários, eles cumprem as determinações e é outra filosofia. Eles já são acostumados com isso desde os 14 anos. É uma convivência diferente. Nós somos acostumados já com umas regras entre aspas mais rígidas, então pra conseguir fazer isso tem começar lá desde os 14 anos.
O que você tiraria como exemplo dessa campanha anterior?- Ter a coragem de tomar as decisões que foram tomadas. Temos que tomar as decisões, assumir a responsabilidade. Tem que transmitir... É sua e você deve assumir.
Você se refere por exemplo à escolha do Bernard no jogo?- Sim, a escolha do Bernard. O treinador só tem uma chance. Uma dá certo. E todos nós temos a chance, eu me coloco como torcedor, de falar após o acontecido. Aí deu certo, deu errado. Eu sabia que ia dar certo, eu sabia que ia dar errado. A gente só fala da obra pronta.
Vendo de fora, você sentiu um desequilíbrio emocional da Seleção?- Não posso dizer da Seleção. Você pode falar de um ou outro. Mas uma seleção com jogadores experientes como o Brasil tem, a qualidade, eles jogam em clubes importantes, jogam decisões da Liga dos Campeões, tudo, não tem porque ter esse desequilíbrio emocional.
dunga jose maria marin coletiva seleção brasileira (Foto: Reuters)Dunga conversa com o presidente da CBF, José Maria Marin, durante coletiva de apresentação (Foto: Reuters)

Deixa eu voltar em 2010. Naquela partida contra a Holanda foi uma situação de descontrole emocional? Os jogadores ficaram em campo você saiu para o vestiário. O que você sentiu naquele momento?- Não. Foi o erro e não tem descontrole emocional. Foi o erro que aconteceu durante o jogo. E ir para o vestiário foi como eu sempre fiz. Quando ganhava também esperava os jogadores dentro do vestiário. É aquilo que eu te falo, você não precisa mostrar a tua emoção. Tenho que mostrar a minha reação, a minha emoção pra quem está sob o meu comando. Eles precisam ser protegidos e quem está no comando é quem assume a responsabilidade. Teve a jogada da expulsão, mas se nós pegarmos o passado nós vamos ver outras situações que ocorrem em Copas. O Zidane é um cara nervoso? Deu uma cabeçada sem bola. Maradona é um cara nervoso? Deu uma cabeçada sem bola. O Leonardo é um cara nervoso? Não. É uma circunstância de jogo. Não tem como prever isso.
A CBF descartou um técnico estrangeiro, chegou-se a levantar essa hipótese antes da escolha do seu nome. Mas você vai buscar informações lá fora junto com outros técnicos?
- Sim, sem dúvida. Com outros ex-jogadores que têm uma visão do futebol, que têm uma visão de posicionamento, como jogam. Eu quero a informação, que ele me diga e eu vou lá olhar. Por exemplo, o Boban (croata que atuou pelo Milan na década de 90) falou que os laterais precisam ser altos porque todos os gols de cabeça saem nas costas dos laterais. Mas essa mentalidade é  europeia. A Croácia joga com quatro zagueiros. Não jogam com laterais. Se vai dar certo no Brasil ou não, não sei.
Talvez experimente isso na Seleção?- Difícil eu experimentar. O Brasil tem laterais bons. Nós temos que usar os nossos.
Essa diferença de mentalidade seria um dos motivos pelos quais você acha que o Brasil deve ser comandado por um técnico brasileiro?- Sem dúvida nenhuma. Um técnico estrangeiro vai ter muitos problemas no Brasil. No Brasil, nós deveríamos ter a paciência que tiveram com o treinador alemão. Ele perdeu a Copa do Mundo, a Eurocopa e veio para o Brasil. Será que nós íamos ter essa paciência? Um trabalho a longo prazo que os europeus fizeram.

