Guerra política se acirra, e presidente do Conselho Fiscal pede licença no Fla
Mario
Esteves ficará fora por 60 dias, prazo que comissão tem para apurar
omissão de informações. Oposição vê manobra para ganhar tempo e sofre
contra-ataques
Por Vicente SedaRio de Janeiro
Delair Dumbrosck, presidente do Deliberativo (Foto: Vicente Seda / Globoesporte.com)
Dentro de campo, o
Flamengo
se recuperou com Vanderlei Luxemburgo. Nos bastidores, não. A guerra
interna continua intensa, com manobras de situação e oposição,
especialmente nos conselhos Fiscal e Deliberativo. No primeiro, os
membros eleitos pela oposição conseguiram a
abertura de uma comissão de inquérito contra o presidente Mario Esteves. No Deliberativo, o
grupo de apoio
político da diretoria entrou em rota direta de atrito com o presidente
Delair Dumbrosck depois de um comunicado aos associados sobre as
reformas do estatuto que, segundo os opositores, causou mal-estar.
Dumbrosck, por sua vez, fala que o grupo Sócios pelo Flamengo (SóFla) –
principal base de apoio político da diretoria – está trabalhando contra o clube e rebate o comunicado.
A
comissão de inquérito
no Deliberativo – para apurar denúncias de que Esteves restringia
informação aos membros do Conselho Fiscal eleitos pela oposição – deve
ter sua primeira reunião nos próximos dias, segundo Dumbrosck. Esteves,
contudo, pediu uma licença de 60 dias, justamente o prazo que a comissão
teria para apurar as denúncias. Para Gonçalo Veronese,
membro do Conselho
Fiscal e um dos autores do pedido de abertura do inquérito, trata-se de
uma manobra para ganhar tempo, já que, nesse período, ele poderá deixar
de responder à comissão, mas esta também poderá pedir a prorrogação do
prazo até que ele volte.
– Com certeza vai atrasar – disse o conselheiro, afirmando que os motivos alegados foram questões particulares.
Eduardo Bandeira de Mello e Mario Esteves, presidentes do Flamengo e do Conselho Fiscal do clube (Foto: Cahê Mota)
Dumbrosck explicou o motivo de autorizar a abertura da comissão, que deverá iniciar seu trabalho nos próximos dias:
– Quando
a oposição consegue, na eleição do Conselho Fiscal, um determinado
percentual de votos, ela tem direito a ter dois membros e dois
suplentes. A partir daí, acabou. É um conselho só, todos os membros têm
os mesmos direitos e deveres. Mas estava havendo reclamação de que os
membros que eram da oposição não estavam tendo acesso a nada, e por isso
abri a comissão para apurar.
Questionado se a licença de Esteves tem relação direta com a abertura da comissão de inquérito, ele preferiu não opinar:
– Aí tem de perguntar a ele – aconselhou.
A reportagem não conseguiu
contato com
Mario Esteves, tampouco obteve retorno a partir de recado deixado em
seu telefone. Foram feitas três ligações na tarde desta sexta-feira, e
em todas o número estava fora de área.
Contra-ataques da situação
Gonçalo Veronese, membro eleito do Conselho Fiscal a integrante da oposição no Fla (Foto: Cahê Mota)
Em
outra frente, Veronese também sofre contra-ataque. Dumbrosck
recentemente esteve de licença da presidência do Deliberativo, que foi
conduzido por Rodrigo Dunshee de Abranches. Nesse período, também foi
reativada uma comissão de inquérito contra o conselheiro por suposto
vazamento de documento interno do clube, o que Veronese nega. A
investigação foi aberta em maio por 25 membros do SóFla, de
acordo com Veronese, que afirma estar em vias de processar todos os autores em ação que promete impetrar na próxima semana.
– Isso já estava arquivado, eles (membros do SóFla) aproveitaram a presença do Rodrigo,
que apoia
a Chapa Azul (cor que a atual diretoria usou para se eleger), e
conseguiram a abertura da comissão. Não vazei documento, alguém do meu
grupo pode ter vazado, mas não sei quem foi e nem tenho interesse em
saber.
