Contido até no título, Cavalieri diz que Flu igualou Palmeiras no seu coração
Após faturar o tetra, goleiro alça o Tricolor ao mesmo
nível de importância do Verdão e revela não ter expectativa de ser
eleito craque do Brasileirão
Por Edgard Maciel de Sá
Rio de Janeiro
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Ele não costuma vibrar, dificilmente sorri em campo e é frio ao ponto de
defender um pênalti aos 42 minutos de um Fla-Flu importante sem sequer esboçar uma reação. Mas mesmo com seu jeito sempre sereno e comedido,
Diego Cavalieri
conseguiu emocionar milhões de tricolores no último domingo. Destaque
do Fluminense e apontado por muitos - sejam jogadores ou jornalistas -
como o craque do Campeonato Brasileiro
(veja alguns momentos do goleiro na competição no vídeo ao lado),
o camisa 12 conquistou a torcida em pouco tempo e deu à meta das
Laranjeiras uma segurança que há muito não se via. Se o chavão do
futebol diz que todo time começa por um grande goleiro, o Fluminense foi
além e arrumou logo um gigante para defender suas redes.
No melhor estilo Diego Cavalieri, a comemoração pós-jogo foi contida.
No avião fretado que levou a delegação de volta ao Rio, o goleiro passou
boa parte do tempo no meio da aeronave enquanto a maioria de seus
companheiros festejava no fundo, com direito a cantoria, muita festa e
champanhe. Parecia pensar em tudo o que tinha acontecido em sua carreira
nos últimos dois anos. Do bom começo no Palmeiras, passando pela eterna
reserva do ídolo Marcos, pelo banco no Liverpool, pela falta de
oportunidades no Cesena e até mesmo pelas falhas que o fizeram perder a
posição em 2011, no início de sua trajetória no Tricolor.
Mas Diego não baixou a cabeça. Seguiu, como ele mesmo faz questão de
frisar, trabalhando e se empenhando muito. Foi recompensado após a
chegada do técnico Abel Braga. E entrou para não mais sair. A coroação
veio com o título após um Campeonato Brasileiro irretocável.
- Hoje, sem dúvidas, já posso dizer que o Fluminense está no mesmo
nível do Palmeiras em minha carreira. É um clube muito importante na
minha vida. Abriu as portas para mim quando eu queria voltar em um
momento complicado. E agora também com essas conquistas importantes para
a minha trajetória como profissional. A vida é assim. Nos momentos
ruins, é preciso erguer a cabeça. Nos bons, a cobrança aumenta, a
responsabilidade é maior e é necessário seguir da mesma maneira para que
o momento dure. Vou continuar trabalhando e me empenhando para manter o
alto nível das minhas atuações. Tenho mais dois anos de contrato e
preciso me manter bem para renovar. Quero continuar nas Laranjeiras por
muito tempo - resumiu o goleiro tricolor.
Diego Cavalieri comemora a conquista do tetracampeonato tricolor (Foto: Nelson Perez / FluminenseFC)
Alegria e tristeza após o apito final do título
Quis o destino, porém, que a coroação de Diego Cavalieri como santo
tricolor do tetracampeonato propiciasse ao goleiro dois sentimentos bem
distintos. Por um lado, a alegria pelo título inédito na carreira. De
outro, a tristeza com o iminente rebaixamento do Palmeiras, um clube que
aprendeu a amar e respeitar durante 13 anos.
- Fiquei feliz por concretizar um objetivo. Quando o jogo acabou, eu
nem sabia o que estava acontecendo. Vi a torcida comemorando e achei que
tinha sido gol do Vasco. Por isso fiquei sem reação. Mantive a calma
também porque todos sabem que foi um jogo complicado para mim. Tenho uma
história no Palmeiras e muito respeito pelo clube. Foram 13 anos por
lá. Eles me formaram como atleta e cidadão. Fiquei lá entre a infância e
a adolescência até me tornar homem. O Palmeiras me projetou para o
futebol e para a vida. Tenho amigos ainda lá e passei por isso em 2002.
Senti a euforia do título e a tristeza por ver um clube que amo nessa
situação. Foi confuso. Aos poucos fui administrando e pude comemorar.
Estou muito feliz e orgulhoso de fazer parte desse grupo - explicou.
Cavalieri no Brasileirão-12
Jogos: 33
Gols sofridos: 27, (média de 0,81)
Defesas difíceis: 58
Defesa de pênalti: 1
Cartões amarelos: 2
Cartões vermelhos: 0
Faltas cometidas: 0
Faltas recebidas: 6
E se o gol do título ficará na história com a marca de Fred, a defesa
do título veio em um momento complicado da partida. Depois de abrir 2 a 0
e ver o Palmeiras empatar, o Fluminense quase sofreu a virada. Mais uma
vez, como em boa parte do Brasileirão, foi salvo por um milagroso
camisa 12. Ao ter o instinto de perceber onde seria a finalização de
Maurício Ramos, Diego Cavalieri deu mais uma contribuição para que a
quarta estrela fosse de vez bordada na camisa tricolor.
- O Maurício Ramos estava na pequena área e eu tive o instinto de sair
para o lado antes e fazer a defesa importante. Se eles abrem 3 a 2
naquele momento, seria complicado para nós. Eu sabia que esse jogo seria
diferente. Sabia da repercussão que teria se eu falhasse. Por isso
fiquei feliz por ajudar e corresponder novamente. Nosso time administrou
bem a partida. Esse, aliás, foi o ponto forte do Fluminense no
Brasileirão. Soubemos administrar a pressão e matar o jogo quando
necessário. Estão todos de parabéns pela conquista - disse.
Craque do Brasileirão? 'Não tenho essa expectativa'
Idolatrado pelos tricolores e quase unanimidade quando o assunto é uma
futura chance na Seleção, Cavalieri mantém a serenidade mesmo após o
conquista do título. E assume não ter a expectativa de ser eleito o
craque do Brasileirão.
- Não tenho essa expectativa. O Brasil tem excelentes jogadores. Só no
nosso elenco são vários, como Fred, Nem, Jean... O país é um celeiro de
craques. Fico feliz pelo reconhecimento, pelas pessoas comentarem... Se
vier esse prêmio eu vou ficar muito feliz, mas não é algo que me
preocupe ou que eu tenha como objetivo - frisou.