Precisamos de clubes mais fortes? Como fazer pra conseguir isso, na sua opinião?
- Os nosso clubes, em termos de estrutura, melhoraram bastante. Temos centro de treinamento, estrutura, condições de trabalho. Estávamos muito defasados. De três, quatro anos para cá, isso melhorou muito. Temos que continuar melhorando, dando esse suporte. E principalmente tem que ter um planejamento pelo menos de médio a longo prazo. Quando você faz um planejamento, segue à risca esse planejamento. Nós trocamos principalmente no que toca o material humano. Começa o campeonato, dali três, quatro meses, troca todo time e o treinador fica a ver navios. Você não consegue montar uma estrutura.
Pra dizer a verdade, o Brasil nunca teve o pior momento. Tivemos momentos um pouco mais negativos, mas o futebol brasileiro ele é tão rico que a cada ano produz bons jogadores 
Dunga
 Por que não se consegue esperar mais?
- Porque tem a questão financeira e o clube tem que vender. Tem a questão que alguns jogadores não são mais do clube, são de empresários. Então quando surge a oportunidade é vendido. Então tem que se repensar nisso a médio prazo pra ter uma condição de trabalho melhor.

Você quer mudar as estruturas do futebol brasileiro?
- Não tenho essa capacidade, é quase impossível. Mudar a estrutura do futebol brasileiro vai depender de muita gente, do treinador, jogadores, jornalistas, deputados, mudar as leis. Isso é muito complicado. Hoje, você imagina assim: um clube investe em três, quatro mil crianças, dos oito anos aos 14 anos, alimentação, estudo, preparação... Independentemente se for o melhor, mas ele investe. Com 14, 15 anos você precisar fazer um contrato e aproveitar o rapaz por três anos. Aí vem alguém e leva esse jogador embora.
Isso você acha que dá pra mudar?- Dá para mudar, tem que ser mudado. Por que o que é a diferença? A nossa essência do futebol, a forma de trabalhar, um jogador que vai pra Europa com 14, 15 anos ele não está ainda preparado fisicamente, tecnicamente, mentalmente pra suportar uma pressão de mudar de país.
Qual foi o pior momento da seleção brasileira?
- Pra dizer a verdade, o Brasil nunca teve o pior momento. Tivemos momentos um pouco mais negativos, mas o futebol brasileiro ele é tão rico que a cada ano produz bons jogadores. Logicamente, quem gosta de sonhar diz: "não tem mais um Pelé!" Pelé é um mito. Um mito não vai sair toda a hora. Temos que trabalhar em termos de quantidade, elevar o nível dos jogadores médios, e quando surgir um jogador dessa capacidade vamos fazer a diferença. Mas não vai sair todo dia. O próprio Neymar, veja bem, já colocaram ele com 17 anos para jogar no Santos. Imagina se ele tivesse começado com 20 anos?
Como competir com essas seleções, com esse futebol europeu, que está ganhando força no mundo todo?- A nossa essência é o drible, a qualidade, é o talento. E aí nós temos também que investir no talento. Quando eles chegam numa certa idade, nós temos que mostrar que ele precisa colocar o talento em prol do coletivo. Antigamente, o alemão não sabia dar um drible. Agora você pega o Schweinsteiger, joga a bola por trás, joga de cima, cabeceia. Ficamos parados no tempo. Eles também aprenderam. Eles também sabem fazer isso. Agora nós temos que melhorar. Se sabíamos fazer isso antes, agora nós podemos fazer melhor.
Dunga comanda treino da seleção (Foto: EFE)Dunga orienta os seus comandados durante treino da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2010 (Foto: EFE)

