Técnico da seleção brasileira de MMA quer ser rígido como Bernardinho
Roberto Corrêa, o 'Gordo', promete respeitar
características de cada lutador e vê países do Leste Europeu como
principais adversários na Copa do Mundo
Por Adriano Albuquerque
Rio de Janeiro
7 comentários
Roberto Gordo espera contar com bons atletas em
todas as categorias (Foto: Adriano Albuquerque)
Ser o treinador principal de uma seleção brasileira é uma grande
responsabilidade em qualquer esporte. No MMA, modalidade criada no país,
é maior ainda. Roberto Corrêa, o "Gordo", será o primeiro homem a
encarar essa missão. Ele será o comandante da equipe que vai disputar a
primeira Copa do Mundo de MMA amador, em julho de 2014, em Las Vegas -
as inscrições para as seletivas regionais que formarão o time brasileiro
terminam em 31 de outubro.
Bicampeão mundial de jiu-jítsu, Gordo já treinou nomes como Maurício
Shogun, Rafael dos Anjos, Renato Babalu, Antônio Braga Neto e Kyra
Gracie. Para a seleção, ele promete ser rígido principalmente com
horários e compromissos, e espera honrar a tradição de grandes técnicos
brasileiros tanto no MMA quanto no esporte em geral. Quando perguntado
sobre qual treinador de seleção tem como espelho, Gordo não pestanejou
em citar o comandante campeão olímpico do vôlei masculino, Bernardinho.
- Eu gostaria de ser igual ao Bernardinho (risos), mas eu acabo não
sendo tão rígido, porque o vôlei é um esporte coletivo, e o MMA é um
esporte individual. Não dá para ser igual. Cada atleta tem uma
característica. Quando você tem um grupo, você é rígido com o grupo
todo. No MMA, cada atleta tem sua característica, então você tem que se
adaptar a cada um - disse Gordo ao
Combate.com.
Mais Combate.com: confira as últimas notícias do mundo do MMA
Roberto Gordo com Rafael dos Anjos (centro), um de seus atletas no UFC (Foto: Evelyn Rodrigues)
Confira, na íntegra, a entrevista com Gordo:
Como você se sente em relação a este desafio de treinar a
seleção brasileira de MMA amador? Você já treinou atletas amadores, ou
apenas profissionais?
Primeiro, me senti muito feliz de ter sido chamado e lembrado num país
onde temos os melhores treinadores de MMA, como o Dedé Pederneiras e o
Rafael Cordeiro, que são talvez os mais conhecidos. Eu já tive equipe de
MMA onde tinham amadores e profissionais. Tinha 20 profissionais e mais
uns 20 amadores que treinavam junto com eles, então já estou acostumado
a treinar amadores.
Com a seleção, como você diria que vai ser seu perfil? Exigente, sério, aconselhador, como você descreveria seu estilo?
Como nosso primeiro compromisso vai ser uma Copa do Mundo, vou ser um
cara cobrador e sério sim, mas, ao mesmo tempo, não um carrasco. Eu
entendo que cada lutador vai chegar com uma característica diferente e
vou respeitar as características deles, mas vou ser bem sério a nível de
horário, e de compromisso, principalmente. Vou ser bem rígido com isso.
Para nossos leitores relacionarem melhor: você vai ser mais
como um Felipão, ou Bernardinho, um Luxemburgo... A quem você
compararia?
Eu gostaria de ser igual ao Bernardinho (risos), mas eu acabo não sendo
tão rígido, porque o vôlei é um esporte coletivo, e o MMA é um esporte
individual. Não dá para ser igual. Cada atleta tem uma característica.
Quando você tem um grupo, você é rígido com o grupo todo. No MMA, cada
atleta tem sua característica, então você tem que se adaptar a cada um.
As regras do MMA amador são diferentes das do MMA profissional.
Você vai fazer alguma preparação específica para isso, vai observar
torneios nos próximos meses?
As regras são diferentes e, inclusive, aqui no Brasil, as regras
variavam muito. Agora a gente vai bater em cima das regras que estão se
unificando. A gente precisa ter conhecimento total dessa regra que vai
ser, para com certeza fazer uma tática para a luta em cima da regra.
Normalmente, a gente está acostumado a uma luta a cada evento. Neste
evento, provavelmente a gente vai ter três ou quatro lutas, dependendo
da categoria, então com certeza você tem que ter uma estratégia.
Neste tipo de torneio, uma vitória por pontos pode ser mais importante que uma vitória por nocaute ou finalização?
Acho que o importante é a vitória e não ter nenhuma lesão para a
próxima luta. Quando você pensa no profissional, a gente pensa no show,
você precisa fazer um bom show, às vezes independente da vitória ou da
derrota. No amador, não, o importante é a vitória.
São oito categorias no masculino, do peso-pesado até o
peso-mosca, e quatro no feminino. De onde você espera que venham os
nomes mais fortes, quando falamos de Brasil?
Hoje, se você reparar no UFC, nós temos lutadores bons em todas as
categorias. Eu ia até falar que esperava nos pesos mais leves, mas não,
porque já tivemos um campeão mundial no peso-pesado, o Cigano, já
tivemos campeões no 93kg, Lyoto e Shogun, já teve campeão embaixo, que é
o Anderson... Temos campeões em quase todas. O Brasil, por ser um país
bem miscigenado, a gente tem caracerísticas para todos os pesos. A
partir do que eu vir nas seletivas, poderei dizer quais temos mais
chances, mas a princípio, creio que em todas as categorias temos chances
de ter bons atletas.
E regionalmente, quem está na frente em nível amador?
Como eu falei, é uma novidade, mas acho que a região Norte,
principalmente Amazonas, sempre traz bons atletas, e tirando pelos
atletas que estão no UFC, que seria o padrão mais alto, a gente vê muita
gente do Nordeste, do Sul... Acho bem misturado, não tem nenhuma região
se sobressaindo. Há alguns anos, eu te diria que o Sudeste sobressaía.
Hoje em dia, equiparou.
Qual país você vê como maior desafio para nós atualmente no MMA amador?
Não tive oportunidade de estudar ainda, mas acredito, leigamente, que a
Rússia deve vir muito forte, que eles têm muito esporte amador, têm o
sambô e o wrestling muito forte. Os países do Leste Europeu em geral e
os Estados Unidos devem fazer uma frente boa.