O principal alvo da atual gestão, no entanto, continua
sendo Leonardo Ribeiro, o Capitão Léo. Suspenso recentemente em processo
no Conselho de Administração, ele será novamente julgado, em outro
processo interno, provavelmente na próxima semana. Caso seja novamente
condenado, poderá ficar sujeito à exclusão do quadro social. Por outro
lado, o ex-presidente do Conselho Fiscal também contra-ataca. Em outra
comissão de inquérito aberta contra ele, Ribeiro saiu vitorioso com o
arquivamento ordenado pelo presidente do Conselho de Administração,
Maurício Gomes de Mattos, alegando "falta de materialidade". A acusação
se referia ao seu envolvimento na
aquisição de um
placar eletrônico que trouxe problemas posteriormente ao clube,
como relatado em reportagem do GloboEsporte.com em setembro de 2013. De
acordo com Veronese, Ribeiro deverá processar os autores da denúncia no
clube, entre eles o presidente Eduardo Bandeira de Mello.
Polêmica sobre reforma de estatutoNesta sexta-feira, o
quadro político
ficou ainda mais acirrado com um comunicado do SóFla a respeito da
reforma do estatuto do Flamengo. No texto, o grupo faz críticas diretas a
Dumbrosck e afirma que não há consenso para a votação do que chamam de
"duas mudanças pontuais", por isso não pode ser chamado de reforma de
estatuto. Eles tentam, de certa forma, dar o troco ao presidente do
Deliberativo, que em
entrevista ao GloboEsporte.com no dia 11 de agosto anunciou ter rachado com a atual gestão, chegando a falar em combatê-la nas urnas em 2015.
Dumbrosck
alega que os integrantes do SóFla são imaturos politicamente e mudam de
posição a todo momento. Segundo o presidente do Deliberativo, o
consenso entre os demais grupos que enviaram propostas de estatuto vai
muito além dos dois itens citados no comunicado. A próxima reunião do
Grupo de Especial de Reforma Estatutária foi convocada para a próxima
segunda-feira.
– O trabalho está sendo conduzido com seriedade, os demais grupos, que conhecem bem o Flamengo, estão tratando
sem problemas,
mas esse pessoal do SóFla muda (de opinião) a cada reunião. Não sou eu
nem eles que vamos decidir o estatuto. Isso quem decide é o plenário.
Com essa postura eles estão trabalhando contra o Flamengo, não para o
Flamengo – disse Dumbrosck.
Confira trecho do documento enviado aos conselheiros:
"(...) Em junho, houve uma reunião com
representantes dos quatro grupos, com a presença do Grande-Benemérito
Marcio Braga. Nessa reunião, foi definido que os grupos buscariam esses
pontos de consenso para levar a plenário, a exemplo do que foi feito na
bem-sucedida votação para adequar o Estatuto atual à Lei Pelé, em abril.
Como sugeriram os Grandes-Beneméritos, buscaríamos mudanças pontuais,
ao longo de um processo cuidadoso e responsável.
"Formou-se,
então, o Grupo Especial de Reforma Estatutária. Ao longo dos últimos
meses, trabalhamos intensamente com os representantes dos demais grupos
para buscar os temas de consenso. Até este momento, dois trechos do
Conte Comigo, Flamengo foram considerados consensuais: a criação de uma
Comissão Permanente de Processo Disciplinar e uma Lei de
Responsabilidade Orçamentária para o clube. Poderíamos, pois, encaminhar
esses temas para votação como na adequação do estatuto à Lei Pelé:
esses dois tópicos, uma vez aprovados, seriam incorporados como emendas
ao Estatuto atual.
"Infelizmente, há um entendimento por parte do
grupo especial que os dois pontos de consenso devam ser chamados de
Novo Estatuto. Aprovar duas modificações pontuais como se fossem um
estatuto inteiramente novo é distorcer o trabalho que foi realizado.
(...)
"Reforçamos que a votação de um novo Estatuto para o
Flamengo, como anunciado à imprensa pelo presidente do Conselho
Deliberativo, NÃO é consensual. Os representantes do projeto Conte
Comigo, Flamengo não concordam em apresentar duas mudanças pontuais como
se fossem um projeto inteiro. Não podemos fazer um novo Estatuto a cada
reforma pontual que for proposta, seguindo o calendário eleitoral, ou o
Flamengo teria um Carta Maior a cada dois anos - gerando toda sorte de
instabilidade institucional para o clube".