Quando vê o Neymar jogando o que ele jogou nos últimos anos, você não se arrepende de não tê-lo levado pra Copa de 2010? Ele e o Ganso?- Não é a questão de arrependimento. Você tem que pegar o momento de 2010 e não pegar o momento de agora. Quando eu estava em 2010, eles (imprensa) botavam um jogador jogando dez anos atrás com outra camisa e não com a camisa do time em que atuava naquela momento. Foi mais ou menos o mesmo com o Neymar. Em 2009, em dezembro, ele não era titular do Santos. Era reserva. Tivemos janeiro de férias, voltou a jogar em fevereiro e nós só tínhamos um amistoso em março.
Mas ele (Neymar) comeu a bola nesse primeiro semestre.- E qual é a garantia que ia ter o mesmo rendimento na Seleção? Você lembra de 66? Naquela Copa, seis ou sete jogadores tinham quatro ou cinco jogos com a camisa da Seleção. E o que aconteceu em 66 ninguém fala. É minha formação de não ficar falando, mas eu estudo, nós lemos. Na história da seleção brasileira, todos os jogadores que foram com poucas experiências na seleção brasileira não foram bem.
Se pudesse voltar no tempo, em 2010, você o convocaria? - Hoje eu mudaria toda a situação. Mudaria tudo. Você convocaria o Ganso hoje? Tem que jogar no São Paulo. Se jogar no São Paulo é tranquilo. Ele se machucou muito. Temos que ter paciência com o jogador jovem porque ele vai oscilar. Ele não vai ser regular e ter um crescimento. São poucos os diferenciados. Às vezes é assim com o jogador que não está jogando bem. Todo mundo fala que é bom, que ele devia estar na Seleção e ele acaba não crescendo emocionalmente. Ele pensa: "está todo mundo falando". Todo mundo está falando, mas você está jogando? Está tendo rendimento? Está sendo eficiente? Está sendo competitivo? Não. Ele se esconde atrás daquilo que falam: "todo mundo fala bem de mim, todo mundo me elogia, então é o treinador que está errado." Isso acontece nos clubes e acontece na Seleção. A culpa nunca é do jogador é sempre do treinador.
Você disse que espera ter 1% da paciência do prêmio Nobel da paz Nelson Mandela. Paciência especificamente com o quê?- Com tudo.
Você faz terapia?- Não.

Nunca fez?
- A minha terapia é conversar com os velhinhos, com cabeça branca, trocar experiência de vida.

É uma boa terapia, aliás.
- Boa terapia porque eles não vão me falar de futebol. Mas vão falar da vida, do que passaram, do sacrifício. Então nada melhor que os cabecinhas brancas para conversar com eles.
Criou-se uma imagem de que eu era um carrancudo, não falava com ninguém
Dunga
Como a sua família encarou esses últimos anos?
- Acho que minha família é muito unida, muito tranquila. Meus filhos sabem das dificuldades que têm, meu filho trabalha no futebol também. Sabe das cobranças, você tem que engolir muita coisa atravessada, mas não adianta. A principal coisa que eu coloco para os meus filhos é que não adianta ser vítima, não adianta. O "não" você já tem. A crítica você já tem. Então tem que tentar através do resultado mostrar o contrário.
Sua mulher, quando soube da notícia, falou alguma cosia (retorno à Seleção)?- Não vai se meter nessa de novo... É verdade?
Ela perguntou?Eu falei, é verdade...
E ela?- Minha mulher sempre me apoia. Não tem problema.
Foi difícil estrear como técnico em 2010? Faltou calma e segurança? - Quanto à segurança, adrenalina, era a mesma coisa de hoje, a vontade de fazer, de trabalhar. Seguramente faltou calma no momento de tratar com a imprensa e, principalmente, de eu não assumir responsabilidades que não eram minhas.
Assumir responsabilidades que não eram suas?
- Que não eram minhas. Responder de assuntos que não tinham nada a ver com aspecto técnico, aspecto do campo. Criou-se uma imagem de que eu era um carrancudo, não falava com ninguém. Mas como era minha primeira experiência como treinador, eu estava muito mais preocupado com as coisas de campo, de aprender com as pessoas da comissão técnica que estavam ao meu lado, de me ater aos pormenores, do que propriamente o que se passava.