Após quase ficar fora, brasileira volta campeã do Mundial de MMA Amador
Amanda Ribas relata drama para pegar visto de entrada nos
EUA, lembra trajetória nas artes marciais e, inspirada em Ronda Rousey,
sonha com UFC
Por Ivan Raupp e Marcelo Russio
Rio de Janeiro
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Lyoto Machida não conseguiu recuperar o cinturão dos pesos-médios do
UFC para o Brasil, mas o país teve outro título mundial para comemorar
no MMA no último fim de semana. A lutadora mineira Amanda Ribas, de
apenas 20 anos, se sagrou campeã no primeiro Campeonato Mundial de MMA
Amador, organizado pela Federação Internacional de MMA (IMMAF) em Las
Vegas, na categoria peso-mosca (até 56,7kg). Nesta terça-feira, a
lutadora desembarcou no Rio de Janeiro com a medalha de ouro na bagagem,
e segue para Varginha-MG, sua cidade natal, para comemorar o feito
inédito e vislumbrar o próximo passo: se profissionalizar e entrar no
UFC.
Amanda Ribas "morde" a medalha de ouro conquistada no Mundial de MMA Amador (Foto: Ivan Raupp)
A conquista já deu um "gostinho" para Amanda de como é estar na maior
organização de MMA do mundo. A competição foi realizada no hotel e
cassino Mandalay Bay, sede de diversos eventos do Ultimate, e a final
foi disputada no sábado, como parte dos destaques da UFC Fan Expo, feira
anual que reúne alguns dos principais nomes da companhia em
oportunidades de foto e autógrafo para os fãs.
- Cheguei no domingo, lutei na segunda-feira e fiquei a semana inteira
assistindo à competição, para lutar no sábado, no Mandalay Bay. Foi
muito emocionante, porque tinha vários lutadores do UFC lá, e o Dana
White (presidente do UFC). A sensação é como se estivesse lá (no
Ultimate)! - contou Amanda Ribas ao Combate.com, antes do voo de volta
para o Brasil.
Amanda Ribas (dir.) com a sueca Ringblom, sua
adversária na final (Foto: Arquivo Pessoal)
Quase que nada disso aconteceu. Amanda teve cerca de um mês para obter o
visto de entrada nos Estados Unidos e precisou ir ao Rio de Janeiro
para tal. Com 10 dias restando para a viagem a Las Vegas, o visto foi
concedido, mas, por conta do prazo apertado, a lutadora marcou de pegar o
passaporte no Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto (CASV).
- Fiquei na casa da minha amiga, peguei trânsito no Rio por causa da
Copa, e cheguei lá quando o CASV estava fechado! Comecei a chorar para o
segurança, falei, "Estou perdendo peso, pelo amor de Deus, tenho que
viajar!" Ele ficou com dó e deixou eu entrar. A moça (do CASV) estava
fazendo trabalho extra e, graças a Deus, deu tudo certo - lembrou,
aliviada.
Passaporte na mão, Amanda embarcou para Las Vegas acompanhada de um
representante da Comissão Atlética Brasileira de MMA e um amigo de seu
pai. Logo na chegada, no domingo dia 29, já teve de se pesar. No dia
seguinte, precisou bater o valor exato da categoria (56,7kg) antes de
sua primeira luta, contra a italiana Micol Di Segni. A brasileira venceu
por decisão unânime e se classificou à final, que seria disputada no
sábado, e precisou manter o peso na casa dos 59kg até a data. A
adversária na final foi a sueca Gabriella Ringblom, da seleção olímpica
de boxe amador de seu país.
- Eu já estava preparada para levar para o meu forte, que é o chão, mas
acabou que fiz em pé com ela também! O primeiro round empatou, no
segundo eu fui bem em pé com ela, derrubei, e fiquei segurando no chão e
batendo. No terceiro, fiz o mesmo. Foi emocionante. Chorei, agradeci a
Deus, agradeci a todo mundo - lembrou.
Amanda Ribas com a camisa da seleção brasileira
no cage em Las Vegas (Foto: Arquivo Pessoal)
Derrotar uma atleta de nível olímpico na final do Mundial foi irônico.
Amanda quase integrou a seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de
Londres-2012, onde serviria como sparring de Érika Miranda na categoria
até 52kg. Todavia, uma lesão no joelho resultou no seu corte da equipe e
em dois anos de inatividade.
- Deus escreve certo por linhas tortas, porque eu saí do judô e vim
para o MMA, para o meu mundial, como protagonista. Comecei no jiu-jítsu
desde novinha, com meu pai. Eu brincava de fazer muay thai e sempre fiz
jiu-jítsu forte. Quando fiquei mais velha, fui para o judô, porque ia
pagar a faculdade, escola, tudo. Fui morar em Belo Horizonte. Mas fiz
duas cirurgias no joelho por causa do judô. Decidi voltar para Varginha e
tive a oportunidade no MMA amador, que é minha origem, e está dando
certo - comemorou.
De volta ao Brasil, a lutadora pretende descansar por três dias e
retomar os treinos na equipe de seu pai, a Ribas Family, filial da Nova
União em Varginha. O objetivo é descer aos pesos-palhas e tentar uma
vaga no UFC, onde pretende seguir os passos da atual campeã peso-galo
feminino, Ronda Rousey, seu espelho na modalidade. Como ela, Rousey tem
origem no judô.
- Quero (ser como ela). Ela é focada, vejo os treinamentos dela e ela é
toda séria. Treina, treina, ela é uma pessoa de muita compostura. Sou
muito fã dela - confessou Amanda Ribas